De Niro e Pacino contracenando pela primeira vez, não poderia ser melhor.
Heat é uma obra prima se você é fã de filme de ação, os personagens são muito bem escritos e desenvolvidos, um dos poucos do gênero a conseguir escrever personagens profundos e dúbios.
Um dos fatores que torna isso muito bem executado é mostrar desde a vida perturbada e a obsessão pelo trabalho que tem Vincent Hanna (interpretado por Al Pacino), e também mostrar a vida do "engenhoso" personagem Neil McCauley (Robert De Niro) que pretende se aposentar após o próximo assalto.
Outro que dá show está por trás das câmeras, é o diretor Michael Mann, a atmosfera que ele cria nos movimentos de câmera (como na cena do café) e a fotografia criam algo muito impactantes para ser "apenas" um filme de ação, a cena de assalto ao banco e do tiroteio são genialmente executadas, e parecem ser algo "sincopado" pela presença da trilha sonora nas duas cenas.
Heat é um dos melhores filmes dos anos 90, que reúne dois dos maiores atores da história do cinema mundial, e que também mostra o talento e amadurecimento de Michael Mann a frente de seus projetos.
O filme começa em 1633 e conta a história de dois padres que são Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver), que vão ao Japão primordialmente para ter notícias do Padre Ferreira (Liam Neeson) que aparentemente cometeu apostasia para poder sobreviver, e também para propagar o cristianismo que era uma religião proibida.
Scorsese tem uma narrativa diferente da grande maioria de seus filmes. O ritmo da montagem é mais lento, não há trilha sonora, e o som é usado como uma maneira de homenagem ao título do filme, muitas vezes com o som ambiente, seja de animais ao fundo, seja da chuva. O desenvolvimento da história em muitos momentos parece uma homenagem aos filmes orientais, mais especificamente de Masaki Kobayashi (Harakiri).
É um filme que aborda principalmente questões sobre a dúvida e o limite da fé, através do sofrimento de um personagem principal (Rodrigues) que automaticamente faz lembrar da história de Jesus. Assim como em “a última tentação de Cristo”, aqui as figuras religiosas são representadas como pessoas normais.
Tudo nesse filme é internalizado já que possui muitas narrações de conversa de Rodrigues com Deus, e não recebendo nenhum diálogo em troca, isso explica muito o título do filme. O cinematógrafo Rodrigo Prieto também opta por usar uma câmera mais quieta que o habitual da linguagem do diretor, usando planos mais próximos, assim fazendo o público sofrer junto com os padres que foram ao Japão. Os planos abertos, quando usados, também são belíssimos, como no começo do filme a imagem toda cheia de fumaça daquele local.
Dois grandes problemas são a duração do filme, que poderia ter cortado cerca de vinte minutos. E também os personagens que ora falam em português, ora falam em inglês, e isso ocorre de maneira recorrente e é algo que tira o espectador da narrativa algumas vezes.
Silence é uma das histórias mais belas que Scorsese já contou, é um filme difícil de assistir, não só pelo seu ritmo, mas pelas imagens e os questionamentos abordados. Não é o seu melhor filme em minha opinião, mas é o seu mais pessoal.
The Thing ou no Brasil: “O enigma de outro mundo” é um verdadeiro clássico dos filmes de terror Trash.
O filme conta a história de uma equipe de uma estação polar americana que é surpreendida pela invasão de um homem estrangeiro com uma arma e que está perseguindo um cachorro. Ao tentar acertar o cão, esse homem atinge a perna de um dos homens do grupo, o que faz com que esse homem com a arma seja morto. Após isso eles levam o corpo desse homem para a estação e fazem uma autópsia, e o cachorro anda livremente pela estação, coisas estranhas começam a acontecer.
John Carpenter tem uma direção única e marcante nesse filme, uma das coisas mais marcantes é a atmosfera introversa gelada que te coloca na posição de cada membro da equipe captando sua solidão e sua desconfiança de todas as pessoas ao seu redor, o mistério do filme é contado de maneira muito gradual através do suspense criado entre os personagens, o isolamento vai criando uma espécie de “cabin fever”. O roteiro escrito por Bill Lancaster vai criando suspense a partir de como cada personagem age com aquela situação, e como a imaginação diante algo abominável no qual eles não têm nenhum controle naquela situação vai os prejudicando e os separando cada vez mais.
A trilha sonora minimalista composta por Ennio Morricone e John Carpenter usado apenas algumas vezes com um som de baixo, ou poucos instrumentos criam a atmosfera daquele local com uma trilha contida e que nunca fica exaltada em cena.
A fotografia usa muitos ângulos que não são muito comuns criando uma instabilidade daquele universo e daqueles personagens, a montagem do filme transita entre planos longos com poucos cortes e planos mais curtos um pouco mais picotados.
Como é um filme trash a linguagem é um pouco “grotesca” (no bom sentido) tanto utilizada na maquiagem excepcional do filme, e nos efeitos especiais que também são excepcionais.
O grande problema é que ás vezes se leva um pouco a sério demais, e que muitas vezes conspira contra o governo na divulgação de vida extraterrestre.
The Thing é um filme que John Carpenter mostra muito domínio, clássico absoluto, mas que esbarra em pequenos problemas.
Por que festim diabólico em português? Por quê? Rope faz muito mais sentido, ainda mais com a situação que é apresentada ao público no começo do filme, mas enfim.
A premissa do filme é muito simples e no começo é apresentado o porquê do título original, apresentando dois personagens que reagem de maneira diferente ao que fizeram, um tem a certeza do que fez, e outro se questiona se o que fizeram foi certo, e a partir daí Hitchcock começa a construir seu suspense em pequenas ações, diálogos com excelentes subtextos, e personagens que sempre parecem que tem algo a esconder e outros que desconfiam, Hitchcock demonstra um controle excepcional do seu filme durante todo o tempo, duas cenas em específico demonstram muito bem isso.
Existem dois personagens principais, e uma das cenas mais originais que demonstram esse controle do Hitchcock no filme é uma cena em que um dos dois está tocando piano, tem um metrônomo em cima e a câmera não faz nenhum movimento, o personagem de James Stewart se aproxima, pega o metrônomo, o coloca em uma velocidade considerável e começa a questionar o personagem, e isso dura por cerca de uns dois minutos até que o outro personagem que foi quem cometeu o crime junto com o “pianista” chegue e “tire” as dúvidas do personagem de James Stewart, o uso do metrônomo é um dos fatores que faz “acelerar” a cena e o espectador feito de maneira excepcional. Outra cena que mostra esse controle é quando há um dos cortes perceptíveis do filme, em uma conversa “banal” sobre galinhas, e esse é um momento importante para a história já que é quando James Stewart começa a desconfiar de tudo.
No bom sentido da palavra parece que o filme foi gravado em um dia, é uma verdadeira aula de montagem que possui apenas oito cortes, mas é uma coisa que se ficar reparando muito se perde um pouco da magia que é a riqueza do cinema na sua forma mais pura. O filme também possui uma edição muito boa, um dos truques do filme para o suspense é a janela aberta que vai escurecendo à mesma medida que os convidados vão chegando e que acontece o jantar.
Hitchcock mostra que sabia usar o som a seu favor, quando, por exemplo, logo no começo do filme há a trilha sonora otimista tentando mostrar que não vai dar nada de errado e os créditos iniciais, e de repente fica mudo e há um movimento de câmera para a cena inicial que é muito misteriosa e que vai servir de motor para o resto do seu filme.
Excelente fotografia, a luz do filme parece que foi a luz usada dentro do apartamento colocando uma experiência cada vez mais pessoal no espectador, movimentos de câmera normalmente usados em panorâmicas para não mostrar o resto do ambiente além da sala e também para usar a imaginação do espectador, e enquadramentos normalmente utilizados em “faroeste” aumentando a tensão em tudo na trama.
Os únicos problemas do filme: o excesso de personagens, e a trama ser focado em apenas três e em alguns momentos os subtextos dos personagens serem um pouco insinuantes demais. Mas Rope ou o horrível nome no Brasil de Festim Diabólico é um dos filmes mais originais, e um dos mais ambiciosos da história.
