As lágrimas amargas de Petra Von Kant: máscara da autossuficiência.
Uma das coisas mais tocantes em toda a obra é o plano circular que a rege. Petra acorda, no início do filme, sozinha e, da mesma forma, ao final, deita-se completamente sozinha. Estes, acredita-se, são os momentos em que a personagem se destitui de sua máscara de autossuficiência, sem projeções artísticas àqueles poucos que a cercam. São nestes momentos, também, um dos poucos em que os manequins não são vistos – figuras particularmente interessantes em todo o enredo. Ao isolar-se, Petra aparece nua e sua inadequação e seu vazio interior valsam brevemente, num lapso fugidio da máscara construída pela personagem.
Petra cria uma visualidade cênica que a coloca em um patamar de superioridade que, de fato, não existe. Sua segurança limita-se àquilo que domina, como sua secretária Marlene, aquela que sempre lhe foi a mais próxima, e que jamais fugiu do roteiro de servidão-sem-questionamentos. Quando este roteiro se desfaz em uma última breve ordem, a de que a posição de submissão absoluta não seria mais aceita, essa máscara também se desfaz e Marlene vai embora. Mais uma vez, a circularidade se impõe como axioma do primor da obra.
Além do cenário milimetricamente planejado, que auxilia na construção da ideia de dominação, os manequins podem ser vistos como importantes itens de personificação das emoções dos personagens. Deitados em cena podem ser entendidos como uma extensão do anseio de Petra para ter a amante de volta; com os braços levantados são simulacro do horror que a mãe de Petra não manifesta ao saber do rompante homossexual da filha; lado a lado, em constante observação, espelham as imagens de Marlene e de Gabriele diante da máscara de Petra, que chega a seu ápice, e então começa a ruir.
A humanidade da personagem principal é justamente o ponto alto da obra. Quando conversando com aquela que pode ser vista como uma amiga, Sidonie, Petra fala que não vê sua própria postura como a de uma pessoa fria, mas, sim, essencialmente racional. O espectro pretendido está perfeito até aquele momento. Há uma vileza atenuada em seu modo de agir, uma construção enfática daquilo que se projetou; algo que perdura até o momento em que Petra encontra Karin. A amante descortina o coração de Petra e o expõe como um fruto apodrecido e irrelevante. E é aí que Petra se desfaz, mesmo diante de círculo social tão restrito.
Talvez não seja propriamente o amor não correspondido, mas a falta de domínio diante de Karin que destrói a máscara de Petra. O amargor de não dominar, pelo que parece ser a primeira vez, aquela nova peça sobre o tabuleiro, faz sofrer verdadeiramente. Humanamente. O dinheiro e o poder já não importam quando o modo imperativo de suas sentenças já não surte efeito no outro – especialmente quando este outro é o mais desejado. E, apesar das nuances de amargura, prepotência e arrogância, o sofrimento de Petra é genuinamente humano, uma vez que advém da maior falha que ela poderia ter cometido em seu projeto narcisístico: tentar abarcar quem já navega em águas próprias.
É uma obra essencialmente humana e, por isso, tão tocante e precisa.
Lutar não é um ato de coragem. É um ato involuntário. Precisa ser. É preciso levantar-se e berrar. É preciso ficar quieto dentro de um quarto frio e escrever uma carta raivosa. É preciso macular o ideal de perfeição com lágrimas de dor. É sair às ruas bradando verdades, exigindo aceitação e respeito. É preciso fazer com que os outros enxerguem. É preciso eliminar o ódio.
Com o coração doído e profundamente tocado por este filme é que escrevo esta mensagem. O mundo já vivenciou diversas epidemias: epidemias psicológicas, sentimentais e enfermidades que deixaram um enorme rastro de destruição. Em nome desta destruição é que o não calar-se deve levantar a voz, os olhos, as mãos, o cérebro, o coração. Não dá pra aceitar “que o mundo está chato”, não dá pra aceitar que o escárnio do ódio continue ceifando vidas. A vida de um gay vale tanto quanto a de um hetero, e qualquer tipo de preconceito é uma arma apontada na cabeça dessa fina capa de seda que chamamos de vida. “The Normal Heart” é a história de uma carnificina ignorada, é a representação singela do horror do ódio, dos olhos fechados.
