Caio R.

Corra e The Handmaid's Tale numa gororoba ruim.

Partindo para o que eu senti com o filme, o livro é o adeus/ponto final do Edward em tudo que a Susan causou nele. Tudo no livro é uma metáfora para o que ele viveu, e como aquelas cicatrizes marcaram ele, o que eu mais uma vez achei sensacional. Deve ter muito autor de livro que põe muito de si nele, mas só pessoas mais próximas conseguem ver a "alma" do autor ali. Enfim, voltando.

No começo do filme vemos a vida abastada que a personagem da Susan(e sua mãe) almejavam pra ela. Mas ela não está feliz naquela realidade. Seu esposo a trai, ela não consegue dormir direito e acha seu trabalho um grande lixo, como ela mesmo diz.
A partir do momento que ela começa a ler o livro as lembranças do Edward voltam, e então passamos a ver um pouco da personalidade do personagem. Edward é geralmente descrito como um homem meigo, romântico e bastante sensível, algo que a mãe da Susan vê como fraqueza, e que a Susan discorda, pois acha que esses na verdade são pontos fortes dele.
Isso é algo que ele mesmo, o Edward, expõe na obra. Pode notar que o personagem do livro, o Tony Hastings sempre fala calmamente, nunca revida nada, nunca excede no tom. Ele é oposto do que os esteriótipos de "machão" presentes em filmes e na realidade mesma. Tanto que é antíclimático os 3 antagonistas estarem fazendo o que fazem com sua esposa e filha, e ele nunca parte pra cima, ou briga com os caras. Você não espera isso, e é justamente porque o Edward não é esse tipo de homem. Ele é alguém mais comunicativo e sensível.

Quando sua esposa e filha morrem no livro, algo que tem fundo na realidade do filme, Edward começa a se desmontar. A partir desse ponto começa a busca dos assassinos de sua família em parceria com o policial Bobby Andes.

Em duas lembranças da Susan nós vemos o Edward sendo acusado de ser fraco. Tanto pela mãe da Susan quanto pela própria Susan, mesmo que nesse segundo caso tenha sido algo implícito. Edward por ser um homem mais "romântico" e "sensível" seria alguém fraco.

Em um dos momentos que se tem um recorte de realidade do filme para realidade do livro, somos levados a uma lembrança da Susan, onde ela recorda que o Edward pediu que ela lesse um rascunho do livro dele. Ela acabou não gostando muito e eles começam a discutir, então ela começa a fazer algumas afirmações que dão a entender que o Edward deveria buscar alguma outra profissão. Ela não coloca muita confiança nele na literatura. Afirma que nunca conseguiria ser artista porque a arte precisa de uma coisa de dentro que ela não tem, e então o Edward diz que na verdade ela desistiu de ter, se acomodou, algo do tipo.
Algo faltava para o Edward colocar uma "vida" dentro de sua obra, e essa qualidade vem justamente da forma que a Susan o largou pelo rapaz mais rico, e abortou de uma criança sem ao menos conversar com o Edward.

No final do livro, o Edward matar o assassino de sua filha é ele simbolizando a morte de sua própria "inocência", algo que ele percebeu ser fraqueza, já que era assim que o mundo e as pessoas devolviam seu modo de ser. O antagonista repete várias vezes em um momento:"Você é fraco. Fraco. Você é fraco."
Por fim, que forma mais simbólica de representar a sua morte que não a morte literal no livro?kkkkk
O personagem do Tony morre, o que acho que deixa claro o que eu entendi disso. É a morte do romântico.

Como Kafka diz: "Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós", e acho que ele conseguiu fazer isso com a Susan, mesmo que nele tenha ocorrido um tipo inverso de ação.