Um dos melhores filmes sobre guerra de todos os tempos e um dos mais originais em roteiro e direção.
Tem tudo o que você espera do Kubrick, mistério, suspense, simbolismos, drama, violência, filme em um ritmo certo, edição e montagem muito bem feita e uma trilha sonora escolhida a dedo. E tem tudo que se espera de um filme de guerra: medo, angústia, raiva, ação.
Uma das coisas mais originais do filme falando no roteiro é de fazer “dois em um”, a primeira parte mostra o treinamento dos fuzileiros antes de ir à guerra, com ênfase na violência verbal e física praticada pelo Sargento Hartman em Lawrence, mais conhecido como Pyle e a segunda a tão esperada guerra do Vietnã.
Obviamente o filme não se mostra a favor da guerra, Kubrick não precisa dizer que a guerra é ruim e muito menos ser unilateral em seus argumentos, o filme já começa mostrando isso ao som de Hello Vietnam enquanto os jovens raspam o cabelo com uma expressão em seus rostos tristes, apreensivos e com medo, e logo após ocorre um corte mudando para a cena de apresentação de Hartman e para o seu treinamento sádico.
O simbolismo presente no filme é de forma sutil e normalmente feito com dualidade, para mim o ápice é quando na segunda parte Private Joker é questionado por ter um broche em seu peito com o símbolo de paz, e um dos seus superiores o questiona qual o sentido daquilo o mostrando o que está escrito em seu capacete: “Born to Kill”. E mais para frente sendo entrevistado e ainda com o broche da paz em seu peito Private Joker responde: “Eu queria ser o primeiro homem do meu bairro a ter matado alguém”.
Um dos pontos fortes do filme é o tom que não é nada volúvel como, por exemplo, quando acaba o arco Pyle e Hartman (o treinamento) e ele opta por mostrar a guerra em um corte seco sem avisar ao espectador, sendo assim muito consciente sobre a montagem de seu filme e sabendo situar o espectador já na primeira parte de sua obra sem dizer e nem escrever nada, ficou parecendo um filme dos anos 50/60 no qual aconteciam os famosos “intermission”. Um dos pontos fortes do filme também é fazer a montagem não muito picotada, como é mostrado em muitos filmes de guerra ou de ação.
O maior problema do filme que assim como em Apocalypse Now é o final, não é anticlimático, mas que deixa a entender que podem acontecer coisas boas ou coisas ruins com aqueles rapazes que foram à guerra, e opta por deixar o espectador com mais perguntas do que respostas na jornada dos personagens principais, mas isso é algo que não interfere em nada na experiência de imersão nesse filme.
Um filme que houve muita pesquisa para retratar com veracidade a guerra do Vietnã, como eram aqueles locais, Full Metal Jacket é um dos filmes mais geniais, completos e perfeitos de todos os tempos e que tem uma mensagem muito relevante.
Um dos melhores filmes da história sem sombra de dúvidas, aqui a linguagem de Sergio Leone está presente em todos os momentos, você sente um avanço dele como diretor, mais até do que na trilogia dos dólares.
Os primeiros quarenta minutos são uma aula de cinema, na forma mais genuína o uso da montagem e a fotografia alternando entre closes e planos abertos sem nenhum uso de música conseguem deixar o espectador tenso mesmo sem usar uma palavra, logo nos primeiros minutos de uma forma muito sutil Leone conta sobre o que seria a história do seu filme envolvendo violência, e um plano detalhe da água caindo no chapéu de um dos personagens.
A trilha sonora é belíssima (só Ennio Morricone para me fazer chorar em um Western) que assim como tudo na escolha da direção o ajudam a contar a história, a trilha sonora vai sendo aumentada conforme as ações vão crescendo no filme, Sergio Leone também opta em vários momentos para uma cena mais "seca" só usar o som ambiente para prender o espectador.
Além de uma direção sutil uma das maiores presenças do filme é a pesquisa dos temas colocados no filme, ótimas atuações e uma fotografia excelente.
Há filmes que são feitos para serem sentidos, que é o caso de 8 1/2.
O bloqueio criativo é um inferno, principalmente para artistas. Acredito que esta tenha sido a mensagem que Federico quis transmitir, baseado em um filme metalinguístico e que parece um delírio dos seus piores dias como diretor, contando a história através de um alter-ego.
Aqui ele faz isso de todas as formas, até mesmo na trilha sonora composta por Nino Rota que lembrar músicas circenses, as colocando em muitos momentos em que pareça desordenada ou incômoda, isso unido à fotografia em preto e branco e a montagem que tem um ritmo incessante torna o filme mais impactante, e que causa maior confusão.
A fotografia feita por Gianni Di Venanzo, utiliza muitos planos abertos e subjetivos do ponto de vista de Guido Anselmi, reforçando a ideia de que ele busca inspiração. Falando em maneira desordenada até as falas dos personagens, muitas vezes em dublagens, a montagem de Leo Cattozzo opta por colocar as falas em momentos errados, sendo assim diferente do próprio protagonista, é uma linguagem muito autoconsciente.
Marcello Mastroianni por sua vez faz uma de suas melhores atuações interpretando Guido Anselmi, no modo de falar, e principalmente na maneira evasiva de seu personagem, tanto quando ele conversa com qualquer pessoa, quanto para falar sobre seu novo filme, já que é algo que ele não faz ideia, ele sempre parece impaciente ou perdido quando uma pergunta é dirigida a ele.
Há muita coisa que é genial nesse filme, como a cena do início, três minutos de puro silêncio que mostram imagens surrealistas e que conta a história do filme, o personagem principal estacionado em seus pensamentos e que se encontra perdido.
Um roteiro tenebroso com diálogos horríveis e cenas extremamente desnecessárias, um vilão fraco, e um diretor que parece não sabe o que está fazendo são ingredientes para que esse filme seja tão ruim.
Não é um desastre completo porque tem algumas coisas que se salvam, como as atuações de Margot Robbie, Will Smith, VIola Davis e a trilha sonora.
The Witch filme dirigido por Robert Eggers conta a história de uma família que se muda para um vilarejo por questões pessoais, e lá começam a acontecer coisas horríveis. A atmosfera fria de O Iluminado e o estilo de direção de Haneke mais precisamente em “a fita branca” são duas coisas sempre presentes no filme.
A família é composta por um patriarca e uma matriarca extremamente religiosos, então temas como pecado e a culpa estão sempre presentes, o filme se passa na Inglaterra no século XVII e é um dos principais fatores que colaboram para que esses temas abordados na trama dentro de um filme terror funcionem.
A direção do filme é uma coisa impressionante, ele opta por dificilmente mostrar alguma coisa, mas quando mostra é incrível, o suspense do filme vai assim sendo construído com planos longos que mostram o local e que vai se fechando e focando em cada personagem. O ritmo do filme é algo que te desafia, mas é algo que se acostuma a partir do segundo ato e com o estilo dele. A linguagem do filme como é mostrada na época é algo a se destacar, como cada personagem interage com o próprio meio na qual a época se passa mostra uma pesquisa muito grande por parte de seu elenco (que também é incrível por sinal) e por parte da direção.
A direção de arte é impecável, é algo que te coloca na história, os detalhes que compõem cada locação e cada figurino são extremamente detalhistas e perfeccionistas. O tom do filme é sério e frio, a direção de arte mostra isso a partir de uma paleta de cores que não são muito “vívidas”. A “pobreza” estética é um dos pontos altos do filme para mostrar como a família está ficando desestabilizada e como aquele lugar é caótico.
Praticamente em todas as cenas a direção de fotografia que normalmente usa luz natural consegue prender o espectador de uma maneira que se questione se algo de errado vai acontecer. A luz do filme para mostrar como aquele local é inóspito e que há algo de errado nas cenas diurnas usa-se normalmente uma imagem mais esfumaçada, mais acinzentada. E em cenas noturnas tem um tom sépia.
