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Últimas opiniões enviadas

  • ᴡᴡᴡ.egbertosantana.okwb.ru

    Saulo é eu e cada jovem que sofreu mudanças severas com os discursos militantes mais explícitos veiculados nas redes sociais ou atingido fortemente pelas políticas de repressão também explícitas dos últimos anos. Saulo conversa com o "eu" juvenil de cada moleque adulto e representa muito bem a não obediência perante às situações.

    É um filme que junta todo o sentimento de revolta que a juventude - principalmente negra - teve e está tendo numa só história; e isso é muito particular dessa juventude representada no filme, protagonizada por um jovem negro em meio aos movimentos secundaristas.

    Como outras críticas já comentaram, Déo Cardoso se apropria dos estereótipos juvenis para montar sua história. São cenas com discursos prontos, mas que possuem uma unidade muito bem definida a fim de dispor os diferentes. É a zueira na sala sendo alavanca pelo racismo, o desrespeito com os professores, o interesse do aluno pela luta dos Panteras Negras, a aliança dos amigos...tudo isso é colocado até de maneira explícita pelos diálogos - de início me incomodou, mas logo depois o filme foi se encaixando, pois tudo ali fazia parte da unidade da obra.

    A cena em que toca a música do Emicida, por exemplo, cai numa fabulação do futuro extremamente interessante. Tá tudo ali e não precisa ser mais escancarado e pode ser daquele jeito ali mesmo, é essa a intenção e pronto.

    É muito interessante também como filme situa muito bem as forças e como ele engrandece cada uma através da imagem. A força dos alunos e a falsa grandeza da instituição.

    O próprio espaço da escola também dá uma noção de sufocamento, aprisionamento e isso é extremamente bem trabalhado pela luz e sombra do filme - energizado pela queda de força proposital da história. Como ele vai lendo e estudando dentro daquele cubículo, sem nenhum suprimento recebendo um tratamento desumano, alvo de líder de rebelião. E isso vai também desde os refeitórios, cujo corte lembra também uma prisão.

    E se pegar a história em si - menino fica preso na escola fugindo do bandido que matou seu irmão e usa o espaço como reinvindicação de demandas estudantis - nem sequer chama tanta atenção, mas o principal é como ele sai desse pequeno espaço para atingir camadas extra campo na mesma imagem, sintetizado na última meia hora do filme, onde o suspense vai crescendo e o imprevisível toma conta.

    A única arma ali, desde o primeiro momento em que o Saulo leva um pescotapa e é filmado pelos moleques, até ele usar o mesmo artefato para denunciar o desacato do porteiro e da escola e no fim, as imagens reais de tantos estudantes recebendo ataques brutais da polícia filmadas pelos mesmos, tão real quanto a ficção.

    A dedicação à Zózimo então juntamente com a cena final da "prisão do Saulo" é a ponta do soco no estômago. Surge com Alma no Olho, dito fundador do cinema negro brasileiro, com suas específicas reinvindicações e tratos com a linguagem, versando desde a abolição da escravatura até a falsa libertação do povo negro; e chegamos em 2020 com Déo Cardoso, realizador negro tão diferente de Zózimo, mas que consegue até mesmo captar rastros daquele discurso através de uma história da juventude que mesmo seguindo passos "corretos" e lutando pelo que é seu de direito, recebe pancadas e pontapés do Estado, não muito diferente como era na época de Zózimo.

    Registro essencial poderoso do cinema brasileiro em 2020.

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  • ᴡᴡᴡ.egbertosantana.okwb.ru

    Takashi Miike abusa da invenção de gênero que o cinema permite para trazer um certo niilismo cômico e banal. Não tem regras, não tem obediência ou sequer uma sequência correta a seguir quando todos os hóspedes de uma pensão de fim de mundo se matam depois que chegam no local. "É a vida", como ensina o avô. E a testemunha mais inocente de todas nos conta a história, do verão maluco da família Katakuri.

