Breno

Através de alegorias profundas, quase maçônicas, Lang expõe as chagas do modelo industrial de produção, sobretudo a visão de homem nesse incipiente sistema e o surgimento do valor do trabalho baseado num critério de tempo, na simbólica luta do homem (operário) contra o relógio. A marcha dos quem vêm do nível da produção é mais lenta e cansada em relação àqueles que estão entrando. A universidade como instituição que compõe o modelo industrial de sociedade, formando o novo proletariado, o proletariado alfabetizado, "operadores", precisa adaptar-se ao sistema para garantir a inclusão daqueles que dela saem ao modelo. Admirável! (Mundo Novo)

A heroicização de Nascimento é sintomática de uma sociedade punitivista e "sangue no olho". Tropa de Elite mostra a realidade da ação policial nas áreas pobres do Brasil, e acima de tudo levanta boa parte da cortina que esconde o sistema que opera por trás desse funcionamento.

As instituições disciplinares perderam as paredes, a sociedade de controle atua sobre todo o campo social, o cárcere e o gueto tem a mesma função, excluir e conformar à força, apartheid sem cercas.

A rede que vigia e pune atua agora sem criar as bases da disciplina da fábica, selecionando aqueles que por meios próprios não se adequaram "naturalmente", isto é, pelo trabalho, ao modelo do capitalismo rizomático, é parcialmente exposta em Tropa de Elite.

Como diria John Robie em Ladrão de Casaca de Hitchcock, "eu roubo pra comprar coisas boas que eu não podia comprar antes".

Obra importante para o Direito, especialmente para a Criminologia.

"Você tava com um beckzinho, não tava?" é a frase que deveria desmontar o preconceito carregado pela legião do "bandido bom é bandito morto", com uma frase Matias deixa claro: Rico também comete crime, também usa drogas, mas o direito penal é seletivo e só atinge aqueles que estão marcados como "delinquentes" de forma quase natural, favelados, e uma das funções da instituição policial é justamente essa: reacender permanentemente a linha que separa "eles", os criminosos, traficantes, drogados, montros, de "nós", pessoas normais, retas e ilibadas.

Numa sociedade, muito bem retratada no filme, onde os políticos são corruptos e criminosos, a polícia é corrupta e criminosa, aqueles que da classe média (que têm condições financeiras de ter uma boa vida) são corruptos e criminosos, o pau qubra justamente no favelado, praticamente indefeso, marcado pela delinquencia e que teve oportunidades negadas, essa repressão atua com a dupla função de criar o inimigo público e esconder os crimes cometidos por aqueles que administram o sistema repressor e político.

Não nos enganemos, Tropa de Elite não mostra "as falhas do sistema repressor", até porque todo sistema repressor é em si uma falha, ele mostra um sistema que é arquitedado pra ser assim por ter uma utilidade prática.

As três fiandeiras que tecem nosso destino são malévolas

O filme nos mostra que da sociedade e do mundo não podemos esperar compaixão, complacência, o destino e a vida são implacáveis. A criminogênese em Ladri di Biclicette também é um aspecto interessante a ser analisado, a película transmite a ideia de que o crime, ou melhor, os fatores da criminalidade, estão associados à pobreza, são consequência da necessidade de sobrevivência, no entanto, a lei, seja a lei formal, ou a lei natural da vida e do universo, não medem as emoções humanas e necessidades até o ponto necessário para o entendimento ideal do delito. Prova disso é que

e .

Fica a pergunta: Se ele tivesse conseguido

, certamente ficaríamos felizes. Mas e o dono? Quais suas necessidades? Será que ele não sofreria mais que o nosso protagonista?