Still Alice: é difícil escrever com lágrimas nos olhos, mas eu vou tentar.
Este filme traz um paradoxo em si. Traz uma película de delicadeza que se contrapõe à crueldade da história que conta – por crueldade eu faço referência à doença de Alzheimer. É impossível para quem já teve qualquer tipo de contato com a doença – um parente próximo, um amigo, um conhecido – não emocionar-se profundamente com esta narrativa tão verdadeira e sutil. Aliás, talvez seja audácia da minha parte, mas é impossível para qualquer pessoa não ter o coração tocado e o os olhos marejados por tantas Alice Howland que permeiam o mundo. As intelectuais e as não-intelectuais. As mães, as filhas, as avós de tanta gente. As Alice Howland que nós – e que Deus não permita – poderemos ser, um dia.
É um filme duro, que alude à crueldade que pode parecer o ato de continuar, quando tanto de nós parou. É uma história sobre a apatia que nos sufoca todos os dias, embora queiramos continuar esta luta pétrea a qual denominamos Vida. É uma história sobre prioridades, sonhos e conquistas; mas é também uma história sobre fatídicas perdas. Há múltiplas cenas que a mim são muito caras; três delas, especialmente. Há uma cena em que todos nós, em fortuna ou em desgraça, nos vemos refletidos: a comparação de uma situação com outra igualmente subversiva. Quando a personagem Alice diz que preferiria ter um câncer ao invés de ter Alzheimer, o choque é inevitável. Quantos de nós já não calçamos estes pares opostos e igualmente terríveis? Acredito que esta é uma das maiores e mais importantes reflexões que este filme nos traz, que é este “mal contemporâneo comparativo” das desgraças que nos acometem a todo o tempo, a todo o instante. Qual é o nosso papel diante do horror? Fica aqui a minha pergunta.
As duas outras cenas que também trouxeram lágrimas aos meus olhos são os dois momentos em que Alice caminha sozinha. No primeiro momento, ainda no estágio inicial da doença, pela biblioteca; e no momento seguinte, com o Alzheimer já avançado, pela praia. As metáforas; aliás, as duas metalinguagens das próprias cenas são cinematograficamente louváveis, mas são, acima de qualquer outra coisa, vividamente sinceras. São cenas que mostram, a priori, a vida sendo galgada e a vida sendo declinada. E são cenas que mostram, em ambas as fases, a necessidade de se acreditar que sim, a vida vale a pena.
É um filme lindo, é absurdamente arrebatador.
“É verdade, mamãe. Era uma história sobre o Amor”. <3
É difícil até falar de quantas formas esse filme é bonito. Se eu pudesse eu assistiria a esta obra de arte mais algumas vezes, só que a cada vez eu pausaria a cada cena, apenas para comentar a enorme quantidade de significados, alusões e referências que essa história possui. Os atores, o roteiro, as cenas, a fotografia, a maestria da trilha sonora... É mais do que um filme; trata-se de uma história absurdamente devastadora.
Uma narrativa de coragem, de autoconhecimento, um jogo – na linguagem psicológica – de sombras e personas. Uma narrativa que mostra o horror da crueldade humana perante o desconhecido e que reitera o quão presos nós estamos aos preconceitos e pensamentos desumanos, mesmo agora, mais de 80 anos depois. É também uma narrativa que mostra a forma mais sublime do amor mesmo entre tantas dúvidas e incertezas. É Uma narrativa humana que foge de qualquer clichê e mostra como a individualidade do ser humano pode ser assustadora e absurdamente mágica.
