filme ruim maravilhoso. a sequência do Archie tomando banho e depois mexendo na moto chega a ser assustadora de tão parecida com a paródia do family guy dos filmes do Michael Bay. deve ter uns 50 cortes só na cena em que ele pega aquele estojo de lápis: é praticamente um manifesto contra o plano-sequência. eu me vi embasbacada com o completo abandono da coerência a cada deus ex machina invocado; e não é esse o ponto desse recurso mesmo?? enfim, o cara é autoral até produzindo, não precisa nem sentar na cadeira do diretor. ri da primeira à última cena, 5/5.
estava tudo bem em Nomadland. aí, no meio da cachoeira, surgem os pés descalços da Fern; o corpo dela nu correndo na água doce. balança. quase no final, ela visita um mar revoltoso; o cheiro de sal encobre o rosto quando ela tira o gorro da cabeça. mas machuca mesmo quando ela corre as mãos por uma árvore gigantesca caída, quando atesta com os braços a espessura imensurável daqueles troncos reunidos em torno do tombado. cenas rápidas como suspiros na vastidão longa da estrada. mais do que a beleza da chegada, o vazio do percurso.
coitada da Elizabet Moss, só entra em projeto pra apanhar de homem. já basta o mundo ser assim. queria vê-la em um papel de mulher realizada e feliz pra variar um pouco rs
mais uma vez Christopher Nolan faz um filme com muitas variáveis, muitas linhas do tempo -- e todas elas são chatas. esse homem precisa urgentemente largar a Física e voltar a ler gibi. tantas teorias e paradoxos forçando a barra para o filme parecer complexo, mas os personagens e os diálogos, meu deus, que RASOS.
"É muito difícil contar em retrospecto a gênesis da ideia de ter anjos na minha história sobre Berlim. Foi sugerido por muitas fontes ao mesmo tempo. Primeiro e acima de tudo, As Elegias de Duíno de Rilke. As pinturas de Paul Klee também. O Anjo da História de Walter Benjamin. Tem uma música do The Cure que menciona os anjos caídos, e eu ouvi no rádio do carro uma história que tinha a seguinte frase: 'fale com um anjo'. Um dia, no meio de Berlim, eu reparei de súbito na figura reluzente do Anjo da Paz, um anjo da vitória bélica metamorfoseado em um anjo pacificista. Eu tinha essa ideia de colocar quatro pilotos do Aliados derrubados enquanto sobrevoavam Berlim, uma ideia de justapor e sobrepor a Berlim de hoje com a capital do Reich, imagens-duplas no tempo e no espaço; sempre houve imagens da infância de que anjos são observadores invisíveis e onipresentes; e havia, por assim dizer, a velha fome da transcendência, e também um desejo para o seu oposto absoluto: o anseio por comédia! A seriedade mortal da comédia!". de um texto sensacional escrito por Wim Wenders enquanto trabalhava na edição de Asas do Desejo, em 1984. está no blog da Criterion Collection - imperdível! tradução minha.
Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada no planalto. Não é mais possível esta festa de bandeiras com Guerra e Cristo na mesma posição. Assim não é possível: a impotência da fé, a ingenuidade da fé. E somos infinita e eternamente Prometeu dilacerado. E somos infinita e eternamente filhos das trevas da Inquisição e da convenção. E somos infinita e eternamente filhos do medo da sangria no corpo do nosso irmão. E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas idéias, como o ódio dos bárbaros adormecidos que somos. Não assumimos o nosso passado: todo um raquítico passado de preguiças e de preces numa paisagem de tanto sol sobre almas indolentes, estas indolentes raças de servidão a Deus e aos senhores, uma passiva fraqueza típica dos indolentes. Ah, não é possível acreditar que tudo isto seja verdade! Até quando suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando, além da paciência e do amor, suportaremos? Até quando, além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência, suportaremos?
