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Últimas opiniões enviadas

  • tombiz

    Raramente atualizações de gêneros antigos funcionam tão bem. Aqui temos um filme noir (inclusive é um remake de um, Pacto de Sangue) trazido com perfeição para sua época. Com as devidas atualizações e mudanças para torná-los mais atual, claro, mas sem perder os meandros que faziam o gênero funcionar.

    Isso significa que já teremos visto esta história e não haverá nada de revolucionário por aqui. Mas isto não é um problema. Porque o filme não só homenageia como moderniza o gênero enquanto já abre alas para um outro gênero que se popularizaria a partir daqui, o erotic thriller. Derivativo, mas também pioneiro, ao mesmo tempo. Uma raridade!

    A história também não é nada que foge às rotinas do gênero. Casal planeja crime, coisas saem errado, crime é executado mesmo assim, algumas coisas não reveladas começam a vir à tona e vão complicando a situação até o ponto de não-retorno, etc. Até o fim já é bastante previsível bem antes de o desfecho se estabelecer. Mas isto também não é um demérito, nem de longe, porque tudo se constrói na tela de uma forma muito sólida.

    Kathleen Turner está espetacular como a femme fatale irresistível. Não à toa temos aqui um personagem que basicamente construiu uma carreira. Ela simplesmente tomou a chance e aproveitou ao máximo. Não acho que esteja extremamente desenvolta e ela certamente tem trabalhos melhores após este, mas ela faz exatamente o que é necessário para o papel com precisão.

    William Hurt, da mesma forma, modula muito bem esse personagem que poderia ser basicamente qualquer homem que pensa mais com a cabeça de baixo que com a cabeça de cima. Aliás, o filme é uma obra-prima para quem quer ver como um homem consegue arruinar sua vida se pensar com a cabeça errada.

    O mais impressionante de tudo é que este é o trabalho de um diretor iniciante, o Lawrence Kasdan. Tudo se encaixa tão bem e o ritmo é tão bem executado que fica até difícil de acreditar. Mas o cineasta evidentemente tem talento, como provou com vários de seus filmes subsequentes e esta é uma estreia que não deixa em nada a desejar.

    No fim, não tem coisa que eu odeie mais na vida que o calor infernal e o suor pegajoso típico de verões intermináveis. Mas até isto este filme conseguiu me fazer esquecer porque nunca corpos ardentes parecem tão sensuais e instigantes na tela. Para quem reclamava de "gratuidade na nudez", está aqui o exemplo perfeito de como fazer isto com classe e bom senso, sem apelar para isto pelo mero shock value.

    De uma coisa tenho certeza: não é preciso suar nem um pouco para fazer uma boa escolha do que assistir se você gosta do gênero. Basta apertar o play e apreciar Corpos Ardentes.

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  • tombiz

    Já dizia o ditado popular: "Quem quer festa, sua a testa". E festa era tudo que o jovem Oliver (Barry Keoghan) queria. Para escapar da vida medíocre que levava, ele é capaz de qualquer coisa. Se acompanhado do inegavelmente atraente Felix (Jacob Elordi), então...

    E assim ele é atraído para todo um mundinho pantonoso. Não contra sua vontade. Ele sempre quis fazer parte daquilo, afinal. Mas não da forma como as pessoas o iriam querer ali. Não como peão. Nem como cavalo. Muito menos como bispo. Ele precisava ser o rei do tabuleiro.

    E, entre muitas idas e vindas, o filme acompanha a sua jornada. Nisto, não se pode dizer que é necessariamente surpreendente. O começo meio que implica o fim sem grandes mistérios. E é o tipo de história que já se fez inúmeras vezes (O Talentoso Ripley não nos deixa mentir). Mas é tudo tão encantador e soberbo que você não consegue tirar os olhos da tela.

