Guerra fria (2018)

Título original: Zimna wojna

Título em inglês: Cold war

Países: Polônia, França, Reino Unido

Duração: 1 h e 28 min

Gêneros: Drama, música, romance

Elenco Principal: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc

Diretor: Pawel Pawlikowski

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6543652/


Um retrato cinematográfico e artístico de um intenso e intrigante romance entre pessoas diferentes, moldado à harmonia de melódicas notas musicais e revolvido aos incessantes e harmônicos passos de tradicionais danças polonesas e, posteriormente, comunistas, em tempos de dominação soviética e consequente perda de identidade cultural e política do país. “Guerra fria” utiliza um contexto histórico – a hegemonia “stalinista” existente em boa parte da Europa no pós-guerra -, amplamente evidenciado ao longo de sua exibição, como obstáculo ao desenvolvimento de um amor ficcional tão forte, tão eterno, quanto volátil, mas sem ter a obsessão como característica. Lembrou-me, guardadas as devidas proporções, o clássico “Casablanca“, pelo ambientação física e psicológica e pelo tolhimento amoroso. É o filme indicado pela Polônia ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019, que, por sinal, foi escolhido como um dos 5 finalistas da premiação, sem, no entanto, ter levado a estatueta, que foi para o magnífico “Roma“. Seguem abaixo minhas impressões sobre esta bela obra.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Guerra fria é uma impetuosa história de amor entre duas pessoas de diferentes origens e temperamentos, Zula e Wictor, que são fatalmente incompatíveis, mas que estão destinados a estar juntos. Tendo como pano de fundo a Guerra Fria dos anos 50 na Polônia, Berlim, Iugoslávia e Paris, o filme retrata uma história de um amor deveras impossível em tempos impossíveis.”

Num belíssimo registro visual em preto e branco, envolto em uma aura de excelência impressionante quanto à técnica aplicada a sua produção nos mais variados aspectos, o filme mostra um “amor resiliente” em um roteiro um tanto quanto fragmentado, que se passa em diversas épocas e em diversas localidades, para acrescentar uma dose a mais de dificuldade à conjuntura corrente, que já é deveras espinhosa. Em um intervalo de cerca de 10 anos, os protagonistas são submetidos a inúmeras separações, incontáveis reencontros e fartos conflitos para pôr à prova esse grande amor, que começa inocente, mas adquire uma certa vida própria dotada de um quê de imortalidade pungente, cuja exteriorização é poética ao extremo e vem corroborar a excelência alhures reverenciada. Entretanto, esse “roteiro pulverizado” – e descuidado em relação a possuir coesão entre as cenas – adiciona um grau de dificuldade razoável à percepção dos espectadores, principalmente a partir da segunda metade da narrativa – quando acontece a primeira separação do casal -, e, juntamente com uma lentidão angustiante, mesmo possuindo tantos números de música e dança, pode causar um certo desinteresse, por deixar o filme um tanto quanto enfadonho. Saliento que se trata de, literalmente, uma obra artística, a qual pode ter diferentes interpretações e significados para os mais distintos olhares, inclusive nenhum.

Além do amor entre os protagonistas, há outro ponto de interesse importante, que, por sinal, tem um caráter histórico: as consequências do controle da URSS, principalmente sobre as manifestações culturais polonesas. Apenas mais um artifício utilizado por Stalin para disseminar a ideologia comunista entre a população europeia, afinal, artistas são disseminadores de informação e formadores de opinião. Essa peculiaridade, mesmo parecendo fora de contexto, tem interferência direta nos encontros e desencontros do casal. Num filme com viés artístico, qualquer pequeno detalhe ou cenas aparentemente desconexas devem ser levados em consideração, pois constroem o alicerce no qual será desenvolvida a narrativa.

Ao fim, mesmo com um roteiro intrincado, mas bastante competente, o conjunto de excelências técnicas particulares, como a fotografia, a trilha sonora, a montagem, a direção, as atuações, etc., fala mais alto e concede a “Guerra fria” beleza e qualidade absolutamente superiores. A frieza se resume apenas ao título, às cores – ou à falta delas -, e ao ambiente nevado, que imprime aquele ar triste e nostálgico a uma narrativa passada em um tempo pretérito, pois o cálido amor que se consubstancia de alguma forma ao longo da jornada aquece os corações dos protagonistas e abraça fortemente a alma dos espectadores. Estilisticamente, é um dos melhores filmes do ano, mas é arte – e arte é subjetiva! Nunca é demais lembrar!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba

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