Acho que essa onda negativa sobre os flashbacks é porque o pessoal está analisando muito pela ótica atual, quando o fluxo de informações é cada vez maior e esses filmes são tão fáceis de achar (seja por meios oficiais ou não). Vi toda a saga de Antoine Doinel em um espaço de três semanas e, à primeira vista, também achei apelativo o uso de cenas dos filmes anteriores. Porém, na época a realidade não era assim e dificilmente quando esse filme lançou 9 anos depois de "Domicílio Conjugal" (o maior intervalo entre os lançamentos dessa franquia), os ansiosos conseguiam revisitar os longas anteriores. Acho sim que Truffaut poderia ter sido menos prolixo e ter usado a edição para aparar alguns segundos de algumas cenas revisitadas, ou até mesmo ter sido mais ousado em fazer alterações para ressaltar as mentiras do livro de Antoine (o que só ocorre uma ou duas vezes).
Mas discordo em gênero, número e grau com quem achou esse filme vazio ou raso. Acho inclusive que ele só cresce, especialmente pela excelente presença de Colette. Sim, é o mais fraco dos cinco, mas toda a forma como o diretor amarra a jornada de amadurecimento de seu protagonista e alter-ego chega a ser belíssima, principalmente fazendo uso de um contraponto tão firme de Antoine quanto a figura de Colette que, particularmente, considero uma co-protagonista da obra. Colette era a ferramenta necessária para fazer Antoine se olhar no espelho e se livrar de sua egolatria. O diálogo no trem e a conversa extremamente sincera entre Colette e Christine perto do fim são símbolos da importância desse amor não-correspondido da adolescência. E aqueles créditos finais que trazem de volta o momento mais belo de "Os Incompreendidos" é simplesmente impecável. É o mais fraco, mas ainda cheio de personalidade.
No Brasil, temos um fenômeno interessante que acaba sendo contrário ao que ocorre nos EUA, por exemplo: valorizamos mais a TV do que o Cinema. Não à toa, depois da Retomada do cinema com dramas como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, o Brasil entrou em uma guinada pesada para cima das comédias com linguagem super-televisa, como “Se Eu Fosse Você”, “Até que a Sorte Nos Separe”, “Muita Calma Nessa Hora”, “De Pernas pro Ar”, entre outras, todas muito calcadas nas nossas sitcoms como “Sai de Baixo”, “Toma Lá Dá Cá” e, atualmente, “Vai que Cola”. E para ser bem sincero, depois de assistir algumas dessas produções (geralmente da Globo Filmes), perdi o interesse já que nenhuma parecia oferecer nada de realmente interessante além de estereótipos, merchandising forçado e de usar seus comediantes (como Leandro Hassum, Bruno Mazzeo e Ingrid Guimarães) para sustentar projetos bem pobres cinematograficamente falando.
Eis que chegamos ao fenômeno “Minha Mãe É uma Peça”, criado pelo recém-falecido Paulo Gustavo como uma homenagem a sua própria mãe que começou nos palcos e acabou indo para as telonas com a ascensão estelar do ator. E é inegável o esforço que Paulo tem ao compor a figura de Dona Hermínia que, desde 2013, entrou na consciência pop brasileira assim como Chicó e João Grilo, Zé Pequeno, Capitão Nascimento... e a lista vai! De fato, a mãe histérica de três filhos que quase nunca lembra de tirar seus bobes do cabelo (quase como uma Florinda desbocada) é a melhor coisa da trilogia. Paulo Gustavo entrega uma atuação tão carismática que jamais nos incomodamos com o fato dela gritar todo o tempo e melhor, jamais percebemos que está sendo interpretada por um homem. O ator some aqui e isso é sempre um bom sinal!
Só é uma pena que todo o resto dos três filmes (em especial dos dois primeiros) caia nas exatas armadilhas que os já citados acima caíram. Afinal, nada aqui foge da típica linguagem de sitcoms e programas de esquetes (como “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”) que pode funcionar perfeitamente para a TV, mas que para um filme de generoso orçamento não cola mais. Desde os diálogos que nunca conseguem ser filmados em um só plano até o exagerado uso de establishing shots (planos que servem puramente para mostrar o lugar em que a cena se passa), todas as opções da direção e da produção mal parecem se esforçar em criar algo minimamente cinematográfico. Resultado: uma coleção de esquetes reunidas por 1h30 que tentam criar uma conexão entre si que acaba sendo fragilíssima. Isso, claro, sem contar as forçadas inserções dramáticas de cada filme, como a morte de um sobrinho no primeiro, a morte de uma tia no segundo e um flashback que demonstra o filho Juliano enfrentando problemas por demonstrar características geralmente femininas quando criança (momento esse inspirado por um fato vivido pelo ator). Tais cenas poderiam adicionar uma boa carga dramática a uma comédia tão escrachada, mas acabam soando deslocadas e mal desenvolvidas.
É uma pena também que o roteiro não saiba como desenvolver até as próprias piadas. Se as peripécias de Dona Hermínia fossem expostas uma vez por semana (como um quadro no “Zorra Total”), não incomodaria tanto o fato de suas piadas serem baseadas nos mesmos elementos, como o hábito de chamar todo mundo de “palhaço”, seus sentimentos mistos com os filhos ou sua relação conturbada com o marido Carlos Alberto (interpretado por um simpático Herson Capri que possui uma química surpreendentemente boa com Paulo Gustavo). O terceiro filme mesmo chega a elaborar uma viagem ao exterior que dura apenas uma cena que não adiciona nada além de mais piadas, de fato divertidas, a um projeto já gorduroso. (E que mania é essa dessas comédias de ter sempre alguém viajando para os EUA, mostrando sempre um país idealizado para o qual a classe média brasileira jamais parece digna?!?! Parece viralatismo!)
E se falei no terceiro, aproveito para dizer que, apesar de repetir quase todos os vícios de seus antecessores, pelo menos assume uma estrutura narrativa mais compreensível e piadas mais inventivas e genuinamente engraçadas (como ao mostrar a personagem de Malu Valle confundindo os termos em inglês “chicken” e “kitchen” - “frango” e “cozinha” – em um restaurante gringo), além de uma belíssima homenagem final que parece ter sido ressignificada após a morte prematura do ator uma semana antes do Dia das Mães, uma coincidência simplesmente inacreditável. Eu definitivamente não esperava que terminaria a trilogia precisando secar o rosto, mas aconteceu!
“Minha Mãe É uma Peça” vale a pena para presenciar o talento de Paulo Gustavo como ator e tirar a prova real de que sua ascensão não foi à toa. Porém, não vou mentir e falar que são bons filmes. Como eu disse na minha página do Instagram (quem ainda não segue, só procurar CineMané), eu já imaginava que tais filmes não me agradariam e, da mesma forma, não julgo as milhões de cabeças que adoram – na verdade, reconheço o apelo. Mas escrevo pela primeira vez um texto conjunto justamente porque as três obras não se diferem tanto entre si. E, para concluir, ainda defendo a ideia de que “Minha Mãe É uma Peça” funcionaria bem mais se fosse uma recorrente sitcom. Como cinema, realmente não é minha xícara de chá!
Acho que "Milagre na Cela 7" é o tipo de filme perfeito pra perceber como a maioria percebe mais o filme pela história que ele conta do que pela FORMA COMO ELE CONTA. Achei terrível toda a construção maniqueísta dos personagens e da trama. O elenco inteiro é caricato ou canastrão, a fotografia abusa da "luz natural" para criar planos bonitos que nada têm a dizer, a trilha sonora parece vinda de um drama de novela mexicana (forçando até não poder mais para o espectador chorar) e o roteiro é patético a ponto de criar reviravoltas incompreensíveis e arcos dramáticos vazios que só parecem bonitos pelas frases de efeito que eles jogam no meio do caminho.
Draminha bem safado que de tanto forçar, fez um sucesso imenso mesmo tendo uma abordagem rasteiríssima. Não derramei uma lágrima sequer porque já passou da hora de cineasta usar pianinho e violino triste pra isso. Quer me fazer chorar? Me dê um bom roteiro, com personagens bem construídos e um drama inserido de forma natural, sem empurrar novelinha gospel na minha goela.
“...E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Lawrence da Arábia”, “Doutor Jivago”, “O Poderoso Chefão – Parte 2”, “Apocalypse Now” (versão redux), “A Lista de Schindler”, “Titanic”, “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (versão de cinema), “O Irlandês”, “Vingadores: Ultimato”... Todos esses filmes possuem três características em comum: todos são clássicos (ou potenciais clássicos) épicos do Cinema, todos são mais curtos do que o SnyderCut... e TODOS têm mais conteúdo do que o SnyderCut! (E olha que eu só contei as obras que têm duração acima das 3 horas.)
