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Últimas opiniões enviadas

  • Ese

    Resisti por mais de dez anos a ideia de rever esse filme. Às vezes tenho medo de descobrir que essas coisas que mais me tocaram na vida perderam o sentido, o impacto. Considerando a temática do filme, talvez, neste caso, fosse interessante essa perda , provavelmente eu estaria mais adaptado a tudo, mas não aconteceu, o impacto permanece. Tanta coisa foi vivida, perdida, superada, mas o impacto é o mesmo. Talvez eu não tenha mudado quase nada fundamentalmente, pensar nisso me atormenta, mas me conforta, também. É contraditório mesmo. Eu ainda acho que eles continuaram a história em algum lugar, e isso me alegra um pouco. E me alegra saber que ainda sou o cara que acredita nisso.

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  • Ese

    (Contém spoiler!)

    Talvez, pensando rapidamente, a escolha do personagem líder dos "invasores" como um alemão, tipicamente alemão, pudesse ser encarado como um clichê imperdoável, mas não vejo assim. Às vezes, é importante pegar emprestado do imaginário coletivo uma imagem facilmente identificável para reforçar o seu ponto, deixá-lo cristalino, torná-lo o mais acessível possível - esse não deveria ser um dos mais primordiais objetivos de qualquer Arte? Penso ser o caso. O que esse filme diz precisava ser dito dessa forma, límpida, crua. E admiro profundamente a coragem dos envolvidos em todo o processo por fazerem-no AGORA.

    Outro possível choque para o público talvez seja a interpretação equivocada de que o filme se trata de uma espécie de levante regionalista. Mas não, longe disso. Quando os personagens “brasileiros do sul” argumentam que não são nascidos na região de Bacurau, e sim numa região próspera e descendente de europeus... os “invasores” os ridicularizam, e os lembram de que no fim eles são só, no máximo, mexicanos brancos – e mexicanos brancos capazes de fazer qualquer serviço sujo, inclusive tornarem-se assassinos de sua própria gente. O complexo vira-latista encarnado pelos “brasileiros do sul” na verdade é uma metáfora para o pensamento reinante da classe média brasileira que se aliena de sua condição de ser brasileiro, e tenta se imergir desesperadamente numa fantasiosa auto percepção estrangeirada, bebendo como se um líquido divino fosse qualquer ditame europeu branco, como se isso os fosse desvencilhar de sua condição de “primitivos semi-selvagens”. Jessé de Sousa escreve com brilhantismo sobre essa condição vira-lata desses brasileiros que odeiam tudo que nós somos, mas que no fim, como é dito no filme, não passam de mexicanos brancos.

    Algo que me tocou muito nesse filme foi uma pergunta - feita por duas vezes: “por que vocês fazem isso?” A resposta não é dada inicialmente e depois nos chega como: “Eu não sei!”, dito pela personagem feminina estrangeira que sobrevive ao primeiro revide dos moradores. Para mim, a não-resposta dada é de interpretação ampla, mas me soou, também, como um processo profundo de alienação. Os estrangeiros, na condição simbólica de exploradores, no fim, não se veem pertencentes da mesma categoria de humanos dos moradores de Bacurau. Para eles, os nativos não são mais do que animais em caça, com baixa capacidade de resistência – excelentes candidatos, assim, para servirem de distração ao tédio dos dias.