A desconfiança de quem está arquitetando tudo é por parte da personagem Thomasin, mas o que realmente vai acabando com a família é o orgulho do pai interpretado por Ralph Ineson, em suas tentativas desesperadas de manter a família de pé e de não querer pedir ajuda quanto ao bem estar de sua família, já que no começo do filme o motivo de a família precisar se deslocar deixou subentendido que havia sido culpa dele.
O filme não tem jumpscares isso é verdade, mas algo que é usado constantemente na montagem é o som de algo que aconteceu ou vai acontecer, sendo usado de maneira surpresa. A trilha sonora do filme é perturbadora, ela vai ser alternando entre sons de violinos crescentes agudos e que junto com os planos do filme vão formando o terror e o suspense.
Normalmente The Witch tem mais perguntas do que respostas sobre aquele universo principalmente sobre os acontecimentos, o filme peca em seu final, os cinco minutos finais são expositivos demais e totalmente desnecessários, uma cena em específico na qual o filme poderia ter terminado e seria de forma épica.
The Witch definitivamente não é um filme de terror convencional e que te desafia e faz questionar, e que esbarra em pequenos problemas.
A escolha de Sofia conta a história de Sofia de forma gradual visto pelos olhos de Stingo, um jovem escritor que acaba de se mudar para o prédio no qual ela mora e que faz amizade com ela e seu marido.
O roteiro do filme também escrito por Alan J. Pakula é brilhante, todos os diálogos muito bem encaixados, a relação dos personagens é muito bem escrita, os acontecimentos do filme são explicados gradualmente à medida que conhecemos os personagens principais da história, a exposição é feita de forma certeira sem nenhum momento exagerado ou que pareça falso, tudo é muito verdadeiro nesse filme.
A direção do filme é do já citado Alan J. Pakula, aqui ele tem um trabalho muito consciente sempre se preocupando com detalhes em planos como no começo do filme, assim como comentado sobre a preocupação dos detalhes de cena de Alan, um detalhe importante mostrado no começo do filme é uma exposição muito sútil que mostra o pulso de Meryl Streep em uma câmera subjetiva, logo após isso a câmera mostra a reação dela e já sabemos o que houve com ela. O foco do filme é a relação entre os personagens e a história de Sofia, ele opta por fazer algo introverso se preocupando principalmente com a relação dos três personagens. A linguagem e o tom do filme são certeiros, o filme tem humor involuntário natural dos seus personagens que só se dá devido ao grande nível de interpretações, o tom do filme é um dramático com elementos como comédia para que não deixe nada cansativo para o público, as cores sempre te levam a reparar que há algo de errado com um deles, ou que algo aconteceu ou vai acontecer a qualquer hora, e que sempre deixa algo agridoce em todas as cenas. Uma coisa que ele faz muito bem é essa gradação de ideias, qual será a escolha de Sofia sempre te deixa na dúvida e no final essa dúvida é muito bem explicada sem nenhum momento apelativo e que se torna muito objetivo numa cena muito desagradável de se assistir.
Meryl Streep interpreta Sofia em uma das atuações mais impressionantes da história do cinema. Devido aos acontecimentos da vida dela a Sofia não poderia ser uma mulher muito amarga e nem muito dócil, ela precisava ter um equilíbrio, e a Meryl Streep encontra isso perfeitamente. Desde o começo do filme ela sempre se mostra um pouco distante em um relacionamento que parecia ser abusivo, seu rosto sempre parece que tem algo a esconder, sobre alguma coisa, atuação que começa contida e que vai se mostrando aos poucos em conversas sobre a marca que está em seu braço ou sobre questões filosóficas, até chegar a monólogos impressionantes, a mudança física e mental dela quando há exposição sobre o passado de vida dela e a cena da “escolha” são cenas que só uma atriz como ela poderia fazer.
Mas nem tudo é perfeito nesse filme, há alguns problemas em menores escalas, o roteiro é muito bem escrito é verdade,
mas há um segmento envolvendo uma informação sobre o marido de Sofia, Nathan que é totalmente desnecessária porque ela fica clara desde o início, e o irmão de Nathan é totalmente abandonável para o filme, o final passa um pouco de seu tempo.
A escolha de Sofia é um filme sensível, poderoso e inesquecível que se baseia nos relacionamentos de forma introvertida e pessoal para contar a história, e que talvez a atuação da Meryl Streep seja a maior atuação feminina na história do cinema.
A mensagem desse filme é simples e direta: “Dinheiro e poder fazem mal e corrompem ao homem”
Lembro a primeira vez que assisti a esse filme no começo do ano passado, demorei dias para digeri-lo.
Se alguma vez alguém me encontrar na rua e perguntar qual o melhor filme do século até agora, vou responder de boca cheia: Sangue Negro ou em inglês There Will Be Blood, o quê por incrível que pareça o título em português faça mais sentido do que o original.
There Will Be Blood conta a história sobre um magnata do petróleo e sua ascensão dentro do negócio.
Daniel Plainview é um monstro de ator... Digo Daniel Day Lewis, acho que nunca foi visto um ator como ele, que não tenha uma mania em nenhum de seus papéis, a entrega absoluta acontece em todos os seus personagens. Interpretando Daniel Plainview não é diferente, aqui ele faz um homem inescrupuloso, ganancioso e que sempre tem algum interesse em suas relações. O seu nome em si já é curioso, parece que seu nome já tem algo a dizer sobre ele, um homem calculista que sempre tem uma carta na manga para qualquer tipo de problema que venha a acontecer com o seu trabalho ou com algo próximo a ele. Uma das cenas que mais traduz o seu comportamento sociopata é uma das mais memoráveis da história do cinema, a cena em que há um confronto entre o pastor Eli Sunday interpretado por Paul Dano, na igreja na qual o pastor pede para ele se confessar e o tira algo de dentro dele muito pessoal, mas durante as falas de Daniel nunca se sabe se o que ele está falando é porque está sendo sincero ou se está fazendo porque o pediram e seria bom para o negócio (visto na cena anterior). Há também outra cena com seu “irmão” no qual ele diz duas falas marcantes, os dois estão falando sobre negócio e ele diz: “Eu odeio a maioria das pessoas” e a outra: “Quero ganhar tanto dinheiro para que eu possa me afastar de todos”. Outra cena que faz questionar o personagem de Daniel é quando um dos seus funcionários irrelevantes para a história morre, mas isso revela a personalidade dele em ações pequenas da sua expressão corporal e verbal, como por exemplo, ele pede para quando descerem para saber sobre o petróleo avisasse, ao invés de falar para eles fazer um velório ou algo do tipo.
Paul Dano faz um pastor com personalidade questionável e que sempre está “interessado” no que o personagem Daniel faz. Embora Daniel Day Lewis esteja deslumbrante no filme o mérito todo não vai para ele, os dois tem uma relação extremamente difícil o que faz criar uma tensão conflituosa entre os dois devido as suas diferentes aspirações e motivações. Paul Dano se motiva por dinheiro, mas sempre preserva sua imagem de bom moço maquiado pela sua devoção a Deus e a igreja no contexto geral, o que faz que ninguém o questione.
Um dos méritos do filme ser tudo o que ele promete é a genialidade de Paul Thomas Anderson que mostra maestria na direção e que também assina o roteiro mostrando total controle em sua obra, ele tem tanta confiança no que faz e tanta confiança em seus atores que abusa de closes em seus personagens, como na cena da igreja já brevemente citada, o poder da câmera é impressionante, coisa que não teria o mesmo efeito se fosse um plano aberto ou com uma câmera distante, isso é algo que ele aprendeu com seus mestres Elia Kazan e Robert Altman. Outra coisa na câmera que é impressionante é como ele cria um vínculo emotivo com o espectador normalmente em panorâmicas ou com movimentos de câmera que são muito orgânicos para a linguagem e o seu storytelling como na cena em que algo acontece ao filho de Daniel e a câmera vai acompanhando seus movimentos sem pretensão alguma mostrando o drama e a relação com Daniel e seu filho.
