I.

A sensação que este filme me provocou foi algo como o que sinto em relação à horta que brincava na infância, ou como um sonho que nunca esqueci. Acerta no âmago, talvez ele até cave mais fundo o próprio âmago já existente. Haja profundidade para sustentar a profundidade dessa poesia em forma de vida! Sentimentos indescritíveis. Simplesmente maravilhoso, arrebatador.

Aparentemente este é um filme fotográfico, assim sendo, para quem se satisfaz com o visual, realmente é uma ótima indicação. No entanto, a fotografia de um filme é, para mim, apenas o meio pelo qual o filme é apresentado, e meio este que vários filmes encontram e utilizam para disfarçar seu essencial vazio, sua ausência de conteúdo. Este vazio não é o caso de Cinzas e Neve. Aqui se encontra uma combinação de uma preocupação estética com um teor espiritual que vai muito além dessa mesma estética. Em minha experiência com este filme, a fotografia, apesar de bastante autêntica, se constituiu em um aspecto quase imperceptível perante o momento meditativo, reflexivo e de introspecção que vivi assistindo esta obra. A impressão que ficou é que em algum momento, que não me lembro bem qual foi, meus olhos deixaram de ser por onde o filme entra, passando o coração a exercer esta função de espectador. Foi direto. Quase como estar sonhando.