“Elisabet? Posso ler para você um trecho do meu livro? Ou estou te perturbando? Aqui diz: ‘Toda a ansiedade que carregamos conosco, todos os nossos sonhos frustados, a crueldade incompreensível, nosso medo de extinção, a percepção dolorosa da nossa condição terrena corroeram lentamente a nossa esperança de uma salvação vinda de outro mundo. O uivo de nossa fé e da nossa dúvida contra a escuridão e o silêncio é uma das provas do nosso abandono e do nosso terror, um conhecimento não-dito’. Você acha que é assim mesmo?” Alma
Gosto muito do que Tarkovski diz sobre Ivan (tanto o de Bogolomov, quanto o de sua adpatação) no livro "Esculpir o Tempo": Um elemento que me comoveu profundamente foi a personalidade do garoto. Ele me atingiu de imediato como uma personalidade destruída, deslocada do seu eixo pela guerra. Algo de incalculável, na verdade todos os atributos da infância, havia sido irreparavelmente subtraído de sua vida. E aquilo que ele obtivera, como um presente maléfico da guerra, no lugar do que perdera, achava-se nele de forma concentrada e intensa. Este personagem comoveu-me pela sua intensa dramaticidade, para mim muito mais convincente que aquelas personalidades que se revelam durante o processo gradual do desenvolvimento humano, através de situações de conflito e choques de princípios opostos. Num estado de tensão constante e sem desenvolvimento, as paixões alcançam o seu mais alto nível de intensidade, manifestando-se de modo mais vivo e convincente do que o fariam num processo de modificação gradual. Esta minha predileção é o que me leva a gostar tanto de Dostoievski. Para mim, os personagens mais interessantes são aqueles exteriormente estáticos, mas interiormente cheios da energia de uma paixão avassaladora. (tradução Jefferson Luiz Camargo).
Revista Believer: É diferente fazer algo mais documental do que ficcional? Faz com que você se sinta mais afastada do mundo?
Agnès Varda: Você sempre está no mundo. Mesmo em "Vagabond". Eu não estou na estrada, eu não estou comendo nada. Mas, de certa maneira, todas nós temos uma Mona. Todas temos dentro de nós uma mulher que anda sozinha pela rua. Em todas as mulheres há uma revolta que não é expressada. Estou interessada nas pessoas que não estão exatamente no caminho do meio, ou que estão tentando outras coisas porque não conseguem evitar que sejam diferentes, ou que desejam ser diferentes, ou que são diferentes porque a sociedade as marginaliza.
A ressonância das palavras nas cartas de sua mãe e dos ruídos ensurdecedores de Nova York. A filha longe de casa, mas a certeza do lar: News From Home. A expectativa quanto ao último filme de Akerman, sobre sua mãe, Natalia, sobrevivente de Auschwitz. Ela morreu em 2014: No Home Movie.
NOVE horas de filme. NOVE. E não é um filme de linguagem fácil, não: Alexander Kluge retomando um projeto do Eisenstein de filmar "O Capital" do Marx. Kluge já é complicado por si só. Eisenstein idem. Não bastasse isso, é a maior obra de Marx. Dá pra propor muuuuitas reflexões em nove horas... Pense nisso. Foi exibido em três sessões (em dias seguidos, inclusive) pra uma disciplina na Unicamp, acompanhado de debates e leituras com dois professores. Assistir com um capricho desse é bacana, vamo lá - mas sentar e assistir em sequência, olha...
"Eu sou o cine-olho. Eu sou o olho mecânico. Eu, máquina, vos mostro o mundo do modo como só eu posso vê-lo.
Assim eu me liberto para sempre da imobilidade humana. Eu pertenço ao movimento ininterrupto. Eu me aproximo e me afasto dos objetos, me insinuo sob eles ou os escalo, avanço ao lado de uma cabeça de cavalo a galope, mergulho rapidamente na multidão, corro diante de soldados que atiram, me deito de costas, alço vôo ao lado de um aeroplano, caio ou levanto vôo junto aos corpos, que caem ou que, voam. E eis que eu, aparelho, me lancei ao longo dessa resultante, rodopiando no caos do movimento, fixando-o a partir do movimento originado das mais complicadas combinações" Dziga Vertov, Kinoks: Uma Revolução, 1923
"NÓS acreditamos que está próximo o momento de lançar no espaço as torrentes de movimento retidas pela inoperância de nossa tática.
Viva a geometria dinâmica, as carreiras de pontos, de linhas, de superfícies, de volumes.
Viva a poesia da máquina acionada e em movimento, a dos guindastes, rodas e asas de aço, o grito de ferro dos movimentos, os ofuscantes trejeitos dos raios incandescentes" Dziga Vertov, Nós - variações do manifesto, 1919
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Isolados: Medo Invisível
2.3 73 Assista Agorafilme ruim maravilhoso. a sequência do Archie tomando banho e depois mexendo na moto chega a ser assustadora de tão parecida com a paródia do family guy dos filmes do Michael Bay. deve ter uns 50 cortes só na cena em que ele pega aquele estojo de lápis: é praticamente um manifesto contra o plano-sequência. eu me vi embasbacada com o completo abandono da coerência a cada deus ex machina invocado; e não é esse o ponto desse recurso mesmo?? enfim, o cara é autoral até produzindo, não precisa nem sentar na cadeira do diretor. ri da primeira à última cena, 5/5.