Pois é, finalmente terminei as infindáveis 4 horas de duração desse trambolho embananado de Zack Snyder que serve para ajeitar tudo que tinha dado de errado na produção de “Liga da Justiça”, longa lançado em 2017 que eu considero praticamente inassistível. E fato é: o SnyderCut é melhor do que a versão finalizada por Joss Whedon... Porém, existe uma diferença boa entre um filme bom e um filme superior ao inassistível. E fato também é: eu detestei o SnyderCut!!!
“Liga da Justiça de Zack Snyder” tem um principal mérito sobre o de 2017: sua estrutura narrativa. Aqui, tudo é mais organizado e contextualizado, de forma que dá para entender as habilidades de (quase) todos os personagens, o objetivo do vilão Steppenwolf e até mesmo a função das Caixas Maternas, elementos totalmente relegados a segundo plano na picotagem da Warner. Porém, vi muitos confundindo estrutura narrativa com edição. A edição desse filme é simplesmente desastrosa, chegando ao ponto de cometer erros amadores como um plano de um avião voando. Sim, um avião voando apenas! Quem está naquele avião? Para onde ele está indo? Nenhuma cena antes ou depois justifica o diabo daquele avião. O mesmo vale para os 88 finais apresentados no tal Epílogo, alguns deles simplesmente vergonhosos, desnecessários e absurdamente desencaixados e editados como se fosse um trailer misturado com um videoclipe da MTV em época de Marilyn Manson (sim, Jared Leto, estou falando com você!).
E pode até parecer algo ótimo o fato dos personagens estarem melhor desenvolvidos aqui. Realmente seria se os catalisadores de sentimentos funcionassem. Quem são eles? Sim, os atores! Aqui temos figuras como Gal Gadot e sua expressão congelada, Jason Momoa e sua cara emburrada, Ben Affleck e sua cara de banana bochechuda, Ray Fisher e seu estoicismo aborrecido, e Ezra Miller e sua fala acelerada para imitar uma mistura chernobyliana de Peter Parker e Mark Zuckerberg (isso, é claro, quando não está falando com o pai, já que aí parece um personagem COMPLETAMENTE diferente). E o desenvolvimento citado por mim mesmo é bem básico, já que Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Superman estão praticamente idênticos aos de 2017 só que um pouco mais sombrios, enquanto Flash acaba cumprindo um papel bem mais importante no clímax (o que não significa que seja desenvolvido). O mais beneficiado é mesmo Cyborg que, por ter experiências tão trágicas, acaba não convencendo pelas limitações dramáticas de seu intérprete. Lembrando: funcionar no papel e funcionar na tela são coisas bem distintas!
É incrível e frustrante perceber também como Snyder se sabota. Diretor sempre criticado por não saber trabalhar sentimentos humanos, o cineasta compõe uma belíssima cena entre Martha Kent e Lois Lane (aproveitando o pouco espaço das ótimas Diane Lane e Amy Adams)... Tudo para depois subverter com uma reviravolta totalmente tirada do c* que provavelmente deixou muito nerd de pau duraço ou de periquita molhada, mas que como CINEMA, simplesmente destruiu aquela que seria a melhor cena de todas as 4 horas anulando o peso emocional que a mesma oferecia. PARABÉNS, SPLINTER, P*** QUE PARIU HEIN!!!
E as cenas de ação? Bom, além do fato delas demorarem umas 2 horas para realmente acontecer (não estou contando aquelas que servem como preparação da trama), são filmadas de forma burocrática e bem parecida com a versão de 2017, oferecendo uma ou outra abordagem diferente que não adiciona muita coisa e com um visual mais limpo daquele excesso de CGI horroroso que a versão de Whedon tinha (não que a qualidade desses efeitos tenha melhorado muito, vale dizer). “Ah, mas as 4 horas se justificam?” Bom, se você for um prisioneiro de guerra e Snyder for um torturador, a missão dele foi absolutamente bem-sucedida, já que provavelmente 1 hora é gasta com câmera lenta interminável ou com atividades banais como Alfred tomando chá, Barry procurando emprego, Aquaman tomando um uísque, Lois Lane comprando café, Bruce fazendo a barba... Ah é, tudo isso em câmera lenta, ok? E nem vou começar a falar das músicas, já que as licenciadas sequer encaixam nas cenas em que são inseridas e as originais, apesar de interessantes, ficam se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo (eu ouvi aquele canto tribal umas 30 vezes pelo menos).
O tão aguardado SnyderCut é uma trolha quase tão ruim quanto sua versão anterior. Se aquela era toda picotada e mal encaixada em 2 horas, essa é toda entulhada e auto-indulgente até não poder mais, lotada de decisões erradas por 4 horas, ou seja, um grande chute sombrio nos testículos sombrios. Decisões boas aqui e ali não fazem muita diferença.
Enfim, explico a minha segunda estrela (até porque o filme por si só não merece ambas). Ela vai em homenagem a Autumn, filha do diretor que cometeu suicídio em 2017. Eu posso brincar, criticar e o que quer que seja, mas admito a profunda admiração que tenho por Zack Snyder nesse ponto. Mesmo após uma tragédia inominável, o cara correu atrás para fazer um filme que queria fazer, independente da duração ou do desejo de público ou estúdio. E diferente de um Michael Bay, Snyder jamais foi mal-intencionado com as suas obras. Sempre se revelou um artista apaixonado. Posso não ter apreciado sua obra, mas essa é só a minha opinião que escolhi comentar com mais sarcasmo! E devo dizer que só escrevo esse parágrafo porque, com a dedicatória final, Snyder decidiu unir seu amor pelo que faz e seu amor pela sua falecida filha... E tá aí um sentimento que ele conseguiu abordar com o mais profundo sucesso!
EU ODEIO FILME FEITO PRA AGRADAR OS VÉIO DA ACADEMIA!
Dito isso, eu gosto do Ron Howard. Claro que, assim como Ridley Scott, Steven Spielberg e vários outros diretores super-produtivos que transitam entre gêneros completamente diferentes, alguns filmes ruins vão escapar, como a trilogia baseada nos suspenses de Dan Brown que até servem para entreter aqui e ali. Eu mesmo sou assíduo defensor de “Han Solo”. Sem contar os excelentes dramas “Uma Mente Brilhante” e “Frost/Nixon” e o ótimo documentário “Eight Days a Week” sobre a Beatlemania. Ou seja, Ron Howard é um bom diretor!
Mas que p**** de filme é esse, Ron?!?! (Primeiramente: esse é um daqueles filmes cujo título adaptado é tão ruim que eu vou ser obrigado a usar apenas o título original durante este texto.) Não tem como começar a falar de “Hillbilly Elegy” sem apontar como tudo aqui, seja narrativo ou técnico, é manipulativo apenas para render algum drama artificial e tentar extrair na marra algum sentimento do público. E eu já expliquei: se a emoção não surgir naturalmente, forçá-la vai ser ainda mais contra-producente. Mas é isso que esse filme faz durante duas horas INTERMINÁVEIS.
Não existe cerne narrativo aqui! O prólogo até engana ao mostrar o protagonista (interpretado pelos igualmente inexpressivos Owen Asztalos e Gabriel Basso) refletindo sobre as gerações passadas de sua família, especificamente a gravidez precoce de sua avó, mas a partir do momento que o letreiro do título aparece na tela, o roteiro de Vanessa Taylor (responsável por “Divergente”... Tá explicado!) esquece completamente essa proposta e começa a saltar entre passado e presente o tempo inteiro sem muito propósito além de jogar cenas extremamente melodramáticas na cara do espectador, nem se preocupando em fingir que está contando alguma coisa.
A técnica é recheada de obviedades, como as cores mais lavadas ou contrastadas para diferenciar a década de 1990 da de 2010 e a trilha melosa de Hans Zimmer e Dave Fleming. Também há certas esquisitices, como a fotografia granulada que não diz nada e o uso bem dispensável de efeitos visuais, sem contar claro o péssimo e exagerado trabalho de maquiagem que faz com que os personagens pareçam saídos direto de uma paródia de “A Família Buscapé” (sim, a paródia de uma paródia, é isso mesmo!).
E se eu já deixei claro que o protagonista (independente de seu intérprete) carece profundamente de carisma – ao ponto de ser antipático mesmo –, a única coisa que justifica essa estrela solitária acima é a tentativa de Amy Adams e Glenn Close. Sim, apenas a tentativa, já que tanto o roteiro quanto a direção exige delas performances tremendamente estereotipadas e exageradas, em um compilado de gritaria sem fim. E chega a ser cômico que Close, dona de tantas personagens excelentes, seja relegada a uma mulher que só sabe fazer a mesma cara de coruja o tempo todo (e o fato de estar sendo reconhecida pela maioria das premiações evidencia a campanha forte que a Netflix está fazendo em cima dela, porque é realmente inexplicável). Já Adams usa de artifícios baratos para parecer uma mulher instável, mas jamais entra na personagem, como se fazer um olhar vazio de embriaguês em TODAS AS CENAS fosse convencer alguém. (Vale ressaltar também que o sotaque sulista aqui é forçado, como tudo.) A única que consegue fazer alguma coisinha, embora mal registre, é Haley Bennett.
