Close (2022)

Países: Bélgica, Holanda, França

Duração: 1 h e 45 min

Gênero: Drama

Elenco principal: Eden Dambrine, Gustav De Waele, Émilie Dequenne

Diretor: Lukas Dhont

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt9660502/


Citações:

  • “Vocês estão juntos?”
  • “Você sempre espera por mim e não esperou hoje.”
  • “Você realmente acha que ele sempre foi feliz?”

Sinopse: A intensa amizade entre dois meninos de treze anos, Leo e Remi, de repente é interrompida. Lutando para entender o que aconteceu, Léo se aproxima de Sophie, mãe de Remi. “Close” é um filme sobre amizade e responsabilidade.


O AMOR INCOMPREENDIDO SOB A ÉGIDE DO PRECONCEITO.


Close” é um filme de difícil digestão, que trabalha com uma certa dose de subjetividade temáticas atuais e se aprofunda num universo espinhoso, no qual duas pessoas na tenra idade descobrem o mundo real, que, de certa forma, estranha a relação  próxima que os jovens mantêm, desnudando nada mais do que o preconceito que ainda insiste em pairar sobre as sociedades contemporâneas, apesar de a liberdade para o florescimento e a continuidade das mais diversas formas de amor estar tomando corpo a cada dia – e de forma irreversível. Tomando como base o histórico do diretor Lukas Dhont, tem-se a certeza de que o contexto dramatizado adentra na seara da homossexualidade, entretanto, a percepção do grau de tal abordagem cabe ao espectador (pode ser até que alguns nem identifiquem a tal seara proposta), dada a delicadeza como as coisas são mostradas dentro do filme. Entretanto, a orientação sexual de fulano ou sicrano é o que menos importa na narrativa, devendo o espectador se ater a outros aspectos. Como informação, “Close” representa a Bélgica na disputa do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023 – e é um dos favoritos.

O filme se inicia mostrando a inocência de dois pré-adolescentes fazendo o que de melhor fazem as crianças de suas faixas etárias: imaginar. Lutas contra inimigos imaginários, visões sonhadoras e potencialmente irreais quanto ao futuro e corridas entre belos campos de flores são intercaladas com momentos de extrema cumplicidade e amizade entre Leo e Remi, ou seja, há um forte laço que os une que pode facilmente ser identificado com amor – amor entre pessoas do sexo masculino, mas sem o elo da consanguinidade e sem grau de parentesco algum entre eles. Enquanto suas vidas estavam adstritas a um microcosmo particular, afastado dos “olhares do mundo” e embaixo dos guarda-chuvas das famílias – e todo o amor envolvido nas relações interpessoais desse contexto -, tudo caminhava naturalmente e sem problemas, entretanto, uma nova fase na vida dos jovens toma corpo: o início do ensino médio, com a mudança para uma nova escola repleta de novas pessoas, isto é, de novos olhares . A partir daí, o destino dos amigos começa a perder o rumo.

Lukas Dhont constrói muito bem e paulatinamente o ambiente hostil da escola, começando com um plano aberto mostrando aquele lugar caótico, repleto de pessoas com pensamentos, atitudes, percepções e opiniões das mais diversas. A inocência dos amigos, a partir daquele momento, estava em xeque, já que havia a necessidade de adequação àquele novo local, àquelas novas pessoas e seus próprios julgamentos em relação a todos; havia a necessidade de amadurecimento e de encarar a chamada “vida real” – era o início da preparação para a idade adulta que chegaria em poucos anos. Em pouco tempo, questionamentos sobre o relacionamento dos jovens apareceram explicitamente, olhares maldosos se mutipicaram e, por conseguinte, provocações inerentes da rebeldia da idade e do preconceito começaram a ressoar pelo grupo de colegas. O diretor trabalha sua narrativa no sentido de transformar em burburinho a observação do amor entre dois homens, a despeito de não haver um personagem eminentemente questionador e/ou qualquer momento de cunho sexual entre os jovens. No filme, o amor é sentido e a intolerância/maldade/incompreensão é subentendida, com poucas passagens mais explícitas, mas que funcionam muito bem aos propósitos pretendidos.

