Crítica | Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica

Animação faz piada com as várias encarnações do Cavaleiro das Trevas

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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Apesar de ser conhecido como o Cavaleiro das Trevas, que é um nome bastante sombrio, muitas pessoas conheceram o Batman através da clássica série dos anos 1960. Com um homem-morcego gordinho, um Coringa que ostentava um grande bigode debaixo da maquiagem branca e o já clássico bat-repelente de tubarão, o seriado era muito mais uma paródia do personagem do que uma adaptação dos quadrinhos. A verdade é que, por trás de toda a tosquice da produção, ela era divertida de se assistir. Então não é de se espantar que a Warner/DC tenha resolvido trazer de volta esse universo tão querido por alguns fãs. Primeiro nos quadrinhos e agora nas animações, área na qual a empresa não costuma decepcionar. E Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica realmente não decepciona. Com dublagens de Adam West e Burt Ward reprisando seus papéis de Batman e Robin, respectivamente, a animação não apenas homenageia a série original, como ainda acaba sendo uma paródia da paródia.

Quem assistia o seriado sabe que alguns dos episódios mais esperados eram aqueles em que vários vilões se reuniam para tentar finalmente acabar com o Cruzado Encapuzado e seu pupilo. Então para este retorno nada mais natural que uma reunião dos maiores deles. Coringa, Charada, Pinguim e Mluher-Gato se unem para roubar um aparelho experimental capaz de duplicar qualquer coisa. Sem as restrições orçamentárias de uma série com atores reais, a animação aproveita para apresentar as mais absurdas situações nunca antes vistas na série. Assim, temos personagens duplicados, lutas em gravidade zero e armadilhas ainda mais exageradas do que as apresentadas na série, como uma bandeja de comida gigante. Além disso, se Batman e Robin já pareciam inteligentes demais no seriado, descobrindo coisas através das menores pistas, aqui eles são praticamente deuses. Basta citar uma palavra qualquer que, de repente, Batman adivinha o grande plano dos vilões, mesmo que não faça sentido algum.

Muito mais preocupado em homenagear o seriado do que em contar uma história que faça sentido, o diretor Rick Morales enche a tela de lutas (soc, pow, tum) e referências ao material original. Em determinado momento, por exemplo, Batman leva um golpe e fica meio desnorteado, passando a enxergar tudo triplicado. Ao olhar para a Mulher-Gato, ele vê as três atrizes que interpretaram a personagem na série: Julie Newmar, Lee Meriwheter e Eartha Kitt. Por falar em Mulher-Gato, não faltam também insinuações a um possível relacionamento homossexual entre Batman e Robin, já que muitas pessoas na época da série afirmavam que eles eram um casal. Assim, sempre que a ladra se insinua pra cima do homem-morcego, as reações do menino prodígio contra esse relacionamento são sempre hilárias e cheias de ciúmes. Além disso, a tia Harriet afirma que descobriu o grande segredo dos sobrinhos, dando a entender que sabe do relacionamento deles e que eles não deveriam esconder.

Apesar de adaptar os personagens da série dos anos 1960, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica vai além e resolve zoar com outras encarnações do herói. A principal delas é o Batman da animação dos anos 1990, criada por Paul Dini. Sem entrar em detalhes sobre a trama, em certo momento o herói passa a agir de maneira diferente e muito mais sombria, gerando cenas hilárias como sumir e deixar o Comissário Gordon falando sozinho. E o retorno da personalidade original do herói se dá da forma mais mirabolante possível, como pede o clima galhofa da animação. Nem mesmo a trilogia dirigida por Christopher Nolan escapou das alfinetadas dessa animação. Em mais uma das tentativas de Batman trazer a Mulher-Gato para o lado do bem, com o objetivo de que eles possam ficar juntos, a ladra responde que fará isso com a condição de que ambos possam ir para a Europa, tomar um chá e viverem felizes para sempre. De imediato, Robin diz que isso seria um final bem sem graça.

Para quem cresceu assistindo ao seriado, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica é uma divertida volta no tempo, mas que consegue trazer algum frescor para os personagens ao homenagear outras encarnações dos heróis. Além disso, as cenas durante a noite, que eram praticamente inexistentes na série, dão um ar de novidade para este universo, além de serem muito bonitas. Completando o pacote, as atuações de Adam West e Burt Ward estão fantásticas, com destaque para o primeiro, que consegue nos apresentar um Batman ainda mais canastrão do que aquele visto na série de TV. Se é que isso é possível.

Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica (Batman: Return of the Caped Crusaders, EUA)

Ano de Lançamento: 2016

Duração: 1h 18min

Direção: Rick Morales

Roteiro: Michael Jelenic e James Tucker

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.