Gostei tão somente do fato de terem trazido a temática do abuso masculino para uma produção mais popular, levando luz para o assunto. Quem tiver curiosidade e estômago, há uma série de vídeos de homens que contam em depoimento como suas vidas foram arruinadas na prisão depois de terem sofrido violência sexual. Toda a questão da irracionalidade do protagonista durante o período traumático é interessante do ponto de vista psicológico e quem já leu Memórias do Subsolo vai identificar vários aspectos do homem do subsolo no comportamento do Donny. Todos.
A série, infelizmente, é muito irregular, não tem lógica interna, mas o pior é o fato de ser condescendente com o público, como se fôssemos todos abestalhados. Para que a narração explicando tudo o que se passa na cabeça do protagonista? Tudo desmorona após o monólogo no palco, cena mais desconfortável de assistir do que as cenas de abuso – não por ser "cringe” (é “cringe” também), mas por ser desnecessária e indulgente com o público (a gente já sabe o que passa na cabeça dele). Não foi nenhum arroubo catártico, eu só queria que a cena acabasse. Netflix tem dessas.
Também achei frustrante o despertar sexual confuso dele depois do abuso e a cena final redondinha demais, claramente manufaturada, em que ele repete todo o ciclo.
Como levar a sério tudo que a gente acabou de ver depois desse desfecho?
Testemunhando um milagre: um acerto da Netflix. Ripley é uma minissérie para saborear cada frame. As cenas noturnas com as ruelas úmidas me lembraram muito os melhores filmes noir. A tensão nos episódios em que o Ripley se livra dos corpos é uma aula de cinema. Ele caminhando pela Via Appia Antica e pelo Acquedotto Claudio à noite e os cortes das pinturas de Caravaggio em preto e branco realçando o chiaroscuro: tudo muito fino, belo, glorioso. Não li os livros que originaram a série, mas achei o ritmo desapressado e a frieza glacial dos personagens bastante agradável. Cada uma das 3 adaptações eu gostei à sua maneira.
Eu vivo reclamando que as produções britânicas estão obcecadas com Black Mirror e ficam tentando emular sua modernidade o tempo inteiro, com resultados cada vez mais capengas. Aí vem a Netflix e comprova isso da pior maneira possível com esse terceiro episódio absolutamente horroroso, que ofusca fatalmente os dois primeiros, o que é inadmissível e revoltante. Eu estava prestes a recomendar a série para amigos: atmosfera gótica convincente, um Drácula charmoso e irônico que não deveu muito ao Gary Oldman, diálogos deliciosamente sarcásticos e blasfêmicos, violência gráfica corajosa e gore na medida. Aí vem os diretores e simplesmente sepultam a série. Bram Stoker deve estar se revirando com essa tentativa desastrosa de dar uma roupagem nova a estória, como se isso não já tivesse sido feito antes. Até a brilhante sacada de trazer Dr. Van Helsing em uma personagem feminina tão original foi ofuscada com o Drácula usando... Tinder e dizendo "See you, later". Personagens sem aprofundamento algum enfiados na trama, falando em slut-shaming e direitos sociais... Já não basta o feminismo radical de Sabrina? Quem porra escreveu esse episódio tão lamentável? Primeira grande decepção do ano.
O futuro era mais atraente quando tínhamos carros voadores e androides; dele agora só restaram as distopias/teocracias machistas ou de extrema-direita. Toda série badalada atual tenta ser uma versão melhorada de Black Mirror, e Years and Years parecia até um esforço bem-sucedido, mas seu potencial foi se esvaindo justamente por emulá-la tanto, pelo seu ativismo exageradamente heroico e pela sanha dos roteiristas em – surprise! – lacrar, ancorando-se em nossos medos cotidianos e em uma suposta noção de culpa. Eu bato sempre nessa tecla, mas se o faço é porque essa onda se infestou feito câncer. É inescapável.
