É fato notório que a opinião de Stephen King para com a adaptação de Stanley Kubrick de “O Iluminado” para o cinema não é uma das melhores - talvez deva dizer que é uma das piores. Tendo isto em mente, e sendo um grande admirador de todas as obras de Kubrick, sempre tive curiosidade em ler o livro de King, entretanto, não acho que seria justo comparar uma adaptação ao cinema com a obra original. Assim decidi utilizar este filme para TV, com duração de 4h30 e dividido em três partes, dirigido por Mick Garris e com roteiro e produção do próprio Stephen King para tal comparação. Não compararei a qualidade técnica ou de atuações, já que a ideia aqui é comparar as diferenças da história, do roteiro.
King nos apresenta um plano de fundo para a história contada no Hotel Overlook, já impregnada em nosso imaginário, desenvolvendo, assim, as motivações de suas personagens. Mostra o que levou aquela familia até aquela situação; de passar o inverno isolada em um hotel no meio das montanhas. Nos apresenta Jack e seu problema com o alcoolismo, o sobrenatural dom de Danny e a esposa e mãe Wendy, uma mulher forte que se mantém firme na realidade ao tentar entender e enfrentar a situação bizarra. Kubrick não nos mostra o que aconteceu com a família, apenas expõe em alguns diálogos rápidos que Jack não bebe há alguns meses. Não sabemos do dom de Danny até o encontro com Dick Hallorann, quando estão conhecendo as dependências do hotel, e Wendy, que aqui é submissa as vontades do marido e é conduzida pela estranha situação sem nenhum tipo de controle. Mas, apesar destas diferenças, o problema não está no filme de Kubrick e sim no de King. O problema está no fato de Stephen King querer transpor seu livro para a tela. Assim ele desenvolve bem, até o ponto de deixar a narrativa cansativa. Você passa tanto tempo naquela história acompanhado detalhes que não fazem diferença para o filme que você se acostuma e assim a tensão deixa de existir.
Por Kubrick não nos mostrar os detalhes ficamos acuados, à espreita por não saber o que irá acontecer assim que Danny entrar em um novo corredor. Ficamos encarando a tela tensos desde o início do filme com aquela música macabra enquanto a família se dirige ao hotel. Analisamos o que é dito para captar algum detalhe e entender quem são aquelas pessoas. Os diálogos de Jack no bar, no banheiro e quando preso na dispensa nos mostra, de uma forma sutil, o que filme de Stephen King deixa explícito. Não que seja ruim, mas no meu ponto de vista isto ajuda a diminuir a tensão.
E então os “erros de continuísmo” de Stanley Kubrick. Basta uma rápida pesquisa para saber o quão metódico Kubrick era com seus filmes e que tais “erros” servem para nos mostrar que este não é um filme de terror qualquer. A cadeira que desaparece entre um plano e outro da conversa de Jack e Wendy nos diz “você está olhando atentamente?”. E não, não estamos olhando atentamente porque estamos horrorizados. Mesmo tendo assistido o filme de Kubrick diversas vezes você ainda se pega acuado quando Danny vê as gêmeas na sala de jogos e com o silêncio daquele hotel.
As páginas de um livro recepcionam bem a história de Stephen King, por isso é um dos maiores escritores. As tela do cinema recepcionam bem a história de Stanley Kubrick, por isso é um dos maiores cineastas. Assistir o filme escrito por Stephen King foi uma experiência muito gratificante e que os fãs do filme de Stanley Kubrick deveriam fazer ao menos uma vez.
No final fica um gosto de que o filme de Kubrick é um resumo com algumas alterações do livro, mas como dito pelo próprio Stanley Kubrick; é apenas a história da familia de um homem enlouquecendo silenciosamente. youtu.be/dv8KroxoAhk?t=544
O Iluminado
3.6 317É fato notório que a opinião de Stephen King para com a adaptação de Stanley Kubrick de “O Iluminado” para o cinema não é uma das melhores - talvez deva dizer que é uma das piores. Tendo isto em mente, e sendo um grande admirador de todas as obras de Kubrick, sempre tive curiosidade em ler o livro de King, entretanto, não acho que seria justo comparar uma adaptação ao cinema com a obra original. Assim decidi utilizar este filme para TV, com duração de 4h30 e dividido em três partes, dirigido por Mick Garris e com roteiro e produção do próprio Stephen King para tal comparação.
Não compararei a qualidade técnica ou de atuações, já que a ideia aqui é comparar as diferenças da história, do roteiro.
King nos apresenta um plano de fundo para a história contada no Hotel Overlook, já impregnada em nosso imaginário, desenvolvendo, assim, as motivações de suas personagens. Mostra o que levou aquela familia até aquela situação; de passar o inverno isolada em um hotel no meio das montanhas. Nos apresenta Jack e seu problema com o alcoolismo, o sobrenatural dom de Danny e a esposa e mãe Wendy, uma mulher forte que se mantém firme na realidade ao tentar entender e enfrentar a situação bizarra.
Kubrick não nos mostra o que aconteceu com a família, apenas expõe em alguns diálogos rápidos que Jack não bebe há alguns meses. Não sabemos do dom de Danny até o encontro com Dick Hallorann, quando estão conhecendo as dependências do hotel, e Wendy, que aqui é submissa as vontades do marido e é conduzida pela estranha situação sem nenhum tipo de controle. Mas, apesar destas diferenças, o problema não está no filme de Kubrick e sim no de King.
O problema está no fato de Stephen King querer transpor seu livro para a tela. Assim ele desenvolve bem, até o ponto de deixar a narrativa cansativa. Você passa tanto tempo naquela história acompanhado detalhes que não fazem diferença para o filme que você se acostuma e assim a tensão deixa de existir.
Por Kubrick não nos mostrar os detalhes ficamos acuados, à espreita por não saber o que irá acontecer assim que Danny entrar em um novo corredor. Ficamos encarando a tela tensos desde o início do filme com aquela música macabra enquanto a família se dirige ao hotel.
Analisamos o que é dito para captar algum detalhe e entender quem são aquelas pessoas. Os diálogos de Jack no bar, no banheiro e quando preso na dispensa nos mostra, de uma forma sutil, o que filme de Stephen King deixa explícito. Não que seja ruim, mas no meu ponto de vista isto ajuda a diminuir a tensão.
E então os “erros de continuísmo” de Stanley Kubrick. Basta uma rápida pesquisa para saber o quão metódico Kubrick era com seus filmes e que tais “erros” servem para nos mostrar que este não é um filme de terror qualquer. A cadeira que desaparece entre um plano e outro da conversa de Jack e Wendy nos diz “você está olhando atentamente?”. E não, não estamos olhando atentamente porque estamos horrorizados.
Mesmo tendo assistido o filme de Kubrick diversas vezes você ainda se pega acuado quando Danny vê as gêmeas na sala de jogos e com o silêncio daquele hotel.
As páginas de um livro recepcionam bem a história de Stephen King, por isso é um dos maiores escritores.
As tela do cinema recepcionam bem a história de Stanley Kubrick, por isso é um dos maiores cineastas.
Assistir o filme escrito por Stephen King foi uma experiência muito gratificante e que os fãs do filme de Stanley Kubrick deveriam fazer ao menos uma vez.
No final fica um gosto de que o filme de Kubrick é um resumo com algumas alterações do livro, mas como dito pelo próprio Stanley Kubrick; é apenas a história da familia de um homem enlouquecendo silenciosamente.
youtu.be/dv8KroxoAhk?t=544