Os atores não são o único problema, já que os personagens não apresentam o menor desenvolvimento. Ao invés de contar a história usando a velha tática de “ação e reação”, o roteiro de Taylor apresenta a reação para, depois, jogar a ação sem a menor naturalidade em um flashback repentino, o que anula o peso dos dois momentos. A personagem de Adams, a propósito, é inerte e se mantém a mesma durante todo o filme, sem ao menos demonstrar um desfecho de arco dramático. O mesmo vale para o protagonista que termina no mesmo ponto em que começou (e ainda mandando uma mensagem moralista beeeem problemática e questionável). Chega a ser cômico uma transformação que acontece em sua infância de uma hora para outra. Se fosse uma comédia, essa cena adicionaria mais uma estrela, mas como eu sei que essa não era a intenção...
AFFF, CHEGA! “Hillbilly Elegy” é um crime cinematográfico que simplesmente faz o público perder duas horas irrecuperáveis da vida que é curta demais para esse tipo de experiência. É definitivamente o pior filme de 2020 (não, eu não vi “Dolittle” nem “365 Dias” justamente porque a vida é muito curta) e uma das piores bolas fora que a Netflix já lançou. Ron Howard, toma vergonha nessa tua cara pelo amor de Deus, PARA DE TENTAR GANHAR OSCAR NA MARRA!!!!
É muito difícil já capturar o público em seus primeiros minutos! Só que mais difícil ainda é manter o nível ao longo de toda a duração. Infelizmente, “Pieces of a Woman” consegue apenas o primeiro feito.
Dirigido pelo húngaro Kornél Mundruczó, esse drama constrói de maneira impecável seus primeiros 30 minutos que são nada mais nada menos do que um prólogo que apresenta o conflito central do resto da projeção. Aproximando-se lentamente, o parto de Martha é filmado com muita câmera na mão e com dedicação extrema de todos os atores ali presentes, incluindo Molly Parker, Shia LaBeouf e principalmente Vanessa Kirby (uma atriz que ganhou minha admiração desde que começou a encarnar a Princesa Margaret na série “The Crown”). Se a primeira vai do suporte até o profundo desespero e urgência, o segundo transmite muito bem a impotência de não saber o que fazer; é até agoniante vê-lo no impasse de pôr uma música para tocar a pedido de sua esposa ou de fazer companhia a ela. Kirby, por outro lado, varia entre inúmeros estados emocionais, indo do medo, passando pela revolta e pela dor profunda, e entrando em catarse absoluta. E é com o fim desse prólogo (uma surra no estômago, vale dizer) que o letreiro do título aparece e...
A partir daí é só derrocada, já que o diretor não decide se quer manter a postura crua e realista do prólogo (consequentemente até isento de trilha sonora) ou se quer tentar uma abordagem mais contemplativa com longos planos que seguem Martha andando pelas ruas frias da cidade. Mas se fosse apenas essa indecisão, estaria excelente. A questão é que a segunda hora cai completamente no melodrama barato de filme caça-Oscar, com direito a monólogos deslocados (como aquele de Ellen Burstyn que, apesar de estar ótima, não é favorecida pelo roteiro), analogias óbvias e auto-indulgentes, e até mesmo uma estrutura formulaica, como aquele “clímax” no tribunal que, além de mal dirigido, consegue ser muito mal escrito.
As interpretações até mantêm sua qualidade! Kirby, por exemplo, exibe expressões vazias para emitir um luto corrosivo que guarda para si, enquanto LaBeouf surge mais expansivo em seu desabafo. Porém, está aí outro personagem bem prejudicado pelo roteiro, já que seu arco dramático vai de 8 a 80 sem muito motivo aparente. Em um momento, ele é o marido amável e dedicado, em outro é abusivo e infiel. Não que ele não pudesse se tornar isso, mas a questão é que soa apressado demais, sem contar claro na saída totalmente arbitrária do personagem no final do 2º ato.
Com direito até a personagens sofrendo de Alzheimer, cinzas sendo jogadas em câmera lenta e uma passagem de tempo representada pela construção de uma ponte por meses, “Pieces of a Woman” ainda conclui com sua pior cena disparada, uma cena tão piegas que parece ter saído direto de uma novela da Record, acopanhada ainda por uma trilha invasiva e maniqueísta que parece querer fazer o público chorar a qualquer custo, o que (como já apontei em outros textos) gera justamente a reação contrária.
Apresentando uma fotografia até competente, embora pretensiosa em alguns momentos (o testemunho é simplesmente péssimo), “Pieces of a Woman” é decepcionante. É um filme que começa lá no alto, com algumas das melhores cenas de 2020, para depois cair na prepotência e na manipulação rasteira de filosofia de boteco. Chega a ser triste que em 30 minutos de filme eu tenha levado um soco no estômago para, 1h30 depois, eu não me importar mais com nada...
Assisti a esse filme quase um ano depois de ver "Retrato de uma Jovem em Chamas" (que eu considero o melhor filme de 2019) e é definitivo: Sciamma está virando uma das minhas diretoras favoritas com apenas dois filmes (e não, não estou me limitando a mulheres na direção). Ainda PRECISO ver os outros dois longas dela, mas sinceramente, essa mulher eu acompanho pra vida.
Que sensibilidade! Que sutileza! A forma como a cineasta trabalha o poder do silêncio e dos olhares tanto nesse quanto em "Retrato..." chega a arrepiar. É uma condução muito poética, muito cinema em sua forma mais pura, com o adicional que aqui ela trabalha com crianças ainda pré-pubescentes e o que consegue extrair em especial da brilhante Zoé Héran (dona de um dos rostos mais expressivos que eu já vi em um intérprete mirim) impressiona.
Seria o gênero só uma barreira posta desnecessariamente em meio a relações humanas? Com a ausência de respostas em relação à sexualidade ou à identidade de gênero de Laure/Michaël, o roteiro de Sciamma cria não apenas uma maior possibilidade de identificação como também retrata de maneira impecável as indecisões da juventude, o primeiro degrau da puberdade, o verdadeiro "coming-of-age", o ser humano prestes a descobrir seus desejos, suas atrações, entrando no período mais internamente conflituoso de sua existência. E não é qualquer diretor que consegue fazer isso. Céline, por favor, não pare nunca, é do teu cinema que a indústria tão mecanizada e automática precisa. Injete um pouco de humanidade nessa máquina!
Um filme que parece ir na onda do estilo narrativo dos Irmãos Coen junto com um pouco da estética de um Wes Anderson da vida (se as touquinhas coloridas não são referência a Steve Zissou, eu não sei o que são). Sinceramente, me faltou substância. Acho a narrativa um tanto desinteressante e pretensiosa, querendo explorar muito mais do que podia. São muitos personagens pra pouco tempo de filme envoltos em uma narrativa que é tão fria quanto Easter Cove. Tecnicamente é até competente (apesar de eu não ter entendido a fotografia granulada à la anos 60) e o elenco manda bem, com exceção de Morgan Saylor que desde "Homeland", usa as expressões afetadas achando que está atuando bem. Destaque pra Margo Martindale e June Squibb que roubam suas cenas. No geral, fraco, mas não ruim!
Adrian Lyne é um diretor de filmes eróticos dos anos 80 e 90... Talvez tenha sido uma decisão equivocada botá-lo na direção de uma trama tão delicada. Mas será que não era esse o objetivo? Tipo, se estamos vendo aquilo pelo ponto de vista do abusador (que geralmente acha que não tem culpa de nada ou que a vítima o encoraja), um diretor como Lyne não seria a melhor escolha para gerar um incômodo tão grande? Não sei, sinceramente. Gostei do filme, apesar de ser sim indigesto por ser gráfico (mas não tanto quanto poderia ser, ainda bem), mas a versão do Kubrick, apesar de menos fiel ao livro pela censura da época, é bem superior. Dominique Swain não convence como Sue Lyon convencia. Porém, Jeremy Irons como Humbert merecia um prêmio. Atuação fantástica, bem melhor do que a de James Mason.
Casal insosso e mal atuado, drama e suspense fracos, trama novelesca rasa e uma técnica até tosca... Se Jerry Zucker fizesse desse filme uma comédia 100%, talvez criaria um filme tão bom quanto Os Fantasmas Se Divertem. Até porque só a comédia funciona aqui, com a presença magnânima de Whoopi Goldberg. Filme bem fraquinho, que tem na comédia seus melhores momentos. Não entendo porque ficou tão popular!
Esse é aquele filme que é famoso por ser um clássico de terror mas cujo ponto forte é mesmo o drama da personagem, a tragédia do ato final... Um dos poucos filmes de terror em que a ameaça é a maior vítima. Sem contar também que o filme é à frente de seu tempo.
