Especial: Meu Amigo Secreto MVDC #1




Chegamos ao fim do ano, e com ele os já tradicionais amigos secretos vêm para alegrar as festividades familiares. Nós, colaboradores do Minha Visão do Cinema, decidimos então fazer um amigo secreto de críticas: cada pessoa escolheu um filme que gosta e que ainda não tinha sido feito nenhum post aqui no site e sorteamos para outro colega fazer a crítica deste filme. 


Eu tirei o  Antonio Gustavo que escolheu Mandy: Sede de Vingança. Vamos à crítica:  





Considerado por uns como o melhor filme de terror de 2018, e passado desapercebido por tantos outros, Mandy: Sede de Vingança, conta com um roteiro típico de filmes que misturam o tema Slasher com o tema Vingança: Red Miller (Nicolas Cage) e Mandy Bloom (Andrea Riseborough) são um casal que vivem isolados da sociedade no meio de uma floresta pacata que é o sustento dos dois, Red é lenhador e Mandy dona de uma pequena loja de suprimentos, até que um dia Jeremiah Sand (Linus Roache) e seus seguidores passam por Mandy na estrada, e o homem, que alega ser uma espécie de segundo filho de Deus, cria a fixação de recrutar a moça para a sua seita.


Seu primeiro ato longuíssimo, faz a apresentação de maneira lenta e cuidadosa, colocando o ponto de virada quase na metade do filme. O diretor Panos Cosmatos consegue carregar essa primeira uma hora de filme com um visual psicodélico magnífico, misturando sonhos à realidade, para apresentar o passado, o presente e a psiqué daqueles personagens. A cinematografia de Benjamin Loeb, pouco conhecido no mainstream, consegue implicar tons surreais em todas as sequências do filme, não deixando que ele caia em monotonia até nos momentos mais “sóbrios” da película, sempre conseguindo diferenciar com o uso de cores e planos em qual é o momento da história: realidade ou sonho, passado ou presente. Até mesmo aspectos positivos ou negativos são passados de maneira didática ao espectador, sem perder a estranheza necessária para a psicodelia que já é marca registrada do diretor grego, cuja outra obra de sua pequena filmografia é o igualmente lisérgico Além do Arco-Íris Negro, lançado em 2010. 




Outro grande marco do filme como um todo é a trilha sonora de Jóhann Jóhannsson, o mais experiente cineasta da equipe, que traz o Rock n’ Roll dos anos 1970 e 80 para ambientar a história e trazer uma unidade para o todo, história essa que também nos mostra ser um ode ao estilo musical, principalmente nos créditos iniciais que dizem “Quando eu morrer, me enterre bem fundo/ Coloque dois alto-falantes aos meus pés/ Ponha fones de ouvido na minha cabeça/ E solte o Rock’n Roll quando eu estiver morto.” Citação feita por um homem condenado à cadeira elétrica em 2005, no estado do Texas, local onde se passa o filme, seguido da música Starless da banda King Crimson de 1974, que fala sobre a falta de esperança e sobre a contraposição ao cristianismo, numa letra simples e simbólica. Fazendo alusão ao antagonista da trama, que através do Rock’n Roll também faz uma sátira a Charles Manson, inspiração clara para o personagem, que como o serial killer da vida real, também tem o sonho de ser um astro da música. Vale dizer também que o título do álbum que está a música de introdução se chama Red, inspiração clara para o nome do personagem principal. 


Tendo a personagem Mandy como a protagonista do primeiro ato, é válido ressaltar a  impressionante performance de Andrea Riseborough que consegue entregar o seu papel de maneira que combina muito com o clima desta primeira parte, e traz toda a carga de terror psicológico que por vezes a obra chega a flertar. A sua sequência final contracenando com Linus Roache é o ponto alto da obra e certamente o momento mais inesquecível de toda a narrativa fica por conta da vergonha do falso profeta ao não conseguir converter a mulher para ser uma de suas seguidoras. Culminando em sua chocante morte.



Os problemas de Mandy: Sede de Vingança, começam quando o protagonismo vai para Nicolas Cage e sua “sede de vingança” justificando o subtítulo brasileiro do filme. Não que a atuação sempre canastrona de Cage esteja fora de tom, muito pelo contrário, o filme muda completamente a sua essência para se transformar num slasher extremamente convencional, desses que todos já assistiram ao menos meia dúzia de vezes. Em alguns instantes, o diretor ainda lembra através da direção de arte de seu maior trunfo, que é a forma única que ele consegue expressar a sua psicodelia, mas daqui pra frente este tema vira apenas um pano de fundo para reverenciar e homenagear algumas obras como o consagrado filme de terror Hellraiser. Porém,  o foco daqui em diante é misturar dois gêneros já cansados do cinema: o slasher, como já dito acima e o Macho Movie, onde Panos Cosmatos começou sua carreira participando de alguns filmes de seu pai, o também diretor George P. Cosmatos (1941-2015), conhecido principalmente por dirigir Rambo II: A Missão e Cobra, ambos os filmes que foram grandes marcos deste gênero que trouxe à fama e consagração de atores como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris e tantos outros que sobreviveram aos anos 1990 fazendo cópias de seus próprios filmes incessantemente. A Marvel de 20 anos atrás. 

No momento que o espectador percebe que o filme se reduziu apenas a caça de Red por todos que estiveram envolvidos com a morte de sua esposa, o mínimo a se esperar são cenas criativas condizentes ao espetáculo cinematográfico do começo do filme, mas não é o que temos aqui. A fotografia continua bonita, sem dúvidas, os planos escolhidos pela direção ainda são inventivos em vários pontos da história, mas o roteiro não. As mortes acontecem de forma simples e rápida, só empurrando o filme para o grande confronto entre Red e Jeremiah. E aqui, com certeza, o Cosmatos filho mostra que não aprendeu com seu pai como se faz uma ótima cena de ação, onde o mocinho tem que se desdobrar para vencer o grande vilão com poderes inumanos. A tentativa do cineasta é quebrar a expectativa de quem assiste, mas ele acaba fazendo a sequência final totalmente anti-climática e selando a decepção que é a metade final do filme. 



Infelizmente, Mandy: Sede de Vingança não entrega o que promete, mas é um filme que merece ser visto, especialmente pela sua maneira única de contar esta história. 


Fica a minha recomendação pessoal: talvez seja melhor assistir duas vezes a metade onde Mandy é a protagonista, para pegar outros detalhes que passaram desapercebidos sobre a construção dos personagens numa primeira assistida, e se deleitar mais uma vez com a ousadia cinematográfica pouco vista no cinema atual, do que a segunda parte que não passa de um Macho Movie do mais canastrão, repetindo apenas os erros dos filmes menos inspirados do gênero com cores saturadas, para lembrarmos que estamos neste universo criado pelo cineasta a frente do filme.



Trailer:


Agora é a vez de do Antonio postar a crítica dele. Mas me digam,  gostaram do formato? Chegaram a assistir esse filme? O que acham do Nicolas Cage? Deixem seus comentários e opiniões. 

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