Um ótimo discurso sobre o fosso entre ricos e pobres no Brasil. Porém é só isso — serviu-me apenas como um filme-discurso. O filme até tentou criar empatia em mim com cenas do que acomete a classe média brasileira, e eu nunca vi um filme capturar tão bem alguns dos tipos de pessoas com os quais eu tive o desprazer de dividir uma sala, mas a família central é toda composta de personagens horríveis. O herói do filme é um adolescente unicamente motivado pelo "power of boners!" Esse filme-discurso serve claramente apenas a um propósito: mostrar um tipo de mentalidade tacanha que floresce no Brasil.
Tenso e esperto, até chega a envolver umas idéias de Wittgenstein.
Minha única reclamação é como a narrativa é desenvolvida pelo mecanismo narrativo que gosto de chamar de "o protagonista ignorante" (isso é, o enredo acontece por que o protagonista não entende o que está acontecendo). Caleb nunca ouviu falar de Portal ou em espiãs e honeypots e eu me irrito com protagonistas futuristas que sabem menos que nós hoje. Mesmo assim, vai recomendadíssimo.
Um pacote esperto envolvendo vagamente idéias de Wittgenstein mas que infelizmente é entregue pelo mecanismo narrativo do protagonista ignorante — a enredo acontece por que Caleb é estupido demais, nunca jogou Portal ou nunca ouvi falar em espiãs e honeypots. Recomendado =)
Thriller como Warner Bros não faz mais, por que hoje Hollywood dilui tudo no coquetel de ação sem propósito narrativo, ação gratuita — você sabe, o espetáculo de pirotecnias no próximo filme etiquetado como 'aventura' que você vai ver um dia por que eles estão pra todo lado.
Doc Sportello é um hippie saudosista cheio de saudade. Ele respira fundo toda vez antes de acessar a memória. Ali está algo querido mas que, por ser memória, é inacessível. Em pleno 1970 ele ainda acredita em maio de 68. Seu coração está no seu passado.
Ele achou casa em uma vida que procura a diferença mesmo na alucinação, uma vida de procrastinação produtiva, pacifismo e aceitação generalizada; mesmo da dor de perder, pois "freedom is just another word for nothing else to loose". Doc é um hippie por que ele partilha daquela visão de mundo de estar deitado na grama olhando para a curvatura da via láctea de um ângulo não muito longe da linha do Ecuador.
Mas, infelizmente, o sonho hippie perdeu o palco e foi esquecido quando mudaram a atmosfera pra luzes fluorescentes, cocaína, calças apertadas e tecladinhos toscos. Assim o sonho dos 60 morreu, assim 'hippie' se tornou sinônimo de gente inútil, avoados preguiçosos que feito mula teimam em ajudar a fazer a economia girar com eficiência "provavelmente por que estão chapados". Assim o mundo foi tomado por quem ama banqueiros ao invés de abraçadores de árvore.
A tristeza de Doc (e a minha) vem da certeza de que deixamos pra trás o mundo pior do que quando o achamos.
Uma bela demonstração da condição e das motivações humanas, do que nos dá forma (o amor por…) e do que somos capazes (em nome do que amamos). E uma mensagem política mais poderosa que muitos filmes redutivos de como quem recorre à violência e age em ignorância estraga o mundo.
Mickey (Hoffman) solta uns "what the fuck" como um velho e cansado conhecedor das trincheiras do dia a dia falaria precisamente no momento de surpresa. Ou melhor, um velho ladrão.
No meio eu vi potencial. Não se preocupe, eu já sabia que merda que era, mas eu quase fui encantado por uns artifícios narrativos de Gladiador que também naquela época me pegaram de bobo.