Vi esse filme pela primeira vez há 3 anos. Achei mediano! Revi esse ano numa maratona cronológica do Nolan, e achei ainda mais mediano heheheh
Eu até agora ainda quero entender a complexidade que todo mundo vê nesse filme. É pura verborragia explicativa e pieguice novelesca. Tem uma técnica apuradíssima sim, e algumas boas atuações (McConaughey tá ótimo). Eu acho que se o filme se mantivesse como uma aventurona espacial estilo "Perdido em Marte", ele se sairia melhor. Mas essa filosofia existencial meio de boteco durante quase três horas é uma meta longínqua demais pro filme que é. Nolan ainda não aprendeu que não adianta tentar ser um Kubrick quando sequer é um Spielberg. Senta lá, Nolan, volta a fazer filmes indie estilo "Amnésia" ou policiais tipo "O Cavaleiro das Trevas" que se sai beeeeeem melhor.
Tirando a condução da fotografia que por vezes é escura ou instável demais (sei que é proposital mas acho que acontece mais do que deveria), o filme é ótimo. A forma como o roteiro não dá respostas fáceis mas ao mesmo tempo entrega pistas que geram uma bela discussão ao término é admirável. O estilo de Josephine Decker aqui me lembrou algo que o Darren Aronofsky faria. O que é bizarro, já que no início eu tava esperando uma dinâmica meio "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" Me surpreendi!
A DISNEY PRECISA URGENTEMENTE PARAR DE TENTAR FAZER REMAKE. Quer fazer remake? Beleza, então faça com seriedade, com garra, com boas motivações. Não faça apenas sustentado pela nostalgia do original e pela grana arrecadada. Não faça reimaginações bacaninhas, faça FILMES BONS!
E outra: por favor, na próxima vez, não deem mérito das conquistas de uma personagem feminina pra uma força sobrenatural que não tinha no original.
A versão de 1974 dirigida pelo Sidney Lumet é ótima.
Essa é mal estruturada, apressada, artificial, melodramática e insiste numa modernização que sinceramente quebrou o projeto. Pelo menos alguns do elenco se salvam (já que a maioria é totalmente esquecida).
"A Caça" é um dos filmes mais complexos dessa última década, embora pareça simples. Ele critica o movimento de manada, o tribunal passional do achismo que se potencializou com o advento da internet, mas ainda faz com que nos questionemos: será que nesse caso, nós também não julgaríamos. O filme mostra como que o vigilantismo pode destruir a vida de um potencial inocente. Sem contar na personagem Klara que, apesar de ser uma criança, consegue ser a personagem mais complexa da história. Ela absorve influências nocivas (como a do irmão irresponsável) e acaba cometendo um erro por uma inocência até comovente, mas que acaba gerando um efeito bola de neve colossal. Filme humano, real, reflexivo, ambíguo e extremamente intenso. O cinema dinamarquês em extrema boa forma!!!
Apesar de "Hereditário" começar como um suspense dramático devastador e de cair o queixo, acho que da metade pro final acaba caindo em armadilhas de filmes um pouco mais formulaicos como "Invocação do Mal" ou "A Entidade". Em "Midsommar", a proposta mais compassada e, ao mesmo tempo, opressiva se mantém até o fim, usando meia-hora pra puro desenvolvimento da protagonista (interpretada brilhantemente por Florence Pugh) e as 2 horas restantes nos botando dentro do olhar dela e dos amigos sobre o respectivo grupo, quase como um estudo antropológico, ao mesmo tempo que ela segue com sua jornada de superação do luto (conceito esse que geralmente possui soluções bregas e que, aqui, adquire uma solução no mínimo bizarra). FILMAÇO!!!
Sendo o único filme live-action do Universo Transformers que presta, "Bumblebee" é uma bela homenagem às aventuras cômicas dos anos 80 ao mesmo passo que o diretor Travis Knight oferece cenas de ação divertidas e bem conduzidas em momentos pontuais. Não é perfeito, mas é definitivamente uma divertida matinê.
Depois de ver TAAAAANTOS comentários aqui sobre a duração do filme (e não só aqui, como em todos os lugares), realmente me caiu a ficha: O Irlandês é o filme mais longo de Hollywood em mais de uma década (se estou esquecendo algum, ele não teve repercussão suficiente). E o fato de tantos comentários focarem não nas atuações, não na direção, não no roteiro e sim na duração é um reflexo do tempo em que vivemos, onde o apelo comercial é muito maior que o desejo de contar ou consumir uma história. Vivemos em tempos mais acelerados pela evolução tecnológica que nos apresenta informações novas a cada décimo de segundo. Por isso que, quando em 2013 eu vi que O Lobo de Wall Street tinha 3h, eu fiquei surpreso. Quando assisti ao filme, minha surpresa foi acalmada. Afinal, O Lobo de Wall Street tem características comerciais suficientes para segurar a atenção do público atual, "hiperativo". (Obs.: eu não estou desmerecendo o filme, que é maravilhoso, mas sim apontando sua inteligência em recorrer a esses artifícios sem comprometer sua qualidade.) Resultado: O Lobo de Wall Street é até hoje o filme mais rentável da carreira de Scorsese.
Mas com O Irlandês, o diretor potencializa sua ambição de longa duração de Silêncio (filme beeeeeem menos favorecido pelo público). Aqui, não há muitos floreios, não há muita velocidade e histeria, não há cenas de sexo e orgias, não há comicidade com uso de drogas, não há um DiCaprio gritando ferozmente ou um Pesci pressionando a cabeça de um interrogado. Aqui, Scorsese realiza um de seus filmes mais sóbrios junto com Taxi Driver. Acontece que esse segundo tinha menos de 2h. E pensei: se O Irlandês fosse lançado nos anos 50 ou 60, tempos de Lawrence da Arábia, Cleópatra, Ben-Hur, A Noviça Rebelde, Minha Bela Dama, Guerra e Paz, Spartacus, A Ponte do Rio Kwai, Doutor Jivago, etc..., talvez o foco de O Irlandês seria no que realmente importa. E como importa, já que o trio principal de gigantes da atuação tá impecável (Pesci surpreende em um papel bem mais contido, embora tão ou mais ameaçador quanto aquele visto em Os Bons Companheiros). A direção de Scorsese faz o esperado, com seus planos-sequência, seus tracking shots e uma seleção de músicas impecável. Mas é claro que o roteiro de Zaillian aqui é seu ponto forte, com assuntos como paternidade, efemeridade da vida, violência (Scorsese é Scorsese) e corrupção governamental. FILMAÇO!!!
E por favor, parem de reduzir uma obra de arte à sua minutagem.
Scorsese aqui faz uma fusão entre seu estilo narrativo costumeiro de filmes como Caminhos Perigosos (1973), Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995), Os Infiltrados (2006) e O Lobo de Wall Street (2013), e com a melancolia e o ritmo daquela que é considerada a maior obra de crime organizado do Cinema, O Poderoso Chefão (1972/1974/1990), de seu grande amigo Coppola.
O roteiro de O Irlandês é mais sombrio, menos glamouroso, mais condenador... O filme pra alguns pode até soar frio ou distante, mas essa é justamente a proposta, já que estamos vendo tudo aquilo através de uma narração de Frank Sheeran décadas depois. Esse é daqueles filmes que, por mais que tenha um ritmo lento, nunca torna-se arrastado, desenvolvendo bem o que precisa pra criar aquele que provavelmente é O ÉPICO da década de 2010. Parabéns, Scorsese, você acertou de novo!
Esse é o típico caso em que o remake quer ser mais inteligente que o original fingindo ser um filme europeu vanguardista mas acaba caindo no tédio absoluto. Elogio as atuações de Mia Goth e de Tilda Swinton (como Madame Blanc apenas) e algumas músicas de Thom Yorke são boas (nem todas são bem encaixadas). Cenografia, figurino e fotografia ficam bem aquém do filme original mas conseguem se sustentar. Já a atuação de Dakota Johnson, a montagem lotada de cortes excessivos, expositivos e desnecessários, e a inserção da trama política que não leva a lugar algum transformam esse Suspiria num filme que, apesar das qualidades, continua sendo muito mal planejado e auto-importante.
Eu gostaria muito de entender a lógica. O Edward fala o tempo todo pra Bella se afastar dele, mas é sempre ele que a aborda. E no fim do filme, ele finalmente admite que não consegue se afastar, não sem antes avisar novamente a ela que não deveriam ficar juntos. Alguém por favor trata a bipolaridade desse maluco?!?!
O Amor em Fuga
4.1 92 Assista AgoraAcho que essa onda negativa sobre os flashbacks é porque o pessoal está analisando muito pela ótica atual, quando o fluxo de informações é cada vez maior e esses filmes são tão fáceis de achar (seja por meios oficiais ou não). Vi toda a saga de Antoine Doinel em um espaço de três semanas e, à primeira vista, também achei apelativo o uso de cenas dos filmes anteriores. Porém, na época a realidade não era assim e dificilmente quando esse filme lançou 9 anos depois de "Domicílio Conjugal" (o maior intervalo entre os lançamentos dessa franquia), os ansiosos conseguiam revisitar os longas anteriores. Acho sim que Truffaut poderia ter sido menos prolixo e ter usado a edição para aparar alguns segundos de algumas cenas revisitadas, ou até mesmo ter sido mais ousado em fazer alterações para ressaltar as mentiras do livro de Antoine (o que só ocorre uma ou duas vezes).