Inevitavelmente, a pouca experiência de vida para lidar com a magnitude das dificuldades encontradas leva à ruptura, ao desespero e à tragédia. Após isso, outra conjuntura é muito bem construída: um ambiente eivado de profundo remorso, tristeza e culpa, materializado principalmente no personagem Leo, que metaforicamente bate por diversas vezes nas paredes de um campo de hóquei e se machuca após um “encontrão” com outro jogador, representando as dores, as surras e as quedas que a vida proporciona às pessoas. No caso de Leo, a vida o pisoteou logo cedo, deixando, por cima de tudo, um sentimento de culpa e a sensação de que aquilo tudo poderia ser evitado se ele não fosse tão suscetível aos efeitos danosos dos julgamentos alheios. Nesse contexto, o foco total é na dificuldade em “desabrochar” por parte do jovem protagonista e na dificuldade de assimilação do terrível golpe dado pelo destino. Assim, a mãe de Remi tem uma atuação mais destacada no último ato do filme, baseando-se finalmente pelo acolhimento para complementar o papel desempenhado por Leo nesse bloco narrativo e trazendo boas doses de emoção à experiência proporcionada.

Ao fim, temos a representação de um sério defeito da sociedade: o pré-julgamento, deturpando situações e causando sérias e trágicas consequências. Trata-se de uma representação da perda da maneira mais ampla possível (do amor, da amizade, de um ciclo), assim como acontece quando fases cronológicas da vida são ultrapassadas, quando as pessoas abandonam (ou perdem) determinados processos e iniciam outros. E assim a vida continua, e as pessoas devem saber lidar com todas as “passagens obrigatórias” que ela impõe, principalmente se adequando a ditames nem sempre salutares da sociedade. Como cantou Roberto Carlos, “é preciso saber viver”.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

12 comentários Adicione o seu

  1. Paulo Rômulo disse:

    Lindo filme, Adriano. Delicado, doloroso… Obrigado por compartilhar mais um grande postulante à vaga na categoria Melhor Filme Internacional do Oscar 2023.
    Não vejo a hora de assistir Marte Um. Adoraria ter visto no cinema.

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    1. Paulo, realmente Marte Um ainda não pipocou na net, mas estou de olho. Assim que sair compartilharei juntamente com um textinho. Entretanto, ele já está disponível no Now, que é a plataforma de streaming da Claro/NET, por R$ 14,90. Hoje estarei publicando um post onde pode se ver os próximos lançamentos do blog, que são os filmes que estou atualmente legendando. Vem mais coisa por aí.

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  2. Junior Antonio J Oliveira disse:

    Obrigado, por mais esta pérola!

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    1. De nada, meu camarada,

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  3. José Orlando Terra disse:

    Magnífico!!!

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  4. O próprio comentário do site já ficou perfeito em sua resenha.
    Agora, não consigo aceitar o fato de que aconteceu tudo daquela forma. Quem ficou com remorso foi eu, a amizade deles ser interrompida dessa forma muito triste… “Poderia até” ser interrompida ” é possível”, depois daquela briga, mas o Remi com aquela tristeza no coração, abala muito.

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    1. Pesado esse filme, Rodrigo. Te coloca para pensar em toda maldade que carrega consigo.

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  5. Will Sanches disse:

    Simplesmente um filme muito ótimo, que vem me fazer lembrar d minha infância 🥺🥹…
    Não estou conseguindo ligar com as informações declaradas nesse filme….. logo cedo a vida lhe ensina da pior maneira possível como, não devemos nos importar com opiniões alheias em nossa vida ….
    Esse filme me tirou toda a concentração possível…. Simplesmente amei….
    Obrigada

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  6. Anônimo disse:

    Tá dublado ou com legenda?

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    1. Com legenda em português embutida.

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