Dani Lima

(Leia só depois de ver o filme)
Filme muito bom. Gostei de vários aspectos do filme, mas vou citar somente 2 deles.

Primeiramente, achei sensacional a forma como o filme aborda a noção de o marginalizado não dever ser tratado como simples vítima, mas sim como um sujeito ativo e tranformador de sua própria história, e de sua realidade como um todo. O filme foi muito feliz ao transmitir essa mensagem, até mesmo em uma simples cena ao final do filme. Nela, a própria Hilary Swank afirma que é importante que os alunos se lembrem de que ela não era a mãe de ninguém ali, e que não deveria ser vista como a responsável por todas as conquistas alcançadas por eles, já que todas tinham sido fruto de uma batalha pessoal de cada aluno. Sempre bom reforçar essa ideia, principalmente em uma sociedade voltada para a ideia do "menorismo", pautada na noção de que a criança e o adolescente devem ser objetos de atenção do Estado apenas quando se encontram em grave situação de risco, situação essa que deve ser amenizada com assistencialismos puntuais. O filme mostra isso. Ninguém quer viver à base de pequenas assistências (estatais ou não), a vida se baseia em uma questão de tolerância, compreensão e respeito mútuos. E, pelo filme ser baseado em fatos reais, vimos que isso não é mera utopia (ainda bem!).

A segunda coisa interessante foi a abordagem em segundo plano da relação afetiva da professora. Não que eu quisesse que o filme mostrasse um final em que ela arranjasse um carinha qualquer, típico de final de novela das 9, em que todo mundo sai casado. Muito pelo contrário. É incrível ver o tanto que ela e o marido se davam bem no início do filme, mas, a partir do momento em que ela se encontra plenamente realizada profissionalmente, toda aquela relação parece "começar a desandar". O marido, ao longo do enredo, se mostra um arquiteto frustrado, que não tem a menor garra pra enfrentar dificuldades (que eram passíveis de ser enfretadas, com algum esforço) e se tornar aquilo que tanto desejava. Prefere uma vida mais cômoda, sem muitos questionamentos. Exatamente o oposto de sua mulher, aquela que, como disse (não exatamente com essas palavras) um dos alunos, "coloca uma coisa na cabeça e vai até o final, até a sua concretização". A superioridade da personagem de Swank é evidente. Após a cena em que eles estão discutindo a relação (e o marido diz não ser capaz de apoiar o trabalho de sua esposa, pelo simples fato de não nascer pra "fazer o papel da esposa na relação"), eles optam pelo divórcio e ela permanece com o trabalho na escola, criando laços ainda mais fortes com os alunos. Puro sucesso profissional na escola e admirada pelo pai, a personagem corporifica a mensagem "strong independent woman who need no man" hehehe brincadeiras a parte, a persongem de Swak dá uma lição de vivência, tanto em relação ao aspecto afetivo quanto profissional. Bacana demais.

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Depardieu roubou a cena. Com certeza a fotografia e a direção de arte são excelentes, mas foi ele que fez o filme. Achei que iria ser um filmaço, quando vi aquela atuação dele, marcada de sentimento paternal, ao encontrar Gwynplaine, mas as cenas da "realeza" deixaram a desejar. Exceto a parte do Parlamento, por possuir uma conotação histórica e crítica à aristocracia