Passa-se em NY, mas é o oposto de um filme verborrágico. Há um ruído na comunicação entre Jenny & Figgy, o roteiro raso atrapalha o trabalho excelente dos atores e o nosso engajamento com a história. Mas a direção de arte é primorosa, a montagem interessante e a OST inspirada. Um homem de verdade nunca diz “um dia”, ele diz: “hoje!”
Aqui o olhar sobre o feminino é tão exato que o público em 1932 pensou que o livro tinha sido escrito por uma mulher, com pseudônimo masculino. Fácil entender por que Davies quis adaptá-lo, já que conta com todos os temas da sua obra: o pai tirânico, a mãe lânguida e o escape solitário nas artes e no pensar. Mais um triunfo na filmografia deste senhor.
Assim como Takao prossegue com o legado de seu sensei, Koizumi é a continuação natural de seu professor Kurosawa. Amida-Do Dayori destaca-se ainda pelas imagens de Shôji Ueda (fotógrafo de Ran, Sonhos e Kagemusha) e pela ode ao budismo: a negação do ego que promove o encontro consigo mesmo e com o mundo.
Quando Franz decide se tornar um mártir, nada mais o atinge. O austríaco faz nada mais além de "produzir, com temor e tremor, a própria salvação" (Filipenses 2:12), ao fixar teimosamente a vista no último feixe brilhante antes do apagar das luzes. É a morte alegre, que se interpõe entre a insanidade de um mundo apartado do Deus malickiano e a relva de Radegund, santificando esta última num suspiro de eternidade que expia e liberta.
Jia volta às Três Gargantas em Hubei, o lugar onde as esperanças de Qiao começam a minguar. Adorei o uso peculiar que ela dá à garrafa de água, que grande atriz é a Tao, enche tudo com sua presença. As referências ao Sanxia Haoren são óbvias, só que senti mais tristeza. Acho que o pessimismo do rapaz tá num crescendo, e quem pode culpá-lo?
Só o trabalho do Mauro Pinheiro com as imagens já valeu o dinheiro do edital. Gostei de Sudoeste, de Unicórnio e provavelmente gostarei do próximo longa do Eduardo Nunes. Sempre essa tragédia familiar devagar-quase-parando que eu adoro, por mais que os símbolos sejam banais e as referências um pouco óbvias demais.
Brotheragem na Argentina, camping raiz em Moçambique e natação nas Filipinas. No meio disso jovens sem perspectiva vivendo suas vidas e empregos aborrecidos sempre à procura de bateria pro celular e algum sinal de wi-fi. O diretor filma só na luz natural, seguindo os personagens em tudo que é buraco, separando um ou dois planos pra apresentar sua ideia central de tédio sob o capitalismo tardio.
Kawase subverte a formulaica construção dos personagens em closes que iluminam a temática de sua assinatura: memória, desparecimento e cura pela natureza. Como para Nakamori, mais do que nunca a câmera é o coração de Naomi.
Um sentido de final irrevogável desenha o caminho de arrependimento e amargura através do qual o protagonista se arrasta, fazendo sentido o título original ser A última noite na Terra. Como em Kaili Blues, o tempo inexiste e as memórias são feitas de pedra, mas dessa vez cada instante (não?) vivido nos oprime num plano sequência de 50 minutos em 3D. Bi Gan, seu maluco!
O ar se agita quando as correntes se rompem e Manana é esse vento límpido, porém cortante, que arrasta a todos. Maravilhoso trabalho da Ia Shugliashvili, que precisa levantar a voz o filme inteiro para ser ouvida, impondo-se com resiliência e equilíbrio. Ótimo filme, como o júbilo da paz de espírito conquistada e merecida.
"Quem nunca experimentou a ira dos céus?", pergunta Xiao Hong na epígrafe da sua obra-prima. Pelo que sentimos durante a longa caminhada por sua vida, os céus lhe foram cruéis: a autora basilar da literatura chinesa descreveu a fome, o frio, a miséria e a solidão como ninguém havia feito antes. Ann Hui foge da narrativa biográfica linear, com flashbacks dentro de flahsbacks, e o elenco até olha para nós num tom documental. O destaque fica para o magnetismo e competência de Wei Tang, um presente para o cinema.
Casa de Beija-Flor
4.2 18“O mundo é fascinante e bonito.
Te ligo depois das férias.
E quando nos vermos, eu vou te contar tudo.”
A Voz Solitária do Homem
3.8 6“Penso que morrer é como uma mudança de casa.
Somente o lugar para onde se vai não está sob o céu.
É como o fundo de um rio sereno.”
Um Conto de Outono
3.7 1Passa-se em NY, mas é o oposto de um filme verborrágico. Há um ruído na comunicação entre Jenny & Figgy, o roteiro raso atrapalha o trabalho excelente dos atores e o nosso engajamento com a história. Mas a direção de arte é primorosa, a montagem interessante e a OST inspirada. Um homem de verdade nunca diz “um dia”, ele diz: “hoje!”
O Planeta Azul
4.1 2“Il Pianeta Azzurro. A poem, a voyage, a concert on nature, universe, life. A different image from the one we always see."
― Andrei Tarkovsky
A Canção do Pôr do Sol
3.0 13Aqui o olhar sobre o feminino é tão exato que o público em 1932 pensou que o livro tinha sido escrito por uma mulher, com pseudônimo masculino. Fácil entender por que Davies quis adaptá-lo, já que conta com todos os temas da sua obra: o pai tirânico, a mãe lânguida e o escape solitário nas artes e no pensar. Mais um triunfo na filmografia deste senhor.