Pra mim ali, no meio, talvez eles fossem conseguir contar essa história nos melhores tons épicos, como nós contamos histórias de mitos gregos — transformar Moisés num bom e várias vezes recontado mito grego. Isso me pôs a pensar como o público estadunidense consumidor alvo desse produto deve ter duas características: (1) amar a bíblia e (2) soltar a imaginação na hora de contar seus mitos de criação. Eu respeito a segunda caraterística — tem uma história pra contar? então mesmo que seja enfadonha como a chatice da bíblia, vamos brincar com esse material e tentar contá-la bem. Mas não foi isso o que aconteceu…
Mas Ridley Scott conseguiu fazer apenas um filme crente na teoria mais óbvia redutiva e míope já mencionada numa faculdade de história: um filme crente na História dos Grandes Homens.
Desse filme eu ouvi que todo discurso normativo atribuído a Deus é uma coleção de decisões tomadas por homens velhos, inteligentes e malucos com poder de influência. Os grandes sapientes homens, líderes naturais, bons homens (no sentido cristão e no antigo sentido romano, de bonus), visionários, altruístas, garridos,
Pois a mensagem foi ouvida, Scott. Ai termina falar de filme e começa discutir como a História dos Grandes Homens é uma teoria ruim, pois explica pouco por que perde nacos enormes da complexidade da condição humana olhando apenas para uma pequena mostra de personagens, os que cabem no conjunto de grandes homens.
Assim que alguém lhe dizer "é sobre uma mulher que tem Alzheimer", você esgotou a estrutura narrativa desse filme. Não é um filme sobre desvanecer, não tem estrutura pra ser um discurso "sobre". Conteúdo e narração são o retrato do desvanecimento. Fosse uma obra arquitetônica, isso seria uma peça única desbotando à medida em que se aproxima do horizonte.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraUm ótimo discurso sobre o fosso entre ricos e pobres no Brasil. Porém é só isso — serviu-me apenas como um filme-discurso. O filme até tentou criar empatia em mim com cenas do que acomete a classe média brasileira, e eu nunca vi um filme capturar tão bem alguns dos tipos de pessoas com os quais eu tive o desprazer de dividir uma sala, mas a família central é toda composta de personagens horríveis. O herói do filme é um adolescente unicamente motivado pelo "power of boners!" Esse filme-discurso serve claramente apenas a um propósito: mostrar um tipo de mentalidade tacanha que floresce no Brasil.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraTenso e esperto, até chega a envolver umas idéias de Wittgenstein.
Minha única reclamação é como a narrativa é desenvolvida pelo mecanismo narrativo que gosto de chamar de "o protagonista ignorante" (isso é, o enredo acontece por que o protagonista não entende o que está acontecendo). Caleb nunca ouviu falar de Portal ou em espiãs e honeypots e eu me irrito com protagonistas futuristas que sabem menos que nós hoje. Mesmo assim, vai recomendadíssimo.
Sete Psicopatas e um Shih Tzu
3.4 600Um experimento meta-narrativo sobre violência que aprendeu umas lições com o Adaptation de Spike Jonze.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraUm pacote esperto envolvendo vagamente idéias de Wittgenstein mas que infelizmente é entregue pelo mecanismo narrativo do protagonista ignorante — a enredo acontece por que Caleb é estupido demais, nunca jogou Portal ou nunca ouvi falar em espiãs e honeypots. Recomendado =)
Amargo Pesadelo
3.9 197 Assista AgoraThriller como Warner Bros não faz mais, por que hoje Hollywood dilui tudo no coquetel de ação sem propósito narrativo, ação gratuita — você sabe, o espetáculo de pirotecnias no próximo filme etiquetado como 'aventura' que você vai ver um dia por que eles estão pra todo lado.
Apagar Histórico
2.8 57 Assista AgoraE aqui está Larry David nos ensinando que você pode até ser um cara bacana de perto, ter boas intenções, mas você ainda pode ser um babaca, o asshole.
Vício Inerente
3.5 554 Assista AgoraDoc Sportello é um hippie saudosista cheio de saudade. Ele respira fundo toda vez antes de acessar a memória. Ali está algo querido mas que, por ser memória, é inacessível. Em pleno 1970 ele ainda acredita em maio de 68. Seu coração está no seu passado.
