Tags
As Palavras, Bradley Cooper, Dennis Quaid, Desvendando, Jeremy Irons, Olivia Wilde, The Words, Zoe Saldana
No Desvendando buscaremos interpretar filmes mais reflexivos e com explicações não tão óbvias ou com finais abertos, trazendo uma visão diferenciada e que talvez possibilite aos espectadores entender melhor a obra. Inaugurando o quadro, temos As Palavras (The Words), drama de 2012 com roteiro e direção de Brian Klugman e Lee Sternthal. O filme me fez refletir por uns bons 30 minutos após terminar de vê-lo, procurando entender e conectar as histórias. Àqueles que ainda não assistiram, mais que uma resenha, aqui buscarei passar minha interpretação pessoal (recheada de spoilers). É um ótimo filme, principalmente para aqueles que têm interesse pela escrita ou por boas histórias, recomendadíssimo. Em um primeiro momento pode parecer desconexo, sentimento que eu mesmo tive após a cena final, mas com uma boa reflexão acabei por apreciar a genialidade contida nesse trabalho de metalinguagem.
O filme conta 3 histórias de 3 escritores. Primeiramente, mostra Clay, interpretado por Dennis Quaid, um escritor bem sucedido que está fazendo a leitura de seu novo romance para o público. No romance de Clay, Rory, através da digna apresentação de Bradley Cooper, é um escritor novato em busca da sua primeira publicação. Tem a felicidade com sua esposa, Dora (Zoe Saldana), com a qual vive o amor de sua vida. Contudo, as coisas não vão tão bem para Rory, uma vez que ninguém quer publicar o que ele está escrevendo. É aí que ele se depara com um romance antigo e esquecido na maleta de Paris. A trama é genial, e ele acaba publicando como se tivesse sido por ele escrito. É uma história roubada, mas ver a felicidade de sua amada Dora ao achar que aquela era uma história dele o faz seguir em frente com o golpe.
Entra em cena Jeremy Irons, como The Old Man, grande atuação do filme. Ele vem à Rory e conta a verdadeira história por trás do livro que trouxe tanto sucesso ao personagem de Cooper. O universo do filme restrito ao Rory e ao Old Man traz uma bela história, mas a verdadeira sacada está na perspectiva de Clay, o contador do livro. Fiquei me perguntando qual era o papel dele naquilo tudo, qual era a utilidade dele para o filme. Foi assim que busquei entender a metalinguagem e a conexão das histórias.
Na verdade, Clay, Rory e The Old Man são todos a mesma pessoa, na cabeça de Clay. Em sua história, ele se projeta no Old Man: é o cara que queria muito escrever, e que tinha o grande amor da sua vida em suas mãos. Quando o momento crucial chegou, ele deu preferência às palavras do que a sua amada, tratando ela com grosseria e consequentemente perdendo-a. Rory está vivendo a mesma situação, mas Clay escreve esse personagem da maneira que ele gostaria de ter vivido a sua vida. Clay está, assim como Rory, roubando uma história, só que de si mesmo. Ele não merece crédito por aquilo; está apenas retratando a sua vida como gostaria que tivesse sido.
Clay, Rory e Old Man enfrentam o mesmo dilema em algum ponto de suas vidas: as palavras ou o amor. Fazer escolhas é fácil. O difícil é viver com as consequências. É interessante notar aqui a importância da personagem de Olivia Wilde, Daniella. Ela pergunta à Clay qual é o final da história de Rory. Ele diz que ele simplesmente tomou a história roubada como sua, e que às vezes mesmo cometendo um erro uma pessoa consegue continuar vivendo a sua vida, e vivendo bem. Essa era a mentira que Clay estava tentando contar a si mesmo: mesmo tendo cometido o erro de escolher as palavras ao amor de sua esposa, quer acreditar que está vivendo uma vida boa; um ótimo apartamento, sucesso em sua carreira literária e uma jovem com metade da sua idade lhe fazendo companhia.
Contudo, Daniella continua a confrontá-lo em busca da verdade. Ela ameaça ir embora e diz o que acha que aconteceu com Rory; “He’s fucked”, e dá um belíssimo discurso que, na minha visão, é para Clay, e não para a história dele. Ele não consegue dormir a noite pois vê o Old Man: a pessoa que tomou todas as decisões erradas e acabou sozinha. Ele responde: “Talvez… vê seu próprio rosto, e o velho é apenas uma história que ele inventou”. Enfim, eles se beijam.
