Stree (2018)

País: Índia

Duração: 2 h e 08 min

Gêneros: Comédia, horror

Elenco Principal: Rajkummar Rao, Shraddha Kapoor, Abhishek Banerjee, Aparshakti Khurana

Diretor: Amar Kaushik

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8108202/


Citação: “Baseado em um ridículo fenômeno real.”


É no mínimo pitoresco que um filme se inicie já rebaixando o fio condutor de sua narrativa, mas sinto salientar que a afirmação acima é a única expressão da verdade presente no filme em tela, pelo viés fantasioso que ele se reveste. E o tal fenômeno é ridículo mesmo! “Stree” consiste na dramatização de uma lenda urbana específica da Índia – e pouco conhecida no restante do mundo -: um espírito feminino chamado Stree, que, durante um festival religioso que acontece todos os anos em uma determinada cidade da Índia, sequestra homens na calada da noite, deixando apenas as roupas deles como rastro. Para quem não conhece, lendas urbanas são histórias folclóricas que são disseminadas ao longo dos tempos. Elas podem ou não serem baseadas em fatos reais e uma das características mais marcantes dessas histórias é a capacidade de mexer com o psicológico das pessoas ao despertar sentimentos variados, inclusive o medo. Há também um caráter cultural implícito nessas lendas, que adicionam as especificidades de determinada região, cidade, país ou localização ao contexto. Dois exemplos muito famosos que posso citar são as histórias da loira do banheiro e da fada dos dentes. Bem vindos à dramatização da lenda urbana de Nale Baa, que se tornou viral no estado de Karnataka (Índia) na década de 90.

Apesar da conjuntura apavorante que a narrativa se reveste, pois, como já comentei, narrativas como essa têm o condão de mexer com o imaginário humano apenas pelo mistério embutido, o roteiro do filme em tela funciona mais eficazmente através do outro gênero cinematográfico que lhe é atribuído, a comédia. Digo-lhes que boa parte da comicidade apresentada é decorrente do cenário ridículo que se desenha e da ingenuidade e pureza que alguns dos personagens apresentam. Numa história tão quimérica como essa, há de haver algo que se destaca muito para obter a atenção dos espectadores, e, nesse caso, as atuações dos artistas, principalmente de Rajkumar Rao, que interpreta o protagonista Vicky; alguns personagens caricatos, como Janna, amigo de Vicky; e uma série de diálogos inteligentes são os pontos fortes do filme. Há também uma dúvida que permanece no ar em quase todo o tempo de exibição sobre a identidade do fantasma Stree, que contribui bastante para que a chama da concentração permaneça acesa. Também, preciso destacar uma cena: Vicky, ao ser instado a mostrar amor pelo espírito, imita Shah Rukh Khan, que, para quem não conhece, é um ator muito famoso na Índia por seus trabalhos em filmes com vieses românticos. É simplesmente sensacional!

Afirmo que a parte da narrativa voltada para o terror é apenas mais do mesmo, pois nem sequer se adequa à evolução que filmes dessa natureza têm mostrado atualmente, através de uma conotação mais psicológica. Temos acompanhado essas mudanças principalmente no cinema americano em filmes como “Corra!“, “Um lugar silencioso“, “Hereditário“, etc. “Stree” apela para o modus operandi convencional, com uma série de clichês e uma antagonista espiritual, voadora, visualmente deformada e construída no intuito de provocar algum medo nos espectadores. Saliento que essa tarefa medonha é muito malograda, pois o máximo que ela consegue é causar alguns sustos, pelo aparecimento repentino do espírito ou algum efeito sonoro inesperado de alto volume, que são os chamados scare jumps, os quais defino como a incapacidade de gerar medo no público. Por tudo isso, o filme perde força na segunda metade, quando o roteiro tem a predominância de uma narrativa mais obscura.

Alguns críticos têm identificado um viés feminista nas entrelinhas, pela forma como Stree aborda suas vítimas. Acho um pouco exagerada essa visão! O espírito chama os homens pelo nome – e pelas costas. Se os homens se virarem são capturados. Após o terceiro chamado é impossível se livrar do ataque. Foi identificado nesse modo de agir uma certa delicadeza atribuída ao sexo feminino. Stree chama educadamente seus alvos e a ação de rapto só é consumada por que o homem a encara, ou seja, a culpa é do homem. Esse ato “cortês” é posto em comparação com o comportamento dos homens da Índia e a misoginia arraigada na sociedade do país, que é predominantemente machista. Apenas isso não é suficiente para conceder uma característica feminista ao filme, pois, a motivação para os atos de Stree não é tão maligna assim, não apresenta ódio ou desprezo pelo sexo oposto, não apresenta misandria, que é o oposto de misoginia. Pelo contrário, decorre de uma vontade reprimida baseada no amor. Empoderamento com base na violência contra o sexo oposto não é feminismo, pois, por definição, o feminismo é uma doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade e não pode utilizar violência como meio para obtenção dos objetivos desejados. No meu entender, não existe qualquer tipo de movimento social baseado no sexo dentro da narrativa, mas há quem tenha uma leitura diferente da minha e respeito a opinião de todos.

A proposta do filme é muito boa, é muito peculiar, mas faltou muito para se tornar realmente apreciável num sentido mais amplo, contudo algumas boas gargalhadas e alguns sustos estão garantidos. Faltou um roteiro mais envolvente e mais bem construído, no entanto não deixa de ser um filme agradável. O terror convencional está em desuso, mas há quem goste. Recomendo que apreciem sem muitas expectativas. Um divertimento mediano, pelo menos, está assegurado.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


5 comentários Adicione o seu

  1. Renata Letícia disse:

    Eu particularmente amei oo filme, mas não entendi o final. O pq da mulher ter levado a trança da Moça. Alguém pode me explicar?

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    1. Yghor disse:

      Eu entendi que ela era a “bruxa” o tempo todo, que estava em busca do amor verdadeiro, do carinho e do respeito que ninguém da cidade havia dado.

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  2. Yghor disse:

    Adorei o filme, dei boas risadas, fiquei intrigado até o final e depois dele também e curti a química dos personagens.

    Quanto ao “feminismo” que você cita, o fiminismo verdadeiro, assim como machismo, não prega a violência, denegrir, maltratar, machucar e etc o sexo oposto. Porém, erroneamente, hoje, as “mulheres” que se julgam feministas (e não são) só desejam o pior, o fim e o seu próprio umbigo. Saem nuas a torto e a direito, batem, matam, levam crianças pros meios que vão, desejam ser maiores e melhores e alegam querer direitos iguais. Isso NÃO é feminismo, feminino e muito menos igualitário. Assim como o machismo, hoje é um termo deturpado, distorcido e voltado para toda e qq agressão contra o sexo oposto. Infelizmente. Pois os verdadeiros nada tem a ver com violência ou algo do tipo. Mas só os mais velhos, os mais cabeça, os que pesquisam que sabem mesmo.

    Voltando ao filme, adorei a abordagem da crendice local, da cultura, das cores, as músicas, as danças, a religião. Não é o meu primeiro filme do gênero, mas foi o primeiro que realmente gostei. Personagens carismáticos, mistério intrigante (não que seja uma baita história, mas prende a atenção) e atores e atrizes que desempenham bem o que foi pedido. (P.S.: que atriz linda rs)

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