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Últimas opiniões enviadas

  • Marco Gomes

    As lágrimas amargas de Petra Von Kant: máscara da autossuficiência.

    Uma das coisas mais tocantes em toda a obra é o plano circular que a rege. Petra acorda, no início do filme, sozinha e, da mesma forma, ao final, deita-se completamente sozinha. Estes, acredita-se, são os momentos em que a personagem se destitui de sua máscara de autossuficiência, sem projeções artísticas àqueles poucos que a cercam. São nestes momentos, também, um dos poucos em que os manequins não são vistos – figuras particularmente interessantes em todo o enredo. Ao isolar-se, Petra aparece nua e sua inadequação e seu vazio interior valsam brevemente, num lapso fugidio da máscara construída pela personagem.

    Petra cria uma visualidade cênica que a coloca em um patamar de superioridade que, de fato, não existe. Sua segurança limita-se àquilo que domina, como sua secretária Marlene, aquela que sempre lhe foi a mais próxima, e que jamais fugiu do roteiro de servidão-sem-questionamentos. Quando este roteiro se desfaz em uma última breve ordem, a de que a posição de submissão absoluta não seria mais aceita, essa máscara também se desfaz e Marlene vai embora. Mais uma vez, a circularidade se impõe como axioma do primor da obra.

    Além do cenário milimetricamente planejado, que auxilia na construção da ideia de dominação, os manequins podem ser vistos como importantes itens de personificação das emoções dos personagens. Deitados em cena podem ser entendidos como uma extensão do anseio de Petra para ter a amante de volta; com os braços levantados são simulacro do horror que a mãe de Petra não manifesta ao saber do rompante homossexual da filha; lado a lado, em constante observação, espelham as imagens de Marlene e de Gabriele diante da máscara de Petra, que chega a seu ápice, e então começa a ruir.

    A humanidade da personagem principal é justamente o ponto alto da obra. Quando conversando com aquela que pode ser vista como uma amiga, Sidonie, Petra fala que não vê sua própria postura como a de uma pessoa fria, mas, sim, essencialmente racional. O espectro pretendido está perfeito até aquele momento. Há uma vileza atenuada em seu modo de agir, uma construção enfática daquilo que se projetou; algo que perdura até o momento em que Petra encontra Karin. A amante descortina o coração de Petra e o expõe como um fruto apodrecido e irrelevante. E é aí que Petra se desfaz, mesmo diante de círculo social tão restrito.

    Talvez não seja propriamente o amor não correspondido, mas a falta de domínio diante de Karin que destrói a máscara de Petra. O amargor de não dominar, pelo que parece ser a primeira vez, aquela nova peça sobre o tabuleiro, faz sofrer verdadeiramente. Humanamente. O dinheiro e o poder já não importam quando o modo imperativo de suas sentenças já não surte efeito no outro – especialmente quando este outro é o mais desejado. E, apesar das nuances de amargura, prepotência e arrogância, o sofrimento de Petra é genuinamente humano, uma vez que advém da maior falha que ela poderia ter cometido em seu projeto narcisístico: tentar abarcar quem já navega em águas próprias.

    É uma obra essencialmente humana e, por isso, tão tocante e precisa.

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  • Marco Gomes

    Lutar não é um ato de coragem. É um ato involuntário. Precisa ser. É preciso levantar-se e berrar. É preciso ficar quieto dentro de um quarto frio e escrever uma carta raivosa. É preciso macular o ideal de perfeição com lágrimas de dor. É sair às ruas bradando verdades, exigindo aceitação e respeito. É preciso fazer com que os outros enxerguem. É preciso eliminar o ódio.

    Com o coração doído e profundamente tocado por este filme é que escrevo esta mensagem. O mundo já vivenciou diversas epidemias: epidemias psicológicas, sentimentais e enfermidades que deixaram um enorme rastro de destruição. Em nome desta destruição é que o não calar-se deve levantar a voz, os olhos, as mãos, o cérebro, o coração. Não dá pra aceitar “que o mundo está chato”, não dá pra aceitar que o escárnio do ódio continue ceifando vidas. A vida de um gay vale tanto quanto a de um hetero, e qualquer tipo de preconceito é uma arma apontada na cabeça dessa fina capa de seda que chamamos de vida. “The Normal Heart” é a história de uma carnificina ignorada, é a representação singela do horror do ódio, dos olhos fechados.

    "Thanks for letting me know."

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