A minissérie seguiu razoável até o brilhante quarto episódio (humanamente impossível sair incólume), mas depois é ladeira abaixo para, por fim, despencar num otimismo inesperado. Aquele monólogo ultrapolitizado anti-establishment da matriarca, que todos têm elogiado, foi uma das coisas mais artificiais que eu já vi. O tom culpabilístico como epifania coletiva não colou. Dizer que o capitalismo nos tornou apáticos, cegos e confortáveis foi um discurso fácil, não houve sequer um contraponto. “O problema do Brasil é o brasileiro”. Tem algo mais senso comum para se dizer num jantar em família como reposta às nossas angústias coletivas?
Aliás, sinto que o engajamento da série tenha se dado pela sua facilidade em dialogar com várias realidades diferentes, apropriando-se de uma miríade de temas atuais (polarização, populismo, PC culture, desemprego, perseguição a minorias, crise migratória, pós-verdade, colapso climático, crise habitacional, tecnologia versus ética), e ela até se sai bem em alguns deles, mas, de forma excepcional, em nenhum porque é impossível ser profundo falando sobre tanta coisa ao mesmo tempo. Resultado: um ritmo frenético para tentar mascarar sua superficialidade e síndrome de Superman, com um caleidoscópio de soluções fáceis para situações complexas, além de muitos furos e quebras de expectativa (qual foi o aftermath da bomba?).
Outro incômodo que derivou desse apego: “Vivienne Rook é Bolsonaro de saia”. Ambos são líderes populistas e, de certa forma, ascenderam beneficiando-se do saco cheio das pessoas com a velha política e com os excessos/equívocos da esquerda e dos movimentos identitários, mas não deixa de ser uma comparação pobre: nosso Chefe do Executivo não tem um décimo da inteligência da Rook e nem, tampouco, é tão insidioso quanto ela – afinal ele, para melhor ou para pior, sempre foi coerente e continua sendo o que sempre foi desde a campanha presidencial, um bobão, que acha cool ficar no Twitter sendo politicamente incorreto enquanto terceiriza a gestão da nação para os especialistas. A “Viv”, ao contrário, tem o mérito de ser inteligente e calculista, mesmo que utilize tais atributos para naturalizar o genocídio.
A brilhante evolução de Kiernan Shipka em Mad Men foi um dos elementos mais notáveis daquela série e a razão pela qual eu decidi dar uma chance para essa releitura moderna de Sabrina. Ocultismo, bruxas, bodes, rituais pagãos em florestas à meia-noite? O que poderia dar errado? Bom, não sei nem por onde começar. 1: Misandria descarada e explícita. 2. Deus ex machina para a solução de todo e qualquer conflito. 3. Adolescentes artificialmente “despertos”. 4. Protagonista egoísta que, da noite para o dia, decide que tem a responsabilidade de acabar com todas as injustiças sociais naturalizadas pela sociedade e pelo Coven para provar que não é só mais uma mulher branca. 5. Personagens secundários sem desenvolvimento algum que servem apenas para reforçar as supostas virtudes da bruxa adolescente contestadora.
Aí você pergunta: você não acha que está levando a sério demais uma série teen de bruxaria não, meu nobre? Você não é tão anti-frágil e tão anti-vitimismo? Pra que todo esse chilique e “male tears” aí? O que está fazendo vendo uma série adolescente sobre bruxas, afinal? Não deveria estar cortando madeira, fazendo cerveja artesanal e deixando a barba crescer? You have a point, miss!
Um pouco de feminismo não faz mal a ninguém, afinal, o que esperar da Netflix? Mas a Greendale da série vai muito além: é a representação ideal de um mundo onde as mulheres não lutam por equidade, mas pela castração e domesticação revanchista e ressentida dos homens, uma tendência cada dia mais comum na tevê. E isso não fica nas entrelinhas, são diálogos e situações rotineiras. Vejamos: à exceção do irmão do Harvey e do Ambrose, todos os homens são patéticos, vis, abusadores, sexistas, bullies, frouxos ou soyboys. Até o próprio Capiroto, que é a representação não do Mal, mas de algo muito, mas muito pior: o horrível, o malévolo, o temível, o irrefreável e onipresente Patriarcado.
“Você é incapaz de machucar até uma mosca. É por isso que eu te amo”, diz a bruxa feminista para o seu namorado suco de chuchu.
