O filme explora os bastidores afetivos do tradicional filme de terror pós-apocaliptico ou de zumbi. O terror aqui não está no medo da criatura em si, mas na dinâmica familiar dentro desse contexto e a alteração causada
Muita gente disse que vai "de nada para lugar algum", mas a proposta é realmente ser um recorte temporal, trabalho aspectos micro e dramas que não estamos acostumados a ver com este enfoque.
Não sei bem se classificaria enquanto terror, mas é um bom filme. Só que é assistido por um público-alvo, o do terror, que não está acostumado com a progressão demorada.
Eu saí do filme ontem muito angustiada. As cenas finais me levaram às lágrimas e antes mesmo de ler sobre as metáforas bíblicas desenvolvidas no filme, eu entendi que "Mãe" era sobretudo, a respeito de feminilidade.
De início, me questionei se a Mãe era insana e o filme correria neste sentido, como um bom terror psicológico. Depois houve a cena da explosão de fúria d'Ele e eu compreendi: ele estava a enlouquecendo. Era ele o veneno que ela precisava combater com remédios, sem perceber.
A Mãe é quem a maioria das mulheres já se dispôs a ser um dia. Ela encontra um homem genial e ligeiramente perturbado, que relata ter passado por situações difíceis e se apaixona perdidamente. Essa paixão a faz crer que ela pode cuidar dele, melhorá-lo. Dessa forma ela auxilia a reconstruir sua vida, suas paredes. Tentar apagar os danos deixados por outra explosão. Outra explosão, uma (ex)plosão. Acreditamos ser o feminino que causou.
"Você o ama mesmo não é? Pobrezinha." disse a Mulher a Mãe, quando ela relatou que havia reconstruído a casa para ele. O trabalho de limpar os traços danosos de um relacionamento anterior, tarefa ingrata mas que é feita porque se confia neste homem. Porque Ele é perturbado, mas é bom, afinal de contas.
A Mãe demora muito para perder a confiança n'Ele. As coisas perdem o controle, ela não entende o que está acontecendo, mas as coisas se acalmam quando Ele chega. Mesmo que dure pouco o intervalo entre o caos e a paz que se instaura por vê-lo. É só quando outra vida é envolvida que a Mãe compreende que apesar de amá-lo, ele não pode ser confiado.
A personagem sempre sentiu algo estranho, mas deu tudo de si. E somos ensinadas a isso, a dar tudo de nós. E não sermos o suficiente. Ela é drenada sem perceber. Todo seu afeto, todo seu amor, cujo coração do poeta não conseguiria ter por si só pois não foi ensinado a se sacrificar, é canalizado para a arte dele. Não só isso, sua própria vida é absorvida enquanto assistimos o homem se revitalizar. É uma conta patológica que fecha muito bem: a razão do homem que utiliza-se da emoção da mulher. O sacrifício da mulher e a isenção do homem. Se cada um precisa dar 1, a mulher dá 2 e o homem zero. O casal, dessa forma, se junta para dar um novo fruto, o qual é o homem que terá créditos.
Nasce um bebê, um poema, um novo personagem para o Poeta. Ela perda a sua vida parindo tudo isso. Ela consegue o que sempre quis: o salva. Dá vida a um novo homem, mas esquece de salvar a si mesma. Ela não é lembrada. Sua história fica perdida na fumaça. Ele... ele é o gênio incompreendido com passado obscuro que está pronto para ser salvo por outro futuro carvão de sua indústria criativa.
E para finalizar eu digo que há uma contradição clara na nossa cultura. Dizem que as mulheres são criadas como princesas que procuram príncipes para salvá-las, mas para mim, quem pega o cavalo branco e sai em busca de alguém para salvar, somos nós. Mas ninguém enxerga.
Filme excelente. Conduzido de forma caótica, pra que o telespectador vivencie a tonalidade afetiva do protagonista, e se angustie com a sujeira e o emaranhado de problemas que não se desenrolam. Pesado, pessimista e bonito. Destaque pra atuação de uma quase apatia de Javier e de Maricel Álvarez que conseguiu transmitir as mudanças e a dificuldade do transtorno afetivo bipolar.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Ao Cair da Noite
3.1 977 Assista AgoraO filme explora os bastidores afetivos do tradicional filme de terror pós-apocaliptico ou de zumbi. O terror aqui não está no medo da criatura em si, mas na dinâmica familiar dentro desse contexto e a alteração causada
após a vinda da outra família.
