Gaslighting ou gas-lighting é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.
"Duvidei da minha capacidade de chegar a um resultado aceitável desde o dia em que recebi o material. Era uma batalha perdida, atingir uma interpretação convincente de um depoimento que se mostrava tão fresco, e próprio, na boca de quem o viver. (...) No dia marcado, dirigi até o teatro onde Coutinho filmava os depoimentos. Esperei no camarim, ele disse que me chamaria com a câmera já valendo. Subi as escadas concentrada e sentei na cadeira em frente à câmera em estado de representação. Coutinho soltou uma exclamação em tom alto: "Nossa, você falou igual a ela". Eu tentei seguir em frente, mas ele insistiu em me chamar pelo meu nome. Pânico. Coutinho não percebeu e continuou a me perguntar sobre o melhor lugar para ele se posicionar, mencionou a sua falta de jeito, pediu que eu dissesse a hora de começar, mas a hora já havia passado. Esfriei. Não teve mais volta. Tentei atacar a fala, mas um diabo insistente me sussurrava no ouvido: "É mentira!". Parei. Foi melhor parar, admitir que eu não acreditava no que estava dizendo. Tirei zero na prova".
Honestíssima, beleza, uma fofa! Mas uma questão não me sai da cabeça: a falta de jeito da atriz e sua aparente frustração não seriam simulacros também? Uma atuação na atuação, como em todo o filme? Talento pra isso, ah, ela teria.
Andrucha acertou na mão. Ele conduziu com maestria a característica mais interessante do filme: a troca de papéis entre as personagens. A afinidade prévia das atrizes com o diretor, com certeza, deve ter contribuído para tal situação. O falar com os olhos, pelo visto, pode ser hereditário. Além disso, o silêncio, em alguns momentos, mostrou-se melhor encaixado que qualquer outro diálogo imaginável. Entretanto, o roteiro não é tão original. Boa parte das angústias e reflexões mostradas em Casa de Areia já tinha sido retratada antes por Teshigahara, no clássico Woman in the Dunes. Pode ter rolado uma pegada de inspiração ou quem fez o roteiro pode nem saber da existência do japa, mas soou um pouco repetitivo pra quem já assistiu ao anterior. No final das contas, acredito que isso não tenha servido de empecilho pra firmar Casa de Areia como uma grande obra dentro da filmografia brasileira.
É impossível descrever esse filme com poucas palavras, bem como assisti-lo tão somente com os olhos. Foi tudo muito bem orquestrado e o resultado final são dedos frustrados por quererem expressar alguma opinião suficientemente consistente e não conseguirem. O primeiro grande mérito de "Woman in the Dunes" é o zoom minucioso do Teshigahara; seja em um inseto (ajudando a compor um contínuo ar sombrio ali presente), na pele (expondo um misto agonizante de terra e suor) ou em um ínfimo grão de areia (o que era aquilo na cena inicial?). Outro ponto seria um caderno cheio de questões levantadas pelo roteiro, como já de praxe nos filmes do japa, para as quais não há respostas prontas. As dunas desmoronam, que pegada! Ele tenta escapar, a areia o engole, "quicksand". Areia, medo, dor ou outro sentimento e/ou situação que apresenta repulsividade à primeira vista mas gera conformismo depois?
"Men aren't dogs". E por alguns momentos, tudo o que se apresenta na tela é isso: um casal de caninos. Quão recorrente! Seria ela uma escrava? Acredito que não. Seria ele um escravo? Acredito que sim (pelo menos, até a cena final).
"Are you shovelin to survive, or surviving to shovel?" É difícil trabalhar, estudar ou até mesmo comer da mesma forma depois de ter visto essa frase no filme
Metafilmes geralmente são bem abortivos. Este foi um pouco mais além. O lance de misturar personagens reais (no limítrofe que a palavra "real" pode assumir no contexto) com fictícios quase me levou à cefaleia, de tanto tentar adivinhar qual seria a próxima cena, quem seria aquele personagem na vida real (mais uma vez, utilizando a palavra "real" com muita parcimônia) ou se a mesinha de centro era realmente uma mesinha de centro. Tentativas inúteis! Charlie Kaufman foi, ainda, bem espertinho utilizando auto-críticas para justificar acontecimentos correntes no próprio filme
(como a personalidade ambígua de si próprio ou um final onde o cara desfecha todo um ciclo de frustrações)
. Afinal, ninguém bate em cavalo morto. Envolver teses bem enraizadas (o evolucionismo de Darwin, p. ex.) é algo bem complicado que pode tornar o filme uma viagem sem nexo que permeia os arredores da paranoia/arrogância ou trazer à tona questões que ficam (e que, na minha opinião, deveriam ficar) escondidas lá no interior dos nossos pâncreas (o caso de Adaptação). Spike Jonze e Charlie Kaufman são os roteiristas-irmãos de Casablanca.