Helpless
3.3 4A frigideira na mão do Asano e a pistola na mão do yakuza, os dois a 80 km...
Confiança
4.1 65Descrição fiel do papel dos pais na vida dos filhos.
Vozes Distantes
3.5 13 Assista AgoraE o ciclo de violência nunca será quebrado, apenas atenuado pelo poder da música e dos laços daqueles que compartilharam traumas e amor.
Carta da Montanha
4.2 4Assim como Takao prossegue com o legado de seu sensei, Koizumi é a continuação natural de seu professor Kurosawa. Amida-Do Dayori destaca-se ainda pelas imagens de Shôji Ueda (fotógrafo de Ran, Sonhos e Kagemusha) e pela ode ao budismo: a negação do ego que promove o encontro consigo mesmo e com o mundo.
Sol Secreto
4.0 30Chega a ser tragicômico, de tão brutal.
Lee Chang-dong põe o dedo na ferida e aperta.
Dois Destinos
4.2 25Solidão a dois numa Itália arruinada.
E o elo de sangue que transcende a vida e a morte.
O Fim de Um Longo Dia
3.6 16Para todos os desajustados que mesmo nos pequenos momentos felizes sentem que não têm lugar no mundo.
Microhabitat
4.2 75Cigarros, uísque e você.
Conhecendo o Grande e Vasto Mundo
3.9 10“Vinte e um, fim de noite, segunda,
traços tênues na bruma em torpor.
Mais uma alma qualquer vagabunda
escreveu que no mundo há amor.”
Anna Akhmatova
Uma Vida Oculta
3.9 154Quando Franz decide se tornar um mártir, nada mais o atinge. O austríaco faz nada mais além de "produzir, com temor e tremor, a própria salvação" (Filipenses 2:12), ao fixar teimosamente a vista no último feixe brilhante antes do apagar das luzes. É a morte alegre, que se interpõe entre a insanidade de um mundo apartado do Deus malickiano e a relva de Radegund, santificando esta última num suspiro de eternidade que expia e liberta.
Amor Até as Cinzas
3.6 30Jia volta às Três Gargantas em Hubei, o lugar onde as esperanças de Qiao começam a minguar. Adorei o uso peculiar que ela dá à garrafa de água, que grande atriz é a Tao, enche tudo com sua presença. As referências ao Sanxia Haoren são óbvias, só que senti mais tristeza. Acho que o pessimismo do rapaz tá num crescendo, e quem pode culpá-lo?
A Portuguesa
3.7 4 Assista AgoraUma aula de composição, o filme mais lindo que vejo em muito tempo. Será que a paz é mesmo pior que a guerra?
Unicórnio
3.0 50Só o trabalho do Mauro Pinheiro com as imagens já valeu o dinheiro do edital. Gostei de Sudoeste, de Unicórnio e provavelmente gostarei do próximo longa do Eduardo Nunes. Sempre essa tragédia familiar devagar-quase-parando que eu adoro, por mais que os símbolos sejam banais e as referências um pouco óbvias demais.
O Auge do Humano
3.2 4Brotheragem na Argentina, camping raiz em Moçambique e natação nas Filipinas. No meio disso jovens sem perspectiva vivendo suas vidas e empregos aborrecidos sempre à procura de bateria pro celular e algum sinal de wi-fi. O diretor filma só na luz natural, seguindo os personagens em tudo que é buraco, separando um ou dois planos pra apresentar sua ideia central de tédio sob o capitalismo tardio.
Esplendor
3.6 40 Assista AgoraKawase subverte a formulaica construção dos personagens em closes que iluminam a temática de sua assinatura: memória, desparecimento e cura pela natureza. Como para Nakamori, mais do que nunca a câmera é o coração de Naomi.
Longa Jornada Noite Adentro
3.6 63 Assista AgoraUm sentido de final irrevogável desenha o caminho de arrependimento e amargura através do qual o protagonista se arrasta, fazendo sentido o título original ser A última noite na Terra. Como em Kaili Blues, o tempo inexiste e as memórias são feitas de pedra, mas dessa vez cada instante (não?) vivido nos oprime num plano sequência de 50 minutos em 3D. Bi Gan, seu maluco!
My Happy Family
3.9 49O ar se agita quando as correntes se rompem e Manana é esse vento límpido, porém cortante, que arrasta a todos. Maravilhoso trabalho da Ia Shugliashvili, que precisa levantar a voz o filme inteiro para ser ouvida, impondo-se com resiliência e equilíbrio. Ótimo filme, como o júbilo da paz de espírito conquistada e merecida.
Vivendo uma Era de Ouro
3.3 3"Quem nunca experimentou a ira dos céus?", pergunta Xiao Hong na epígrafe da sua obra-prima. Pelo que sentimos durante a longa caminhada por sua vida, os céus lhe foram cruéis: a autora basilar da literatura chinesa descreveu a fome, o frio, a miséria e a solidão como ninguém havia feito antes. Ann Hui foge da narrativa biográfica linear, com flashbacks dentro de flahsbacks, e o elenco até olha para nós num tom documental. O destaque fica para o magnetismo e competência de Wei Tang, um presente para o cinema.
Crianças Lobo
4.4 338O filme definitivo sobre a maternidade.
Não vi nada melhor sobre o assunto até hoje.