A fotografia do filme feita por Robert Elswit é impressionante, todas as imagens são marcantes e dá para fazer um quadro com cada uma delas, assim como a linguagem adotada por Paul Thomas Anderson seja crua e direta a fotografia capta muito bem cada momento fazendo com que tudo no filme seja memorável.
A trilha sonora composta por Jonny Greenwood desde o começo é perturbador, muito parecido com trilhas de terror, a música sempre remete que algo de errado vai acontecer na história, apesar de algumas músicas serem usadas repetidamente elas não caem em redundância na trama, essas mesmas músicas usadas repetidamente dão um tom diferente para cada tipo de cena que assim como a fotografia e as atuações fazem o filme tomar proporções épicas.
Sangue Negro é uma obra de arte poderosa com uma linguagem seca e brutal, um roteiro muito bem escrito e estruturado, com uma fotografia magistral e com uma das melhores atuações da história do cinema e uma genialidade ímpar e uma trilha sonora magistral e muito bem utilizada.
Para quem gosta de filmes de boxe e é fã da saga ou não, essa é uma boa pedida.
Michael B. Jordan (que merecia uma indicação ao Óscar) interpreta Adonis Johnson, filho de Apollo Creed. Desde o começo do filme é apresentado que ele sempre teve um dom para lutar da maneira mais clichê possível, com uma briga na infância. Quanto a sua interpretação seu maior objetivo é se tornar um lutador tão bom quanto o seu pai, então ele viaja para treinar com a lenda Rocky Balboa que se torna seu mentor. A relação deles é muito bem escrita e muito bem dirigida, sempre mostrando o conflito de gerações e diferenças de personalidade, Michael se mostra muito bem como um lutador que precisa provar a si mesmo que tem o sangue “Creed” correndo em suas veias, sempre se mostra com muita determinação, e também mostra que tem facilidade para cenas mais “emocionais” sempre com seu mentor ao seu lado.
Sylvester Stallone nos brinda com sua maior interpretação na pele do personagem que o consagrou há quarenta anos, é perceptível o quanto ele sente a falta da mulher e o tamanho de sua culpa pelo o que aconteceu com o pai de Adonis e com a família no geral, e o quanto a idade o atingiu, o personagem dele é muito importante para o filme e traz um tom agridoce para a história e ele realmente (por incrível que pareça) merecia um Óscar por seu desempenho (mais que Mark Rylance).
A direção de Ryan Coogler tem uma linguagem certeira, captando toda urbanidade da história, uma direção de atores excepcional, lutas que me lembraram das lutas de Touro Indomável, sequências incríveis, assim como já foi falado da primeira cena possui um plano sequência incrível com sua câmera parecendo uma mosca, passando por portas entrando em brigas, tudo extremamente detalhista e excepcionalmente coreografado. Falando em plano sequência em uma das lutas a cena começa no vestiário e vai passando pelo corredor, a câmera passa por debaixo da corda do ringue e a luta é feita em plano sequência, com a câmera alternando entre planos dos dois lutadores, de verdade não há como saber como foi feito. Além das coisas que ele usa para mostrar a passagem do tempo que já são clássicas na saga, coisas como montagem de Adonis correndo na rua, treinando e etc.
O roteiro do filme é bem clichê é verdade, mas eles estão lá por algum motivo, eles funcionam, tudo que se espera de um filme de boxe possui, ótimas interpretações, lutas incríveis, provocações, briga, diálogos muito bem escritos, tudo que se espera de um filme da saga também está aqui, como os momentos motivacionais, mas o clichê não se torna algo problemático na história, o que torna problemático na história é um arco entre Adonis e sua namorada que são totalmente desnecessários, não é isso que o público quer ver, e que toma mais tempo na tela do que o necessário, e algumas coisas que se tornam auto referenciais demais para o filme.
Creed é o segundo melhor filme da saga, ficando apenas atrás do Rocky original, que tem várias coisas clichês do gênero dos filmes de boxe, que às vezes abusa de momentos auto referenciais e emocionais da saga, e que merecia indicação ao Óscar de fotografia também.
Obra-prima de Sergio Leone, o filme tem mais de 3 horas mas parece que se passa meia hora sentado assistindo.
Para assistir esse filme você precisa estar acostumado com o estilo de Sergio Leone, a montagem deixa o filme um pouco lento, mas isso é feito de maneira despretensiosa já que Sergio Leone tinha um material incrível nas mãos e sabia a história que queria contar.
Destaque também para as atuações de Robert de Niro e James Woods e para a linda trilha sonora de Ennio Morricone. O que senti falta foi o desenvolvimento de Patsy e Cockeye. Eles são o mesmo personagem do começo ao fim?não. Mas eles não tem a mesma relevância que Maxie e Noodles.
Muita gente reclama do final o considerando anticlimático mas muito pelo contrário, a história de Sergio Leone começa como um mistério e termina como um.
The Revenant novo filme dirigido por Alejandro González Iñárritu conta a história de Hugh Glass, um homem que estava em uma expedição com outro grupo de caçadores, e que em determinado momento se separa deles e acaba sendo atacado por um urso.
Leonardo DiCaprio interpretando Hugh Glass está excelente no filme, em maior parte do seu tempo em tela no qual ele passa sozinho, ele expressa todos os traumas e a sua dor através de seu corpo com muita veracidade apesar do acontecimento principal do filme, muitos grunhidos, gemidos expressando a dor de seu personagem e a sua motivação de querer continuar vivo por outro acontecimento que acontece no filme referente ao seu filho, a entrega corporal dele foi absurda ao filme.
Tom Hardy não fica para trás como um homem bruto e traidor e que só se preocupa com si próprio, o maior desafio é entender o que ele fala, ele faz um personagem carrancudo que não tem pena de ninguém e que sua maior motivação é ele mesmo e nada além disso.
Alejandro tem um trabalho incrível de linguagem e sabendo a história que ele queria contar, Alejandro expõe o lado da necessidade de sobrevivência humana ao seu limite da mais forma mais crua e realista possível misturado com a ganância do homem “branco” e como eles atrapalharam o desenvolvimento dos nativo-americanos naquela época, com uma câmera inquieta e com um trabalho de imersão poucas vezes visto em um filme. A sequência de abertura é uma das mais impressionantes, criativas e ameaçadoras que eu já vi, além de ficar mais visível suas referências aqui: Dersu Uzala, Sangue Negro, Apocalypse Now, Tarkovski e Terence Mallick no geral. Seus planos sequência colocam o espectador na história, tem um que o Hugh Glass entra na água, a câmera vai junto o seguindo, é impressionante e não dá para saber como foi feito, mesmo.
A trilha sonora minimalista com sons crescentes graduais usadas apenas em momentos mais “emocionais” ajuda a contar a história e novamente nos colocando na posição de Hugh Glass a usando de maneira arrebatadora e sentimentalista.
O trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki é lindo, colocando entre planos abertos evidenciando o tamanho do local e a distância do Hugh Glass de seu principal objetivo, e que o perigo pode vir de qualquer lugar, o uso de luz natural e o visual belíssimo junto com a câmera e a assinatura visual de Iñárritu tornam o filme em uma experiência magnífica e única.
Meu maior problema com o filme foi o final que se estendeu muito, e a cena de vingança ter sido muito fraca devido a motivação forte de Hugh Glass, e alguns personagens poderiam ter uma relevância maior como o filme se dispõe a ter em vários momentos.
Mas The Revenant é um dos filmes mais impressionantes esteticamente e tecnicamente falando dos últimos tempos e que merece ser visto e revisto várias vezes, e Leonardo DiCaprio finalmente deve levar sua estatueta.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Fogo Contra Fogo
4.0 659 Assista AgoraDe Niro e Pacino contracenando pela primeira vez, não poderia ser melhor.
Heat é uma obra prima se você é fã de filme de ação, os personagens são muito bem escritos e desenvolvidos, um dos poucos do gênero a conseguir escrever personagens profundos e dúbios.
