A cidade virou o “Vale do Silício da China” e superou a renda per capita do experimento liberal mais bem-sucedido do pós-guerra, Hong Kong, seu vizinho no Delta do Rio Pérola. O feito é impressionante por vários motivos. Escolhida como primeira Zona Econômica Especial para testar as reformas na China pós-Mao, Shenzhen iniciou seu crescimento, em grande medida, por meio de investimentos externos diretos de Hong Kong, que na época era industrializado. Colônia britânica até 1997, Hong Kong adotou uma via mais liberal, oferecendo sua vantagem comparativa na época, a mão de obra barata, em troca de investimentos externos para produzir bens simples. Quando os custos aumentaram, as fábricas partiram para lugares como Shenzhen. Sem indústria, e com localização e topografia apropriadas, Hong Kong se especializou em serviços desde então. Já Shenzhen, por meio de incessante planejamento governamental, tornou-se referência em alta tecnologia. No início o governo constituiu uma “zona econômica especial” dando isenção tributária geral para quem ali produzisse para exportação; ao mesmo tempo promoveu forte política de proteção tarifária protegendo as indústrias chinesas nascentes. Num segundo momento convidou os estrangeiros para usar essa incrível base logística na foz do Rio Pérola, repleta de mão de obra produtiva e barata. Auxiliou também a região e o país com uma política cambial ultracompetitiva para conquista de mercados no mundo. O aprendizado tecnológico ali foi incrível. Nos estágios finais as tarifas foram removidas e Shenzen virou um filho prodígio. A cidade de Shenzen produziu em 2010 mais de 75% dos tablets do mundo. E’ hoje um dos principais clusters regionais que produzem novas tecnologias para o mundo.
Fonte: Paulo Gala