Vice (2018)

País: Estados Unidos

Duração: 2 h e 12 min

Gêneros: Biografia, comédia, drama, história

Elenco Principal: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell

Diretor: Adam McKay

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6266538/


Frase: “Cuidado com o homem calado, pois enquanto os outros falam, ele observa. Enquanto os outros agem, ele planeja, e quando finalmente descansam, ele ataca.”


Dick Cheney, o vice-presidente dos Estados Unidos no fatídico dia do ataque às Torres Gêmeas em Manhattan – o inesquecível 11 de setembro de 2001. O homem que escreveu a história pós-tragédia. Um homem que realmente merece uma boa cinebiografia, pela quantidade de história vinculada à sua pessoa, apesar de ser bastante reservado em sua vida privada. A política é sempre um tema atrativo para muitos, às vezes desperta paixões, mas não é raro despertar ojeriza e repulsa em outros. “Vice“, no intuito de diminuir o impacto de concepções pré-estabelecidas de seus espectadores, moderniza sua narrativa através de diversos recursos estéticos ao longo de sua exibição, principalmente com a inserção de frases, animações e algumas “cenas alheias”, mas que têm significado e relação com o contexto corrente e outras um tanto quanto estranhas, como um close num coração humano. Há até um final falso – ou fake! No entanto, o ofício deveras burocrático do político e a discrição apresentada por ele tratam de provocar um pouco de desinteresse na trama, por ela ser mais abrangente do que apenas focar no atentado terrorista a que aludi mais acima, afinal se trata de uma cinebiografia, cuja abrangência é definida pela produção do filme.

Eis a sinopse: “A história de Dick Cheney, desde quando ainda era jovem até se tornar um dos homens mais poderosos do mundo, passando também por sua vida pessoal no que tange a seu relacionamento com Linny, sua companheira de longas jornadas. Vice-presidente de George W. Bush, ele reescreveu o papel de um vice nos Estados Unidos e remodelou o país e o mundo, gerando mudanças cujas conseqüências permanecem vivas até os dias de hoje.”

Montagem e atuações do elenco em geral, principalmente Christian Bale e Sam Rockwell, salvam o filme. O roteiro, apesar de indicado ao Oscar, não consegue prender o espectador, principalmente na primeira hora de exibição. A despeito de um grande esforço para tentar explicar a conjuntura ao redor de cada cena, principalmente naquelas referentes ao contexto sócio-político da época de Richard Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan, a narrativa acaba por requerer um pouco de conhecimento histórico para um melhor entendimento. Muita gente não sabe o que é Watergate, por exemplo! Na segunda hora, as coisas melhoram bastante, pois os fatos são bem conhecidos por todos, pela alcance mundial da tragédia do dia 11 de setembro. Nesse contexto, o viés biográfico realmente toma corpo, pois o foco total e absoluto recai sobre Dick Cheney e seus pensamentos, atitudes e influência decisória até mesmo sobre o presidente George W. Bush, que, diga-se de passagem, está perfeitamente caracterizado e interpretado por Sam Rockwell.

Como já salientado no parágrafo anterior, o elenco faz toda a diferença. Vou discorrer apenas sobre Christian Bale, que engordou em torno de 20 kg para o papel, e, talvez, tenha tido a grande atuação de sua vida. O destaque não recai apenas na modificação física, e sim pela literal “encarnação” do artista em seu personagem. Basta assistir a uma entrevista real de Dick Cheney e perceber sua linguagem corporal e facial ao falar, e comparar com a interpretação de Bale. Além do mais, há homogeneidade nesses aspectos ao longo dos mais de 40 anos que o roteiro acompanha o personagem. É um trabalho digno de Oscar, que realmente deve ser concedido ao ator em 2019 com todo o merecimento.

A atribuição de um caráter dúbio de “vilão capitalista” e “salvador da pátria” ao protagonista em meio a um contexto trágico, regada a pitadas de comédia, sarcasmo, acidez e romantismo em menor proporção retira uma porcentagem da identidade da obra, que teria todos os elementos para agradar sem dificuldades, afinal retratar a vida de um homem misterioso, inteligente, que atuava nas sombras e nos bastidores e possuía grande poder nas mãos seria algo extremamente interessante, pela quantidade de informação que poderia ser manipulada e exibida, no entanto, “Vice” se reveste de importância pela relevância que a política tem – e sempre teve – no destino da humanidade. Retratar a vida de mandatários desnuda ideias, pensamentos e pretensões,  e incentiva julgamentos. Vale a pena, mas altas expectativas devem ser evitadas!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba

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