Nomadland
3.9 895 Assista Agoraestava tudo bem em Nomadland. aí, no meio da cachoeira, surgem os pés descalços da Fern; o corpo dela nu correndo na água doce. balança. quase no final, ela visita um mar revoltoso; o cheiro de sal encobre o rosto quando ela tira o gorro da cabeça. mas machuca mesmo quando ela corre as mãos por uma árvore gigantesca caída, quando atesta com os braços a espessura imensurável daqueles troncos reunidos em torno do tombado. cenas rápidas como suspiros na vastidão longa da estrada. mais do que a beleza da chegada, o vazio do percurso.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista Agoracoitada da Elizabet Moss, só entra em projeto pra apanhar de homem. já basta o mundo ser assim. queria vê-la em um papel de mulher realizada e feliz pra variar um pouco rs
Tenet
3.4 1,3K Assista Agoramais uma vez Christopher Nolan faz um filme com muitas variáveis, muitas linhas do tempo -- e todas elas são chatas. esse homem precisa urgentemente largar a Física e voltar a ler gibi.
tantas teorias e paradoxos forçando a barra para o filme parecer complexo, mas os personagens e os diálogos, meu deus, que RASOS.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraWe have plenty of matches in our house
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Asas do Desejo
4.3 493 Assista Agora"É muito difícil contar em retrospecto a gênesis da ideia de ter anjos na minha história sobre Berlim. Foi sugerido por muitas fontes ao mesmo tempo. Primeiro e acima de tudo, As Elegias de Duíno de Rilke. As pinturas de Paul Klee também. O Anjo da História de Walter Benjamin. Tem uma música do The Cure que menciona os anjos caídos, e eu ouvi no rádio do carro uma história que tinha a seguinte frase: 'fale com um anjo'. Um dia, no meio de Berlim, eu reparei de súbito na figura reluzente do Anjo da Paz, um anjo da vitória bélica metamorfoseado em um anjo pacificista. Eu tinha essa ideia de colocar quatro pilotos do Aliados derrubados enquanto sobrevoavam Berlim, uma ideia de justapor e sobrepor a Berlim de hoje com a capital do Reich, imagens-duplas no tempo e no espaço; sempre houve imagens da infância de que anjos são observadores invisíveis e onipresentes; e havia, por assim dizer, a velha fome da transcendência, e também um desejo para o seu oposto absoluto: o anseio por comédia! A seriedade mortal da comédia!". de um texto sensacional escrito por Wim Wenders enquanto trabalhava na edição de Asas do Desejo, em 1984. está no blog da Criterion Collection - imperdível! tradução minha.
Terra em Transe
4.1 285 Assista AgoraNão é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada no planalto. Não é mais possível esta festa de bandeiras com Guerra e Cristo na mesma posição. Assim não é possível: a impotência da fé, a ingenuidade da fé. E somos infinita e eternamente Prometeu dilacerado. E somos infinita e eternamente filhos das trevas da Inquisição e da convenção. E somos infinita e eternamente filhos do medo da sangria no corpo do nosso irmão. E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas idéias, como o ódio dos bárbaros adormecidos que somos. Não assumimos o nosso passado: todo um raquítico passado de preguiças e de preces numa paisagem de tanto sol sobre almas indolentes, estas indolentes raças de servidão a Deus e aos senhores, uma passiva fraqueza típica dos indolentes. Ah, não é possível acreditar que tudo isto seja verdade! Até quando suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando, além da paciência e do amor, suportaremos? Até quando, além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência, suportaremos?
