Stupid young heart (2018)

Título original: Hölmö nuori sydän

Países: Finlândia, Holanda, Suécia

Duração: 1 h e 40 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Rosa Honkonen, Jere Ristseppä, Ville Haapsalo

Diretora: Selma Vilhunen

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6592296/


Citação 1: “Em breve, apenas os estrangeiros terão filhos aqui.”

Citação 2: “Como diabos eles têm tudo (os somalis)?”

Citação 3: “Seus seguidores aumentam à medida que sua barriga fica maior.”


Opinião: “Obtém as atenções através da criação de uma conjuntura atual e pertinente, em detrimento de seu fio condutor principal, que é recorrente e trivial.”


Não é raro nos depararmos com filmes que abordam a questão da gravidez na adolescência e todas as dificuldades inerentes ao contexto que é formado. “Stupid young heart” seria apenas mais um deles ao mergulhar no universo pueril dos personagens envolvidos em uma gestação indesejada e não planejada na adolescência, e desnudar, principalmente, suas dúvidas e seus medos, todavia, por inserir outra temática importante em sua narrativa, que, diga-se de passagem, é bastante atual, a obra mascara esse viés repetitivo e entra no rol dos filmes necessários, pela relevância de seu subtema nos dias de hoje: a questão do imigrantes e refugiados na Europa e, porque não, no mundo. Em meio ao turbilhão de emoções ocasionado pela iminente chegada de um filho na vida de um jovem casal – e potencializado pela imaturidade pujante e intrínseca da idade dos protagonistas -, o filme em alguns momentos move o foco para questões socioeconômicas importantes relacionadas à presença de estrangeiros nos países, os quais, pela sobrevivência, procuram seus espaços na nova sociedade em que estão inseridos, retirando oportunidades dos nativos, entre outras anomalias sociais. Tudo isso soa bastante egoísta, mas é uma realidade a se considerar. Por isso, nota-se a pertinência dessa temática, que abrilhanta sobremaneira o filme em tela. Seguem abaixo as minhas impressões sobre ele.

Eis a Sinopse: “O despreocupado Lenni e a linda e popular Kiira, mesmo sem ainda assumirem um relacionamento amoroso e ainda estando em idade escolar, descobrem que estão esperando um bebê. Ao decidirem não realizar o aborto, Lenni tem nove meses para se tornar um homem, mesmo sem ter crescido com uma figura paterna a seu lado. Nesse contexto, Lenni encontra atenção e orientação de um amigo improvável, Janne, membro de um grupo de extrema direita que planeja ações terroristas contra refugiados e imigrantes africanos – somalis – que moram em seu bairro.”

A história se passa no tempo presente, na Finlândia, e, portanto, na Europa, que, nos últimos anos, têm sido um dos principais destinos do fluxo migratório advindo principalmente da Síria e do Sudão do Sul, entre outros países assolados por guerras civis. O filme em tela mostra o olhar da população nativa sobre os estrangeiros que se estabelecem em seu territórios e representam, segundo a narrativa, um incremento de concorrência na eterna luta pela sobrevivência. Há também sugestões de movimentação de recursos públicos para acolher os migrantes, as quais, por sua vez, deixam de ser aplicados em prol da população local. Em um determinado momento, Lenni culpa os africanos por sua falta de capacitação para o mercado de trabalho. Será? São levantados esses e outros questionamentos bem oportunos, que, por vezes, passam despercebidos pelo senso crítico de cada um em uma reflexão íntima sobre o assunto. Entretanto, uma função acessória, mas importante, dessa temática dentro do enredo, que deve ser levada fortemente em consideração, é servir de alvo para Lenni em sua suposta tentativa de amadurecimento e obtenção de uma masculinidade tóxica, ao internalizar a retórica racista de Janne, de sua mãe, e de seu círculo cada vez mais radicalizado de amigos brancos. Algo que coaduna perfeitamente com a conjuntura atual do mundo em relação à construção de um ambiente propício para a exteriorização dos defeitos de caráter mais íntimos e ocultos dos seres humanos, principalmente no sentido de obter supremacia ou superioridade, pelos motivos mais diversos, sobre o próximo, e usando meios normalmente violentos, perversos, egoístas e desumanos. É bom salientar que os crimes de ódio cometidos contra a comunidade somali ficcional refletem diretamente os ataques da vida real a mesquitas e imigrantes na Finlândia e em toda a Europa. É muito conveniente a criação desse receptáculo social para abrigar o fio condutor da história. Trata-se de mais uma camada reflexiva importante dentro da narrativa.

Stupid young heart” também destaca a importância da justiça e dos direitos reprodutivos para as mulheres, não importando quão jovens elas sejam, ao oportunizar a Kiira uma escolha ativa quanto à sua saúde e à seu futuro como mãe, mesmo tendo apenas 15 anos de idade, e mesmo havendo uma grande possibilidade de arrependimento em relação à sua escolha. É interessante notar a analogia entre a invasão de estrangeiros em uma comunidade – ou um país – e a invasão de um bebê na vida de uma dupla de adolescentes. Em ambos os casos, a maturidade é necessária para enfrentar todos os obstáculos que a vida coloca à frente – e nem sempre ela é pré-existente ou mesmo adquirida através das experiências. Ademais, percebemos apenas o roteiro padrão em histórias que versam sobre gravidez na adolescência. “Nada de novo no front”, apenas que um filho pode ser fruto de um estúpido e jovem coração – ou corações.

Nota-se que dei mais ênfase em meu texto às questões sociais contemporâneas, pois elas merecem um olhar mais reflexivo de todos nós. Trata-se de um ótimo exemplo de radicalização da supremacia branca, que podemos estender a outros tipos de subterfúgios utilizados por quem busca superioridade sobre outrem. Mesmo a gravidez na adolescência sendo uma temática importante, a temática acessória do filme é mais pertinente. Melhor seria que a narrativa abordasse mais a questão do fluxo migratório, do preconceito, etc., mas, de qualquer forma, essa junção de temas ficou satisfatória, pois concebeu um filme bastante atual através de duas formas, pois gravidezes indesejadas em jovens não deixam também de ser problemas sociais e bastante atuais – desde sempre -, entretanto, essa coexistência de temáticas limitou o alcance dentro delas a algum ponto próximo da superficialidade. Mais aprofundamento era bastante desejável!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


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