A camareira (2018)

Título original: La camarista

Título em inglês: The chambermaid

País: México

Duração: 1 h e 42 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Gabriela Cartol, Agustina Quinci, Teresa Sánchez

Diretor: Lila Avilés

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8331988/


Opinião: “Mais um sopro humanista da sétima arte.”


A submissão do México para o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020 é o que se pode chamar de experiência social. Através de uma jovem personagem, que trabalha como camareira em um grande hotel na Cidade do México, a diretora Lila Avilés, em seu primeiro longa-metragem, aborda uma série de temáticas sociais de âmbito global, que são sempre pertinentes e aproximam seu público da realidade. Trata-se de uma viagem pelo cotidiano de uma assalariada, sem escolaridade, que vive em uma metrópole e luta diuturnamente por sua sobrevivência e a de seu filho de 4 anos. Nada mais do que uma odisseia numa vida de dificuldades.

Eis a sinopse: “Eve é uma jovem mãe solteira que trabalha longas horas como camareira em um hotel de luxo na Cidade do México. Sonhando com uma vida melhor, ela se inscreve no programa de educação para adultos do hotel. Porém, ela logo percebe que nem sempre quem faz o trabalho pesado é recompensado.”

Eis mais um filme que expõe as diferenças entre os componentes da base e do topo da pirâmide social. Uma fórmula repetitiva, mas que sempre rende bons frutos. Somos apresentados a uma personagem introvertida, Eve, uma mulher de 24 anos que realiza com excelência o seu trabalho em um dos hotéis mais luxuosos da cidade – uma boa chance para evidenciar a todo momento futilidades e privações das pessoas circunscritas àquele microcosmo particular. À medida que o filme avança, são reveladas, aos poucos, nuances da vida da jovem para que o espectador identifique o contexto em que ela está inserida. Por exemplo, vemos que ela não tem água encanada e telefone em casa, paga com dificuldades uma pessoa para ficar com seu filho enquanto trabalha, há poucos transportes para que ela volte ao lar, etc. Depreende-se que a narrativa desnuda a história de milhões de pessoas ao redor do mundo que são representadas por Eve. Em uma avaliação macro, parece ser uma narrativa trivial, mas quando se identifica a proposta da diretora, percebe-se que “A camareira” é uma obra especial. O rumo seguido pela narrativa potencializa as reflexões proporcionadas pelo roteiro, pois insere a personagem em mundo cruel e desumano, no qual acontece um fenômeno interessante em relação a pessoas como ela: a invisibilidade social, ou seja, pessoas de classes sociais mais baixas são consideradas inferiores pelos empregos que possuem e pelos papeis ditos irrelevantes que ocupam dentro da sociedade. Trata-se de uma forma de exclusão social, pois indivíduos como Eve simplesmente são ignorados, inclusive no alcance de políticas públicas providas pelos governos. Nota-se que tais pessoas, quando empregadas, possuem os chamados subempregos, os quais, geralmente são árduos e penosos. São os trabalhos que sobram! Quando sobram!

É interessante notar que tal invisibilidade é relativa no filme, pois depende da existência de algum interesse. Percebe-se, também, que Eve passa a maioria do seu dia no hotel, inclusive fazendo trabalhos extras no próprio estabelecimento para aumentar a sua renda, o que denota uma grande exploração de sua mão-de-obra, o que é até desejável pela personagem em nome da subsistência. Entretanto, o filme não se furta de escancarar as consequências disso tudo, como, por exemplo, a relação praticamente virtual que a protagonista tem com seu filho e o tolhimento de sua sexualidade. É oportuno destacar a relação de Eve com outras pessoas que se encontram na mesma situação que ela. Constata-se também um ambiente exploratório, desonesto e movido por interesses – em nome da sobrevivência, diga-se de passagem. Deve-se ressaltar a significância contida no poster do filme, que, mesmo sem palavras, já norteia o espectador em sua experiência, e, também, uma cena excepcional no desfecho do filme, quando Eve sobe até o heliponto do hotel e finalmente percebe que está sozinha, que é realmente invisível. Magnífica cena.

Ao fim, constata-se facilmente que a condição de humano invisível decorre de um mal ainda maior que atinge o mundo globalizado como anomalia do capitalismo: a desigualdade social. E, para intensificar a reflexão proposta, o filme ainda sugere uma continuidade em tal condição, isto é, o sistema não permite melhorias para tais pessoas – nem com esforço ou trabalho pesado e honesto. Na indigitada circunstância, a palavra viver se confunde com sobreviver e resta apenas uma nefasta conclusão: a invisibilidade social existe, é mais comum do que imaginamos e se encontra em ascensão pelos rumos políticos que o planeta toma nos dias de hoje. Por toda mensagem embutida durante sua exibição, “A camareira” veste o manto da necessidade e da pertinência. Uma ficcional narrativa que conduz ao pântano da realidade.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.