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista Agora“Elisabet? Posso ler para você um trecho do meu livro? Ou estou te perturbando? Aqui diz: ‘Toda a ansiedade que carregamos conosco, todos os nossos sonhos frustados, a crueldade incompreensível, nosso medo de extinção, a percepção dolorosa da nossa condição terrena corroeram lentamente a nossa esperança de uma salvação vinda de outro mundo. O uivo de nossa fé e da nossa dúvida contra a escuridão e o silêncio é uma das provas do nosso abandono e do nosso terror, um conhecimento não-dito’. Você acha que é assim mesmo?” Alma
A Infância de Ivan
4.3 155 Assista AgoraGosto muito do que Tarkovski diz sobre Ivan (tanto o de Bogolomov, quanto o de sua adpatação) no livro "Esculpir o Tempo": Um elemento que me comoveu profundamente foi a personalidade do garoto. Ele me atingiu de imediato como uma personalidade destruída, deslocada do seu eixo pela guerra. Algo de incalculável, na verdade todos os atributos da infância, havia sido irreparavelmente subtraído de sua vida. E aquilo que ele obtivera, como um presente maléfico da guerra, no lugar do que perdera, achava-se nele de forma concentrada e intensa. Este personagem comoveu-me pela sua intensa dramaticidade, para mim muito mais convincente que aquelas personalidades que se revelam durante o processo gradual do desenvolvimento humano, através de situações de conflito e choques de princípios opostos. Num estado de tensão constante e sem desenvolvimento, as paixões alcançam o seu mais alto nível de intensidade, manifestando-se de modo mais vivo e convincente do que o fariam num processo de modificação gradual. Esta minha predileção é o que me leva a gostar tanto de Dostoievski. Para mim, os personagens mais interessantes são aqueles exteriormente estáticos, mas interiormente cheios da energia de uma paixão avassaladora. (tradução Jefferson Luiz Camargo).
Os Renegados
4.1 86 Assista AgoraRevista Believer: É diferente fazer algo mais documental do que ficcional? Faz com que você se sinta mais afastada do mundo?
Agnès Varda: Você sempre está no mundo. Mesmo em "Vagabond". Eu não estou na estrada, eu não estou comendo nada. Mas, de certa maneira, todas nós temos uma Mona. Todas temos dentro de nós uma mulher que anda sozinha pela rua. Em todas as mulheres há uma revolta que não é expressada. Estou interessada nas pessoas que não estão exatamente no caminho do meio, ou que estão tentando outras coisas porque não conseguem evitar que sejam diferentes, ou que desejam ser diferentes, ou que são diferentes porque a sociedade as marginaliza.
Notícias de Casa
4.1 32 Assista AgoraA ressonância das palavras nas cartas de sua mãe e dos ruídos ensurdecedores de Nova York. A filha longe de casa, mas a certeza do lar: News From Home.
A expectativa quanto ao último filme de Akerman, sobre sua mãe, Natalia, sobrevivente de Auschwitz. Ela morreu em 2014: No Home Movie.
Notícias da Antiguidade Ideológicas: Marx, Eisenstein, O Capital
4.0 12NOVE horas de filme. NOVE. E não é um filme de linguagem fácil, não: Alexander Kluge retomando um projeto do Eisenstein de filmar "O Capital" do Marx.
Kluge já é complicado por si só. Eisenstein idem. Não bastasse isso, é a maior obra de Marx.
Dá pra propor muuuuitas reflexões em nove horas... Pense nisso.
Foi exibido em três sessões (em dias seguidos, inclusive) pra uma disciplina na Unicamp, acompanhado de debates e leituras com dois professores. Assistir com um capricho desse é bacana, vamo lá - mas sentar e assistir em sequência, olha...
Cine-Olho
3.9 8"Eu sou o cine-olho. Eu sou o olho mecânico. Eu, máquina, vos mostro o mundo do modo como só eu posso vê-lo.
Assim eu me liberto para sempre da imobilidade humana. Eu pertenço ao movimento ininterrupto. Eu me aproximo e me afasto dos objetos, me insinuo sob eles ou os escalo, avanço ao lado de uma cabeça de cavalo a galope, mergulho rapidamente na multidão, corro diante de soldados que atiram, me deito de costas, alço vôo ao lado de um aeroplano, caio ou levanto vôo junto aos corpos, que caem ou que, voam. E eis que eu, aparelho, me lancei ao longo dessa resultante, rodopiando no caos do movimento, fixando-o a partir do movimento originado das mais complicadas combinações"
Dziga Vertov, Kinoks: Uma Revolução, 1923
Um Homem com uma Câmera
4.4 196 Assista Agora"NÓS acreditamos que está próximo o momento de lançar no espaço as torrentes de movimento retidas pela inoperância de nossa tática.
Viva a geometria dinâmica, as carreiras de pontos, de linhas, de superfícies, de volumes.
Viva a poesia da máquina acionada e em movimento, a dos guindastes, rodas e asas de aço, o grito de ferro dos movimentos, os ofuscantes trejeitos dos raios incandescentes"
Dziga Vertov, Nós - variações do manifesto, 1919