Crítica | Sete Minutos Depois da Meia-Noite

É como ser atropelado por um caminhão de emoções

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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Não importa a idade que a gente tenha, lidar com a morte de alguém amado é sempre muito difícil. Muitas vezes sentimentos de culpa e impotência diante do fato são inevitáveis. Perder um dos pais então deixa uma sensação de estarmos sozinhos no mundo, afinal, ninguém nunca vai nos apoiar tanto quanto nossos pais. Em Sete Minutos Depois da Meia-Noite, Conor (Lewis MacDougall) é um garoto de 13 anos que está prestes a perder a mãe (Felicity Jones) para um tipo de câncer extremamente agressivo. Enquanto sua mãe tenta protegê-lo ao máximo, dizendo que o novo tratamento dará certo, Conor é inteligente o suficiente para perceber a verdade. Tentando lidar com a iminência de uma perda tão grande, o garoto começa a imaginar a visita de um monstro gigante que lhe contará três histórias e, ao final delas, uma cura irá aparecer. Mas para isso Conor deverá revelar um segredo que ele não ousa dizer em voz alta nem para si mesmo.

Utilizando uma estrutura que lembra um filme de fantasia em diversos momentos, com direito a diversas cenas em animação, o diretor J. A. Bayona nos apresenta uma tocante história sobre como lidar com o luto. Conor está naquela fase em que é “velho demais para ser criança e jovem demais para ser adulto”, fazendo com que até as pessoas ao seu redor não saibam direito como lidar com a situação. Enquanto a mãe tenta a todo custo dar esperança ao filho, a avó (Sigourney Weaver) acaba assumindo um papel mais ríspido na vida do garoto. Não porque não o ame, mas por saber que, muito em breve, ele vai precisar enfrentar a verdade. Tendo que escolher entre encarar a realidade como um adulto, ou se agarrar em falsas esperanças como uma criança, Conor acaba optando pela segunda opção. Assim, ele abraça a amizade com o monstro de madeira e deposita nele a esperança de encontrar uma cura milagrosa para a mãe.

O interessante das aparições do monstro é que, agindo como uma espécie de subconsciente do garoto, as histórias que ele conta nunca possuem um final feliz. Com isso fica claro que o próprio Conor entende a gravidade da situação da mãe, mesmo que ainda não consiga admitir isso para si mesmo. Não é à toa também que, conforme o filme avança, as histórias contadas pelo monstro vão tendo cada vez mais consequências negativas no mundo real, com Conor externalizando toda a dor que está guardando dentro de si. Além disso, se a primeira história é toda em animação, a última já acontece completamente no mundo real, mostrando que o garoto está começando a encarar a realidade de que terá que começar a viver sem a presença da mãe. É interessante também como, em momento algum, as animações deixam o filme com um tom infantil. Embora possuam traços simples, como desenhos de uma criança, todas elas possuem cores sombrias, com muito preto e vermelho. A animação do monstro também é muito boa e ele sempre parece ameaçador, mesmo quando tenta ser amigável.

Apesar do foco ser em Conor, Sete Minutos Depois da Meia-Noite ainda consegue trabalhar bem os sentimentos dos outros personagens envolvidos no filme. É tocante ver o esforço que a avó faz para fingir que tudo o que está acontecendo é normal, mesmo que esteja devastada pela possibilidade de ver a filha partir. A cena com a avó e o neto dentro do carro é de partir o coração. Já Felicity Jones interpreta aquele tipo de mãe que vai fazer de tudo para proteger o filho da dura realidade, oferecendo sempre um sorriso no rosto mesmo quando seu corpo já aparenta estar totalmente devastado pelo câncer. E se já é difícil não se emocionar quando ela diz para o filho “se cem anos eu tivesse, cem anos eu daria pra você”, fica praticamente impossível segurar as lágrimas quando Conor finalmente revela a grande verdade que ele tanto evitou dizer. Uma verdade que, percebo agora, eu mesmo deveria ter dito quando tive a oportunidade. Sete Minutos Depois da Meia-Noite é um belo filme e que me deixou com a sensação de ter sido atropelado por um caminhão de emoções.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.