Crítica | The Discovery

Filme possui temas interessantes que nunca são aprofundados

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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Talvez a questão que deixe a humanidade mais intrigada seja a respeito da existência ou não de vida após a morte. Toda religião possui sua versão do que acontece conosco depois que morremos, mas ninguém nunca conseguiu provar se algo realmente existe. Em The Discovery, novo filme da Netflix, essa questão finalmente foi respondida. Na história, o cientista Thomas Harbor (Robert Redford) consegue provar cientificamente que nossa consciência vai para algum lugar depois que morremos, embora ele não saiba dizer exatamente para onde. O que seria uma grande descoberta acaba se mostrando prejudicial, já que isso acaba aumentando o número de suicídios ao redor do planeta.

O universo que se apresenta a partir dessa premissa é interessante, já que um aumento significativo na taxa de suicídios traria diversas consequências para a sociedade. Porém, o roteiro escrito por Charlie McDowell e Justin Lader acaba deixando isto apenas como plano de fundo para se concentrar na relação de Thomas Harbor com seus filhos, Will (Jason Segel) e Toby (Jesse Plemons), enquanto Harbor tenta construir uma máquina que mostre o que existe depois que morremos. Para isso, ele começa uma espécie de culto, formado por diversas pessoas que estavam pensando em se matar. Além dos três, entra na história também Isla (Rooney Mara), uma mulher que possui alguns traumas do passado e que, após ser salva de por Will de uma tentativa de suicídio, acaba se unindo ao grupo criado por Harbor.

A partir daí The Discovery pretende discutir grandes questões, como o significado de cada uma de nossas escolhas durante a vida e se é possível fazer algo diferente caso tenhamos uma segunda chance. O problema é que o filme fica apenas na vontade de discutir estes temas, já que as ideias são jogadas no ar, mas não são devidamente aprofundadas. A questão dos suicídios, por exemplo, pouco é citada depois da parte inicial. Em certo momento, a história inclusive fica muito mais preocupada em focar na investigação feita por Will e Isla para descobrir como funciona a máquina de Harbor.

Se os roteiristas tivessem se concentrado em explorar o mundo que criaram, a coisa toda seria muito mais interessante. Afinal, como uma personagem aponta no meio do filme, “se está provado que existe vida após a morte, quando matamos alguém isto é homicídio ou estamos apenas mandando a pessoa para outro lugar?”. Uma pena que esta seja mais uma questão que fica sem o devido aprofundamento na história.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.