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É um cenário muito triste, mas a atmosfera ganha alguma leveza pelas peculiaridades no comportamento dos dois enlutados, suas pequenas esquisitices, suas maneiras de agir pouco esperadas, mas que são uma forma de passar por esse luto, que será diferente para cada um.
Ao mesmo tempo, sinto que fala sobre tristezas compartilhadas e como essa partilha torna a dor da perda um pouco mais suportável. Mesmo que cada um doa à sua maneira, não é preciso encarar tudo sozinho.
Me lembra algumas reflexões do Nick Cave no The Red Hand Files, site em que ele responde cartas com perguntas diversas a ele. Ele fala muito sobre o luto, por ter perdido dois filhos, e nessas reflexões aparece bastante a importância do contato humano, de compartilhar a vulnerabilidade que nos constitui e se unir numa compreensão mútua e empática quanto à fragilidade da vida - como uma forma de lidar com o dilaceramento do luto. Pensei muito nisso enquanto assistia.
No filme, esse contato entre os dois, e mesmo o encontro um pouco cômico com a outra família, são bonitos nessa linha. A tristeza - mesmo doendo de forma única em cada pessoa - também irmana.
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A virada no final é maravilhosa, não só pela surpresa, mas pela forma como segue fazendo sentido e nada do que foi visto antes se perde com a revelação, somente ganha novas cargas. Acho que ainda mais interessante que a virada no final é o depois - tanto o ato de reassistir o filme percebendo novos significados quanto o ato de simplesmente pensar sobre o filme e ir fazendo sentido do que foi visto.
Não sabemos muito sobre ela de verdade, mas ao mesmo tempo sabemos sim. Há um fascínio no olhar, um prazer da vida que - ao menos quando eu assisti - começa a se fazer notável no momento em que ela fala sobre as maçãs na feira, e que então segue nas reflexões sobre cada objeto. Em um momento da entrevista, Emilie diz que ama mais àqueles que se deixam tocar pelas coisas, que sabem se admirar, ser movidos. E me parece que esse é um tema que permeia, mesmo que implicitamente, a entrevista. É um se deixar,tocar pelos objetos da bolsa, deixar que algo se transmita - na voz, no rosto, nas palavras - a partir desse contato.
O final tem algo de cômico e explica algumas pequenas incongruências que vão aparecendo nos relatos, mas ainda assim nada do que ela disse perde seu sentido de realidade, sua força reflexiva. Por quê? Porque nada do que ela conta é falso. Nada. É tudo verdade no momento que surge, assim como um poema não precisa ser fiel aos fatos para dizer de algo muito profundo, assim como uma pintura não precisa falar apenas do vivido e observado. O que importa na arte é uma verdade emocional, é dizer uma mentira que será muitas vezes mais verdade que a verdade, ao expressar algo que reconhecemos em nós, ao tornar sensível o próprio ato de ser tocado. Isso é o fundamental de saber sobre a personagem: ela, enquanto artista, em casa nos objetos alheios como se fossem seus, valoriza aquilo que se deixa mover e, ao se deixar mover, só diz a verdade.