    Imediatamente ao terminar o filme lembrei de uma visita que fiz ao museu da escravidão, na cidade de Redenção, no Ceará: O museu preserva a Casa Grande, e também a Senzala. A imagem que eu tinha desses ambientes era formatada pelas produções nacionais que retratavam a época. Ver de perto aquela estrutura, com meus olhos in loco, foi absurdamente perturbador, especialmente por um detalhe macabro: a Senzala ficava no subsolo da Casa Grande. Havia na Senzala várias divisões: o local para dormida, outro que servia como uma espécie de solitária, para os mais rebeldes e também havia um local para punição e açoite, onde os escravos tinham suas mãos presas no alto junto à parede, para facilitar as chibatadas e excluir qualquer possibilidade de revide. Ver toda aquela estrutura me fez pensar: como pode a Casa Grande estar localizada EXATAMENTE em cima da Senzala??? Seriam os moradores do andar de cima totalmente PSICOPATAS??? Uma família inteira de psicopatas!!! Só podia ser isso! Tinha que ser isso! Nenhum ser humano seria capaz de ignorar os sons vindos das profundezas de seu subsolo, não quando esses sons fossem produzidos por outros seres humanos, pensei! Ah, não ser que... os moradores de cima não vissem os moradores de baixo como seres humanos! É isso! De repente as coisas me ficaram lógicas. Os senhores de engenho não enxergavam os escravos como seres humanos; eram apenas coisas, posses, objetos capazes de lhes prouverem tudo aquilo que lhes parecia necessário, e para isso podiam se utilizar da sua força de trabalho, ou de seus corpos – com as mucamas/escravas sexuais - ou suas vidas, para aplacar um dia mais pesado de tédio, talvez.

    A mesma coisificação que servia como auto legitimação por parte dos senhores de engenho não se difere de forma fundamental da auto legitimação que faz os povos “mais desenvolvidos” deste tempo presente acharem aceitável sua condição de exploradores do mundo. A questão é que – terrivelmente – essa coisificação não se encerra dentro da leitura de mundo dos “exploradores”, ou dos “mexicanos brancos” – tão ávidos para conseguir o seu passaporte para a terra prometida dos exploradores. Essa coisificação alicerça toda uma estratégia de dominação e é implantada na mentalidade de cada explorado desde o dia que nasce, em cada sabotagem do sistema de Ensino... Este filme percebe todo esse intrincado e propõe ações. Propõe resistência, de dentro da Escola, e dos nossos museus, é o caminho, o único caminho.

    Não assisti a esse filme no Cinema, o que me faz lamentar muito perder toda a energia coletiva espantada que certamente emanou em cada sala onde essa obra prima foi rodada. Mas, ontem, quando assisti pela primeira vez, no Youtube, numa Live de Cinema – que nem sabia que existia... notei que junto comigo assistiram ao vivo mais de 65.000 mil pessoas!!! E pensei: Caralho, acho que nunca mais vou participar de uma sala de cinema tão grande!

    A quem ainda está aqui me lendo, minhas últimas palavras: esse filme dialoga profundamente com o trabalho do sociólogo Jessé de Souza. Se você chegou até aqui, o sentimento que essa obra te causou vai permanecer com você por uma bom tempo, talvez pela vida toda; então, como sugestão para você dialogar mais um pouquinho com esse sentimento, te deixo como uma indicação urgente a leitura do livro do Jessé: “A classe média no espelho: Sua história, seus sonhos e ilusões, sua realidade”.

    Post Scriptum:

    Eu imagino que a maioria das pessoas que lerão esta resenha virão aqui depois de terem visto a live do dia 18/06/2020, junto comigo, de muuuitos lugares desse Brasil. Deixo um abraço fraterno a cada um de vocês. E vamos fazer o que o filme sugere! Resistir.

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  • Ese
    Ese

    Eu revi alguns favoritos. Mas fiquei receoso de continuar. Muitos ficaram velhos mesmo. Nem clube da luta resistiu. 😭

  • daniele
    daniele

    Comecei a marcar os vistos aqui no filmow a partir da sua lista de favoritos, muitos nem lembro de ter assistido e vários outros lembro vagamente. Tive uma ideia! 177 favoritos? Vou começar a rever a partir dos seus preferidos e aí vou marcando como vistos. Meta: 1 filme por dia e tentar deixar um comentário, mesmo que tosco.
    Vou começar do último marcado, mais fácil assim de não me perder. ;)

  • Polida
    Polida

    olá, não tinha visto teu recado! que surpresa boa, eu sempre lembro de um áudio que tu me mandou recitando uma poesia sobre a chuva. Fiquei triste de ter se perdido com o tempo. como você está segurando as pontas nesse momento louco (pandemia)?

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