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Carlos Reichenbach

Nomes Alternativos: Carlos Oscar Reichenbach Filho

174Número de Fãs

Nascimento: 14 de Junho de 1945 (67 years)

Falecimento: 14 de Junho de 2012

Porto Alegre, Rio Grande do Sul - Brasil

Descendente de família de gráficos e editores, Carlos Oscar Reichenbach Filho teve desde cedo uma ligação profunda com a literatura e o jornalismo. Morando em São Paulo desde 1 ano de idade, o cineasta foi o editor de todos os jornais nos colégios em que estudou. Com a morte de seu pai, em 1960, interrompeu os estudos em um colégio alemão na cidade de Rio Claro e voltou para São Paulo, onde gradativamente foi se interessando por cinema. Na hora de optar por uma faculdade, prestou, entre outros, vestibular no primeiro curso de cinema de nível universitário no Brasil, a Escola Superior de Cinema São Luiz. Reichenbach imaginava, naquela época, que existisse a profissão de roteirista cinematográfico, por isso trocou o curso de neo-latinas na Universidade de São Paulo para integrar a segunda turma da São Luiz. Colega de João Callegaro, Ana Carolina, Paulo Rufino, Carlos Alberto Ebert, Enzo Barone, Sílvio Bastos e outros estudantes que se profissionalizaram, Reichenbach foi aluno de mestres como Roberto Santos, Anatol Rosenfeld, Paulo Emílio Salles Gomes, Mário Chamie, Décio Pignatari, e sobretudo, Luiz Sérgio Person, responsável pelo seu interesse em dirigir filmes.

A São Luiz, durante os anos 60, reunia o meio cinematográfico emergente de São Paulo. Embora não fossem alunos, freqüentavam a ESC/São Luiz, Rogério Sganzerla, Jairo Ferreira, José Mojica Marins, Ozualdo Candeias, Fauzi Mansur, etc. De certa maneira, pode-se dizer que o Cinema Marginal da Boca do Lixo é fruto desta convivência nascida na ESC/São Luiz.

Em 1966, produzido por Luiz Sérgio Person, Carlos Reichenbach realiza seu primeiro curta-metragem em 35 mm, “Esta Rua Tão Augusta”, como exercício de curso. Também em 1966, ele fotografa o curta-metragem “Via Sacra”, de Orlando Parolini, primeiro filme “underground” feito no Brasil (jamais concluído porque Parolini, ao correr o risco de ter seu material filmado confiscado pela polícia federal, picotou o negativo fotograma por fotograma). Por ter uma câmera Paillard Bolex 16 mm, Reichenbach fotografou diversos curtas-metragens para colegas e amigos, que participaram do Festival JB-Mesbla.

Ávido leitor do Cahiers Du Cinema na década de 60 e um dos únicos assinantes brasileiros da revista Film Culture dos irmãos Meckas, o diretor realizou o curta-metragem “Duas Cigarras”, 16 mm, mudo, de teor experimental. Apesar de sua formação literária, ou talvez por isso, Reichenbach foi cada vez mais se desinteressando pelo texto e se aproximando da técnica cinematográfica.

Antes de abandonarem a São Luiz, Carlos Reichenbach e João Callegaro se uniram ao crítico mineiro Antonio Lima, e fundaram a Xanadú Produções Cinematográficas. Colocando de lado todos os conceitos estéticos, políticos e culturais, os três cinéfilos resolveram produzir um filme em episódios de teor exclusivamente comercial. Nasce o “cinema cafajeste”. Na verdade, nascia um cinema absolutamente sintonizado com seu tempo. “As Libertinas” (1968) é a resposta fílmica ao nascente movimento tropicalista. Produzido a partir de esquemas alternativos da Boca do Lixo, essa obra tinha como objetivo o seu lançamento no mercado e conseqüente retorno financeiro, explorando uma temática capaz de atingir diretamente o grande público.

“Audácia! (A Fúria dos Desejos)” (1969), longa-metragem com prólogo e dois episódios, com direção de Carlos Reichenbach e Antônio Lima, mantém, principalmente no episódio de Reichenbach (“A Badaladíssima dos Trópicos X Os Picaretas do Sexo”), uma postura mais incisiva com relação às expectativas do público e à narrativa clássica. O filme se volta sobre o próprio cotidiano dos cineastas, parecendo mais uma brincadeira de cinema do que um filme comercial. Reichenbach dirige o prólogo – uma pesquisa sobre a Boca do Lixo – e o primeiro episódio, onde é nítido o ambiente de total descaso e deboche em que o filme foi realizado, vislumbrando-se a ironia com relação à própria narrativa.

A partir de 69, ele começa a iluminar e fazer câmera em filmes de outros diretores, atividade que exerce até hoje, tendo feito a fotografia de mais de 36 longas-metragens. Neste ano, inicia um longa-metragem de teor político, “Guatemala, Ano Zero”, interrompido por pressões familiares. Em 1970, foi convidado pelo produtor Renato Grecchi a dirigir um filme para jovens; realiza então seu verdadeiro primeiro longa-metragem “Corrida em Busca do Amor” (1972), onde ficam nítidas algumas características de seu estilo cinematográfico. Devido a problemas de produção, Reichenbach é obrigado a improvisar o roteiro diariamente com seus assistentes Jairo Ferreira e Percival Gomes de Oliveira, conforme os atores à disposição, e as condições que tinha para rodar no dia seguinte.

