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Aplaudido em Berlim, 'Marighella' ainda não tem lançamento previsto no Brasil

'Não quis fazer um filme sobre mocinhos contra bandidos', diz o diretor Wagner Moura
Seu Jorge, Wagner Moura, Bruno Gagliasso e Bella Camero no lançamento de 'Marighella', no Festival de Berlim Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP
Seu Jorge, Wagner Moura, Bruno Gagliasso e Bella Camero no lançamento de 'Marighella', no Festival de Berlim Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP

BERLIM — “Marighella”, a cinebiografia do guerrilheiro brasileiro dirigida pelo ator Wagner Moura, recebeu aplausos calorosos em sessão antecipada para a imprensa na tarde de quinta-feira (14), em um cinema comercial com cerca de 800 lugares. O filme, recupera a memória do político e poeta biano, símbolo da resistência política contra a ditadura militar (1964-1985), ganhou sessão de gala no inicio da noite desta sexta-feira (15), fora de competição, na 69ª edição do Festival de Berlim.

Livremente inspirado na biografia do jornalista Mário Magalhães lançada em 2012, "Marighella” cobre os últimos anos de vida do ativista, que aderiu à luta armada considerando ser o último recurso para lutar contra um regime autoritário. A principal preocupação da imprensa estrangeira em Berlim era saber como o filme seria recebido no país presidido por Jair Bolsonaro, que nega que o regime militar tenha sido uma ditadura.

— Começamos a negociar a adaptação do livro em 2013, quando Dilma ainda era presidente em Brasília. Filmamos em 2017, quando Temer estava em Brasília. Bolsonaro sequer era candidato ainda — diz Wagner Moura. — Sabíamos que estávamos lidando com um tema delicado, mas não quero que o filme se torne uma reação a Bolsonaro ou a qualquer governo específico. Ele é um dos primeiros produtos culturais que ficaram prontos durante o novo governo. Mas o filme é maior do que isso.

“Marighella” é produzido pela O2 Filmes, a mesma de “Cidade de Deus” (2003), de Fernando Meirelles, em coprodução com a Globo Filmes e a Downtown Filmes. A distribuição está a cargo da Paris Filmes, mas ainda não há data prevista de sua estreia no Brasil.

— Gostaria muito que “Marighella” fosse lançado no Brasil o mais rápido possível. — diz Moura. — Por mim, o filme estrearia logo depois de Berlim, mas eles ( da Paris Filmes ) acharam que não seria um bom momento. Acredito que estar aqui, em Berlim, recebendo a atenção da comunidade internacional, ajude o processo de lançamento.

— Se for preciso, abriremos um crowdfunding para financiar o lançamento de “Marighella” no Brasil — reforçou a produtora Andrea Barata Ribeira, da O2. — Sempre foi difícil levantar fundos para filmes sobre temas polêmicos no Brasil. A mesma coisa ocorreu com “Cidade de Deus”.

O grande trunfo de “Marighella” é a sua narrativa, ancorada no ritmo de thriller político. O filme abre com um plano sequência de fôlego, no qual o grupo liderado pelo guerrilheiro, interpretado por Seu Jorge, rouba uma carga de armas do exército dentro de um trem em movimento.

– Era importante que todos os personagens fossem complexos, tivessem suas dicotomias e contradições. Não quis fazer um filme sobre mocinhos contra bandidos – avisou Moura. – Fiz um filme sobre resitência política, em um país onde as injustiças sociais são enormes. Não estamos sugerindo que pegar em armas é a melhor maneira de combater injustiças. Marighella, que era deputado, só entrou para a luta armada porque todas as outras alternativas de diálogo lhe haviam sido negadas.