Kafka buscou também na sétima arte alguma espécie de abrigo. A investigação conduzida por Hanns Zischler joga luz sobre suas primeiras experiências como espectador, num momento em que o cinema ainda engatinhava. A base do estudo não é, como se poderia imaginar, o legado ficcional do autor, mas seus diários e a correspondência trocada com Felice e Brod. São anotações esparsas, nas quais faz comentários sobre filmes a que assistiu. E mais: registra seu estupor diante da incipiente contemporaneidade, traduzida na aceleração mecânica e na profusão de imagens que brotavam dos cartazes, dos panoramas, dos cartões-postais, das revistas, dos jornais.
(Marcelo Moutinho)