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  • Akira Riber Junoro

    Meu amigo Pavlov (ou a teoria geral da vingança) - 24/06/2016

    O diretor sul-coreano Park Chan-Wook hoje é acusado de muitíssima coisa, até de ser o protagonista de uma suposta “Novelle Vague” coreana, tamanha é a amplitude dos caminhos abertos por sua já clássica Trilogia da Vingança.

    Dizer que a Trilogia da Vingança é um clássico não é somente força de expressão. As hipérboles foram poupadas. Friamente se pode assegurar que os três trabalhos de Park Chan-Wook compreendidos como Trilogia da Vingança (2002-2005) terão espaço reservado entre umas duas dezenas de filmes produzidos nos anos zero-zero como obras da maior excelência. Há experimento, mas consolidação e bom acabamento. Há ousadia e estetização do deboche e toda a sociologia do desespero jogada pelo tema que dá o tom de “Mr. Vingança” (2002), “Old Boy” (2003) e “Lady Vingança” (2005).

    Ao se ater ao episódio central da Trilogia, “Old Boy”, se percebe um longo caminho que ainda está à margem de ser rasgado. Muitas são as possibilidades da riquíssima recursividade apresentada por Chan-Wook em sua obra-prima, certamente o mais conhecido dos três episódios de sua trilogia temática. Inspirado num mangá de gravidade menor, “Old Boy” se arquiteta num naturalismo tardio, às portas da Modernidade Morta, estabelecendo enredo enigmático que é preenchido com uma condutividade alternada: um homem prisioneiro solitário por uma década e meia, sem saber onde está, quem o trancou e quais motivações teriam levado alguém a uma atitude tão extrema. Ainda mais drástico é sequer imaginar por quanto tempo durará o claustro depois de, num de repente, acordar aprisionado em quarto de porta de ferro erguido sabe-se lá onde.

    A abertura, por si, é uma lição de cinema por qualquer fatia que lhe extraia. Trilha sonora errática, verticalidade e o confronto, em que o rosto do ator Choi Min-sik se contorce em expressões contraditórias, recortado pela luz do sol, num estranhamento de besta lançada em bioma diferente, por pouco alienígena. É necessário se adaptar. Expectador simplesmente é arrancado do trem em movimento, jogado nos eventos e tarde virá algum senso de localização.

    Park soube como construir uma linguagem lógica para o filme numa inteligência e firmeza que causam espécie. Ultraviolento, “Old Boy” não usa sangue figurativo ao narrar as desventuras de Oh Dae-Su, um típico homem de meia-idade, provincial homem da Modernidade Tardia: divorciado, sem carreira digna de nota, com uma pequena filha a viver com ex-esposa, cara de muitas mulheres e de nenhuma, amado pelo bom-humor, intolerável no alcoolismo. Não há uma nota sequer de violência gratuita, seja física ou psicológica, por mais desconforto que alguns momentos de “Old Boy” provoque justamente pela vil crueza. Na construção de Oh Dae-Su emprega-se uma psicologia que precede toda trama, o que faz o personagem se tornar tão sólido e cativante. Oh Dae-Su não serve à trama, pelo contrário, parece capturado por ela aleatoriamente, numa empatia profunda que torna quase impossível não perguntar: por não nós? Por que não eu? Dae-Su é uma personagem absolutamente plausível e funcional mesmo antes que se saiba a exatidão de seu drama. Diferente do troglodita insosso que protagoniza o mangá que inspirou o filme, o ator Choi Min-sik impõe a alma atormentada a um homem comum.

    Na sequência da cena de abertura a congelar vísceras, encontra-se Dae-Su na sala de espera de uma delegacia, algemado à parede. Sem trilha sonora e com cortes temporais curtos e bruscos, a vivificação do constrangimento em vez de desviar olhar provoca uma curiosidade obscena. É aos berros, pontapés e palavras mastigadas que Dae-Su exige sua soltura. Por óbvio, Dae-Su não parece um homem muito disposto a ser trancafiado. Esta brevíssima e incômoda experiência na delegacia, provocada por seu alcoolismo, passará como nada pois quinze anos de prisão em tese sem justificativa estão à frente do personagem. A naturalidade do absurdo é a virtude maior de Park Chan-Wook e o ator Choi Min-sik personifica esta essência por possessão.

    Sóbria, a trilha sonora de “Old Boy” é toda um primor, realizada por Jo Yeong-Wook, que também dará musicalidade a “Lady Vingança” (2005). Mas em “Old Boy” Jo Yeong-Wook se faz definitivo. Prevalece uma doce melancolia na cantilena repetitiva a lembrar o clima hipnótico dos eventos. Economia, esta é a palavra. Poucas palavras permitem curtos diálogos e no silêncio se chega ao clímax porque o pasmo roubou da audiência a voz.

    Videogame alucinante – e aqui a palavra é empregada de modo elogioso –, “Old Boy” é tão provocador em sua linguagem que Park Chan-Wook oferece o deleite de uma sequência em plataforma, como um fliperama de luta em duas dimensões. Muito populares eram os jogos eletrônicos de início dos anos 1990 em que personagem caminhava em linha reta a esmurrar um sem número de antagonistas. Wook se inspira nesta temática e se faz perfeito. A tomada é também claustrofóbica a ponto de roubar o ar à força da multidão confinada no estreito corredor.

    Erigido num longo mistério, “Old Boy” se revela uma, duas, três, quatro, infinitas vezes até sua conclusão, não sendo nunca resolvido. E impossível que o seja. O cientista russo Ivan Pavlov desvendou os mecanismos do condicionamento ao tratar cães com variados estímulos ao serem alimentados, em especial o som da sineta. Não é por acaso que uma das frases mais tocantes de “Old Boy” seja: “Embora eu não passe de um animal, eu não tenho o direito de viver?” e também que Oh Dae-Sue se veja como cão em avançado momento da história, ele vai mesmo se auto-intitular: Monstro. Parece que nada mais de humano pode sobrar depois de Dae-Sue viver o viveu. A prisão exterior pouco a pouco vai parecendo grande e intimidadora demais. E qualquer caixa de música pode fazer homem lembrar que não passa de um bicho.

    Akira Riber Junoro in "Percepções de Cinema". Akira é mestre em Teoria Literária e mestre em História e Ficção.
    OLD BOY (2003)

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

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    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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