Mas discordo em gênero, número e grau com quem achou esse filme vazio ou raso. Acho inclusive que ele só cresce, especialmente pela excelente presença de Colette. Sim, é o mais fraco dos cinco, mas toda a forma como o diretor amarra a jornada de amadurecimento de seu protagonista e alter-ego chega a ser belíssima, principalmente fazendo uso de um contraponto tão firme de Antoine quanto a figura de Colette que, particularmente, considero uma co-protagonista da obra. Colette era a ferramenta necessária para fazer Antoine se olhar no espelho e se livrar de sua egolatria. O diálogo no trem e a conversa extremamente sincera entre Colette e Christine perto do fim são símbolos da importância desse amor não-correspondido da adolescência. E aqueles créditos finais que trazem de volta o momento mais belo de "Os Incompreendidos" é simplesmente impecável. É o mais fraco, mas ainda cheio de personalidade.
Minha Mãe é uma Peça 3
3.7 570No Brasil, temos um fenômeno interessante que acaba sendo contrário ao que ocorre nos EUA, por exemplo: valorizamos mais a TV do que o Cinema. Não à toa, depois da Retomada do cinema com dramas como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, o Brasil entrou em uma guinada pesada para cima das comédias com linguagem super-televisa, como “Se Eu Fosse Você”, “Até que a Sorte Nos Separe”, “Muita Calma Nessa Hora”, “De Pernas pro Ar”, entre outras, todas muito calcadas nas nossas sitcoms como “Sai de Baixo”, “Toma Lá Dá Cá” e, atualmente, “Vai que Cola”. E para ser bem sincero, depois de assistir algumas dessas produções (geralmente da Globo Filmes), perdi o interesse já que nenhuma parecia oferecer nada de realmente interessante além de estereótipos, merchandising forçado e de usar seus comediantes (como Leandro Hassum, Bruno Mazzeo e Ingrid Guimarães) para sustentar projetos bem pobres cinematograficamente falando.
Eis que chegamos ao fenômeno “Minha Mãe É uma Peça”, criado pelo recém-falecido Paulo Gustavo como uma homenagem a sua própria mãe que começou nos palcos e acabou indo para as telonas com a ascensão estelar do ator. E é inegável o esforço que Paulo tem ao compor a figura de Dona Hermínia que, desde 2013, entrou na consciência pop brasileira assim como Chicó e João Grilo, Zé Pequeno, Capitão Nascimento... e a lista vai! De fato, a mãe histérica de três filhos que quase nunca lembra de tirar seus bobes do cabelo (quase como uma Florinda desbocada) é a melhor coisa da trilogia. Paulo Gustavo entrega uma atuação tão carismática que jamais nos incomodamos com o fato dela gritar todo o tempo e melhor, jamais percebemos que está sendo interpretada por um homem. O ator some aqui e isso é sempre um bom sinal!
Só é uma pena que todo o resto dos três filmes (em especial dos dois primeiros) caia nas exatas armadilhas que os já citados acima caíram. Afinal, nada aqui foge da típica linguagem de sitcoms e programas de esquetes (como “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”) que pode funcionar perfeitamente para a TV, mas que para um filme de generoso orçamento não cola mais. Desde os diálogos que nunca conseguem ser filmados em um só plano até o exagerado uso de establishing shots (planos que servem puramente para mostrar o lugar em que a cena se passa), todas as opções da direção e da produção mal parecem se esforçar em criar algo minimamente cinematográfico. Resultado: uma coleção de esquetes reunidas por 1h30 que tentam criar uma conexão entre si que acaba sendo fragilíssima. Isso, claro, sem contar as forçadas inserções dramáticas de cada filme, como a morte de um sobrinho no primeiro, a morte de uma tia no segundo e um flashback que demonstra o filho Juliano enfrentando problemas por demonstrar características geralmente femininas quando criança (momento esse inspirado por um fato vivido pelo ator). Tais cenas poderiam adicionar uma boa carga dramática a uma comédia tão escrachada, mas acabam soando deslocadas e mal desenvolvidas.
É uma pena também que o roteiro não saiba como desenvolver até as próprias piadas. Se as peripécias de Dona Hermínia fossem expostas uma vez por semana (como um quadro no “Zorra Total”), não incomodaria tanto o fato de suas piadas serem baseadas nos mesmos elementos, como o hábito de chamar todo mundo de “palhaço”, seus sentimentos mistos com os filhos ou sua relação conturbada com o marido Carlos Alberto (interpretado por um simpático Herson Capri que possui uma química surpreendentemente boa com Paulo Gustavo). O terceiro filme mesmo chega a elaborar uma viagem ao exterior que dura apenas uma cena que não adiciona nada além de mais piadas, de fato divertidas, a um projeto já gorduroso. (E que mania é essa dessas comédias de ter sempre alguém viajando para os EUA, mostrando sempre um país idealizado para o qual a classe média brasileira jamais parece digna?!?! Parece viralatismo!)
E se falei no terceiro, aproveito para dizer que, apesar de repetir quase todos os vícios de seus antecessores, pelo menos assume uma estrutura narrativa mais compreensível e piadas mais inventivas e genuinamente engraçadas (como ao mostrar a personagem de Malu Valle confundindo os termos em inglês “chicken” e “kitchen” - “frango” e “cozinha” – em um restaurante gringo), além de uma belíssima homenagem final que parece ter sido ressignificada após a morte prematura do ator uma semana antes do Dia das Mães, uma coincidência simplesmente inacreditável. Eu definitivamente não esperava que terminaria a trilogia precisando secar o rosto, mas aconteceu!
“Minha Mãe É uma Peça” vale a pena para presenciar o talento de Paulo Gustavo como ator e tirar a prova real de que sua ascensão não foi à toa. Porém, não vou mentir e falar que são bons filmes. Como eu disse na minha página do Instagram (quem ainda não segue, só procurar CineMané), eu já imaginava que tais filmes não me agradariam e, da mesma forma, não julgo as milhões de cabeças que adoram – na verdade, reconheço o apelo. Mas escrevo pela primeira vez um texto conjunto justamente porque as três obras não se diferem tanto entre si. E, para concluir, ainda defendo a ideia de que “Minha Mãe É uma Peça” funcionaria bem mais se fosse uma recorrente sitcom. Como cinema, realmente não é minha xícara de chá!
Milagre na Cela 7
4.1 1,2K Assista AgoraAcho que "Milagre na Cela 7" é o tipo de filme perfeito pra perceber como a maioria percebe mais o filme pela história que ele conta do que pela FORMA COMO ELE CONTA. Achei terrível toda a construção maniqueísta dos personagens e da trama. O elenco inteiro é caricato ou canastrão, a fotografia abusa da "luz natural" para criar planos bonitos que nada têm a dizer, a trilha sonora parece vinda de um drama de novela mexicana (forçando até não poder mais para o espectador chorar) e o roteiro é patético a ponto de criar reviravoltas incompreensíveis e arcos dramáticos vazios que só parecem bonitos pelas frases de efeito que eles jogam no meio do caminho.
Draminha bem safado que de tanto forçar, fez um sucesso imenso mesmo tendo uma abordagem rasteiríssima. Não derramei uma lágrima sequer porque já passou da hora de cineasta usar pianinho e violino triste pra isso. Quer me fazer chorar? Me dê um bom roteiro, com personagens bem construídos e um drama inserido de forma natural, sem empurrar novelinha gospel na minha goela.
Liga da Justiça de Zack Snyder
4.0 1,3K“...E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Lawrence da Arábia”, “Doutor Jivago”, “O Poderoso Chefão – Parte 2”, “Apocalypse Now” (versão redux), “A Lista de Schindler”, “Titanic”, “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (versão de cinema), “O Irlandês”, “Vingadores: Ultimato”... Todos esses filmes possuem três características em comum: todos são clássicos (ou potenciais clássicos) épicos do Cinema, todos são mais curtos do que o SnyderCut... e TODOS têm mais conteúdo do que o SnyderCut! (E olha que eu só contei as obras que têm duração acima das 3 horas.)
Pois é, finalmente terminei as infindáveis 4 horas de duração desse trambolho embananado de Zack Snyder que serve para ajeitar tudo que tinha dado de errado na produção de “Liga da Justiça”, longa lançado em 2017 que eu considero praticamente inassistível. E fato é: o SnyderCut é melhor do que a versão finalizada por Joss Whedon... Porém, existe uma diferença boa entre um filme bom e um filme superior ao inassistível. E fato também é: eu detestei o SnyderCut!!!
