Joe

Eu aprendi a reconhecer poesia da mesma maneira que pessoas reconhecem amigos de infância que reaparecem afrontando o tempo. Minha relação com a arte se tornou mais ou menos assim. Você revive lembranças, uma centelha de inspiração e nostalgia toma forma e no meu caso, cá estou eu, com essa relação preguiçosa com as palavras. Mas reservei um momento, um bom vinho e um ambiente agradável para escrever sobre esse filme, não poderia ser diferente, Brooklyn sem mãe...

Charme. Se o filme pudesse ser resumido em uma palavra essa é a que eu escolheria. O tecido fino que desenha as curvas suaves do corpo de Laura, os carros elegantes que circulam em um desfile deslizante, as marcas do tempo nas expressões dos atores como rótulos de bons vinhos, as paredes que contam histórias, as notas embriagantes de um jazz sempre em harmonia, o super estimulo nos meus sentidos me fez por vezes perder a atenção na história contada e pra mim esse foi o maior mérito do filme, materializar um conceito abstrato.

Sobre a trama, uma história crua, triste e real, a história dos vários Brooklyns que habitam as grandes cidades e seus projetos de higienização e descarte daqueles que compõe o coração da cidade, os trabalhadores, que também são os primeiros na fila de descarte em prol de um modelo de “progresso” agressivo, cujo maior beneficiário é o “mercado” a mão invisível, o novo deus, o deus dos poderosos, afinal, seria Moses Randolph um deus? Poderia ele tolerar uma peça fora do lugar na sua maquete? Uma semente indevida? Um projeto genial que não foi de sua autoria?

Existe genialidade na loucura e nesse filme não faltam exemplos desse imperativo, todos aqueles que destoam, compõe uma nova “sinfonia nº 5” às suas maneiras, e o filme em si, é uma dessas composições, vi poesia e por que não vir aqui escrever sobre? Mas não vá muito afoito, talvez o que eu vi só exista em mim mesmo.

Já provaram alegria e tristeza no mesmo copo?

Kingdom é uma série que dá frescor ao tema de zumbis, a justificativa para os caminhantes convence em um alinhamento síncrono com o drama de uma Coreia Feudalista cujo trono é usurpado. A fotografia é excelente e valoriza muito as locações de filmagem, que são belas por si só, o resultado se dá na pura contemplação ao assistir, servindo também como alívio a escalada de tensão que nos rouba o fôlego. As produções coreanas estão cada vez mais caprichadas e o corpo técnico em Kingdom é muito competente, ótimo refúgio para você que esta cansado de formulas genérica que degradam grandes conceitos. Recomendo!