Carol Gadelha

Para mim essa foi a mensagem principal. Pensar que o filme poderia explorar outras questões faz parecer que o que traz é pouco. Sendo que, será que realmente precisaria ser mais do que é?

Como diz Los Hermanos: “Deixa ser como será, eu vou sem me preocupar pra ver o quanto eu posso adivinhar. Deixa ser como será, tudo posto em seu lugar, então tentar prever serviu para eu me enganar”.

Fica a dúvida do quanto precisamos para ser “feliz”. Como seríamos sem modelos a seguir, sem comparar, sem idealizar? Sem os padrões do que deveríamos ser e sem competir para alcança-los? Nossa história mostra que a humanidade passou por isso, pela solidão, sensação de não pertencimento e abandono – e sobreviveu. Mas em um mundo dominado pela tecnologia, prazeres prontos e ostentação, nós conseguiríamos sobreviver?

Existe uma grande questão entre “fazer” e “esperar”. Se você está no mundo e faz o seu próprio destino e felicidade, enquanto existir mundo, existe possibilidade. E se, por ventura, alguém aparecer, você consegue compartilhar desse mundo e dessas infinitas possibilidades. Mas se essa vivência no mundo for como uma extensão de outrem - do que já é e já está posto - você espera. E aí espera dos outros, da vida, do destino, de Deus. Espera que a felicidade chegue naturalmente até você, assim como a água encanada. Quando se espera não tem muito o que compartilhar, porque quem espera, espera algo ou alguém, ou seja, já está tudo pronto em ideia. Fazer do outro detentor da sua felicidade é esperar, idealizar, fantasiar; e uma vez que o outro não pode atender tais expectativas sempre, uma hora a água acaba, e você se frustra.

Me lembrou como muitas pessoas têm ideias prontas de como tudo tem que ser, desde relacionamentos, rotina, enfim, vida.

Mais difícil ser sozinho na obrigatoriedade de viver com o outro ou ser sozinho com um mundo de possibilidades?
Um filme sobre a inevitável e importantíssima solidão.

Ganhei de aniversário de 7 anos o VHS de Harry Potter e a Pedra Filosofal, veio com uma moeda do Gringotts e uma magia que encheu meus olhos na hora. Pronto. A pessoa que me deu esse presente se tornou especial daquele momento em diante, sem precisar fazer mais nada. Sabe aqueles presentes que valem uma vida inteira? É meio louco imaginar quão diferente seria minha vida se não tivesse conhecido Harry Potter, e é meio louco pensar o quanto um ‘simples filme’ pode influenciar na vida de uma pessoa. Eu provavelmente não teria os mesmos amigos; não teria tido longas conversas com pessoas que não tinham nada em comum comigo; não teria considerável parte das minhas memórias. Enfim, não seria a mesma pessoa, nem de longe. Não teria o orgulho de ter feito parte de tudo isso, e não seria tão agradecida à vida por algo tão lindo existir e pelo tempo que tive com eles.
“Eu sei, é apenas uma história, mas para tantos é muito mais do que isso.”