É então que vem a grande cereja no topo dessa obra prima. Clay não consegue continuar a beijar Daniella. Tendo cometido um grande erro, ele deve encarar que não conseguirá viver uma vida boa, e aquela história é apenas a mentira que ele continua vivendo em sua mente de que está tudo bem. Daniella pergunta pra ele: “Clay. O que você realmente quer?” E então a cena mais genial de todas: Dora e Rory estão na cozinha, da mesma maneira que o Old Man (Clay) esteve com sua amada em sua história. E Rory faz o que Clay sempre quis ter feito; ele vive na ficção aquilo que gostaria de ter tornado real, rouba sua própria história para poder dar um final feliz a ela, mesmo sabendo que ficção e realidade, apesar de muito próximos, nunca se tocam. Abraçado com o seu amor, ele finalmente deixa as palavras de lado e vai em busca da sua felicidade: “Me desculpe”. Fim.
Essa foi a minha interpretação após algum tempo refletindo sobre o filme, atividade que eu aconselho a qualquer um, pois irá engradecer significativamente a experiência. As Palavras deixa ao espectador uma abertura para entender a obra da maneira que melhor lhe convir; espero que compactuem da minha visão, uma vez que para mim tudo pareceu fazer muito sentido. E você, o que achou do filme? Concorda com a interpretação ou tem a sua própria? Compartilhe conosco nos comentários!
Nota do Minha Pipoca: 10/10.
Anônimo disse:
Simmm!!! Faz total sentido, quando o Senhor começa a contar a história dele naquele banco eu pensei… nossa é a mesma história.. 😉
CurtirCurtir
Carol M disse:
Republicou isso em fantasticomundodecarole comentado:
Excelente interpretaçäo.
CurtirCurtir
Carol M disse:
Acabei de assistir so filme e achei sua interpretação ótima.
CurtirCurtir
Liriel Roberta disse:
Assisti o filme hoje, mas vejo que sua postagem já é um tanto antiga, visto que se passou 6 anos!
Bom, estou simplesmente, tocada, apaixonada por este filme, ele me tocou de uma forma muito grande, mesmo que pareça ser um filme simples, ele tem um grande profundidade, em vários aspectos, muito além da ética X moral, ele realmente quer saber algo de dentro de nós, ele quer tirar uma reflexão….é muitas coisas. É um filme surpreendente para mim e sua visão do filme parece muito certa, fazer sentido, principalmente quando diz que a cena de Rory com Dora era o que Clay queria viver, ainda mais quando Daniela abre um livro em cima de sua mesa (onde Clay escreve seus livros) e dentro deste livro há uma foto de uma mulher negra, a qual pode ser a esposa de Clay (pela cara feita pela Daniela). E na cena final onde mostra Rory e Dora, Dora é uma mulher negra, o que reflete realmente que o que Clay queria era essa vida de Rory.
Obrigada pela explicação maravilhosa!
CurtirCurtir
Lizabeth disse:
Amei o filme, muito bom. Eu vi exatamente dessa forma. Quando ele não consegui seguir em frente com Daniella. Ele vive pra se arrepender da escolha que não fez. Pedido perdão a sua esposa. Que pra mim ainda amava visto que ainda usava a aliança de casamento. É isso. Fiquem com Deus.
CurtirCurtir
Claudia disse:
Adorei sua explicação! Sensata e sensível!
CurtirCurtir
Ana disse:
Acabei de assistir o filme e logo vim buscar na internet outra visão para entender outras compreensões, concordo com você no comentário a não ser o final que na minha visão acredito que o Roy matou Dora e por isso ele fala do erro que ele cometeu. Daniele fala que ele está separado e verifica que ele usa aliança e em nenhum momento do filme é revelado a identidade de sua esposa, então eu acredito que ele deva ter matado a Dora pois ela também era a única que sabia do segredo, o senhor já tinha morrido então matou a unica que ainda sabia do segredo, a matou e continuou vivendo bem sucedido como escritor
Ana Dossi
CurtirCurtir
ALUIZIO MAGALHAES disse:
Além dela, tinha o patrão dele que também sabia da história
CurtirCurtir
Gui Amaral disse:
Pensando aqui, the old man, nada mais é, que, o Clay se vendo no futuro. Sozinho, a casa “vazia”. E o Rory é o Clay jovem, que “entrou” no mercado dos livros a pedido dela, por alguma necessidade financeira. Mas ele foi mentalmente fraco e não conseguiu lidar com o sucesso. Isso subiu à cabeça e arruinou sua vida pessoal.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Gui Amaral disse:
Genial!
CurtirCurtido por 1 pessoa
meukando disse:
vi o filme agora e fiquei meio perdida com as ideias (são tantas histórias…) mas é um filme muito bom! concordo com a tua revisão. é inevitável sentir a amargura de todos os personagens.. adorei e obrigada por esclarecer minhas ideias! heheh 🙂
CurtirCurtido por 1 pessoa