    A fotografia e a cenografia são simplesmente incríveis. Quando não são as ações dos personagens que nos chamam atenção, definitivamente são os ambientes mostrados em tela que nos conquistam. E a trilha sonora é exemplar para casar tudo com um ritmo perfeito. Seja na escolha da canção ideal para o karaokê, seja nas trilhas incendentais, seja mesmo na canção perfeitamente escolhida para amarrar a trama no fim, as escolhas se encaixam tão perfeitamente quanto peças num quebra-cabeça.

    Igualmente diria das performances. Por mais que os personagens não sejam tão bem desenvolvidos (até pelo pouco tempo de tela), não dá pra negar o carisma e a habilidade dos atores em lidarem com esses tipos extremamente excêntricos de uma forma minimamente natural. Barry Keoghan (embora talvez um pouco velho para o papel, a meu ver) cabe aqui como uma luva e Jacob Elordi idem, com sua jovialidade hipnótica.

    O que me impede de achar tudo ainda melhor é saber que já foi tudo feito anteriormente. E, digo sem reservas, de forma melhor. Não que o filme não tenha seus méritos, muito pelo contrário. Mas acaba soando derivativo. E o pouco desenvolvimento de vários dos personagens faz eles parecerem um pouco unidimensionais. No fim, talvez precisasse de um enxugamento para explorar mais ângulos daqueles em que escolhesse focar. Ou talvez de mais tempo, o que só seria possível se fosse uma (minis)série, e não um filme.

    E sobre as polêmicas cenas de nudismo, sexo, sadismo e afins, é impossível negar que se encaixaram perfeitamente aqui. Aliás, são até bastante elegantes, em se tratando do tema. O tema não era sexo per se. Mas é inegável que aquela era simplesmente uma das formas pelas quais o protagonista exercia o seu controle. Apenas uma das facetas mais visíveis.

    Seja como for, um segundo trabalho primoroso de Emerald Fennell. Impossível deixar de destacar o talento dela para contar histórias doentias com elegância e pose. Não é apenas a mansão Saltburn que se mostra imponente aqui. Da mesma forma, a própria Emerald se mostra ainda maior após este segundo trabalho. E é uma pena que talvez não tenha o reconhecimento que merece nesta segunda rodada.

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  • tombiz

    No mundo caótico em que vivemos, a muitos é dada apenas a chance de sobreviver. Seja fugindo da fome, das guerras ou da perseguição, a única meta é viver mais um dia. A outros, com suas vidas tranquilas e pacatas e seus empregos seguros, é dada a chance de realmente viver. Mas nem sempre esta chance é aproveitada.

    É isto que acontece na vida do Sr. Williams (Bill Nighy). A estabilidade que sua vida acaba por lhe proporcionar o leva a um caminho sem volta para a monotonia ininterrupta. E a única notícia que consegue quebrar o ciclo interminável é o anúncio do fim.

    E quantos de nós não vivemos assim? Dia após outro, simplesmente fazendo as mesmas coisas. Sem realmente agir para mudar aquilo que devemos. Dizer aquilo que necessitamos. Encorajar aqueles que precisamos. Fazer o que nós determinamos num passado muito distante para nós mesmos. Mas que acabamos por deixar tal determinação por lá. No passado remoto e já esquecido.

    O filme é mais um ponto de reflexão sobre a vida em si que qualquer outra coisa. De como cada pequeno gesto pode mudar a vida de tanta gente. E a nossa também. Porque, se às vezes nos falta um propósito, ele pode vir dos lugares mais improváveis. E nos mudar para sempre.

    Bill Nighy extremamente preciso na composição do personagem. Mesmo na monotonia aparente, vai da calma casada com leveza ao desespero enlaçado com quietude de forma muito certeira. O monótono simplesmente nunca teve tantas nuances quanto aqui.

    Um verdadeiro wake up call para nós que, muitas vezes, agimos da mesma maneira que o Sr. Williams. Podemos não ter a mesma idade. A mesma origem. O mesmo emprego. Na verdade, pode ser que praticamente nada nas nossas vidas remeta à dele. Mas há algo do que nenhum de nós, assim como ele, jamais conseguirá fugir. E, enquanto este dia felizmente não chega, temos de nos ocupar daquilo que podemos fazer de melhor: viver.

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