Grandes Olhos, cinebiografia da artista norte-americana Margaret Keane dirigida por Tim Burton, não tenta ser realista e talvez Burton nem consiga mais fazer isso (mesmo se quisesse). O roteiro toma diversas liberdades e se afasta dos fatos para contar a bizarra história de como Walter Keane, marido da artista, a transformou em escrava e assumiu a autoria por seu trabalho numa época na qual mulheres artistas eram vistas com desconfiança. O tom artificial e cômico funciona bem por boa parte do longa, mas cria problemas sérios mais perto do final, quando o lado dramático toma conta.
Para quem não conhece a pintora, ela é criadora de obras de crianças caracterizadas pelos olhos grandes e desproporcionais, fator que a transformou em relativa febre nos EUA dos anos 60. Provavelmente você já viu alguma imagem criada por ela, afinal Margaret foi uma das primeiras artistas a vender sua arte em massa com sucesso. Só que a sua história é muito mais sombria do que a de uma mulher tentando achar seu espaço em meio à sociedade machista dos anos 1950.
Como esperado, o roteiro possui forte tom feminista, mas logo fica claro que esse aspecto é secundário, afinal o texto foca mais no relacionamento conturbado do casal de protagonistas. Curiosamente, esse mesmo relacionamento é mal explorado e pouco se sabe dos dois além do básico que uma pesquisa no Wikipédia poderia revelar. Burton, basicamente, cria uma história para entendermos claramente quem é a mocinha e quem é o bandido, sem mostrar nuances ou desenvolver os personagens além desses estereótipos.