Muita gente disse que vai "de nada para lugar algum", mas a proposta é realmente ser um recorte temporal, trabalho aspectos micro e dramas que não estamos acostumados a ver com este enfoque.
Não sei bem se classificaria enquanto terror, mas é um bom filme. Só que é assistido por um público-alvo, o do terror, que não está acostumado com a progressão demorada.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraEu saí do filme ontem muito angustiada. As cenas finais me levaram às lágrimas e antes mesmo de ler sobre as metáforas bíblicas desenvolvidas no filme, eu entendi que "Mãe" era sobretudo, a respeito de feminilidade.
De início, me questionei se a Mãe era insana e o filme correria neste sentido, como um bom terror psicológico. Depois houve a cena da explosão de fúria d'Ele e eu compreendi: ele estava a enlouquecendo. Era ele o veneno que ela precisava combater com remédios, sem perceber.
A Mãe é quem a maioria das mulheres já se dispôs a ser um dia. Ela encontra um homem genial e ligeiramente perturbado, que relata ter passado por situações difíceis e se apaixona perdidamente. Essa paixão a faz crer que ela pode cuidar dele, melhorá-lo. Dessa forma ela auxilia a reconstruir sua vida, suas paredes. Tentar apagar os danos deixados por outra explosão. Outra explosão, uma (ex)plosão. Acreditamos ser o feminino que causou.
"Você o ama mesmo não é? Pobrezinha." disse a Mulher a Mãe, quando ela relatou que havia reconstruído a casa para ele. O trabalho de limpar os traços danosos de um relacionamento anterior, tarefa ingrata mas que é feita porque se confia neste homem. Porque Ele é perturbado, mas é bom, afinal de contas.
A Mãe demora muito para perder a confiança n'Ele. As coisas perdem o controle, ela não entende o que está acontecendo, mas as coisas se acalmam quando Ele chega. Mesmo que dure pouco o intervalo entre o caos e a paz que se instaura por vê-lo. É só quando outra vida é envolvida que a Mãe compreende que apesar de amá-lo, ele não pode ser confiado.
A personagem sempre sentiu algo estranho, mas deu tudo de si. E somos ensinadas a isso, a dar tudo de nós. E não sermos o suficiente. Ela é drenada sem perceber. Todo seu afeto, todo seu amor, cujo coração do poeta não conseguiria ter por si só pois não foi ensinado a se sacrificar, é canalizado para a arte dele. Não só isso, sua própria vida é absorvida enquanto assistimos o homem se revitalizar.
É uma conta patológica que fecha muito bem: a razão do homem que utiliza-se da emoção da mulher. O sacrifício da mulher e a isenção do homem. Se cada um precisa dar 1, a mulher dá 2 e o homem zero. O casal, dessa forma, se junta para dar um novo fruto, o qual é o homem que terá créditos.
Nasce um bebê, um poema, um novo personagem para o Poeta. Ela perda a sua vida parindo tudo isso. Ela consegue o que sempre quis: o salva. Dá vida a um novo homem, mas esquece de salvar a si mesma.
Ela não é lembrada. Sua história fica perdida na fumaça. Ele... ele é o gênio incompreendido com passado obscuro que está pronto para ser salvo por outro futuro carvão de sua indústria criativa.
E para finalizar eu digo que há uma contradição clara na nossa cultura. Dizem que as mulheres são criadas como princesas que procuram príncipes para salvá-las, mas para mim, quem pega o cavalo branco e sai em busca de alguém para salvar, somos nós. Mas ninguém enxerga.
Biutiful
4.0 1,1KFilme excelente. Conduzido de forma caótica, pra que o telespectador vivencie a tonalidade afetiva do protagonista, e se angustie com a sujeira e o emaranhado de problemas que não se desenrolam. Pesado, pessimista e bonito.
Destaque pra atuação de uma quase apatia de Javier e de Maricel Álvarez que conseguiu transmitir as mudanças e a dificuldade do transtorno afetivo bipolar.