"Laranja Mecânica" sempre dividindo opiniões. Daqui a 10 anos, se for possível voltar a essa página, a discussão continuará, com outros ou os mesmos argumentos, mas o fato é que há dois times para esse filme: os do que veneram a obra e aqueles que preferem manter a inércia. Inútil é um querer empurrar goela abaixo suas certezas para com os outros. Quanto a minha opinião: Stanley Kubrick prometeu-nos um filme futurístico tanto em estética quanto em análise de pontos de vista. No campo da estética, nós sabemos que mulheres de cabelo violeta, senhoras usando boinas de couro vermelhas ou carros com sinal de "STOP" em LED não são tão futurísticos assim (pelo menos não no atual "futuro"). Entretanto, o grande saldo para gerações posteriores concentra-se na crítica dada ao sistemas carcerário e político. E a discussão destes assuntos se deu de forma sarcástica, suja e exagerada, porém bastante realista e possível, à la Kubrick. Tudo isso combinado e adicionado a uma boa dose de psicopatologia e à incrível atuação de McDowell, dá à película imortalidade e justificando a quantidade de fãs que ela possui mundo afora. Todo mundo tem a opção de não gostar, é claro, mas é inegável a influência que esta obra desbanca em outros filmes ou na vida das pessoas, de forma geral.
Títeres, meio andar, marido e mulher apaixonados pela mesma pessoa, portal, chimpanzé em casa, mulher presa na gaiola, Charlie Sheen... esse foi o roteiro mais insano que eu já vi na vida.
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Greta
3.5 74 Assista AgoraMarco Nanini, shantay, you stay!
Canção da Volta
3.3 29Gaslighting ou gas-lighting é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.
Ma chambre syrienne
1esse filme pertence ao Breninho.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista Agorapreciso fazer alguma coisa, sei lá, acho que vou desossar um frango.
Jogo de Cena
4.4 336 Assista AgoraDepoimento de Fernanda Torres sobre sua atuação no filme:
"Duvidei da minha capacidade de chegar a um resultado aceitável desde o dia em que recebi o material. Era uma batalha perdida, atingir uma interpretação convincente de um depoimento que se mostrava tão fresco, e próprio, na boca de quem o viver. (...) No dia marcado, dirigi até o teatro onde Coutinho filmava os depoimentos. Esperei no camarim, ele disse que me chamaria com a câmera já valendo. Subi as escadas concentrada e sentei na cadeira em frente à câmera em estado de representação. Coutinho soltou uma exclamação em tom alto: "Nossa, você falou igual a ela". Eu tentei seguir em frente, mas ele insistiu em me chamar pelo meu nome. Pânico. Coutinho não percebeu e continuou a me perguntar sobre o melhor lugar para ele se posicionar, mencionou a sua falta de jeito, pediu que eu dissesse a hora de começar, mas a hora já havia passado. Esfriei. Não teve mais volta. Tentei atacar a fala, mas um diabo insistente me sussurrava no ouvido: "É mentira!". Parei. Foi melhor parar, admitir que eu não acreditava no que estava dizendo. Tirei zero na prova".
Honestíssima, beleza, uma fofa! Mas uma questão não me sai da cabeça: a falta de jeito da atriz e sua aparente frustração não seriam simulacros também? Uma atuação na atuação, como em todo o filme? Talento pra isso, ah, ela teria.
Deserto Feliz
3.3 43Nós dois estamos perdidos
Em um barco sem destino
Náufragos de um amor proibido
Atracados pelos mares da paixão
Perdidos
Em um barco à deriva
Almas gêmeas de uma vida
Esperando de uma vez a nossa terra
Prometida.
Casa de Areia
3.7 241Andrucha acertou na mão. Ele conduziu com maestria a característica mais interessante do filme: a troca de papéis entre as personagens. A afinidade prévia das atrizes com o diretor, com certeza, deve ter contribuído para tal situação. O falar com os olhos, pelo visto, pode ser hereditário. Além disso, o silêncio, em alguns momentos, mostrou-se melhor encaixado que qualquer outro diálogo imaginável. Entretanto, o roteiro não é tão original. Boa parte das angústias e reflexões mostradas em Casa de Areia já tinha sido retratada antes por Teshigahara, no clássico Woman in the Dunes. Pode ter rolado uma pegada de inspiração ou quem fez o roteiro pode nem saber da existência do japa, mas soou um pouco repetitivo pra quem já assistiu ao anterior. No final das contas, acredito que isso não tenha servido de empecilho pra firmar Casa de Areia como uma grande obra dentro da filmografia brasileira.
Gattaca, uma Experiência Genética
3.9 649 Assista AgoraInteressante que o título do filme (e do local fictício) é formado apenas pelas letras que compõem o código genético, né?
Labirinto: A Magia do Tempo
3.9 609Há um filme nesse Bowie.