É um filme apolítico. É um filme que não levanta nenhuma bandeira, a não ser a do amor e da compreensão. É um filme que mostra, de uma forma muito sutil e delicada para um espectador desatento, que o significado de “luta” tem outra conotação: a guerra é nossa – algo que nem sempre somos capazes de compreender. Sua real mensagem, seu conteúdo intrínseco, no entanto, revela mais; revela que precisamos mudar. Que precisamos, de uma vez por todas, aprender com todos os erros escabrosos que já cometemos e precisamos, no mínimo, aprender a lidar com o que nos torna diferente entre a nossa igualdade: a nossa singularidade.
“I love you because you are the only person who made sense of me, who made me possible.” Lili Elbe <3
“Ricki and The Flash” (recuso-me terminantemente a usar o complemento brasileiro “De volta para casa” porque é absurdamente ridículo) é um filme leve, longe de ser revolucionário, muito mais próximo de uma leve comicidade do que do drama. É, no entanto, um filme extremamente agradável e gostoso de ser assistido porque há, bem no fundo e de forma bastante sutil, uma mensagem sobre a busca por um sonho e os grandes sacrifícios feitos em nome deste sonho.
Este filme possui dois grandes destaques: a trilha sonora e a atuação de Meryl Streep. É impossível – ao menos para os admiradores de rock & roll dos anos de 1970, 80 e 90 – sair do filme sem cantar alguns grandes clássicos como “Have you ever seen the rain” ou “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”. Grandes músicas entoadas por uma Meryl Streep camaleoa, que impressiona, mais uma vez, por sua jovialidade e entrega absurdamente profunda ao personagem que encarna.
É um filme que te deixa com um sorriso gostoso nos lábios e uma vontade de “quero mais”.
Foi um filme que me deixou com um grande nó na garganta, no melhor sentido. Mesmo depois de deixar a sala de cinema, continuei pensando na narrativa, na forma como a Jennifer Aniston representou a Claire.
Acho que o principal, entre os vários aspectos positivos do filme, foi a forma com a qual a personagem principal dosou o sofrimento com o sarcasmo. Um humor duro, de quem já não enxerga na vida a possibilidade de um riso alegre e sincero. A dor física, entretanto, nem se compara com a dor interior, revelada através de um olhar pétreo, frio.
É um filme de metáforas e cenas realmente tocantes. A cena final, que aos olhos de muitos pode parecer banal, é simplesmente brilhante. É uma cena que te faz fechar os olhos e sorrir, pq não poderia ter acabado de um jeito melhor, fugindo de clichês e sem cair no contexto do drama tipicamente hollywodiano. Em suma, é um filme incrível!
É absurda, totalmente absurda, a forma com a qual "Na Natureza Selvagem", mexeu comigo. É um relato que esconde em si o brilhantismo e a audácia de um jovem livre e um pouco cruel. Mas reduzi-lo a esses dois adjetivos seria um erro de minha parte. Não sei se Chris McCandless (ou deveria dizer Alexander Supertramp?) errou. Acho que sobre essa história de vida não se cabe nenhum tipo de julgamento. Nem positivos, nem negativos. É uma história realmente intensa, bonita e um tanto quanto triste, de todas as formas possíveis. Como obra cinematográfica, trata-se de uma obra-prima. O roteiro, a fotografia, a trilha sonora, a atuação dos atores envolvidos. Tudo, absolutamente tudo é incrível em relação à forma com a qual esta obra da sétima arte foi produzida, dirigida e apresentada. Na busca pelos sonhos não há bem nem mal. Não há psicologia nem pensamento humano esclarecedor. É uma relação construída entre alma e sonho, usando um corpo físico para chegar. Onde? Não há linguagem para explicar!
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant
4.2 103As lágrimas amargas de Petra Von Kant: máscara da autossuficiência.