    A única regra a ser seguida é do sorriso no rosto à qualquer custo. O lugar que mora esse sorriso são nas músicas, nos sonhos e nas pequenas chegadas dos clientes. É tudo tão bizarro e tão bobo, que resta sorrir para aguentar aquele espaço. The Happines se concentra nessa barreira da vida feliz em meio a corpos mortos enterrados no quintal, onde a família vai ganhando o pouco que resta com eles. Tentando enganar quem vem, sem saber o que lhe espera. Takashi Miike não está interessado nem sequer em dar um fim para essa maluquice ou uma explicação, ele quer apenas mostrar e eu acho isso a cereja do bolo.

    Gosto muito dos 40 minutos finais. Não lembro de um filme que conseguiu mudar tanto assim na abordagem temática de uma maneira tão boa quanto esse. Vai do musical, da ação, da cena policial, da comédia, para o drama. É a unidade sem unidade que se completa pela verossimilhança desregrada daquele mundo. São as poses desengonçadas em cima dos corpos, o choro forçado, o musical naipe Dancing in the Dark, as gritarias...Dão um tom bastante cômico e surreal para o filme sem nunca sair daquele espaço bizarro e perfeito dos Katakuris.

    O trabalho com stop motion tem o seu lugar, mas até fica esquecido em meio à tanta coisa acontecendo. E todas as aparições dos monstrinhos ou da quebra para a animação dos atores são sensacionais. É estranho porque são eles os responsáveis por dar vida aos cenários impossíveis, mas é durante todo o filme que o impossível reina e faz seu lugar.

    Meu primeiro Takashi Miike e eu me diverti bastante.

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  • ᴡᴡᴡ.egbertosantana.okwb.ru

    A Noite Amarela é um filme jovem, e para usar o linguajar jovem, ele me engatilhou. Todo esse rito de despedida, reunião entre amigos de madrugada e conversas paralelas foi bastante relatável comigo. Lembro de vários momentos semelhantes com amigos e que hoje não é mais possível ter por conta do distanciamento social. Ouso dizer que teve a representação mais fiel dos filmes que já vi nesses últimos anos (Fim de Festa, Piedade tentaram e não foram muito bem)

    Os diálogos ditos paralelos nos apresentam os personagens e nos fazem sentir parte daquela turma. E, usando dos seus próprios códigos, o celular por exemplo, o filme traz os melhores momentos entre eles, na visão deles. São piadinhas, insinuações e brincadeiras que deixam a camada da juventude divertida e sintoniza esse aspecto bobo que toma conta de qualquer reunião e que é intensificado pelo fato de estarem se reunindo pela última vez. O fim do colégio, o fim de suas vidas, a separação entre eles...Num lugar remoto e longe de tudo. "O mundo pode estar acabando agora e nós somos os únicos habitantes da terra." Acho até essa uma das frases mais assustadoras, talvez. E é doido também essa preocupação na mente deles que acaba significando uma troca sobre sonhos e percepções.

    Até a metade do filme, a narrativa estava meio engessada. Admito que não consegui entender alguns diálogos, mas peguei por cima. Mas um bom ponto é o uso desses diálogos sobrepostos. É a besteira em cima da tensão da personagem entrando nesse portal. É dois mundos sendo divididos.

    Gostei bastante também de como o filme usa a imagem à favor dos adolescentes. São três coisas muito massas: o book de fotos rememorando os tempos, o sonho que na verdade era realidade (uma quebra que até demora para se firmar, mas eu gosto por se regrar dentro de um mundinho próprio deles, sem forçar discursos de fora, é só mais uma história marcante na vida deles) e a pequena gravação que eles fazem depois que se encontram. A fala da Mônica é inserida propositalmente, é claro, mas toda sua carga é transformada com o que já sabemos: eles perdidos na Ilha.

    E eu não sei até que ponto gostei exatamente das pegadas sobrenaturais com eles perdidos. Eu gosto bem mais das misturas experimentais que o filme insere e isso dentro da jornada da Karina com a Mônica. O bom mesmo é que todos os elementos sobrenaturais estão ali, e até mesmo científicos, mas eles não tem destaque na obra. É mais a perdição deles na Ilha e todas as alucinações que vem em conjunto. São seus assuntos banais em meio a uma ligação sinistra daquele mundo.

    No fim, o que vai importar para cada um deles são as histórias que vão contar daquele dia, que nem fizeram na roda de fogueira.

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