“Liga da Justiça de Zack Snyder” tem um principal mérito sobre o de 2017: sua estrutura narrativa. Aqui, tudo é mais organizado e contextualizado, de forma que dá para entender as habilidades de (quase) todos os personagens, o objetivo do vilão Steppenwolf e até mesmo a função das Caixas Maternas, elementos totalmente relegados a segundo plano na picotagem da Warner. Porém, vi muitos confundindo estrutura narrativa com edição. A edição desse filme é simplesmente desastrosa, chegando ao ponto de cometer erros amadores como um plano de um avião voando. Sim, um avião voando apenas! Quem está naquele avião? Para onde ele está indo? Nenhuma cena antes ou depois justifica o diabo daquele avião. O mesmo vale para os 88 finais apresentados no tal Epílogo, alguns deles simplesmente vergonhosos, desnecessários e absurdamente desencaixados e editados como se fosse um trailer misturado com um videoclipe da MTV em época de Marilyn Manson (sim, Jared Leto, estou falando com você!).
E pode até parecer algo ótimo o fato dos personagens estarem melhor desenvolvidos aqui. Realmente seria se os catalisadores de sentimentos funcionassem. Quem são eles? Sim, os atores! Aqui temos figuras como Gal Gadot e sua expressão congelada, Jason Momoa e sua cara emburrada, Ben Affleck e sua cara de banana bochechuda, Ray Fisher e seu estoicismo aborrecido, e Ezra Miller e sua fala acelerada para imitar uma mistura chernobyliana de Peter Parker e Mark Zuckerberg (isso, é claro, quando não está falando com o pai, já que aí parece um personagem COMPLETAMENTE diferente). E o desenvolvimento citado por mim mesmo é bem básico, já que Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Superman estão praticamente idênticos aos de 2017 só que um pouco mais sombrios, enquanto Flash acaba cumprindo um papel bem mais importante no clímax (o que não significa que seja desenvolvido). O mais beneficiado é mesmo Cyborg que, por ter experiências tão trágicas, acaba não convencendo pelas limitações dramáticas de seu intérprete. Lembrando: funcionar no papel e funcionar na tela são coisas bem distintas!
É incrível e frustrante perceber também como Snyder se sabota. Diretor sempre criticado por não saber trabalhar sentimentos humanos, o cineasta compõe uma belíssima cena entre Martha Kent e Lois Lane (aproveitando o pouco espaço das ótimas Diane Lane e Amy Adams)... Tudo para depois subverter com uma reviravolta totalmente tirada do c* que provavelmente deixou muito nerd de pau duraço ou de periquita molhada, mas que como CINEMA, simplesmente destruiu aquela que seria a melhor cena de todas as 4 horas anulando o peso emocional que a mesma oferecia. PARABÉNS, SPLINTER, P*** QUE PARIU HEIN!!!
E as cenas de ação? Bom, além do fato delas demorarem umas 2 horas para realmente acontecer (não estou contando aquelas que servem como preparação da trama), são filmadas de forma burocrática e bem parecida com a versão de 2017, oferecendo uma ou outra abordagem diferente que não adiciona muita coisa e com um visual mais limpo daquele excesso de CGI horroroso que a versão de Whedon tinha (não que a qualidade desses efeitos tenha melhorado muito, vale dizer). “Ah, mas as 4 horas se justificam?” Bom, se você for um prisioneiro de guerra e Snyder for um torturador, a missão dele foi absolutamente bem-sucedida, já que provavelmente 1 hora é gasta com câmera lenta interminável ou com atividades banais como Alfred tomando chá, Barry procurando emprego, Aquaman tomando um uísque, Lois Lane comprando café, Bruce fazendo a barba... Ah é, tudo isso em câmera lenta, ok? E nem vou começar a falar das músicas, já que as licenciadas sequer encaixam nas cenas em que são inseridas e as originais, apesar de interessantes, ficam se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo (eu ouvi aquele canto tribal umas 30 vezes pelo menos).
O tão aguardado SnyderCut é uma trolha quase tão ruim quanto sua versão anterior. Se aquela era toda picotada e mal encaixada em 2 horas, essa é toda entulhada e auto-indulgente até não poder mais, lotada de decisões erradas por 4 horas, ou seja, um grande chute sombrio nos testículos sombrios. Decisões boas aqui e ali não fazem muita diferença.
Enfim, explico a minha segunda estrela (até porque o filme por si só não merece ambas). Ela vai em homenagem a Autumn, filha do diretor que cometeu suicídio em 2017. Eu posso brincar, criticar e o que quer que seja, mas admito a profunda admiração que tenho por Zack Snyder nesse ponto. Mesmo após uma tragédia inominável, o cara correu atrás para fazer um filme que queria fazer, independente da duração ou do desejo de público ou estúdio. E diferente de um Michael Bay, Snyder jamais foi mal-intencionado com as suas obras. Sempre se revelou um artista apaixonado. Posso não ter apreciado sua obra, mas essa é só a minha opinião que escolhi comentar com mais sarcasmo! E devo dizer que só escrevo esse parágrafo porque, com a dedicatória final, Snyder decidiu unir seu amor pelo que faz e seu amor pela sua falecida filha... E tá aí um sentimento que ele conseguiu abordar com o mais profundo sucesso!
“FOR AUTUMN!”
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraEU ODEIO FILME FEITO PRA AGRADAR OS VÉIO DA ACADEMIA!
Dito isso, eu gosto do Ron Howard. Claro que, assim como Ridley Scott, Steven Spielberg e vários outros diretores super-produtivos que transitam entre gêneros completamente diferentes, alguns filmes ruins vão escapar, como a trilogia baseada nos suspenses de Dan Brown que até servem para entreter aqui e ali. Eu mesmo sou assíduo defensor de “Han Solo”. Sem contar os excelentes dramas “Uma Mente Brilhante” e “Frost/Nixon” e o ótimo documentário “Eight Days a Week” sobre a Beatlemania. Ou seja, Ron Howard é um bom diretor!
Mas que p**** de filme é esse, Ron?!?! (Primeiramente: esse é um daqueles filmes cujo título adaptado é tão ruim que eu vou ser obrigado a usar apenas o título original durante este texto.) Não tem como começar a falar de “Hillbilly Elegy” sem apontar como tudo aqui, seja narrativo ou técnico, é manipulativo apenas para render algum drama artificial e tentar extrair na marra algum sentimento do público. E eu já expliquei: se a emoção não surgir naturalmente, forçá-la vai ser ainda mais contra-producente. Mas é isso que esse filme faz durante duas horas INTERMINÁVEIS.
Não existe cerne narrativo aqui! O prólogo até engana ao mostrar o protagonista (interpretado pelos igualmente inexpressivos Owen Asztalos e Gabriel Basso) refletindo sobre as gerações passadas de sua família, especificamente a gravidez precoce de sua avó, mas a partir do momento que o letreiro do título aparece na tela, o roteiro de Vanessa Taylor (responsável por “Divergente”... Tá explicado!) esquece completamente essa proposta e começa a saltar entre passado e presente o tempo inteiro sem muito propósito além de jogar cenas extremamente melodramáticas na cara do espectador, nem se preocupando em fingir que está contando alguma coisa.
A técnica é recheada de obviedades, como as cores mais lavadas ou contrastadas para diferenciar a década de 1990 da de 2010 e a trilha melosa de Hans Zimmer e Dave Fleming. Também há certas esquisitices, como a fotografia granulada que não diz nada e o uso bem dispensável de efeitos visuais, sem contar claro o péssimo e exagerado trabalho de maquiagem que faz com que os personagens pareçam saídos direto de uma paródia de “A Família Buscapé” (sim, a paródia de uma paródia, é isso mesmo!).
E se eu já deixei claro que o protagonista (independente de seu intérprete) carece profundamente de carisma – ao ponto de ser antipático mesmo –, a única coisa que justifica essa estrela solitária acima é a tentativa de Amy Adams e Glenn Close. Sim, apenas a tentativa, já que tanto o roteiro quanto a direção exige delas performances tremendamente estereotipadas e exageradas, em um compilado de gritaria sem fim. E chega a ser cômico que Close, dona de tantas personagens excelentes, seja relegada a uma mulher que só sabe fazer a mesma cara de coruja o tempo todo (e o fato de estar sendo reconhecida pela maioria das premiações evidencia a campanha forte que a Netflix está fazendo em cima dela, porque é realmente inexplicável). Já Adams usa de artifícios baratos para parecer uma mulher instável, mas jamais entra na personagem, como se fazer um olhar vazio de embriaguês em TODAS AS CENAS fosse convencer alguém. (Vale ressaltar também que o sotaque sulista aqui é forçado, como tudo.) A única que consegue fazer alguma coisinha, embora mal registre, é Haley Bennett.
