1917 (2019)

Países: Reino Unido, Estados Unidos

Duração: 1 h e 59 min

Gêneros: Drama, guerra

Elenco Principal: Dean-Charles Chapman, George Mackay, Daniel Mays

Diretor: Sam Mendes

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8579674/


Citação: “Se eu ganhasse uma medalha, levaria para casa. Por que você não levou a sua? É só um pouco de metal sangrento!”


Opinião: “Impecável tecnicamente, 1917 prova que nem todo filme de guerra é igual.”


Tive a oportunidade de assistir a “1917” em meu cineminha particular com a presença sempre ilustre de pessoas queridas e, em um determinado momento, alguém falou: “parece videogame”. A partir daí, minha percepção, que estava totalmente voltada à dissecação do roteiro, como sempre, e, nesse caso especial, também à procura de algum corte visível durante a montagem do filme, por saber que ele foi filmado para parecer um grande plano-sequência – o que, consequentemente, gerava bastante distração -, passou a considerar mais fortemente os demais aspectos técnicos do filme, incluindo a imersão proporcionada pela abordagem “em primeira pessoa” – utilizando um termo do mundo dos games – adotada pela magnífica obra de Sam Mendes. O certo é que, ao fim da exibição, além da satisfação e dos elogios, sobrou um certo assombro, atordoamento, pela qualidade das cenas e o impacto/beleza que elas proporcionam. Seguem abaixo as minhas impressões sobre o filme em tela.

Eis a sinopse: “Na Primeira Guerra Mundial, dois soldados britânicos recebem ordens aparentemente impossíveis de cumprir. Em uma corrida contra o tempo, eles precisam atravessar o território inimigo e entregar uma mensagem que pode salvar 1600 de seus companheiros, incluindo o irmão de um deles.”

1917” é um filme que impressiona mais pelos recursos técnicos apresentados do que pelo roteiro propriamente dito, que considero o principal aspecto de uma obra cinematográfica. No entanto, por incrível que pareça, o roteiro se torna apenas um detalhe em uma análise global sobre a produção. A narrativa tem um foco preestabelecido: acompanhar a saga dos dois soldados na aventura perigosa de entregar o recado ao batalhão para evitar a carnificina, e se dispersa desse objetivo em poucas situações ao longo da história, o que não permite realizar uma construção mais íntima de seus protagonistas, e isso compromete o desenvolvimento de uma maior empatia por eles ao longo do filme. Percebe-se que ao íntimo dos personagens principais é concedido pouco detalhamento, pois eles são meros agentes utilizados pela narrativa para a consecução de sua finalidade. Resumidamente, observa-se um roteiro “seco”, que não se propõe a aprofundar os discussões e/ou proporcionar qualquer tipo de reflexão. É sempre bom salientar que os chamados “filmes de guerra” possuem cenários perfeitos para desenvolver aspectos humanistas, mas, realmente, em “1917“, essa característica é negligenciada. Por saber que o filme foi baseado em relatos do avô de Mendes, que lutou na guerra a que o filme faz alusão e que sua pessoa não é um dos protagonistas da história, imagina-se que tal relato não seja tão rico em detalhes para ensejar uma construção suficientemente fidedigna à história real, o que, no meu entender, abre espaço para que diretor e roteiristas divaguem à vontade tomando-se como base o contexto macro descrito pelo velho Mendes, e, no caso em tela, eles optaram por privilegiar um caráter mais objetivo da narrativa, que aposta em tensão e expectativa em detrimento de uma conjuntura mais emocional. Não deixa de ser uma estratégia válida, mas comum e vazia.

Mas, contudo, porém, todavia, esqueçamos o roteiro, que é competente mas não é o maior destaque. Diversos aspectos me impressionaram: direção (Sam Mendes), direção de arte/fotografia, edição e aspectos sonoros, ou seja, o filme buscou excelência em todas as fases que compõem um projeto cinematográfico, desde a pré até a pós-produção, e, por conta disso, merece todos os louros da vitória que vem recebendo na temporada de premiações.Imagino um trabalho hercúleo da equipe técnica para captar longas tomadas que, por vezes, percorriam longas distâncias. Tais tomadas não possuem o balanço característica de filmagens com a câmera na mão, isto é, há de haver toda uma estrutura montada para que as câmeras “persigam” os atores em cena. Na verdade, a câmera faz o papel de um observador próximo, pois é essa a sensação que sentimos durante a exibição. Por vezes realmente sentimos uma sensação de controle, como se estivéssemos com o joystick na mão e pudéssemos direcionar os personagens. A paleta de cores apresenta um colorido envelhecido e deveras obscuro, só iluminado pelo fogo, e denota o contexto pretérito e perigoso característico do filme. A montagem é genial! Não se vêem cortes aparentes na exibição, apenas se imaginam em quais momentos eles poderiam ter sido feitos, como, por exemplo, em algumas cenas totalmente escuras ou escurecidas. Esse tipo de montagem não é inovadora e foi vista, por exemplo, no ganhador do Oscar de 2015, “Birdman“, no entanto, no caso de “1917“, ela tem uma razão de existir: conceder velocidade à narrativa, que tem o dinamismo como uma de suas maiores virtudes e dramatiza um fato que possuía tempo predeterminado para ser efetivado, ou seja, a velocidade era fundamental. Elogiar os aspectos visuais do filme é chover no molhado. A direção de arte aliada à fotografia proporcionam 4 ou 5 cenas icônicas, repletas de detalhes, que fazem até diálogos serem desnecessários. Desde o corvo bem alimentado no rio de corpos sem vida, passando por bombardeios espetaculares, até um avião desgovernado destruindo tudo pela frente, tudo se encaixa para desenvolver a conjuntura proposta, a qual é complementada harmonicamente pela parte sonora da obra, que potencializa a tensão dentro da história ao “acompanhar dramaticamente” os passos dos protagonistas. Sabendo que a conjunção de todos esses pontos tem a intervenção do diretor, pode-se atribuir uma grande parcela da responsabilidade pelo sucesso à seu trabalho. Há tempos não observava uma direção tão qualificada.

Na minha opinião, “1917” nasce com potencial para se tornar um clássico dos filmes de guerra. Enquanto o futuro não chega para confirmar essa afirmação, o presente consolida essa pérola da sétima arte como um dos melhores filmes de 2019, senão o melhor. Um filme de guerra primoroso pela qualidade! Merece muitas condecorações!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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