Crítica | Resident Evil 6: O Capítulo Final

Nem as cenas de ação salvam esta bomba cinematográfica

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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O mais interessante em Resident Evil 6: O Capítulo Final é perceber como ele é bastante fiel aos últimos jogos da franquia de games, antes do reboot da mesma com o sétimo jogo. E isso nem de longe pode ser considerado um elogio, já que os últimos jogos foram os mais fracos de toda a série da Capcom, levando ao já citado reboot. Assim, logo de cara temos Alice (Milla Jovovich) enfrentando um monstro voador gigante, utilizando para isso um jipe que serve, ao mesmo tempo, como veículo de fuga e arma contra a criatura. O que começou como uma franquia sobre zumbis se transformou em ação desenfreada, exatamente como aconteceu nos games. A diferença é que, enquanto os games ainda tentavam contar uma história, isso não acontece neste capítulo final no cinema. A ideia do filme é basicamente tentar amarrar todas as pontas soltas deixadas pelos capítulos anteriores, intercalando os poucos diálogos com cenas de ação.

Após uma retrospectiva de toda a série e da cena de Alice enfrentando o monstrão, a protagonista fica sabendo que sua nova missão é disseminar um antivírus aéreo que vai eliminar o T-Vírus do planeta. Para isso, ela precisa chegar à destruída Racoon City em menos de 48 horas, já que este é o tempo que vai levar até que as últimas colônias humanas sejam destruídas e a humanidade completamente aniquilada. Com essa ideia em mente, o roteirista e diretor Paul W.S. Anderson tenta forçar a todo momento um sentido de urgência no espectador. Além de várias tomadas aéreas para mostrar a grandiosidade do problema, ele não economiza em planos detalhe do relógio de Alice mostrando quanto tempo falta para a aniquilação. O problema é que não vemos os tais últimos assentamentos humanos, então não temos conexão emocional com eles. Nem os próprios personagens da franquia eram memoráveis o suficiente para nos importarmos e, provavelmente por isso, eles nem aparecem aqui, com exceção de Claire (Ali Larter).

O pior é que o diretor não respeita a própria contagem regressiva, com cenas que duram muito mais do que o tempo estabelecido. A batalha final, por exemplo, deve durar o dobro do tempo restante no relógio de Alice. Isso sem contar todo tempo gasto nas armadilhas do laboratório da Umbrella. Para completar a falta de coerência nessa correria toda, a própria Alice diz, em certo momento, que vai demorar muito para o antivírus se espalhar pelo mundo todo. Então como diabos a humanidade seria salva em 48 horas? Como se tudo isso não bastasse, o filme ainda possui diversos problemas técnicos e de roteiro. Tem vilão que está ali só pra fazer cara de mau e parecer perigoso, mas que é derrotado de maneira extremamente imbecil. No outro extremo, temos um vilão que surge literalmente do nada, em uma tentativa ridícula de criar ainda mais tensão. Paul W.S. Anderson não deixa de fora também as revelações ~~bombásticas~~ sobre a protagonista, que só surpreendem quem não estava prestando atenção até ali.

Talvez o que mais surpreenda em Resident Evil 6: O Capítulo Final, seja a “habilidade” do diretor em ser óbvio. Todas as cenas que deveriam criar certa expectativa no filme são óbvias demais. Os monstros saem exatamente de onde nós esperamos que saiam, as armadilhas estão nos locais de sempre e personagens que sabemos que vão morrer, morrem de maneira previsível. Sério, alguém ainda se surpreende com personagem morrendo sugado por uma hélice gigante em um duto de ventilação? E é claro que, logo depois da morte, a energia do local acaba, para que pensemos “poxa, mais alguns segundos e esse personagem não morria”. Impossível ser mais clichê do que isso. Tudo envolvendo os personagens secundários é tão mal construído que, logo que Alice descobre que existe um traidor no grupo (sempre tem um né?), fica óbvio para o público quem seria ele. E nem vou citar aqui a cena cretina de como um exército de zumbis é derrotado.

O mínimo que se espera de um filme desse nível é que pelo menos as cenas de ação sejam de enlouquecer, fazendo com que o público ao menos desligue o cérebro e esqueça as besteiras do roteiro. Mas nem isso Paul W.S. Anderson consegue fazer direito. É praticamente impossível entender a geografia de qualquer cena de luta corporal presente no filme. São tantos cortes durante as lutas que simplesmente não tem como saber o que está acontecendo. Às vezes até conseguimos ver um soco atingindo um rosto aqui e ali, mas é necessária uma certa boa vontade do espectador para isso. A coisa toda é tão absurda que um simples chute ou soco possui uns três ou quatro cortes até que o golpe finalmente atinja o alvo. A impressão que dá é que talvez os atores nem estivessem se movendo na hora das lutas e o diretor montou tudo apenas com cortes frenéticos. O mais assustador, porém, acontece nos últimos segundos de filme, quando percebemos que, apesar de possuir o nome de Capítulo Final, a história ainda deixa um possível gancho para continuações. E algo desse tipo seria muito pior do que qualquer apocalipse zumbi.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.