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"_ Eu adoro essa parte. A luz vai apagando devagarzinho. O mundo lá fora também
vai se apagando devagarzinho. Os olhos da gente vão se abrindo. Daqui a pouco a gente não
vai nem mais lembrar que tá aqui."

Lisbela

Últimas opiniões enviadas

  • Léo Santos

    É bastante difícil fazer qualquer comentário acertivo, e por isso mesmo definitivo, sobre Ano passado em Marienbad. Assim como é difícil - ou melhor, imposivel! - reconstituir nossas lembranças de forma coesa e fiel ao vivido no passado. Gabriel Garcia Marquez certa vez disse que a vida não é o que se viveu, e sim o que se lembra e como se lembra de contar isso. Se tal afirmação dá conta do que seja a vida, não sei, mas penso que nos ajuda a refletir um pouco sobre o filme de Alain Resnais.

    Em resumo, trata-se do encontro de um casal em um luxuoso hotel. O homem tenta convencer a mulher de que eles se encontraram naquele mesmo local um ano antes e viveram um romance às escondidas do marido (ou namorado, ou amante...) dela. O problema é que a mulher não lembra de conhecê-lo.

    Assim contado, parece um enredo simples, contudo, o filme acontece diante de nós como a memória desse homem (e em alguns poucos momentos como a tentativa de reconstituição da memoria da mulher): com longos passeios da câmera pelo luxuoso hotel e seus adornos e com "personagens secundarios" quase estáticos, que quando falam, têm conversas entrecortadas e que se repetem, com pequenas variações (o que parece remeter à forma como sua memória os reteve).

    A câmera ora está estática, ora passeia tranquilamente pelo hotel. Já a montagem contrasta dessa tranquilidade, temos cortes bruscos, mesmo que as vezes a conversa/narração siga. Há também, assim como nas conversas, varias repetições, com pequenas alterações das/nas imagens. A trilha sonora é constante, clássica, bonita, mas com um fundo sempre estridente, de órgão, que parece passar um caráter sempre incômodo dessas lembranças.

    Em todo o filme, passado e presente não tem uma delimitação certa, e chegam mesmo a se misturar a partir do diálogo do casal principal. Ele relatando a suposta experiência de um ano antes, ela revidando a narração convicta dele. Abre-se para nós várias possibilidades, igualmente incomodas e plenamente possíveis: Ela ter esquecido um romance tórrido vivido há apenas um ano; ele criar na sua cabeça (e acreditar) uma história de amor que não aconteceu; ela fingir não lembrar dele; ele inventar a história como meio de conquistá-la; etc.

    Vale falar também da figura do marido dela, que é o único outro personagem que tem algum destaque no filme (ou na memória do protagonista). Ele tem um tom sempre soturno e apresenta um jogo de mesa que se repete inúmeras vezes ao longo do filme, no qual o próprio marido sempre ganha. Não parece a toa que tal jogo apareça vividamente nas lembranças do protagonista.

    Em noite e neblina, Resnais fez o importante e dificílimo trabalho de memória do holocausto; no majestoso Hiroshima, mon amour, articulou memória coletiva e pessoal do casal com uma francesa e um japonês; já aqui, ele mergulhou na construção da memória pessoal, ou melhor, nos descaminhos da tentativa de reconstrução do vivido por meio da memória. Na incerteza que é o resultado disso, a história fica para nós - e para os seus protagonistas - como foi lembrada e como foi lembrada de ser contada. E é, além de um deleite, muito estimulante.

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  • Léo Santos

    O filme trata da história da família formada pela esposa Feng, o marido Lu Yanshi e a filha Dan Dan. O Marido é preso no processo da Revolução Cultural de Mao e solto muitos anos depois. Ao retornar pra casa, encontra a mulher com Amnésia. Sem reconhece-lo, Feng não acredita que aquele é seu marido, mas segue aguardando ansiosamente seu retorno, e, ao mesmo tempo, tendo uma relação conturbada com a filha, que teve participação na delação do pai.

    Não nos é dado muitas informações sobre a questão política de fundo. Por exemplo, não sabemos muito bem a razão pela qual Lu foi procurado e preso, a não ser um vago “ter feito críticas”. Com o fim da Revolução cultural, quando ele é absolvido, também não é abordado quase nada sobre as mudanças que ocorrem no país. O foco aqui são as relações familiares.

    Feng segue uma vida relativamente normal, com bilhetes na parede lembrando de objetos e ações que ela deve executar no dia-a-dia. Expulsou a filha de casa e vive só, mas alimentando as lembranças do marido e seu amor por ele. E aguardando seu retorno.

    Dan Dan no começo do filme era uma bailarina da escola estatal, abandonou a dança e agora trabalha numa fábrica, mora no alojamento do local onde trabalha, divide quarto com colegas e busca o perdão da mãe, que esquece tudo, mas não os erros do passado da filha, quando adolescente. Além de lidar com o remorso de ter delatado o próprio pai.

    O marido, ao retornar, lida com a amnésia da mulher e com a dificuldade de conviver com a filha, que praticamente desconhece, pois esteve ausente desde que ela era muito nova.