Em 1971, Reichenbach torna-se sócio-gerente da Jota Filmes, tradicional produtora de filmes publicitários em São Paulo. Durante 4 anos, escreveu, produziu, dirigiu e fotografou mais de 150 comerciais e filmes institucionais. Durante este período lecionou fotografia de cinema na FAAP e cinema publicitário na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Em 1974, despede-se da profissão de publicitário, exatamente no momento em que começava a se tornar o “diretor da moda”. Investe tudo que sobrou da experiência empresarial no longa-metragem “Lilian M., Relatório Confidencial” (1974). Usando a infra-estrutura de sua empresa, sucatas de cenário de seu estúdio e o equipamento que possuía, fez o seu filme de linguagem mais radical. “Lilian M.” é uma produção bem cuidada, lançada após problemas com a censura que resultaram em cortes. Na verdade, o diretor fez uma mudança de rota, mantendo traços do Cinema Marginal, mas pensando na sobrevivência artística dentro de um cinema em transição. Inovador ao apresentar não uma estória linear mas sim uma imersão da personagem em várias situações e temáticas com tratamentos cinematográficos diferenciados, o filme nos leva a uma série de gêneros e influências retirados do próprio cinema. O espectador tem à disposição uma carga crítica, social e política, com momentos inspirados na chanchada, no cinema policial e japonês e nas referências irônicas ao próprio cinema brasileiro em seu tratamento do meio rural. O cineasta realiza neste sentido uma obra terminal, em termos de sua trajetória anterior, e iniciador de sua carreira nas décadas de 70 e 80. “Lilian M.” encontra um ponto médio entre experimentação, posicionamento autoral e um relacionamento com o público. Afastado do campo nacionalista, o filme faz questão de exibir uma mistura de influências musicais e cinematográficas internacionais, mantendo distância da pornochanchada. O diretor consegue dessa forma apontar uma forma de conciliar autonomia artística e pressões de uma cinematografia em mutação.

Após a Jota Filmes, ele assume definitivamente a profissão de técnico cinematográfico. Da direção de produção à fotografia, de roteirista a ator, participou de inúmeros filmes de longa-metragem de outros cineastas. Dirigiu e fotografou também vários documentários institucionais.

Reichenbach continuou recorrendo às estruturas da Boca do Lixo para prosseguir filmando. O filme que abre sua nova fase é “A Ilha dos Prazeres Proibidos” (1978), um sucesso que possibilitará a autonomia do cineasta e a realização de outras obras, como “O Império do Desejo” (1980), “Amor, Palavra Prostituta” (1980) e “Paraíso Proibido” (1981). Ele despeja nas telas um vasto repertório, acumulado com sua paixão cinematográfica e com inúmeros influxos literários, políticos e filosóficos. Tudo é tingido com as cores de uma ideologia libertária radical, resultante de sua atração pelo anarquismo. São filmes que possuem referencias da cultura moderna, como estórias em quadrinhos, filmes B, cinema “erudito” (principalmente Godard) e japonês, melodrama, surrealismo e poesia. O diretor é um autor-símbolo da modernização, que deglute e retrabalha uma avalanche de cacos culturais, sempre ligado no processo estético e político mais amplo. Nas suas obras delineia-se uma galeria de personagens, compondo um quadro de procuras afetivas, sexuais e políticas de toda uma época. E no centro está “O Império do Desejo”. Verdadeira caixa de surpresas, brilhando no meio de uma produção de vôo rasante, apresenta as ruínas soterradas por um processo perverso: personagens remanescentes da contracultura, o Cinema Marginal e o cinema internacional triturados numa narrativa que equilibra uma estória e notável liberdade. Nesse filme, a câmera, em constante mobilidade, busca angulações e movimentos preciosos. Misto de homenagem e vingança, a obra cristaliza a redenção de toda uma geração cinematográfica quase dizimada pelos rumos da moderna cultura brasileira.

Em “Extremos do Prazer” (1983), o cineasta consegue concentrar num fim de semana, em uma casa de campo, a política recente, a sexualidade, a mediocridade da modernização, os jovens e os sonhos da década de 60. Partindo de condições mínimas de produção, o diretor executa um radicalizado e surpreendente exercício de liberdade artística. Brincando com a linguagem e explicitando seu fazer cinematográfico, oferece-nos ainda movimentos de câmera deslumbrantes.

Relendo o Fausto de Goethe sob o impacto da capital paulista de fim de século, Carlos Reichenbach dirige “Filme Demência” (1985). Por essa obra, ele recebeu o Kikito de melhor diretor no Festival de Gramado de 1986. No filme “Anjos do Arrabalde” (1986) realiza-se uma viagem pela periferia da cidade de São Paulo e pelos meandros da alma feminina, combinando realismo e inventividade.

Como diretor de fotografia foi premiado em duas ocasiões: em 1976, recebeu o Prêmio APCA pela fotografia do filme “Excitação”, de Jean Garret; e em 1983, recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, pela iluminação do filme “Doce Delírio”, de Manoel Paiva.

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