Os atores não são o único problema, já que os personagens não apresentam o menor desenvolvimento. Ao invés de contar a história usando a velha tática de “ação e reação”, o roteiro de Taylor apresenta a reação para, depois, jogar a ação sem a menor naturalidade em um flashback repentino, o que anula o peso dos dois momentos. A personagem de Adams, a propósito, é inerte e se mantém a mesma durante todo o filme, sem ao menos demonstrar um desfecho de arco dramático. O mesmo vale para o protagonista que termina no mesmo ponto em que começou (e ainda mandando uma mensagem moralista beeeem problemática e questionável). Chega a ser cômico uma transformação que acontece em sua infância de uma hora para outra. Se fosse uma comédia, essa cena adicionaria mais uma estrela, mas como eu sei que essa não era a intenção...
AFFF, CHEGA! “Hillbilly Elegy” é um crime cinematográfico que simplesmente faz o público perder duas horas irrecuperáveis da vida que é curta demais para esse tipo de experiência. É definitivamente o pior filme de 2020 (não, eu não vi “Dolittle” nem “365 Dias” justamente porque a vida é muito curta) e uma das piores bolas fora que a Netflix já lançou. Ron Howard, toma vergonha nessa tua cara pelo amor de Deus, PARA DE TENTAR GANHAR OSCAR NA MARRA!!!!
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraÉ muito difícil já capturar o público em seus primeiros minutos! Só que mais difícil ainda é manter o nível ao longo de toda a duração. Infelizmente, “Pieces of a Woman” consegue apenas o primeiro feito.
Dirigido pelo húngaro Kornél Mundruczó, esse drama constrói de maneira impecável seus primeiros 30 minutos que são nada mais nada menos do que um prólogo que apresenta o conflito central do resto da projeção. Aproximando-se lentamente, o parto de Martha é filmado com muita câmera na mão e com dedicação extrema de todos os atores ali presentes, incluindo Molly Parker, Shia LaBeouf e principalmente Vanessa Kirby (uma atriz que ganhou minha admiração desde que começou a encarnar a Princesa Margaret na série “The Crown”). Se a primeira vai do suporte até o profundo desespero e urgência, o segundo transmite muito bem a impotência de não saber o que fazer; é até agoniante vê-lo no impasse de pôr uma música para tocar a pedido de sua esposa ou de fazer companhia a ela. Kirby, por outro lado, varia entre inúmeros estados emocionais, indo do medo, passando pela revolta e pela dor profunda, e entrando em catarse absoluta. E é com o fim desse prólogo (uma surra no estômago, vale dizer) que o letreiro do título aparece e...
A partir daí é só derrocada, já que o diretor não decide se quer manter a postura crua e realista do prólogo (consequentemente até isento de trilha sonora) ou se quer tentar uma abordagem mais contemplativa com longos planos que seguem Martha andando pelas ruas frias da cidade. Mas se fosse apenas essa indecisão, estaria excelente. A questão é que a segunda hora cai completamente no melodrama barato de filme caça-Oscar, com direito a monólogos deslocados (como aquele de Ellen Burstyn que, apesar de estar ótima, não é favorecida pelo roteiro), analogias óbvias e auto-indulgentes, e até mesmo uma estrutura formulaica, como aquele “clímax” no tribunal que, além de mal dirigido, consegue ser muito mal escrito.
As interpretações até mantêm sua qualidade! Kirby, por exemplo, exibe expressões vazias para emitir um luto corrosivo que guarda para si, enquanto LaBeouf surge mais expansivo em seu desabafo. Porém, está aí outro personagem bem prejudicado pelo roteiro, já que seu arco dramático vai de 8 a 80 sem muito motivo aparente. Em um momento, ele é o marido amável e dedicado, em outro é abusivo e infiel. Não que ele não pudesse se tornar isso, mas a questão é que soa apressado demais, sem contar claro na saída totalmente arbitrária do personagem no final do 2º ato.
Com direito até a personagens sofrendo de Alzheimer, cinzas sendo jogadas em câmera lenta e uma passagem de tempo representada pela construção de uma ponte por meses, “Pieces of a Woman” ainda conclui com sua pior cena disparada, uma cena tão piegas que parece ter saído direto de uma novela da Record, acopanhada ainda por uma trilha invasiva e maniqueísta que parece querer fazer o público chorar a qualquer custo, o que (como já apontei em outros textos) gera justamente a reação contrária.
Apresentando uma fotografia até competente, embora pretensiosa em alguns momentos (o testemunho é simplesmente péssimo), “Pieces of a Woman” é decepcionante. É um filme que começa lá no alto, com algumas das melhores cenas de 2020, para depois cair na prepotência e na manipulação rasteira de filosofia de boteco. Chega a ser triste que em 30 minutos de filme eu tenha levado um soco no estômago para, 1h30 depois, eu não me importar mais com nada...
Tomboy
4.2 1,6K Assista AgoraAssisti a esse filme quase um ano depois de ver "Retrato de uma Jovem em Chamas" (que eu considero o melhor filme de 2019) e é definitivo: Sciamma está virando uma das minhas diretoras favoritas com apenas dois filmes (e não, não estou me limitando a mulheres na direção). Ainda PRECISO ver os outros dois longas dela, mas sinceramente, essa mulher eu acompanho pra vida.
Que sensibilidade! Que sutileza! A forma como a cineasta trabalha o poder do silêncio e dos olhares tanto nesse quanto em "Retrato..." chega a arrepiar. É uma condução muito poética, muito cinema em sua forma mais pura, com o adicional que aqui ela trabalha com crianças ainda pré-pubescentes e o que consegue extrair em especial da brilhante Zoé Héran (dona de um dos rostos mais expressivos que eu já vi em um intérprete mirim) impressiona.
Seria o gênero só uma barreira posta desnecessariamente em meio a relações humanas? Com a ausência de respostas em relação à sexualidade ou à identidade de gênero de Laure/Michaël, o roteiro de Sciamma cria não apenas uma maior possibilidade de identificação como também retrata de maneira impecável as indecisões da juventude, o primeiro degrau da puberdade, o verdadeiro "coming-of-age", o ser humano prestes a descobrir seus desejos, suas atrações, entrando no período mais internamente conflituoso de sua existência. E não é qualquer diretor que consegue fazer isso. Céline, por favor, não pare nunca, é do teu cinema que a indústria tão mecanizada e automática precisa. Injete um pouco de humanidade nessa máquina!
Afunde o Navio
3.2 63 Assista AgoraUm filme que parece ir na onda do estilo narrativo dos Irmãos Coen junto com um pouco da estética de um Wes Anderson da vida (se as touquinhas coloridas não são referência a Steve Zissou, eu não sei o que são). Sinceramente, me faltou substância. Acho a narrativa um tanto desinteressante e pretensiosa, querendo explorar muito mais do que podia. São muitos personagens pra pouco tempo de filme envoltos em uma narrativa que é tão fria quanto Easter Cove. Tecnicamente é até competente (apesar de eu não ter entendido a fotografia granulada à la anos 60) e o elenco manda bem, com exceção de Morgan Saylor que desde "Homeland", usa as expressões afetadas achando que está atuando bem. Destaque pra Margo Martindale e June Squibb que roubam suas cenas. No geral, fraco, mas não ruim!
Lolita
3.7 825 Assista AgoraAdrian Lyne é um diretor de filmes eróticos dos anos 80 e 90... Talvez tenha sido uma decisão equivocada botá-lo na direção de uma trama tão delicada. Mas será que não era esse o objetivo? Tipo, se estamos vendo aquilo pelo ponto de vista do abusador (que geralmente acha que não tem culpa de nada ou que a vítima o encoraja), um diretor como Lyne não seria a melhor escolha para gerar um incômodo tão grande? Não sei, sinceramente. Gostei do filme, apesar de ser sim indigesto por ser gráfico (mas não tanto quanto poderia ser, ainda bem), mas a versão do Kubrick, apesar de menos fiel ao livro pela censura da época, é bem superior. Dominique Swain não convence como Sue Lyon convencia. Porém, Jeremy Irons como Humbert merecia um prêmio. Atuação fantástica, bem melhor do que a de James Mason.
Ghost: Do Outro Lado da Vida
3.6 1,6K Assista AgoraCasal insosso e mal atuado, drama e suspense fracos, trama novelesca rasa e uma técnica até tosca... Se Jerry Zucker fizesse desse filme uma comédia 100%, talvez criaria um filme tão bom quanto Os Fantasmas Se Divertem. Até porque só a comédia funciona aqui, com a presença magnânima de Whoopi Goldberg. Filme bem fraquinho, que tem na comédia seus melhores momentos. Não entendo porque ficou tão popular!
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraEsse é aquele filme que é famoso por ser um clássico de terror mas cujo ponto forte é mesmo o drama da personagem, a tragédia do ato final... Um dos poucos filmes de terror em que a ameaça é a maior vítima. Sem contar também que o filme é à frente de seu tempo.
É só substituir os poderes de Carrie por alguma arma de fogo que você tem uma representação dos tiroteios recorrentes que acontecem nas escolas.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraVi esse filme pela primeira vez há 3 anos. Achei mediano!