    Mas o foco e a força do filme está mesmo na tentativa de Lu Yanshi de fazer com que sua mulher o reconheça, o que vai se transformando, aos poucos, no esforço de trazer um pouco de felicidade e paz para sua mulher. E claro, finalmente conviver com ela.

    A direção contemplativa, o enredo sensível e belo e as atuações muito competentes - com destaque para Gong Li em mais uma ótima parceria com o diretor – dão ao filme o tom de leveza necessária, mesmo com dramas pessoais tão carregados: Como viver lembrando apenas das grandes emoções do passado e esquecendo todo o resto, inclusive não reconhecendo o próprio amor que tanto a move? Ou, como viver carregando uma grande culpa, cheia de remorso, e como lidar com pai que nem conhece? Ou ainda, como depois de décadas de exilio lidar com os efeitos que sua falta – e suas escolhas? - fez? Como abrir mão das suas próprias necessidades para satisfazer as dos seus entes queridos?
    O roteiro ainda insere, em determinado ponto, um momento de tensão sobre um trauma do passado de Feng, o que tira Lu de sua calma de maturidade e por um breve momento parecia levar o filme a uma certa trama de vingança, mas logo depois Lu já deixa isso de lado e volta a se concentrar no seu propósito de cuidar de Feng.

    Amor para a eternidade não tem a mesma força e envergadura de outros filmes do diretor, mas tem muito sucesso no seu propósito de retratar os dramas e a beleza dessa história. A cena final é a síntese disso. Temos as sequelas de uma vida trágica e, mesmo assim, a possibilidade que os afetos nos trazem. Lembrando Riobaldo, de Grande Sertão Veredas: “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.

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  • Léo Santos

    "Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?"

    Com a inquietante pergunta de Tom Zé foi que acompanhei a história de Joyland (2019) e da família Rana, em especial do casal Haider e Muntaz - interpretados com muita competência e sensibilidade.

    A grande família paquistanesa é formada pelo patriarca idoso, seus dois filhos com suas esposas e os quatros netos que advém do filho mais velho.

    Não há dúvidas de que o protagonista é Haider, filho mais novo, que começa o filme desempregado e rapidamente entendemos que não se encaixa bem no papel masculino que deve desempenhar naquele clã religioso e tradicional. A relação com sua mulher parece de muita amizade, contudo, não muito passional.

    Suas vidas mudam com o emprego que Haider arranja de dançarino de uma artista trans, Biba – uma interpretação hipnotizante, que toma conta da tela ao aparecer.

    É muito interessante acompanhar a relação entre tradição e modernidade no Paquistão atual, com suas muitas contradições, mas fora do estereótipo construído no ocidente.

    Os desejos secretos, não só de Haider, mas também de Muntaz, trazem uma analogia bonita com o título do filme, Joyland, um parque de diversões, um lugar para você esquecer a realidade e ser feliz, mesmo que só por um instante. Essa noção também está presente na direção de Sadiq, que por meio de cores nos mostra os personagens "entrando" e "saindo" dessa realidade que os limita; mas também constantemente faz movimentos de câmera que vão do geral para cada personagem, acentuando como aquele ambiente os impacta, ou vai de closes para planos abertos, ressaltando o papel do ambiente nos dramas pessoais. Vale mencionar ainda o aspecto 4:3 em que a história nos é mostrada, de tal forma que a claustrofobia dos muitos personagens numa tela tão pequena exemplifica o sentimento que os principais personagens daquele grupo têm.

    O drama perpassa inclusive por mais personagens secundários: a esposa do outro irmão e uma "tia" idosa que também se limitam diante daquele estilo de vida patriarcal; os muitos conflitos próprios que envolvem Biba e a transfobia da sociedade; e a intransigência dos demais homens da família, que se mantem mesmo quando aparecem para nós de forma debilitada.

    Mas o enfoque, sobretudo no ato final, é do casal: Haider se dá conta de seus desejos e da possibilidade de viver de forma mais livre (ou conhecer o mar, em outra metáfora do filme, um tanto mais óbvia); Muntaz, além dos próprios desejos não atendidos, se vê ainda mais sufocada ao deixar de trabalhar, dentre outros limitantes que vão lhe sendo impostos de todos os lados, inclusive de onde não esperava.

    Aparecem de forma orgânica ao longo de suas duas horas de duração, assuntos dos mais diversos: religião, machismo, transfobia, diversidade sexual, etarismo, etc... Ainda assim, talvez o tema dessa história seja as barreiras para mudar radicalmente a própria vida, para se rebelar contra costumes que para grande parte dos envolvidos não são mais razoáveis. Ou melhor, o tema poderia ser resumido assim: sobre a necessária coragem para abandonar uma vida que não faz sentido. Afinal, como já disse Guimarães Rosa, "Viver é muito perigoso. (...) Carece de ter coragem!

    Joyland é corajoso, necessário e envolvente.

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  • Alan Guimarães
    Alan Guimarães

    Oi, Léo, obrigado pela minha curtida da lista de História Geral, mas tem ainda as minhas outras duas listas complementares de História do Brasil e do Oriente Médio, espero que você goste também. Abraços.

  • Diego onosoul
    Diego onosoul

    valeu, tá adicionado

  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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