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48 years Rio de Janeiro - (BRA)
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Marcelo Schild é um cinéfilo desenfreado, ex-estudante de cinema em Nova York, diplomado em inglês pela Universidade de Cambridge e tradutor de mais de 40 livros, entre ficção e não-ficção, para as principais editoras do Brasil. Marcelo criou a Setecentos Filmes por Ano para divulgar as críticas de todos os filmes que assiste - novos e antigos, bons e ruins... uma média de 700 por ano!

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Últimas opiniões enviadas

  • Marcelo Schild Arlin

    CORAÇÃO DE CACHORRO (EUA, 2015) - Dir. Laurie Anderson

    A artista multimídia Laurie Anderson, que iniciou sua carreira na década de 1960, apresenta em Coração de Cachorro, seu segundo longa para o cinema (o primeiro foi Home of the Brave, um registro de um show seu de 1986), uma colagem poética e abstrata sobre a vida e a morte de sua amada Rat Terrier, Lollabelle.
    Obviamente influenciada pela morte recente do marido, o músico Lou Reed, com quem se casou em 2008 e faleceu em 2013, em Coração de Cachorro Laurie Anderson pondera e divaga sobre vida, morte, filosofia, arte, sua própria biografia e o valor que cada experiência vivida nos acrescenta, por mais adversa que seja.
    Coração de Cachorro não é um documentário no sentido tradicional, mas não tem a intenção de sê-lo. É, na verdade, uma reflexão de Laurie, que em sua narrativa hipnótica que pontua todo o filme faz uma livre associação de ideias que às vezes, posteriormente, demonstram estar conectadas por algo subjacente, mas muitas vezes são puras divagações de uma mente excessivamente criativa em busca de algum sentido na morte e em uma justificativa para se viver a própria vida plenamente e compartilhar a vida dos outros - no caso, a de Lollabelle - com amor, afeto, admiração e companheirismo.
    O filme é um amálgama de imagens desfocadas, animações breves, reconstituições dramatizadas de eventos de sua vida (mas sem diálogos) e uma série de recortes de imagens e ilustrações cinemáticas que pontuam visualmente o que é narrado. Tal pontuação chega a ser didática em certos momentos, mas funciona perfeitamente como ilustração para um livro visual, uma experiência poética em prosa para se ver e ouvir que provoca reflexão e inspiração.
    Laurie muitas vezes começa a falar sobre algum tema para logo depois divagar noutra direção totalmente distinta, refletindo muito bem o processo de diálogo interno mental de todos nós. Tentando compreender o funcionamento da mente de Lollabelle, ela expõe como funcionam as mentes de todos nós - através de livres associações que passam por temas filosóficos (ela pergunta várias vezes "onde está a filosofia?"), budismo tibetano, arte, família, casos de sua vida (que podem ser verídicos ou não - na verdade não importa muito), fantasmas (reais e simbólicos) e, principalmente, o amor e o respeito pela sua amada companheira Lollabelle.
    Em Coração de Cachorro, Laurie Anderson mostra que seu estilo mudou pouco nas últimas décadas - contudo, continua eficiente e fascinante. Aproveitando ao máximo sua voz sedutora na narração, com pausas em momentos inesperados que atribuem um sentido diferente às frases e ilustrando visualmente o que diz com a delicadeza e a sensibilidade artística que lhe são características, Laurie faz uma ode à vida na qual valoriza o significado da morte, vista de modo tão negativo na sociedade e cultura ocidentais.
    Laurie Anderson é uma verdadeira livre pensadora que se deixa pensar livremente sem medo de ser considerada demasiadamente intelectualizada ou pretensiosa - é um deleite acompanhar seu fluxo de pensamento e mergulhar não apenas no coração de um cachorro, mas também no coração de Laurie.

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  • Marcelo Schild Arlin

    MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR (EUA, 2016) - Dir. Barry Jenkins