Uma das coisas mais tocantes em toda a obra é o plano circular que a rege. Petra acorda, no início do filme, sozinha e, da mesma forma, ao final, deita-se completamente sozinha. Estes, acredita-se, são os momentos em que a personagem se destitui de sua máscara de autossuficiência, sem projeções artísticas àqueles poucos que a cercam. São nestes momentos, também, um dos poucos em que os manequins não são vistos – figuras particularmente interessantes em todo o enredo. Ao isolar-se, Petra aparece nua e sua inadequação e seu vazio interior valsam brevemente, num lapso fugidio da máscara construída pela personagem.
Petra cria uma visualidade cênica que a coloca em um patamar de superioridade que, de fato, não existe. Sua segurança limita-se àquilo que domina, como sua secretária Marlene, aquela que sempre lhe foi a mais próxima, e que jamais fugiu do roteiro de servidão-sem-questionamentos. Quando este roteiro se desfaz em uma última breve ordem, a de que a posição de submissão absoluta não seria mais aceita, essa máscara também se desfaz e Marlene vai embora. Mais uma vez, a circularidade se impõe como axioma do primor da obra.
Além do cenário milimetricamente planejado, que auxilia na construção da ideia de dominação, os manequins podem ser vistos como importantes itens de personificação das emoções dos personagens. Deitados em cena podem ser entendidos como uma extensão do anseio de Petra para ter a amante de volta; com os braços levantados são simulacro do horror que a mãe de Petra não manifesta ao saber do rompante homossexual da filha; lado a lado, em constante observação, espelham as imagens de Marlene e de Gabriele diante da máscara de Petra, que chega a seu ápice, e então começa a ruir.
A humanidade da personagem principal é justamente o ponto alto da obra. Quando conversando com aquela que pode ser vista como uma amiga, Sidonie, Petra fala que não vê sua própria postura como a de uma pessoa fria, mas, sim, essencialmente racional. O espectro pretendido está perfeito até aquele momento. Há uma vileza atenuada em seu modo de agir, uma construção enfática daquilo que se projetou; algo que perdura até o momento em que Petra encontra Karin. A amante descortina o coração de Petra e o expõe como um fruto apodrecido e irrelevante. E é aí que Petra se desfaz, mesmo diante de círculo social tão restrito.
Talvez não seja propriamente o amor não correspondido, mas a falta de domínio diante de Karin que destrói a máscara de Petra. O amargor de não dominar, pelo que parece ser a primeira vez, aquela nova peça sobre o tabuleiro, faz sofrer verdadeiramente. Humanamente. O dinheiro e o poder já não importam quando o modo imperativo de suas sentenças já não surte efeito no outro – especialmente quando este outro é o mais desejado. E, apesar das nuances de amargura, prepotência e arrogância, o sofrimento de Petra é genuinamente humano, uma vez que advém da maior falha que ela poderia ter cometido em seu projeto narcisístico: tentar abarcar quem já navega em águas próprias.
É uma obra essencialmente humana e, por isso, tão tocante e precisa.
Crepúsculo dos Deuses
4.5 794 Assista AgoraMaravilhoso. De uma tristeza profunda, de uma doação completa e sem nenhum retorno.
The Normal Heart
4.3 1,0K Assista AgoraLutar não é um ato de coragem. É um ato involuntário. Precisa ser. É preciso levantar-se e berrar. É preciso ficar quieto dentro de um quarto frio e escrever uma carta raivosa. É preciso macular o ideal de perfeição com lágrimas de dor. É sair às ruas bradando verdades, exigindo aceitação e respeito. É preciso fazer com que os outros enxerguem. É preciso eliminar o ódio.
Com o coração doído e profundamente tocado por este filme é que escrevo esta mensagem. O mundo já vivenciou diversas epidemias: epidemias psicológicas, sentimentais e enfermidades que deixaram um enorme rastro de destruição. Em nome desta destruição é que o não calar-se deve levantar a voz, os olhos, as mãos, o cérebro, o coração. Não dá pra aceitar “que o mundo está chato”, não dá pra aceitar que o escárnio do ódio continue ceifando vidas. A vida de um gay vale tanto quanto a de um hetero, e qualquer tipo de preconceito é uma arma apontada na cabeça dessa fina capa de seda que chamamos de vida. “The Normal Heart” é a história de uma carnificina ignorada, é a representação singela do horror do ódio, dos olhos fechados.
