Os amantes passageiros (2013)

Título original: Los amantes pasajeros

Título em inglês: I’m so excited!

País: Espanha

Duração: 1 h e 30 min

Gênero: Comédia

Elenco Principal: Javier Cámara, Cecilia Roth, Lola Dueñas

Diretor: Pedro Almodóvar

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt2243389/


É de se admirar a filmografia do célebre diretor espanhol Pedro Almodóvar. Em uma rápida passada de vista, nota-se a presença de diversos sucessos de bilheteria e obras fantásticas e laureadas que figuram facilmente na galeria de melhores filmes de cinéfilos de todo o mundo. “Tudo sobre minha mãe” (1999), “Fale com ela” (2002), “Volver” (2006) e “A pele que habito” (2011) são apenas alguns deles, entre outros. Em “Os amantes passageiros“, Almodóvar chega ao auge de sua irreverência ao tratar o drama como comédia e se despojar de muitas das características que o levaram ao estrelato. Percebe-se um filme com ares despreocupados, descompromissados e até irresponsáveis, cujo principal objetivo é simplesmente divertir. Pelo histórico do cineasta, quem espera por mais um drama inteligente e/ou uma narrativa surpreendente pode se frustrar, contudo há a garantia de muitas risadas e uma jornada de entretenimento leve, fácil e prazeroso. A quantidade de críticas negativas abundam, mas esse “pastelão sexual” tem a grande capacidade de agradar o seu público, nem que seja para fazer esquecer por 90 minutos as dificuldades da vida. Percebe-se claramente que o filme não possui um roteiro requintado – longe disso -, mas cumpre muito bem a finalidade a que se propõe.

Eis a sinopse: “Um avião da companhia aérea Península Líneas Aéreas enfrenta problemas durante o voo para o México, já que um dos trens de pouso não está mais funcionando. Com isso, o comandante da aeronave é obrigado a voar em círculos à espera de algum aeroporto para fazer um pouso de emergência em solo espanhol. Durante este período de tempo, todos os passageiros e as aeromoças da classe econômica são dopados para evitar que haja pânico generalizado. Os únicos acordados são os comissários de bordo e os passageiros da classe executiva, que, percebendo que correm sério risco de morrerem, decidem abrir o jogo sobre segredos de suas vidas pessoais e tornarem a suposta viagem final mais prazerosa.”

Avista-se que a conotação sexual dentro de uma narrativa pode ser desenvolvida de várias formas: dramática, erótica, criminosa e até cômica, como é o caso do filme em tela. Em um contexto sexual, uma das primeiras ideias que vem à mente se chama prazer, e é justamente essa sensação que é proporcionada ao público ao fim da exibição – só que não o prazer físico, mas aquele que tem relação com o regozijo, com a satisfação, com o contentamento. E motivos não faltam para que isso aconteça; o principal deles talvez seja o esteriótipo dos personagens – todos são caricatos ao extremo. Muitos deles são homossexuais, alguns são bissexuais, há uma vidente virgem, um matador de aluguel, um golpista do setor financeiro, uma cafetina de meia idade, um casal em lua de mel, comissários de bordo bêbados e drogados, etc. O exagero e o inusitado são as características mais marcantes da obra e são utilizadas praticamente como princípios basilares dentro do enredo. Nesse sentido, a iminência da morte leva os personagens a viverem intensamente seus supostos últimos momentos de vida. Essa fórmula proporciona situações hilárias e revelações bombásticas.

Há em torno de 10 protagonistas na trama. Compartilhando um problema comum, o provável acidente com o avião, todos eles, como esperado, também possuem seus próprios arcos dramáticos, com suas dificuldades particulares, que são trabalhadas de forma superficial – até para não alongar demais o filme e por não haver espaço num numa narrativa eminentemente engraçada – e sempre no intuito de introduzir jocosidade em qualquer situação. Na verdade, esses tais arcos dramáticos são transformados em arcos cômicos, após o roteiro levar os personagens a interagirem uns com os outros das mais diversas formas. Muita da irreverência ora citada se deve aos três comissários de bordo. São três homens burlescos e com rios de homossexualismo saindo por seus poros: Joserra, Ulloa e Fajas. Através deles, Almodóvar guia a sua história de modo a gerar confusões advindas de ações politicamente incorretas que procuram dar uma acepção sexual nas mais diversas situações, afinal o apocalipse se avizinhava para aquela pequena população voluptuosa.

Os amantes passageiros” é uma das obras mais contemporâneas de realizador e destoa completamente do padrão Almodóvar de fazer cinema dos último 25 anos – período de maior brilho do diretor. Pode-se buscar referências dentro de sua filmografia e considerar que há alusões estilísticas e narrativas a “Labirinto de paixões” (1982), “O que eu fiz para merecer isto?” (1984) ou até mesmo o famosíssimo “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988), entretanto, o importante é reconhecer que um diretor completo possui várias facetas. Nesse filme, pode-se apreciar sua faceta mais cômica, escrachadamente cômica. Isso não é demérito algum, é apenas a tradução para a linguagem cinematográfica da palavra liberdade, a qual poucos cineastas podem se dar ao luxo de fazer uso de seu conceito por não ter provar mais coisa alguma para o mundo. Almodóvar já tem seu nome gravado nos anais da sétima arte. Preparem-se, pois, nesse filme, o velho Pedro usou a liberdade para ser libidinoso.

Obs.: Li que o filme é uma metáfora em relação à situação da Espanha em 2012: em crise e com um destino incerto. Julgo totalmente desnecessário considerar um filme com esse viés como objeto de reflexão sobre algum assunto sério, principalmente político. Vamos nos divertir que é melhor!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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