Samuel Ericksen

Lendo a sinopse, dificilmente alguém não cria uma expectativa alta, ainda mais com um elenco com ótimos atores. A realidade é que mesmo se tivesse assistido sem expectativa e sem saber nada da história, o filme teria me decepcionado do mesmo jeito.

Pra mim, não deu liga. Fiquei com a impressão que a história foi mal desenvolvida e montada. Talvez por isso, as atuações ficaram descalibradas. Seu Jorge tava num ritmo, o Alfie tava em outro. Seu Jorge e Taís Araújo me pareceram mais dentro do q acredito ter sido a proposta. Sei lá, ficou parecendo que o Lázaro pecou na direção de alguns atores(ou os atores q estavam ruins mesmo, principalmente Alfie e Aldri) e na construção da narrativa.

No cartaz do filme, algum crítico diz que é mistura de Black Mirror e Parasita, mas tá muito longe.

Resumidamente, acho que os maiores pecados do filme são ritmo e construção da história, ou seja, problemas de direção.
Como é o primeiro filme do Lázaro, acho que serviu pra ele ganhar experiência tb.

Mas a ideia e as reflexões que ele quer provocar são ótimas. Mereciam um resultado final bem melhor.

Esse filme é superestimado pela crítica. Não é ruim. Mas longe de ser isso tudo.
Os últimos 20minutos são os mais interessantes. O final me fez entender a letra da música da banda Alt-J, que leva o mesmo nome da garotinha.

Sobre a estética do filme:

A atuação do meu xará Samuel, como Mack, deixou muito a desejar. Ele estava bem inexpressivo nesse filme. Fiquei imaginando um Wagner Moura, ou qualquer um de Breaking Bad no lugar dele...

Quem atuou mal também foi a atriz japa que fez o Espírito Santo. Apesar que um ser humano os representando mal, me soe até coerente, afinal, qualquer forma humana representando Deus é limitada, principalmente o Espírito Santo. Mesmo Jesus que é Deus em forma humana, e portanto mais fácil de interpretar, não foi tão bem. Até achei que o ator é bem bonito pra representar Jesus, que segundo a narrativa bíblica não era bonito. Afinal, Deus não liga muito pra aparência exterior. Mas como beleza é relativa, esses detalhes passam!

—————————————————————————————————————————————————————————————————————————————————————SOBRE A MENSAGEM DO FILME:

Não sabemos discernir o bem do mal. Somos limitados demais, e é isso que ficou claro pra mim no filme. O Mack julga o que é bom e o que é mal pelo que vê, mas ele não vê tudo, ou seja, julga o todo pela parte. Não percebe que ninguém cria o mal por conta própria, mas alguém, sutilmente ou não, nos oferece ele antes. A gente olha um bandido e só pensa no bandido pela atitude que ele fez e que visualizamos, não pensamos na maldade de quem levou o mal até ele primeiro. E seguindo essa lógica, como ela diz, chegaríamos em Adão. Pra si mesmo, qual ladrão que não tem um argumento que o justifica? Todo criminoso se considera justificado. O criminoso Z, culpa o criminoso Y de ter levado o mal até ele. O criminoso Y, culpa o antecessor... vai indo, vai indo, até que chegamos em Adão, que culpou Eva. Eva, culpou a cobra. A cobra assumiu. Como diz a Adriana Calcanhoto, até Hitler foi nenem. Até Hitler, um dia, foi alguém extremamente dócil. Também não sabemos definir o que é bom, somos extremamente aceptivos. Somos capazes de justificar uma atitude ruim de alguém q a gente ama, só pq a gente ama. E condenar alguém, mesmo quando faz uma atitude boa, só porque a gente não o ama. Por exemplo, se alguém faz algo bom, mas não vamos com a cara da pessoa, a gente vê maldade onde não tem maldade: "fulano faz isso só pra aparecer". E vice-versa, pois se nosso filho joga pedra no vizinho, o que a gente fala?! "nos perdoe, ele é um bom menino, não tem maldade, não sabia o que estava fazendo". Ou seja, nós somos egoístas. Não olhamos pro mundo como uma grande família, mas apenas pra nossa família. Chamamos de bom tudo aquilo que proporciona prazer pra nós e pra nossa família, e de ruim o que proporciona desprazer. Somos extremamente utilitaristas, pois consideramos que tudo que proporciona prazer é bom, e tudo que proporciona desprazer é ruim. Assim fugimos de todo tipo de dor, como o diabo foge da cruz, quando, na verdade, pra matarmos nossa arrogância, nossa inveja, nosso egoísmo, nosso ego, deveríamos sofrer. Seria uma dor temporária, apenas um tempo suficiente pra adquirirmos consciência. A relação bem e mal serve pra isso, pra nos trazer consciência. Se a gente não conhecesse o mal, como saberíamos o que é o bem? Só conhece bem o BEM, quem conhece BEM o mal. Quem conhece mal o MAL, não conhece BEM, o bem. Encaro que o filme quis transmitir isso, que Deus é bom. Mas não quer robôs, quer filhos conscientes, e portanto criou uma dimensão onde o bem tem um adversário temporário, o mal. Isso, para que possamos conceber a diferença entre bem e mal, e assim conhecer com consciência como Deus é bom. Pra Deus a morte é irrelevante, se ele quiser ressuscita quem ele quiser, quantas vezes ele quiser. Mas o que ele mostra querer é elevação da consciência. Se nada nos chateasse nunca, como é o nosso grande objetivo, como conheceríamos o mal? E assim, como conheceríamos o bem? E assim, como teríamos consciência? Existe liberdade sem consciência? Quem é livre sem consciência?
Eu achei aquele diálogo da Sabedoria maravilhoso! Mack passa a vida toda julgando, como se realmente soubesse o que é bom e o que é mal, mas quando ela dá pra ele as rédeas do julgamento, ele mostra sua total incoerência e falta de neutralidade. Como pode haver justiça num julgamento arbitrário, onde os critérios mudam pelo sentimento? Se amo, perdoo. Se não amo, condeno. Mesmo quando ambos cometem o mesmo erro? Pode ser isso justo? E qual ser humano é justo? Qual que vendo alguém que ama morrendo, não relativiza a lei para salvá-lo? Por isso, deveríamos assumir que não somos justos, e parar de condenar um ao outro, e antes, aprender a amar todos.