Um dos fatores que torna isso muito bem executado é mostrar desde a vida perturbada e a obsessão pelo trabalho que tem Vincent Hanna (interpretado por Al Pacino), e também mostrar a vida do "engenhoso" personagem Neil McCauley (Robert De Niro) que pretende se aposentar após o próximo assalto.
Outro que dá show está por trás das câmeras, é o diretor Michael Mann, a atmosfera que ele cria nos movimentos de câmera (como na cena do café) e a fotografia criam algo muito impactantes para ser "apenas" um filme de ação, a cena de assalto ao banco e do tiroteio são genialmente executadas, e parecem ser algo "sincopado" pela presença da trilha sonora nas duas cenas.
Heat é um dos melhores filmes dos anos 90, que reúne dois dos maiores atores da história do cinema mundial, e que também mostra o talento e amadurecimento de Michael Mann a frente de seus projetos.
Silêncio
3.8 576O filme começa em 1633 e conta a história de dois padres que são Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver), que vão ao Japão primordialmente para ter notícias do Padre Ferreira (Liam Neeson) que aparentemente cometeu apostasia para poder sobreviver, e também para propagar o cristianismo que era uma religião proibida.
Scorsese tem uma narrativa diferente da grande maioria de seus filmes. O ritmo da montagem é mais lento, não há trilha sonora, e o som é usado como uma maneira de homenagem ao título do filme, muitas vezes com o som ambiente, seja de animais ao fundo, seja da chuva. O desenvolvimento da história em muitos momentos parece uma homenagem aos filmes orientais, mais especificamente de Masaki Kobayashi (Harakiri).
É um filme que aborda principalmente questões sobre a dúvida e o limite da fé, através do sofrimento de um personagem principal (Rodrigues) que automaticamente faz lembrar da história de Jesus. Assim como em “a última tentação de Cristo”, aqui as figuras religiosas são representadas como pessoas normais.
Tudo nesse filme é internalizado já que possui muitas narrações de conversa de Rodrigues com Deus, e não recebendo nenhum diálogo em troca, isso explica muito o título do filme. O cinematógrafo Rodrigo Prieto também opta por usar uma câmera mais quieta que o habitual da linguagem do diretor, usando planos mais próximos, assim fazendo o público sofrer junto com os padres que foram ao Japão. Os planos abertos, quando usados, também são belíssimos, como no começo do filme a imagem toda cheia de fumaça daquele local.
Dois grandes problemas são a duração do filme, que poderia ter cortado cerca de vinte minutos. E também os personagens que ora falam em português, ora falam em inglês, e isso ocorre de maneira recorrente e é algo que tira o espectador da narrativa algumas vezes.
Silence é uma das histórias mais belas que Scorsese já contou, é um filme difícil de assistir, não só pelo seu ritmo, mas pelas imagens e os questionamentos abordados. Não é o seu melhor filme em minha opinião, mas é o seu mais pessoal.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 980 Assista AgoraThe Thing ou no Brasil: “O enigma de outro mundo” é um verdadeiro clássico dos filmes de terror Trash.
O filme conta a história de uma equipe de uma estação polar americana que é surpreendida pela invasão de um homem estrangeiro com uma arma e que está perseguindo um cachorro. Ao tentar acertar o cão, esse homem atinge a perna de um dos homens do grupo, o que faz com que esse homem com a arma seja morto. Após isso eles levam o corpo desse homem para a estação e fazem uma autópsia, e o cachorro anda livremente pela estação, coisas estranhas começam a acontecer.
John Carpenter tem uma direção única e marcante nesse filme, uma das coisas mais marcantes é a atmosfera introversa gelada que te coloca na posição de cada membro da equipe captando sua solidão e sua desconfiança de todas as pessoas ao seu redor, o mistério do filme é contado de maneira muito gradual através do suspense criado entre os personagens, o isolamento vai criando uma espécie de “cabin fever”. O roteiro escrito por Bill Lancaster vai criando suspense a partir de como cada personagem age com aquela situação, e como a imaginação diante algo abominável no qual eles não têm nenhum controle naquela situação vai os prejudicando e os separando cada vez mais.
A trilha sonora minimalista composta por Ennio Morricone e John Carpenter usado apenas algumas vezes com um som de baixo, ou poucos instrumentos criam a atmosfera daquele local com uma trilha contida e que nunca fica exaltada em cena.
A fotografia usa muitos ângulos que não são muito comuns criando uma instabilidade daquele universo e daqueles personagens, a montagem do filme transita entre planos longos com poucos cortes e planos mais curtos um pouco mais picotados.
Como é um filme trash a linguagem é um pouco “grotesca” (no bom sentido) tanto utilizada na maquiagem excepcional do filme, e nos efeitos especiais que também são excepcionais.
O grande problema é que ás vezes se leva um pouco a sério demais, e que muitas vezes conspira contra o governo na divulgação de vida extraterrestre.
The Thing é um filme que John Carpenter mostra muito domínio, clássico absoluto, mas que esbarra em pequenos problemas.
Festim Diabólico
4.3 882 Assista AgoraPor que festim diabólico em português? Por quê? Rope faz muito mais sentido, ainda mais com a situação que é apresentada ao público no começo do filme, mas enfim.
A premissa do filme é muito simples e no começo é apresentado o porquê do título original, apresentando dois personagens que reagem de maneira diferente ao que fizeram, um tem a certeza do que fez, e outro se questiona se o que fizeram foi certo, e a partir daí Hitchcock começa a construir seu suspense em pequenas ações, diálogos com excelentes subtextos, e personagens que sempre parecem que tem algo a esconder e outros que desconfiam, Hitchcock demonstra um controle excepcional do seu filme durante todo o tempo, duas cenas em específico demonstram muito bem isso.
Existem dois personagens principais, e uma das cenas mais originais que demonstram esse controle do Hitchcock no filme é uma cena em que um dos dois está tocando piano, tem um metrônomo em cima e a câmera não faz nenhum movimento, o personagem de James Stewart se aproxima, pega o metrônomo, o coloca em uma velocidade considerável e começa a questionar o personagem, e isso dura por cerca de uns dois minutos até que o outro personagem que foi quem cometeu o crime junto com o “pianista” chegue e “tire” as dúvidas do personagem de James Stewart, o uso do metrônomo é um dos fatores que faz “acelerar” a cena e o espectador feito de maneira excepcional. Outra cena que mostra esse controle é quando há um dos cortes perceptíveis do filme, em uma conversa “banal” sobre galinhas, e esse é um momento importante para a história já que é quando James Stewart começa a desconfiar de tudo.
No bom sentido da palavra parece que o filme foi gravado em um dia, é uma verdadeira aula de montagem que possui apenas oito cortes, mas é uma coisa que se ficar reparando muito se perde um pouco da magia que é a riqueza do cinema na sua forma mais pura. O filme também possui uma edição muito boa, um dos truques do filme para o suspense é a janela aberta que vai escurecendo à mesma medida que os convidados vão chegando e que acontece o jantar.
Hitchcock mostra que sabia usar o som a seu favor, quando, por exemplo, logo no começo do filme há a trilha sonora otimista tentando mostrar que não vai dar nada de errado e os créditos iniciais, e de repente fica mudo e há um movimento de câmera para a cena inicial que é muito misteriosa e que vai servir de motor para o resto do seu filme.
Excelente fotografia, a luz do filme parece que foi a luz usada dentro do apartamento colocando uma experiência cada vez mais pessoal no espectador, movimentos de câmera normalmente usados em panorâmicas para não mostrar o resto do ambiente além da sala e também para usar a imaginação do espectador, e enquadramentos normalmente utilizados em “faroeste” aumentando a tensão em tudo na trama.
Os únicos problemas do filme: o excesso de personagens, e a trama ser focado em apenas três e em alguns momentos os subtextos dos personagens serem um pouco insinuantes demais. Mas Rope ou o horrível nome no Brasil de Festim Diabólico é um dos filmes mais originais, e um dos mais ambiciosos da história.
Nascido Para Matar
4.3 1,1K Assista AgoraÉ preciso de guerra para ter paz?
