Bernardo Silva

São poucos filmes que me fazem ficar pensando neles durante dias.. na maioria das vezes por encantamento, mas acontece de ter essas lembranças por tristeza. Tristeza de ver um filme ruim e graças a Abdellatif Kechiche as lembranças de hoje é por ter visto um filme espetacular.

A vida de Adèle. Azul é a cor mais quente. Podem chamar da forma que vocês quiserem, mas convenhamos que não tinha nome melhor que “Azul é a cor mais quente” para esse filme.

O filme é o retrato de um conflito adolescente de Adèle com ela mesma e de um relacionamento entre duas pessoas (Adèle e Emma) complexas e intensas. Ah quem diga que não passa de um filme-drama-lésbico, mas acredito eu que essa é uma visão da galerinha homofóbica e que ainda não se aceitou nesse mundão de hoje. Na verdade o filme nada mais é do que um drama romântico sem julgamentos e sem taxações

O diretor em momento algum esconde que quer mostrar todos os lados de Adèle, inclusive o lado de dentro e ele faz isso de forma magistral no aspecto de 2.35:1(21:9). Trabalhando excessivamente em planos fechados, cada mudança de expressão de Adèle é sentida por quem está assistindo a obra. A profundidade de campo bem curta em algumas cenas te dá a curiosidade que a adolescente tem pela vida. E entramos na fotografia do filme.

De forma incrível o fato do filme ser rodado em 21:9 permite que mesmo em planos bem fechados uma certa distância é mantida entre os assuntos e isso também te coloca dentro do filme. O filme te remete ao azul o tempo inteiro. Na maioria absoluta das cenas o azul está presente seja na roupa de Adèle, no cabelo de Emma ou no cobertor da cama.

As cenas de sexo são intensas, explicitas e bonitas, e a ausência de trilha durante elas te colocam (novamente) dentro da cena. Bonitas não, lindas. Cada respiração ofegante te faz sentir mais o que Adèle e Emma sentem. E são duas atuações impecáveis que foram premiadas de forma mais que merecida no Festival Cannes de 2013.

A atuação de Adèle é uma das mais incríveis que já vi. Ela vive a personagem de uma forma que em momento algum você acha que tem uma atriz por trás daquilo.

Em certo ponto do filme a sensação de perda bate; e bate forte. Dói. E só então percebemos que essa sensação nos acompanha desde o início do filme. é complexa.

Possivelmente um dos filmes mais incríveis que vi no ano de 2014 e pra quem não assistiu ainda, assista. Só peço que não vejam o filme com o olhar de “romancinho lésbico” porque esse preconceito vai fazer você perder boa parte das sensações que o filme te passa.

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