Revi esse ano numa maratona cronológica do Nolan, e achei ainda mais mediano heheheh
Eu até agora ainda quero entender a complexidade que todo mundo vê nesse filme. É pura verborragia explicativa e pieguice novelesca. Tem uma técnica apuradíssima sim, e algumas boas atuações (McConaughey tá ótimo). Eu acho que se o filme se mantivesse como uma aventurona espacial estilo "Perdido em Marte", ele se sairia melhor. Mas essa filosofia existencial meio de boteco durante quase três horas é uma meta longínqua demais pro filme que é. Nolan ainda não aprendeu que não adianta tentar ser um Kubrick quando sequer é um Spielberg. Senta lá, Nolan, volta a fazer filmes indie estilo "Amnésia" ou policiais tipo "O Cavaleiro das Trevas" que se sai beeeeeem melhor.
Shirley
3.3 70 Assista AgoraTirando a condução da fotografia que por vezes é escura ou instável demais (sei que é proposital mas acho que acontece mais do que deveria), o filme é ótimo. A forma como o roteiro não dá respostas fáceis mas ao mesmo tempo entrega pistas que geram uma bela discussão ao término é admirável. O estilo de Josephine Decker aqui me lembrou algo que o Darren Aronofsky faria. O que é bizarro, já que no início eu tava esperando uma dinâmica meio "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" Me surpreendi!
Mulan
3.2 1,0K Assista AgoraA DISNEY PRECISA URGENTEMENTE PARAR DE TENTAR FAZER REMAKE.
Quer fazer remake? Beleza, então faça com seriedade, com garra, com boas motivações. Não faça apenas sustentado pela nostalgia do original e pela grana arrecadada. Não faça reimaginações bacaninhas, faça FILMES BONS!
E outra: por favor, na próxima vez, não deem mérito das conquistas de uma personagem feminina pra uma força sobrenatural que não tinha no original.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938 Assista AgoraA versão de 1974 dirigida pelo Sidney Lumet é ótima.
Essa é mal estruturada, apressada, artificial, melodramática e insiste numa modernização que sinceramente quebrou o projeto. Pelo menos alguns do elenco se salvam (já que a maioria é totalmente esquecida).
A Caça
4.2 2,0K Assista Agora"A Caça" é um dos filmes mais complexos dessa última década, embora pareça simples. Ele critica o movimento de manada, o tribunal passional do achismo que se potencializou com o advento da internet, mas ainda faz com que nos questionemos: será que nesse caso, nós também não julgaríamos. O filme mostra como que o vigilantismo pode destruir a vida de um potencial inocente. Sem contar na personagem Klara que, apesar de ser uma criança, consegue ser a personagem mais complexa da história. Ela absorve influências nocivas (como a do irmão irresponsável) e acaba cometendo um erro por uma inocência até comovente, mas que acaba gerando um efeito bola de neve colossal. Filme humano, real, reflexivo, ambíguo e extremamente intenso. O cinema dinamarquês em extrema boa forma!!!
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraApesar de "Hereditário" começar como um suspense dramático devastador e de cair o queixo, acho que da metade pro final acaba caindo em armadilhas de filmes um pouco mais formulaicos como "Invocação do Mal" ou "A Entidade". Em "Midsommar", a proposta mais compassada e, ao mesmo tempo, opressiva se mantém até o fim, usando meia-hora pra puro desenvolvimento da protagonista (interpretada brilhantemente por Florence Pugh) e as 2 horas restantes nos botando dentro do olhar dela e dos amigos sobre o respectivo grupo, quase como um estudo antropológico, ao mesmo tempo que ela segue com sua jornada de superação do luto (conceito esse que geralmente possui soluções bregas e que, aqui, adquire uma solução no mínimo bizarra). FILMAÇO!!!
Bumblebee
3.5 537Sendo o único filme live-action do Universo Transformers que presta, "Bumblebee" é uma bela homenagem às aventuras cômicas dos anos 80 ao mesmo passo que o diretor Travis Knight oferece cenas de ação divertidas e bem conduzidas em momentos pontuais. Não é perfeito, mas é definitivamente uma divertida matinê.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraVi alguns perfis aqui comentando "Não sou muito fã de romance, mas adorei esse filme."
Interessante porque é isso que a Céline fala no início do segundo filme quando fala sobre tal livro...
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraDepois de ver TAAAAANTOS comentários aqui sobre a duração do filme (e não só aqui, como em todos os lugares), realmente me caiu a ficha: O Irlandês é o filme mais longo de Hollywood em mais de uma década (se estou esquecendo algum, ele não teve repercussão suficiente). E o fato de tantos comentários focarem não nas atuações, não na direção, não no roteiro e sim na duração é um reflexo do tempo em que vivemos, onde o apelo comercial é muito maior que o desejo de contar ou consumir uma história. Vivemos em tempos mais acelerados pela evolução tecnológica que nos apresenta informações novas a cada décimo de segundo. Por isso que, quando em 2013 eu vi que O Lobo de Wall Street tinha 3h, eu fiquei surpreso. Quando assisti ao filme, minha surpresa foi acalmada. Afinal, O Lobo de Wall Street tem características comerciais suficientes para segurar a atenção do público atual, "hiperativo". (Obs.: eu não estou desmerecendo o filme, que é maravilhoso, mas sim apontando sua inteligência em recorrer a esses artifícios sem comprometer sua qualidade.) Resultado: O Lobo de Wall Street é até hoje o filme mais rentável da carreira de Scorsese.
Mas com O Irlandês, o diretor potencializa sua ambição de longa duração de Silêncio (filme beeeeeem menos favorecido pelo público). Aqui, não há muitos floreios, não há muita velocidade e histeria, não há cenas de sexo e orgias, não há comicidade com uso de drogas, não há um DiCaprio gritando ferozmente ou um Pesci pressionando a cabeça de um interrogado. Aqui, Scorsese realiza um de seus filmes mais sóbrios junto com Taxi Driver. Acontece que esse segundo tinha menos de 2h. E pensei: se O Irlandês fosse lançado nos anos 50 ou 60, tempos de Lawrence da Arábia, Cleópatra, Ben-Hur, A Noviça Rebelde, Minha Bela Dama, Guerra e Paz, Spartacus, A Ponte do Rio Kwai, Doutor Jivago, etc..., talvez o foco de O Irlandês seria no que realmente importa. E como importa, já que o trio principal de gigantes da atuação tá impecável (Pesci surpreende em um papel bem mais contido, embora tão ou mais ameaçador quanto aquele visto em Os Bons Companheiros). A direção de Scorsese faz o esperado, com seus planos-sequência, seus tracking shots e uma seleção de músicas impecável. Mas é claro que o roteiro de Zaillian aqui é seu ponto forte, com assuntos como paternidade, efemeridade da vida, violência (Scorsese é Scorsese) e corrupção governamental. FILMAÇO!!!
E por favor, parem de reduzir uma obra de arte à sua minutagem.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraScorsese aqui faz uma fusão entre seu estilo narrativo costumeiro de filmes como Caminhos Perigosos (1973), Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995), Os Infiltrados (2006) e O Lobo de Wall Street (2013), e com a melancolia e o ritmo daquela que é considerada a maior obra de crime organizado do Cinema, O Poderoso Chefão (1972/1974/1990), de seu grande amigo Coppola.
O roteiro de O Irlandês é mais sombrio, menos glamouroso, mais condenador... O filme pra alguns pode até soar frio ou distante, mas essa é justamente a proposta, já que estamos vendo tudo aquilo através de uma narração de Frank Sheeran décadas depois. Esse é daqueles filmes que, por mais que tenha um ritmo lento, nunca torna-se arrastado, desenvolvendo bem o que precisa pra criar aquele que provavelmente é O ÉPICO da década de 2010. Parabéns, Scorsese, você acertou de novo!
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraE digo mais: durante o filme inteiro, eu fiquei bem mais interessado no Outono Alemão do que nos acontecimentos da Academia!
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraEsse é o típico caso em que o remake quer ser mais inteligente que o original fingindo ser um filme europeu vanguardista mas acaba caindo no tédio absoluto. Elogio as atuações de Mia Goth e de Tilda Swinton (como Madame Blanc apenas) e algumas músicas de Thom Yorke são boas (nem todas são bem encaixadas). Cenografia, figurino e fotografia ficam bem aquém do filme original mas conseguem se sustentar. Já a atuação de Dakota Johnson, a montagem lotada de cortes excessivos, expositivos e desnecessários, e a inserção da trama política que não leva a lugar algum transformam esse Suspiria num filme que, apesar das qualidades, continua sendo muito mal planejado e auto-importante.
Crepúsculo
2.5 4,1K Assista AgoraEu gostaria muito de entender a lógica. O Edward fala o tempo todo pra Bella se afastar dele, mas é sempre ele que a aborda. E no fim do filme, ele finalmente admite que não consegue se afastar, não sem antes avisar novamente a ela que não deveriam ficar juntos. Alguém por favor trata a bipolaridade desse maluco?!?!