Ele achou casa em uma vida que procura a diferença mesmo na alucinação, uma vida de procrastinação produtiva, pacifismo e aceitação generalizada; mesmo da dor de perder, pois "freedom is just another word for nothing else to loose". Doc é um hippie por que ele partilha daquela visão de mundo de estar deitado na grama olhando para a curvatura da via láctea de um ângulo não muito longe da linha do Ecuador.
Mas, infelizmente, o sonho hippie perdeu o palco e foi esquecido quando mudaram a atmosfera pra luzes fluorescentes, cocaína, calças apertadas e tecladinhos toscos. Assim o sonho dos 60 morreu, assim 'hippie' se tornou sinônimo de gente inútil, avoados preguiçosos que feito mula teimam em ajudar a fazer a economia girar com eficiência "provavelmente por que estão chapados". Assim o mundo foi tomado por quem ama banqueiros ao invés de abraçadores de árvore.
A tristeza de Doc (e a minha) vem da certeza de que deixamos pra trás o mundo pior do que quando o achamos.
Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1
4.2 356 Assista AgoraEsse aqui é o filme definitivo sobre o Batman. Pode pular todos os outros. Nolan? meh…
E Agora, Aonde Vamos?
4.2 144Uma bela demonstração da condição e das motivações humanas, do que nos dá forma (o amor por…) e do que somos capazes (em nome do que amamos). E uma mensagem política mais poderosa que muitos filmes redutivos de como quem recorre à violência e age em ignorância estraga o mundo.
O Mistério de God’s Pocket
3.1 44 Assista AgoraMickey (Hoffman) solta uns "what the fuck" como um velho e cansado conhecedor das trincheiras do dia a dia falaria precisamente no momento de surpresa. Ou melhor, um velho ladrão.
Êxodo: Deuses e Reis
3.1 1,2K Assista Agora"Por que diabos eu tô vendo isso?"
No meio eu vi potencial. Não se preocupe, eu já sabia que merda que era, mas eu quase fui encantado por uns artifícios narrativos de Gladiador que também naquela época me pegaram de bobo.
Pra mim ali, no meio, talvez eles fossem conseguir contar essa história nos melhores tons épicos, como nós contamos histórias de mitos gregos — transformar Moisés num bom e várias vezes recontado mito grego. Isso me pôs a pensar como o público estadunidense consumidor alvo desse produto deve ter duas características:
(1) amar a bíblia e
(2) soltar a imaginação na hora de contar seus mitos de criação.
Eu respeito a segunda caraterística — tem uma história pra contar? então mesmo que seja enfadonha como a chatice da bíblia, vamos brincar com esse material e tentar contá-la bem. Mas não foi isso o que aconteceu…
Mas Ridley Scott conseguiu fazer apenas um filme crente na teoria mais óbvia redutiva e míope já mencionada numa faculdade de história: um filme crente na História dos Grandes Homens.
Desse filme eu ouvi que todo discurso normativo atribuído a Deus é uma coleção de decisões tomadas por homens velhos, inteligentes e malucos com poder de influência. Os grandes sapientes homens, líderes naturais, bons homens (no sentido cristão e no antigo sentido romano, de bonus), visionários, altruístas, garridos,
Pois a mensagem foi ouvida, Scott. Ai termina falar de filme e começa discutir como a História dos Grandes Homens é uma teoria ruim, pois explica pouco por que perde nacos enormes da complexidade da condição humana olhando apenas para uma pequena mostra de personagens, os que cabem no conjunto de grandes homens.
Para Sempre Alice
4.1 2,3K Assista AgoraAssim que alguém lhe dizer "é sobre uma mulher que tem Alzheimer", você esgotou a estrutura narrativa desse filme. Não é um filme sobre desvanecer, não tem estrutura pra ser um discurso "sobre". Conteúdo e narração são o retrato do desvanecimento. Fosse uma obra arquitetônica, isso seria uma peça única desbotando à medida em que se aproxima do horizonte.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraFez-me perceber por que eu não sou bom em qualquer atividade, e também por que no fim das contas eu decido não ser.