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Últimas opiniões enviadas

  • Felipe Benevenuto Kuzma

    Um filme sobre uma musa - quiça, sobre todas as musas. Com prêmio em Cannes, o filme surge naquela que seria a última década do século XX, enfrentando a liquefação do tempo com suas quatro horas de duração. Cenas longas de pinturas que parecem não levar à nada, rascunhos apenas, mas que tomam o espectador paciente de súbito. Amante que sou de filmes em dois atos, exulto a placidez com que o filme se dirige a si mesmo, contando que será sobre pintura e sobre esboços do infinito, mostrando sem discutir as personagens. Vemos Jane Birkin, famosa por seu dueto com Gainsbourg, encarnar um papel de musa do passado, de brilho opaco, mas cuja marca no tempo e no espaço se faz perceber na obra de Frenho, seu marido e pintor frustrado, dado a bebida e a falta de pontualidade. Tudo muda, claro, como é típico deste tipo de filme, e passamos a entender a singularidade entre os quatro personagens principais - cinco, se contarmos Bartô - onde vemos a interlocução sobre arte, encarnada por Frenho e Nicolas, sobre relacionamentos em suas gerações específicas, com os dois casais, e sobre a questão de ser musa, que revolve sobre a da arte, encarnada por Marianne e Liz. O final, tanto surpreendende quanto propositivo, mostra que a verdadeira obra de arte é inominável, que o processo é parte essencial do produto final e que, apesar do insuportável peso do tempo e de sua caminhada, algumas coisas permanecem as mesmas. Claro, existem certas ressalvas com o casal jovem e a irmã de Nicolas que poderiam ser feitas mas, levando em conta o que é próprio à arte que é o cinema, mantenho a opinião - levado, também, por sentimentos pessoais - de que se trata de uma obra prima em relação ao efeito catártico proporcionado ao espectador paciente e ansioso, aquele de tentar convencionar algo quase indizível em um objeto interpretável. As paisagens pictorescas francesas e os jogos de cena, que se passam majoritariamente em dois ambientes, a casa de Frenho e o hotel de Nicolas, cumprem seu papel ao dizer que sim, o mundo é tudo que há ao redor e que sua beleza é infinda, mas também que não há grandeza maior que aquela do confinamento entre dois indivíduos, o criador e a criatura.

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  • Felipe Benevenuto Kuzma

    Acostumados às percepções do obscurantismo cristão pelo cinema ocidental, vide Bergman ou mesmo Von Trier, um filme que questiona uma realidade metafísica budista é deveras interessante e iluminador. O filme de Akio Jissoji, além de belamente filmado, presta atenção aos detalhes: aos interiores tradicionais japoneses, à percepção distanciada da modernidade, ao conflito entre ambas e entre as gerações, além de um certo toque de absurdo. Quando tudo é transiente e nada se mantém, por que alguém se ateria às imposições morais? Não somente na questão sexual, que ocorre entre irmãos, entre genro e madrasta, aprendiz e mestre, monges e estátuas, trabalhador e patrão, numa subversão indicativa de algo mais amplo, ou seja, o recrudescimento da moral num ambiente de liberdade aparente. Mas também na questão da arte e do fazer artístico, na relação entre pais e filhos, na questão do dever e do direito às liberdades individuais. O final me parece uma homenagem ao final de O Sétimo Selo, mas com a mensagem invertida. A inquietação acerca de uma criança nascida de uma relação incestuosa, que poderia nascer com alguma mal-formação, desaparece ao vermos o menino forte e saudável ao final, que resume a posição reflexiva do filme e não de acusação superficial. O monólogo final com o monge também é de uma beleza e poesia intensa.

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  • Felipe Benevenuto Kuzma

    O filme, belamente consciente de si mesmo e de nós, os espectadores, como se soubesse que estava sendo observado, joga com esta dupla consciência e entrega um produto final rico e empolgante, com personagens interessantes e cenas brilhantes. A pintura de Rembrandt ao fundo do restaurante, as referências à Santa Ceia, a dialética do gourmand e do predador sexual, assim como tantas outras questões abordadas com leveza e delicadeza (não que o conteúdo fosse delicado), fazem este filme ser digno de ser conhecido e admirado.

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