A Mulher da Areia
4.5 96É impossível descrever esse filme com poucas palavras, bem como assisti-lo tão somente com os olhos. Foi tudo muito bem orquestrado e o resultado final são dedos frustrados por quererem expressar alguma opinião suficientemente consistente e não conseguirem.
O primeiro grande mérito de "Woman in the Dunes" é o zoom minucioso do Teshigahara; seja em um inseto (ajudando a compor um contínuo ar sombrio ali presente), na pele (expondo um misto agonizante de terra e suor) ou em um ínfimo grão de areia (o que era aquilo na cena inicial?). Outro ponto seria um caderno cheio de questões levantadas pelo roteiro, como já de praxe nos filmes do japa, para as quais não há respostas prontas. As dunas desmoronam, que pegada! Ele tenta escapar, a areia o engole, "quicksand". Areia, medo, dor ou outro sentimento e/ou situação que apresenta repulsividade à primeira vista mas gera conformismo depois?
"Men aren't dogs". E por alguns momentos, tudo o que se apresenta na tela é isso: um casal de caninos. Quão recorrente! Seria ela uma escrava? Acredito que não. Seria ele um escravo? Acredito que sim (pelo menos, até a cena final).
"Are you shovelin to survive, or surviving to shovel?" É difícil trabalhar, estudar ou até mesmo comer da mesma forma depois de ter visto essa frase no filme
Toda Nudez Será Castigada
3.6 117Cena incrível:
"Bom dia, Sol!" "Bom dia, Bicha!" - e o cartaz do Django na parede.
Inclusive, o Sérgio Mamberti, a bicha, lembra muito o João Miguel vivendo um papel parecido.
Biutiful
4.0 1,1KA Marambra parece ter saído de uma película do Almodóvar.
Para Sempre Lilya
4.2 868Escondam esse filme da Glória Perez.
Adaptação.
3.9 707 Assista AgoraMetafilmes geralmente são bem abortivos. Este foi um pouco mais além. O lance de misturar personagens reais (no limítrofe que a palavra "real" pode assumir no contexto) com fictícios quase me levou à cefaleia, de tanto tentar adivinhar qual seria a próxima cena, quem seria aquele personagem na vida real (mais uma vez, utilizando a palavra "real" com muita parcimônia) ou se a mesinha de centro era realmente uma mesinha de centro. Tentativas inúteis! Charlie Kaufman foi, ainda, bem espertinho utilizando auto-críticas para justificar acontecimentos correntes no próprio filme
(como a personalidade ambígua de si próprio ou um final onde o cara desfecha todo um ciclo de frustrações)
Envolver teses bem enraizadas (o evolucionismo de Darwin, p. ex.) é algo bem complicado que pode tornar o filme uma viagem sem nexo que permeia os arredores da paranoia/arrogância ou trazer à tona questões que ficam (e que, na minha opinião, deveriam ficar) escondidas lá no interior dos nossos pâncreas (o caso de Adaptação).
Spike Jonze e Charlie Kaufman são os roteiristas-irmãos de Casablanca.
Curtindo a Vida Adoidado
4.2 2,3K Assista AgoraA "Twist and shout" desse filme foi o primeiro Harlem Shake da história.
Kika
3.5 359 Assista AgoraGoze e fuja.
Laranja Mecânica
4.3 3,8K Assista Agora"Laranja Mecânica" sempre dividindo opiniões. Daqui a 10 anos, se for possível voltar a essa página, a discussão continuará, com outros ou os mesmos argumentos, mas o fato é que há dois times para esse filme: os do que veneram a obra e aqueles que preferem manter a inércia. Inútil é um querer empurrar goela abaixo suas certezas para com os outros.
Quanto a minha opinião: Stanley Kubrick prometeu-nos um filme futurístico tanto em estética quanto em análise de pontos de vista. No campo da estética, nós sabemos que mulheres de cabelo violeta, senhoras usando boinas de couro vermelhas ou carros com sinal de "STOP" em LED não são tão futurísticos assim (pelo menos não no atual "futuro"). Entretanto, o grande saldo para gerações posteriores concentra-se na crítica dada ao sistemas carcerário e político. E a discussão destes assuntos se deu de forma sarcástica, suja e exagerada, porém bastante realista e possível, à la Kubrick. Tudo isso combinado e adicionado a uma boa dose de psicopatologia e à incrível atuação de McDowell, dá à película imortalidade e justificando a quantidade de fãs que ela possui mundo afora.
Todo mundo tem a opção de não gostar, é claro, mas é inegável a influência que esta obra desbanca em outros filmes ou na vida das pessoas, de forma geral.
Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão
3.4 103"Leopold, morda com mais força. Mais forte" "Não consigo. Não são meus dentes".
Quero Ser John Malkovich
4.0 1,4K Assista AgoraTíteres, meio andar, marido e mulher apaixonados pela mesma pessoa, portal, chimpanzé em casa, mulher presa na gaiola, Charlie Sheen... esse foi o roteiro mais insano que eu já vi na vida.