Um dos melhores filmes sobre guerra de todos os tempos e um dos mais originais em roteiro e direção.
Tem tudo o que você espera do Kubrick, mistério, suspense, simbolismos, drama, violência, filme em um ritmo certo, edição e montagem muito bem feita e uma trilha sonora escolhida a dedo. E tem tudo que se espera de um filme de guerra: medo, angústia, raiva, ação.
Uma das coisas mais originais do filme falando no roteiro é de fazer “dois em um”, a primeira parte mostra o treinamento dos fuzileiros antes de ir à guerra, com ênfase na violência verbal e física praticada pelo Sargento Hartman em Lawrence, mais conhecido como Pyle e a segunda a tão esperada guerra do Vietnã.
Obviamente o filme não se mostra a favor da guerra, Kubrick não precisa dizer que a guerra é ruim e muito menos ser unilateral em seus argumentos, o filme já começa mostrando isso ao som de Hello Vietnam enquanto os jovens raspam o cabelo com uma expressão em seus rostos tristes, apreensivos e com medo, e logo após ocorre um corte mudando para a cena de apresentação de Hartman e para o seu treinamento sádico.
O simbolismo presente no filme é de forma sutil e normalmente feito com dualidade, para mim o ápice é quando na segunda parte Private Joker é questionado por ter um broche em seu peito com o símbolo de paz, e um dos seus superiores o questiona qual o sentido daquilo o mostrando o que está escrito em seu capacete: “Born to Kill”. E mais para frente sendo entrevistado e ainda com o broche da paz em seu peito Private Joker responde: “Eu queria ser o primeiro homem do meu bairro a ter matado alguém”.
Um dos pontos fortes do filme é o tom que não é nada volúvel como, por exemplo, quando acaba o arco Pyle e Hartman (o treinamento) e ele opta por mostrar a guerra em um corte seco sem avisar ao espectador, sendo assim muito consciente sobre a montagem de seu filme e sabendo situar o espectador já na primeira parte de sua obra sem dizer e nem escrever nada, ficou parecendo um filme dos anos 50/60 no qual aconteciam os famosos “intermission”. Um dos pontos fortes do filme também é fazer a montagem não muito picotada, como é mostrado em muitos filmes de guerra ou de ação.
O maior problema do filme que assim como em Apocalypse Now é o final, não é anticlimático, mas que deixa a entender que podem acontecer coisas boas ou coisas ruins com aqueles rapazes que foram à guerra, e opta por deixar o espectador com mais perguntas do que respostas na jornada dos personagens principais, mas isso é algo que não interfere em nada na experiência de imersão nesse filme.
Um filme que houve muita pesquisa para retratar com veracidade a guerra do Vietnã, como eram aqueles locais, Full Metal Jacket é um dos filmes mais geniais, completos e perfeitos de todos os tempos e que tem uma mensagem muito relevante.
Era uma Vez no Oeste
4.4 729 Assista AgoraUm dos melhores filmes da história sem sombra de dúvidas, aqui a linguagem de Sergio Leone está presente em todos os momentos, você sente um avanço dele como diretor, mais até do que na trilogia dos dólares.
Os primeiros quarenta minutos são uma aula de cinema, na forma mais genuína o uso da montagem e a fotografia alternando entre closes e planos abertos sem nenhum uso de música conseguem deixar o espectador tenso mesmo sem usar uma palavra, logo nos primeiros minutos de uma forma muito sutil Leone conta sobre o que seria a história do seu filme envolvendo violência, e um plano detalhe da água caindo no chapéu de um dos personagens.
A trilha sonora é belíssima (só Ennio Morricone para me fazer chorar em um Western) que assim como tudo na escolha da direção o ajudam a contar a história, a trilha sonora vai sendo aumentada conforme as ações vão crescendo no filme, Sergio Leone também opta em vários momentos para uma cena mais "seca" só usar o som ambiente para prender o espectador.
Além de uma direção sutil uma das maiores presenças do filme é a pesquisa dos temas colocados no filme, ótimas atuações e uma fotografia excelente.
8½
4.3 409 Assista AgoraHá filmes que são feitos para serem sentidos, que é o caso de 8 1/2.
O bloqueio criativo é um inferno, principalmente para artistas. Acredito que esta tenha sido a mensagem que Federico quis transmitir, baseado em um filme metalinguístico e que parece um delírio dos seus piores dias como diretor, contando a história através de um alter-ego.
Aqui ele faz isso de todas as formas, até mesmo na trilha sonora composta por Nino Rota que lembrar músicas circenses, as colocando em muitos momentos em que pareça desordenada ou incômoda, isso unido à fotografia em preto e branco e a montagem que tem um ritmo incessante torna o filme mais impactante, e que causa maior confusão.
A fotografia feita por Gianni Di Venanzo, utiliza muitos planos abertos e subjetivos do ponto de vista de Guido Anselmi, reforçando a ideia de que ele busca inspiração. Falando em maneira desordenada até as falas dos personagens, muitas vezes em dublagens, a montagem de Leo Cattozzo opta por colocar as falas em momentos errados, sendo assim diferente do próprio protagonista, é uma linguagem muito autoconsciente.
Marcello Mastroianni por sua vez faz uma de suas melhores atuações interpretando Guido Anselmi, no modo de falar, e principalmente na maneira evasiva de seu personagem, tanto quando ele conversa com qualquer pessoa, quanto para falar sobre seu novo filme, já que é algo que ele não faz ideia, ele sempre parece impaciente ou perdido quando uma pergunta é dirigida a ele.
Há muita coisa que é genial nesse filme, como a cena do início, três minutos de puro silêncio que mostram imagens surrealistas e que conta a história do filme, o personagem principal estacionado em seus pensamentos e que se encontra perdido.
Fellini sabe o que faz, Guido Anselmi não.
Otto e mezzo é uma obra prima atemporal.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraSuicídio é assistir a esse filme.
Um roteiro tenebroso com diálogos horríveis e cenas extremamente desnecessárias, um vilão fraco, e um diretor que parece não sabe o que está fazendo são ingredientes para que esse filme seja tão ruim.
Não é um desastre completo porque tem algumas coisas que se salvam, como as atuações de Margot Robbie, Will Smith, VIola Davis e a trilha sonora.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraQue surpresa agradável...
The Witch filme dirigido por Robert Eggers conta a história de uma família que se muda para um vilarejo por questões pessoais, e lá começam a acontecer coisas horríveis. A atmosfera fria de O Iluminado e o estilo de direção de Haneke mais precisamente em “a fita branca” são duas coisas sempre presentes no filme.
A família é composta por um patriarca e uma matriarca extremamente religiosos, então temas como pecado e a culpa estão sempre presentes, o filme se passa na Inglaterra no século XVII e é um dos principais fatores que colaboram para que esses temas abordados na trama dentro de um filme terror funcionem.
A direção do filme é uma coisa impressionante, ele opta por dificilmente mostrar alguma coisa, mas quando mostra é incrível, o suspense do filme vai assim sendo construído com planos longos que mostram o local e que vai se fechando e focando em cada personagem. O ritmo do filme é algo que te desafia, mas é algo que se acostuma a partir do segundo ato e com o estilo dele. A linguagem do filme como é mostrada na época é algo a se destacar, como cada personagem interage com o próprio meio na qual a época se passa mostra uma pesquisa muito grande por parte de seu elenco (que também é incrível por sinal) e por parte da direção.
A direção de arte é impecável, é algo que te coloca na história, os detalhes que compõem cada locação e cada figurino são extremamente detalhistas e perfeccionistas. O tom do filme é sério e frio, a direção de arte mostra isso a partir de uma paleta de cores que não são muito “vívidas”. A “pobreza” estética é um dos pontos altos do filme para mostrar como a família está ficando desestabilizada e como aquele lugar é caótico.
Praticamente em todas as cenas a direção de fotografia que normalmente usa luz natural consegue prender o espectador de uma maneira que se questione se algo de errado vai acontecer. A luz do filme para mostrar como aquele local é inóspito e que há algo de errado nas cenas diurnas usa-se normalmente uma imagem mais esfumaçada, mais acinzentada. E em cenas noturnas tem um tom sépia.