"Thanks for letting me know."
Para Sempre Alice
4.1 2,3K Assista AgoraStill Alice: é difícil escrever com lágrimas nos olhos, mas eu vou tentar.
Este filme traz um paradoxo em si. Traz uma película de delicadeza que se contrapõe à crueldade da história que conta – por crueldade eu faço referência à doença de Alzheimer. É impossível para quem já teve qualquer tipo de contato com a doença – um parente próximo, um amigo, um conhecido – não emocionar-se profundamente com esta narrativa tão verdadeira e sutil. Aliás, talvez seja audácia da minha parte, mas é impossível para qualquer pessoa não ter o coração tocado e o os olhos marejados por tantas Alice Howland que permeiam o mundo. As intelectuais e as não-intelectuais. As mães, as filhas, as avós de tanta gente. As Alice Howland que nós – e que Deus não permita – poderemos ser, um dia.
É um filme duro, que alude à crueldade que pode parecer o ato de continuar, quando tanto de nós parou. É uma história sobre a apatia que nos sufoca todos os dias, embora queiramos continuar esta luta pétrea a qual denominamos Vida. É uma história sobre prioridades, sonhos e conquistas; mas é também uma história sobre fatídicas perdas.
Há múltiplas cenas que a mim são muito caras; três delas, especialmente. Há uma cena em que todos nós, em fortuna ou em desgraça, nos vemos refletidos: a comparação de uma situação com outra igualmente subversiva. Quando a personagem Alice diz que preferiria ter um câncer ao invés de ter Alzheimer, o choque é inevitável. Quantos de nós já não calçamos estes pares opostos e igualmente terríveis? Acredito que esta é uma das maiores e mais importantes reflexões que este filme nos traz, que é este “mal contemporâneo comparativo” das desgraças que nos acometem a todo o tempo, a todo o instante. Qual é o nosso papel diante do horror? Fica aqui a minha pergunta.
As duas outras cenas que também trouxeram lágrimas aos meus olhos são os dois momentos em que Alice caminha sozinha. No primeiro momento, ainda no estágio inicial da doença, pela biblioteca; e no momento seguinte, com o Alzheimer já avançado, pela praia. As metáforas; aliás, as duas metalinguagens das próprias cenas são cinematograficamente louváveis, mas são, acima de qualquer outra coisa, vividamente sinceras. São cenas que mostram, a priori, a vida sendo galgada e a vida sendo declinada. E são cenas que mostram, em ambas as fases, a necessidade de se acreditar que sim, a vida vale a pena.
É um filme lindo, é absurdamente arrebatador.
“É verdade, mamãe. Era uma história sobre o Amor”. <3
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraÉ difícil até falar de quantas formas esse filme é bonito. Se eu pudesse eu assistiria a esta obra de arte mais algumas vezes, só que a cada vez eu pausaria a cada cena, apenas para comentar a enorme quantidade de significados, alusões e referências que essa história possui. Os atores, o roteiro, as cenas, a fotografia, a maestria da trilha sonora... É mais do que um filme; trata-se de uma história absurdamente devastadora.
Uma narrativa de coragem, de autoconhecimento, um jogo – na linguagem psicológica – de sombras e personas. Uma narrativa que mostra o horror da crueldade humana perante o desconhecido e que reitera o quão presos nós estamos aos preconceitos e pensamentos desumanos, mesmo agora, mais de 80 anos depois. É também uma narrativa que mostra a forma mais sublime do amor mesmo entre tantas dúvidas e incertezas. É Uma narrativa humana que foge de qualquer clichê e mostra como a individualidade do ser humano pode ser assustadora e absurdamente mágica.
