Sanju (2018)

País: Índia

Duração: 2 h e 35 min

Gêneros: Biografia, drama

Elenco Principal: Ranbir Kapoor, Sonan Kapoor, Anushka Sharma

Diretor: Rajkumar Hirani

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6452574/


Sanjay Dutt, “o rei das más escolhas”, um homem de muitas vidas. Um dos mais famosos atores de Bollywood – conhecido por ter interpretado o personagem Munna Bhai em dois filmes -, cuja vida, além de muitos sucessos como artista, foi marcada por problemas com drogas, com a polícia e o poder judiciário de seu país. Nem vou me ater a fazer uma biografia da vida de Sanju, como ele é chamado, pois o filme em tela já se encarrega dessa atividade. Ninguém melhor do que Rajkumar Hirani, um diretor com uma filmografia pequena em tamanho, mas grande em qualidade, juntamente com Ranbir Kapoor, um dos melhores atores de sua geração, para levar às telas dos cinemas passagens relevantes da vida desse ator tão importante e controverso da Índia, que já atuou em mais de 150 filmes ao longo de sua carreira. Vale a pena entrar nessa jornada. Considero cinebiografias bem produzidas sempre apreciáveis. Essa é uma delas, apesar de eu ter algumas ressalvas.

Eis a sinopse: “Sanju explora alguns dos capítulos mais cruciais da dramática e controversa vida real do astro de cinema Sanjay Dutt, incluindo explicações sobre seu envolvimento com as drogas e seus julgamentos e atribulações no caso do Arms Act e nas explosões de 1993 em Mumbai. “

Há de haver bastante atenção para assistir ao filme em tela pois ele “passeia” muito na linha do tempo. Realmente, algumas vezes me encontrei perdido, mas já dou uma dica: como podemos observar no poster, Sanju é um único homem, mas com muitas vidas, nas quais sua aparência física é distinta em cada uma delas e, por essas diferenciações, podemos nos situar melhor na história.  Em cada passagem da vida de Sanju que é retratada no filme, uma abordagem bastante rasa é utilizada, ou seja, as coisas não são mostradas com os detalhes necessários. Até entendo essa estratégia, afinal mostrar em pouco mais de duas horas uma vida cheia de pontos de interesse é realmente difícil, entretanto acho que essa estratégia de mostrar um horizonte maior de registros históricos de maneira superficial empobreceu a narrativa, pois muita coisa relevante fica sem explicação.  Por exemplo, a origem da amizade entre o protagonista e Kamlesh, o qual tem tanta importância no contexto geral do filme e da vida de Sanju, é bastante resumida – o rapaz simplesmente aparece do nada e logo após já é o best friend forever. Concedo o mesmo viés à relação dele com seus pais. Também, o fato gerador de sua prisão é retratado de uma forma bastante complicada. Há muito o que se mostrar, então um foco em um momento importante, como a conjuntura policial/prisional/judiciária,  seria salutar em detrimento de passagens acessórias, no entanto o diretor resolveu retratar o macro e não o micro. Há quem tenha uma opinião divergente da minha. Respeito!

Elucubrações de abordagem à parte, filmes biográficos indianos são até uma tradição, principalmente sobre atletas famosos do país, e a maioria deles faz muito sucesso e ganha muitos prêmios. Esse deve ser o destino de “Sanju“, pois é realmente muito bem produzido em seus aspectos técnicos, e cuja cereja do bolo é o trabalho de Ranbir Kapoor na pele de Sanjay Dutt. Posso afirmar, sem medo de errar, que foi sua melhor atuação em Bollywood – melhor até do que em “Barfi!“, que ele representava um papel complexo: um surdo-mudo. Ranbir, devidamente maquiado e caracterizado, encarna Sanjay em vários momentos temporais e, com seu jeito engraçado e despojado de sempre, concede suavidade, mesmo em situações mais tensas. Há mais duas atrizes bastante midiáticas e famosas  no filme: a magérrima Anushka Sharma e a bela Sonan Kapoor, porém são apenas coadjuvantes de luxo. Atrizes de menor expressão poderiam ter sido recrutadas, afinal não há mulheres com papéis relevantes e duradouros nesse filme.

Ademais, trata-se de um filme bastante parcial e de justificativas, no qual parece que são acolhidas todas as versões e visões de Sanjay aos seus problemas: drogas, armas, mulheres, etc., mas não cabe a mim julgar, nem buscar veracidade nas informações. Há uma necessidade punjente de conceder explicações e mostrar álibis para minimizar as responsabilidades do bad boy, inclusive uma explícita atribuição de culpa à manipulação de informações pela imprensa, através das famigeradas fake news, que tantas “vítimas” fazem e fizeram ao redor do mundo. No fim, talvez o ponto de interrogação, ou seja, a apologia à dúvida, tenha sido o verdadeiro culpado pelo calvário de Sanjay Dutt. Uma saída no mínimo curiosa, para quem supostamente quer exibir a verdade dos fatos em um filme biográfico. Ao fim, entre os escombros de uma vida “devastadora”, todos se salvam, e resta um filme competente, de um grande diretor, contando com um talentoso protagonista, e com uma história polêmica, que sempre rende boas discussões, construída ao jeito indiano de fazer cinema, ou seja, espetacular.

Ahh, não percam a cena final: um número musical especial, com a presença do Sanjay Dutt real e o ficcional, Ranbir Kapoor.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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