A desconfiança de quem está arquitetando tudo é por parte da personagem Thomasin, mas o que realmente vai acabando com a família é o orgulho do pai interpretado por Ralph Ineson, em suas tentativas desesperadas de manter a família de pé e de não querer pedir ajuda quanto ao bem estar de sua família, já que no começo do filme o motivo de a família precisar se deslocar deixou subentendido que havia sido culpa dele.
O filme não tem jumpscares isso é verdade, mas algo que é usado constantemente na montagem é o som de algo que aconteceu ou vai acontecer, sendo usado de maneira surpresa. A trilha sonora do filme é perturbadora, ela vai ser alternando entre sons de violinos crescentes agudos e que junto com os planos do filme vão formando o terror e o suspense.
Normalmente The Witch tem mais perguntas do que respostas sobre aquele universo principalmente sobre os acontecimentos, o filme peca em seu final, os cinco minutos finais são expositivos demais e totalmente desnecessários, uma cena em específico na qual o filme poderia ter terminado e seria de forma épica.
The Witch definitivamente não é um filme de terror convencional e que te desafia e faz questionar, e que esbarra em pequenos problemas.
A Escolha de Sofia
4.0 514 Assista AgoraJá se sentiu devastado após assistir um filme?
A escolha de Sofia conta a história de Sofia de forma gradual visto pelos olhos de Stingo, um jovem escritor que acaba de se mudar para o prédio no qual ela mora e que faz amizade com ela e seu marido.
O roteiro do filme também escrito por Alan J. Pakula é brilhante, todos os diálogos muito bem encaixados, a relação dos personagens é muito bem escrita, os acontecimentos do filme são explicados gradualmente à medida que conhecemos os personagens principais da história, a exposição é feita de forma certeira sem nenhum momento exagerado ou que pareça falso, tudo é muito verdadeiro nesse filme.
A direção do filme é do já citado Alan J. Pakula, aqui ele tem um trabalho muito consciente sempre se preocupando com detalhes em planos como no começo do filme, assim como comentado sobre a preocupação dos detalhes de cena de Alan, um detalhe importante mostrado no começo do filme é uma exposição muito sútil que mostra o pulso de Meryl Streep em uma câmera subjetiva, logo após isso a câmera mostra a reação dela e já sabemos o que houve com ela. O foco do filme é a relação entre os personagens e a história de Sofia, ele opta por fazer algo introverso se preocupando principalmente com a relação dos três personagens. A linguagem e o tom do filme são certeiros, o filme tem humor involuntário natural dos seus personagens que só se dá devido ao grande nível de interpretações, o tom do filme é um dramático com elementos como comédia para que não deixe nada cansativo para o público, as cores sempre te levam a reparar que há algo de errado com um deles, ou que algo aconteceu ou vai acontecer a qualquer hora, e que sempre deixa algo agridoce em todas as cenas. Uma coisa que ele faz muito bem é essa gradação de ideias, qual será a escolha de Sofia sempre te deixa na dúvida e no final essa dúvida é muito bem explicada sem nenhum momento apelativo e que se torna muito objetivo numa cena muito desagradável de se assistir.
Meryl Streep interpreta Sofia em uma das atuações mais impressionantes da história do cinema. Devido aos acontecimentos da vida dela a Sofia não poderia ser uma mulher muito amarga e nem muito dócil, ela precisava ter um equilíbrio, e a Meryl Streep encontra isso perfeitamente. Desde o começo do filme ela sempre se mostra um pouco distante em um relacionamento que parecia ser abusivo, seu rosto sempre parece que tem algo a esconder, sobre alguma coisa, atuação que começa contida e que vai se mostrando aos poucos em conversas sobre a marca que está em seu braço ou sobre questões filosóficas, até chegar a monólogos impressionantes, a mudança física e mental dela quando há exposição sobre o passado de vida dela e a cena da “escolha” são cenas que só uma atriz como ela poderia fazer.
Mas nem tudo é perfeito nesse filme, há alguns problemas em menores escalas, o roteiro é muito bem escrito é verdade,
mas há um segmento envolvendo uma informação sobre o marido de Sofia, Nathan que é totalmente desnecessária porque ela fica clara desde o início, e o irmão de Nathan é totalmente abandonável para o filme, o final passa um pouco de seu tempo.
A escolha de Sofia é um filme sensível, poderoso e inesquecível que se baseia nos relacionamentos de forma introvertida e pessoal para contar a história, e que talvez a atuação da Meryl Streep seja a maior atuação feminina na história do cinema.
Nota: 9,6/10
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraA mensagem desse filme é simples e direta: “Dinheiro e poder fazem mal e corrompem ao homem”
Lembro a primeira vez que assisti a esse filme no começo do ano passado, demorei dias para digeri-lo.
Se alguma vez alguém me encontrar na rua e perguntar qual o melhor filme do século até agora, vou responder de boca cheia: Sangue Negro ou em inglês There Will Be Blood, o quê por incrível que pareça o título em português faça mais sentido do que o original.
There Will Be Blood conta a história sobre um magnata do petróleo e sua ascensão dentro do negócio.
Daniel Plainview é um monstro de ator... Digo Daniel Day Lewis, acho que nunca foi visto um ator como ele, que não tenha uma mania em nenhum de seus papéis, a entrega absoluta acontece em todos os seus personagens. Interpretando Daniel Plainview não é diferente, aqui ele faz um homem inescrupuloso, ganancioso e que sempre tem algum interesse em suas relações. O seu nome em si já é curioso, parece que seu nome já tem algo a dizer sobre ele, um homem calculista que sempre tem uma carta na manga para qualquer tipo de problema que venha a acontecer com o seu trabalho ou com algo próximo a ele. Uma das cenas que mais traduz o seu comportamento sociopata é uma das mais memoráveis da história do cinema, a cena em que há um confronto entre o pastor Eli Sunday interpretado por Paul Dano, na igreja na qual o pastor pede para ele se confessar e o tira algo de dentro dele muito pessoal, mas durante as falas de Daniel nunca se sabe se o que ele está falando é porque está sendo sincero ou se está fazendo porque o pediram e seria bom para o negócio (visto na cena anterior). Há também outra cena com seu “irmão” no qual ele diz duas falas marcantes, os dois estão falando sobre negócio e ele diz: “Eu odeio a maioria das pessoas” e a outra: “Quero ganhar tanto dinheiro para que eu possa me afastar de todos”. Outra cena que faz questionar o personagem de Daniel é quando um dos seus funcionários irrelevantes para a história morre, mas isso revela a personalidade dele em ações pequenas da sua expressão corporal e verbal, como por exemplo, ele pede para quando descerem para saber sobre o petróleo avisasse, ao invés de falar para eles fazer um velório ou algo do tipo.
Paul Dano faz um pastor com personalidade questionável e que sempre está “interessado” no que o personagem Daniel faz. Embora Daniel Day Lewis esteja deslumbrante no filme o mérito todo não vai para ele, os dois tem uma relação extremamente difícil o que faz criar uma tensão conflituosa entre os dois devido as suas diferentes aspirações e motivações. Paul Dano se motiva por dinheiro, mas sempre preserva sua imagem de bom moço maquiado pela sua devoção a Deus e a igreja no contexto geral, o que faz que ninguém o questione.
Um dos méritos do filme ser tudo o que ele promete é a genialidade de Paul Thomas Anderson que mostra maestria na direção e que também assina o roteiro mostrando total controle em sua obra, ele tem tanta confiança no que faz e tanta confiança em seus atores que abusa de closes em seus personagens, como na cena da igreja já brevemente citada, o poder da câmera é impressionante, coisa que não teria o mesmo efeito se fosse um plano aberto ou com uma câmera distante, isso é algo que ele aprendeu com seus mestres Elia Kazan e Robert Altman. Outra coisa na câmera que é impressionante é como ele cria um vínculo emotivo com o espectador normalmente em panorâmicas ou com movimentos de câmera que são muito orgânicos para a linguagem e o seu storytelling como na cena em que algo acontece ao filho de Daniel e a câmera vai acompanhando seus movimentos sem pretensão alguma mostrando o drama e a relação com Daniel e seu filho.
