Mayari Jubini

A cena do chef procurando o culpado pelo cabelo na panna cotta, por achar que esse foi o motivo de ninguém ter comido a sobremesa, pra mim é o ponto alto do filme.
Na minha visão, Goreng morre antes da chegada ao 333 (333: Evolução da Criação/ 33 idade de Cristo/ 666 pessoas no poço: Número bíblico da besta), o que leva ao delírio da personificação da criança como mensagem.
No fim, a mensagem (panna cotta) realmente chega aos superiores, mas a interpretação sobre ela é totalmente equivocada. Assim como partindo de um conceito político, a mensagem debaixo nunca é ouvida, ou de um conceito bíblico de Messias, a mensagem deixada nunca foi bem interpretada por nós.
Em outra visão, a criança também pode ter nascido no poço por resultado de um estupro e foi alimentada pela mãe todo esse tempo, e como o sistema é criterioso em relação à proibição de menores de 16 anos, sua chegada à superfície indicaria justamente a mensagem de falha do sistema.
No fim, todo sistema que nos envolve é falho já que são gerados por nós, mas o egoísmo instintivo nos impede de enxergar quando estamos em uma posição de privilégio, e quando não estamos, a preocupação é em como se manter vivo.
Goreng, possivelmente rico, com seu prato preferido de escargot, é criticado por todos por escolher um livro para o poço. Tendo base no conceito de que a educação liberta, o contraponto é em sua inocência: ele nunca precisou lutar.
O filme é um espelho que colocaram diante de nós para que surjam muito mais questionamentos do que conclusões, e com toda certeza do mundo o velho reacionário nos afirma “é óbvio”.