É um filme apolítico. É um filme que não levanta nenhuma bandeira, a não ser a do amor e da compreensão. É um filme que mostra, de uma forma muito sutil e delicada para um espectador desatento, que o significado de “luta” tem outra conotação: a guerra é nossa – algo que nem sempre somos capazes de compreender.
Sua real mensagem, seu conteúdo intrínseco, no entanto, revela mais; revela que precisamos mudar. Que precisamos, de uma vez por todas, aprender com todos os erros escabrosos que já cometemos e precisamos, no mínimo, aprender a lidar com o que nos torna diferente entre a nossa igualdade: a nossa singularidade.
“I love you because you are the only person who made sense of me, who made me possible.”
Lili Elbe <3
Ricki and the Flash: De Volta Para Casa
3.2 295 Assista Agora“Ricki and The Flash” (recuso-me terminantemente a usar o complemento brasileiro “De volta para casa” porque é absurdamente ridículo) é um filme leve, longe de ser revolucionário, muito mais próximo de uma leve comicidade do que do drama. É, no entanto, um filme extremamente agradável e gostoso de ser assistido porque há, bem no fundo e de forma bastante sutil, uma mensagem sobre a busca por um sonho e os grandes sacrifícios feitos em nome deste sonho.
Este filme possui dois grandes destaques: a trilha sonora e a atuação de Meryl Streep. É impossível – ao menos para os admiradores de rock & roll dos anos de 1970, 80 e 90 – sair do filme sem cantar alguns grandes clássicos como “Have you ever seen the rain” ou “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”. Grandes músicas entoadas por uma Meryl Streep camaleoa, que impressiona, mais uma vez, por sua jovialidade e entrega absurdamente profunda ao personagem que encarna.
É um filme que te deixa com um sorriso gostoso nos lábios e uma vontade de “quero mais”.
Cake - Uma Razão Para Viver
3.4 698 Assista AgoraFoi um filme que me deixou com um grande nó na garganta, no melhor sentido. Mesmo depois de deixar a sala de cinema, continuei pensando na narrativa, na forma como a Jennifer Aniston representou a Claire.
Acho que o principal, entre os vários aspectos positivos do filme, foi a forma com a qual a personagem principal dosou o sofrimento com o sarcasmo. Um humor duro, de quem já não enxerga na vida a possibilidade de um riso alegre e sincero. A dor física, entretanto, nem se compara com a dor interior, revelada através de um olhar pétreo, frio.
É um filme de metáforas e cenas realmente tocantes. A cena final, que aos olhos de muitos pode parecer banal, é simplesmente brilhante. É uma cena que te faz fechar os olhos e sorrir, pq não poderia ter acabado de um jeito melhor, fugindo de clichês e sem cair no contexto do drama tipicamente hollywodiano. Em suma, é um filme incrível!
Na Natureza Selvagem
4.3 4,5K Assista AgoraÉ absurda, totalmente absurda, a forma com a qual "Na Natureza Selvagem", mexeu comigo. É um relato que esconde em si o brilhantismo e a audácia de um jovem livre e um pouco cruel. Mas reduzi-lo a esses dois adjetivos seria um erro de minha parte.
Não sei se Chris McCandless (ou deveria dizer Alexander Supertramp?) errou. Acho que sobre essa história de vida não se cabe nenhum tipo de julgamento. Nem positivos, nem negativos. É uma história realmente intensa, bonita e um tanto quanto triste, de todas as formas possíveis.
Como obra cinematográfica, trata-se de uma obra-prima. O roteiro, a fotografia, a trilha sonora, a atuação dos atores envolvidos. Tudo, absolutamente tudo é incrível em relação à forma com a qual esta obra da sétima arte foi produzida, dirigida e apresentada.
Na busca pelos sonhos não há bem nem mal. Não há psicologia nem pensamento humano esclarecedor. É uma relação construída entre alma e sonho, usando um corpo físico para chegar. Onde? Não há linguagem para explicar!