A fotografia do filme feita por Robert Elswit é impressionante, todas as imagens são marcantes e dá para fazer um quadro com cada uma delas, assim como a linguagem adotada por Paul Thomas Anderson seja crua e direta a fotografia capta muito bem cada momento fazendo com que tudo no filme seja memorável.
A trilha sonora composta por Jonny Greenwood desde o começo é perturbador, muito parecido com trilhas de terror, a música sempre remete que algo de errado vai acontecer na história, apesar de algumas músicas serem usadas repetidamente elas não caem em redundância na trama, essas mesmas músicas usadas repetidamente dão um tom diferente para cada tipo de cena que assim como a fotografia e as atuações fazem o filme tomar proporções épicas.
Sangue Negro é uma obra de arte poderosa com uma linguagem seca e brutal, um roteiro muito bem escrito e estruturado, com uma fotografia magistral e com uma das melhores atuações da história do cinema e uma genialidade ímpar e uma trilha sonora magistral e muito bem utilizada.
Nota: 10/10
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraPara quem gosta de filmes de boxe e é fã da saga ou não, essa é uma boa pedida.
Michael B. Jordan (que merecia uma indicação ao Óscar) interpreta Adonis Johnson, filho de Apollo Creed. Desde o começo do filme é apresentado que ele sempre teve um dom para lutar da maneira mais clichê possível, com uma briga na infância. Quanto a sua interpretação seu maior objetivo é se tornar um lutador tão bom quanto o seu pai, então ele viaja para treinar com a lenda Rocky Balboa que se torna seu mentor. A relação deles é muito bem escrita e muito bem dirigida, sempre mostrando o conflito de gerações e diferenças de personalidade, Michael se mostra muito bem como um lutador que precisa provar a si mesmo que tem o sangue “Creed” correndo em suas veias, sempre se mostra com muita determinação, e também mostra que tem facilidade para cenas mais “emocionais” sempre com seu mentor ao seu lado.
Sylvester Stallone nos brinda com sua maior interpretação na pele do personagem que o consagrou há quarenta anos, é perceptível o quanto ele sente a falta da mulher e o tamanho de sua culpa pelo o que aconteceu com o pai de Adonis e com a família no geral, e o quanto a idade o atingiu, o personagem dele é muito importante para o filme e traz um tom agridoce para a história e ele realmente (por incrível que pareça) merecia um Óscar por seu desempenho (mais que Mark Rylance).
A direção de Ryan Coogler tem uma linguagem certeira, captando toda urbanidade da história, uma direção de atores excepcional, lutas que me lembraram das lutas de Touro Indomável, sequências incríveis, assim como já foi falado da primeira cena possui um plano sequência incrível com sua câmera parecendo uma mosca, passando por portas entrando em brigas, tudo extremamente detalhista e excepcionalmente coreografado. Falando em plano sequência em uma das lutas a cena começa no vestiário e vai passando pelo corredor, a câmera passa por debaixo da corda do ringue e a luta é feita em plano sequência, com a câmera alternando entre planos dos dois lutadores, de verdade não há como saber como foi feito. Além das coisas que ele usa para mostrar a passagem do tempo que já são clássicas na saga, coisas como montagem de Adonis correndo na rua, treinando e etc.
O roteiro do filme é bem clichê é verdade, mas eles estão lá por algum motivo, eles funcionam, tudo que se espera de um filme de boxe possui, ótimas interpretações, lutas incríveis, provocações, briga, diálogos muito bem escritos, tudo que se espera de um filme da saga também está aqui, como os momentos motivacionais, mas o clichê não se torna algo problemático na história, o que torna problemático na história é um arco entre Adonis e sua namorada que são totalmente desnecessários, não é isso que o público quer ver, e que toma mais tempo na tela do que o necessário, e algumas coisas que se tornam auto referenciais demais para o filme.
Creed é o segundo melhor filme da saga, ficando apenas atrás do Rocky original, que tem várias coisas clichês do gênero dos filmes de boxe, que às vezes abusa de momentos auto referenciais e emocionais da saga, e que merecia indicação ao Óscar de fotografia também.
Nota:8,7/10
[spoiler][/spoiler]
Era uma Vez na América
4.4 529 Assista AgoraObra-prima de Sergio Leone, o filme tem mais de 3 horas mas parece que se passa meia hora sentado assistindo.
Para assistir esse filme você precisa estar acostumado com o estilo de Sergio Leone, a montagem deixa o filme um pouco lento, mas isso é feito de maneira despretensiosa já que Sergio Leone tinha um material incrível nas mãos e sabia a história que queria contar.
Destaque também para as atuações de Robert de Niro e James Woods e para a linda trilha sonora de Ennio Morricone. O que senti falta foi o desenvolvimento de Patsy e Cockeye. Eles são o mesmo personagem do começo ao fim?não. Mas eles não tem a mesma relevância que Maxie e Noodles.
Muita gente reclama do final o considerando anticlimático mas muito pelo contrário, a história de Sergio Leone começa como um mistério e termina como um.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraAgora vai...
The Revenant novo filme dirigido por Alejandro González Iñárritu conta a história de Hugh Glass, um homem que estava em uma expedição com outro grupo de caçadores, e que em determinado momento se separa deles e acaba sendo atacado por um urso.
Leonardo DiCaprio interpretando Hugh Glass está excelente no filme, em maior parte do seu tempo em tela no qual ele passa sozinho, ele expressa todos os traumas e a sua dor através de seu corpo com muita veracidade apesar do acontecimento principal do filme, muitos grunhidos, gemidos expressando a dor de seu personagem e a sua motivação de querer continuar vivo por outro acontecimento que acontece no filme referente ao seu filho, a entrega corporal dele foi absurda ao filme.
Tom Hardy não fica para trás como um homem bruto e traidor e que só se preocupa com si próprio, o maior desafio é entender o que ele fala, ele faz um personagem carrancudo que não tem pena de ninguém e que sua maior motivação é ele mesmo e nada além disso.
Alejandro tem um trabalho incrível de linguagem e sabendo a história que ele queria contar, Alejandro expõe o lado da necessidade de sobrevivência humana ao seu limite da mais forma mais crua e realista possível misturado com a ganância do homem “branco” e como eles atrapalharam o desenvolvimento dos nativo-americanos naquela época, com uma câmera inquieta e com um trabalho de imersão poucas vezes visto em um filme. A sequência de abertura é uma das mais impressionantes, criativas e ameaçadoras que eu já vi, além de ficar mais visível suas referências aqui: Dersu Uzala, Sangue Negro, Apocalypse Now, Tarkovski e Terence Mallick no geral. Seus planos sequência colocam o espectador na história, tem um que o Hugh Glass entra na água, a câmera vai junto o seguindo, é impressionante e não dá para saber como foi feito, mesmo.
A trilha sonora minimalista com sons crescentes graduais usadas apenas em momentos mais “emocionais” ajuda a contar a história e novamente nos colocando na posição de Hugh Glass a usando de maneira arrebatadora e sentimentalista.
O trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki é lindo, colocando entre planos abertos evidenciando o tamanho do local e a distância do Hugh Glass de seu principal objetivo, e que o perigo pode vir de qualquer lugar, o uso de luz natural e o visual belíssimo junto com a câmera e a assinatura visual de Iñárritu tornam o filme em uma experiência magnífica e única.
Meu maior problema com o filme foi o final que se estendeu muito, e a cena de vingança ter sido muito fraca devido a motivação forte de Hugh Glass, e alguns personagens poderiam ter uma relevância maior como o filme se dispõe a ter em vários momentos.
Mas The Revenant é um dos filmes mais impressionantes esteticamente e tecnicamente falando dos últimos tempos e que merece ser visto e revisto várias vezes, e Leonardo DiCaprio finalmente deve levar sua estatueta.