    Vencedor do Globo de Ouro de melhor drama e de outros 140 prêmios internacionais, Moonlight, dirigido e escrito por Barry Jenkis baseado em uma história de Tarell Alvin McCraney, é um mistério. Pois é realmente um mistério como um filme tão estereotipado disfarçado de drama poético está sendo tão aclamado. Nem a fotografia primorosa de James Laxton, saturada de tons azuis sob o luar, redime o filme.
    Moonlight conta a história do jovem negro Chiron em três etapas de sua vida: na infância, na adolescência e na vida adulta, e como as experiências vividas em cada etapa influenciaram o garoto vítima de bullying constante na escola a se tornar o homem que emula o traficante de drogas de bom coração que o acolheu na infância.
    Sim, um traficante de bom coração. Em Moonlight, não há perversidade, exceto no personagem obrigatório do bully que não larga o pé de Chiron durante mais de dez anos. Fora isso, todos os personagens, por mais estereotipados que sejam, se redimem de uma forma ou de outra de seus erros e a mensagem que fica é a batida "all you need is love".
    Moonlight defende com unhas e dentes a bandeira do politicamente correto, constrangendo o espectador a ousar criticar ou ver algo de ruim nos personagens. Até a mãe de Chiron, viciada em crack, é mostrada com bons olhos, apesar dos abusos infligidos sobre o filho durante toda sua infância e adolescência. A redenção existe para todos, todos são inocentes e vítimas das circunstâncias - como o mundo seria melhor com um pouco mais de amor e compreensão, diz Moonlight - o que fica representado pelo amor gay entre Chiron e seu colega Kevin, que permanece platônico por mais de uma década, superando o envolvimento com o tráfico de drogas, prisões e as opções de vida dos personagens.
    Mas a realidade é bem diferente. O mundo real das comunidades pobres nos Estados Unidos não é tão clean quanto o filme mostra, as ruas vazias, as roupas imaculadamente brancas dos alunos em uma escola pobre com paredes igualmente reluzentes - é curioso que em um filme sobre negros o branco ofusque tanto os olhos do espectador. A compreensiva diretora da escola que acolhe Chiron, a afetuosa namorada de Juan (o excelente Mahershala Ali, único elemento que brilha no filme), o traficante de bom coração que acolhe o garoto, e o próprio Juan, são símbolos de uma fraterninade inexistente na realidade dura e crua das comunidades violentas infestadas por gangues, traficantes, prostitutas e criminalidade que corrompem os jovens sem perspectivas nem chances de um futuro melhor - mas nada disto existe em Moonlight. O que existe é a bondade no coração de todos, mesmo que efetivamente estejam fazendo o mal.
    O sucesso estrondoso de Moonlight é um enigma, pois o filme é claramente uma obra feita por encomenda para ganhar o Oscar que consagraria a era de Obama, atingindo o fanatismo extremista do politicamente correto às custas de qualquer indício de verossimilhança.

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  • Marcelo Schild Arlin

    A CHEGADA (EUA, 2016) - Dir. Dennis Villeneuve

    No mundo da música, existem os chamados "one hit wonders". Artistas que fazem uma música que é um enorme sucesso e nunca mais conseguem repetir a façanha. Talvez o termo não se aplique a Dennis Villeneuve, pois o diretor canadense continua sendo aclamado por suas obras mesmo após seu único filme realmente excelente, Incêndios (2010), certamente um dos melhores da última década. No entanto, Villeneuve deixou-se engolir muito rapidamente pela voracidade de Hollywood por artistas talentosos e inovadores e por transformá-los em marionetes dos grandes estúdios. Os filmes dirigidos por Villeneuve depois de Incêndios não são propriamente ruins, mas a maioria é, no mínimo, insatisfatória. Ele brincou com Saramago na tentativa Cronenbergiana de O Homem Duplicado (2013), promissor mas, no final das contas, no mínimo frustrante, realizou uma obra confusa sobre o combate ao narcotráfico na fronteira entre os Estados Unidos e o México com Sicario (2015) e arriscou no suspense com o quase bom Os Suspeitos (2013), que acabou comprometido por alguns furos imperdoáveis no roteiro.
    No entanto, Villeneuve seguiu em frente e realizou sua obra mais pretensiosa até agora com A Chegada - e não menos frustrante. Com roteiro de Eric Heisserer, baseado no conto "The Story of Your Life", de Ted Chiang, o filme começa com a chegada de doze objetos voadores não indentificados em doze partes distintas do planeta, o que leva o serviço de inteligência dos EUA a convocar a linguista Louise Banks (Amy Adams, em uma atuação inexpressiva, visto que seu papel não exige muito da personagem de qualquer modo) para decifrar a linguagem dos alienígenas a bordo de uma das naves e estabelecer um meio de comunicação com eles.
    Até aí, tudo bem, mas depois de uma hora de enrolação tediosa e sem qualquer teor dramático, quando a linguagem alienígena é finalmente decifrada como que por mágica, começa o apelo ao sentimentalismo barato que culmina com uma "mensagem profunda" sobre a relação entre tempo, existência e experiências de vida.
    O problema da comunicação entre humanos e seres extraterrestres já foi explorado de maneira muito mais poética e envolvente por Steven Spielberg em Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), conquistando corações e mentes com os dramas pessoais dos personagens e um clima misterioso crescente que culmina em uma das mais belas cenas da história da ficção científica. Villeneuve não conseguiu se equiparar ao filme de Spielberg nem dramatica ou poeticamente.
    No caso de A Chegada, faltou humildade a Villeneuve. Na tentativa de misturar pseudo-ciência com filosofia metafísica em um ambiente militarista no qual os dois cientistas encarregados de decifrar a linguagem alienígena são os únicos com características remotamente humanas, ele realizou um filme frio, entediante, que pretende se sustentar somente na mensagem moral anti-militarista e filosófica que encerram o filme. Talvez Villeneuve devesse ter resistido um pouco mais ao apelo de Hollywood depois de Incêndios, ter afiado seu estilo e firmado sua mão como diretor para poder se comunicar com a plateia melhor do que os alienígenas de A Chegada.

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