“Homens... acham que podem resolver tudo usando a força”, diz a vilã malvada que, por sinal, é devoradora de homens (melhor personagem, pois caricata).
Porra, a própria história das bruxas já serve como profundo material de reflexão sobre a importância da libertação das mulheres, afinal o que foi a caça às bruxas se não uma demonização do feminino e uma perversão do processo legal, uma das passagens mais sombrias da história da Humanidade? Precisa ter adolescente fundando associação interseccional (risos) no colégio para acabar com o patriarcado branco? Será que passou pela cabeça dos roteiristas que adolescentes secundaristas vomitando jargões do feminismo 3.0 como se estes fossem universitários que acabaram de descobrir teoria crítica e se masturbam lendo Foucault e Butler em casa soaria minimamente natural? Um desperdício, porque a ambientação e a trilha sonora são sensacionais e alguns personagens são deliciosamente carismáticos, como Hilda.
Essa tendência autocongratulatória e autoimportante sem espaço para nuance, mas para lacre e crítica social foda, onde os criadores estão mais preocupados em mostrar como são politicamente conscientes do que em criar material de qualidade, é o maior câncer nas produções audiovisuais atuais. Mas eu devo ser só mais um homem querendo naturalizar o machismo. Off with his head!
‘When you are a man with a child, you want to be a man who loves children. The baby comes out and you act proud and excited. And you pass it around and hand out cigars, but you don’t feel anything. Especially if you had a difficult childhood. You want to love them, but you don’t. The fact that you’re faking this feeling makes you wonder if your own father had the same problem. Then one day they get older, and they do something, and you feel that feeling that you were pretending to have. And it feels like your heart is going to explode.’
“I lost everyone. I lost everything, you fucking fraud, you fucking liar. You’re not in pain because if you were in pain, you would know there is no moving on. There is no happiness. What’s next? What’s fucking next?” Nothing is next! Nothing!”
Sempre fui fascinado pelo tema e estou bastante entusiasmado que a HBO resolveu produzir uma minissérie sobre Chernobyl dando atenção aos detalhes políticos e técnicos que envolveram a catástrofe, além de contar com um distinto time de atores. Muito bacana eles terem trazido como pano de fundo a Guerra Fria e recriarem de forma tão vivaz o desenrolar do evento, como a evacuação das pessoas às pressas, que tiveram apenas 40 minutos para zarpar de Pripyat (dias após a explosão). A cena em que um dos funcionários da usina é obrigado a subir ao telhado para confirmar o óbvio em uma missão suicida e a cena em que 3 deles são enviados para abrir as válvulas dos tanques são nada menos que brilhantes. Esta última cena, inclusive, consegue ser melhor que a quase totalidade dos filmes de horror da década atual. Há tempos uma cena não me tirava tanto o fôlego.
Mas o que acho também embasbacante é o nível de indulgência e miopia ideológica de alguns dos defensores do regime socialista em todo e qualquer espaço que se reserve a debater algum tema contíguo de forma crítica, como se este fosse inquebrantável e absolutamente imune ao criticismo. Por isso não me surpreende ver gente edulcorando a irresponsabilidade dos soviéticos diante do desastre (aquela chamada inacreditável de menos de 1 minuto que o governo fez sobre o acidente não deixa ninguém mentir). Não é porque Hollywood vilanizou os comunas de forma maquiavélica à exaustão no cinema que devemos perder de vista o que aconteceu, factualmente. É impressionante como qualquer crítica contundente que se faça ao regime é confundindo com “paranoia comunista” e é frequentemente rebatida com deboches datados, histéricos e rasteiros e um “whataboutism” preguiçoso (ah, mas o capitalismo também mata!).
Afinal a série contextualiza bem vários problemas graves e indefensáveis: a conveniente e dogmática necessidade do estado em distorcer a realidade para não macular a imagem do partido (como consequência, uma terrível relutância em salvaguardar a integridade física dos cidadãos da URSS); e a escancarada negligência e incompetência quanto às medidas de segurança nuclear (claramente relacionada à corrida desenfreada para cumprir os planos quinquenais). O papel de Chernobyl na queda da URSS é indiscutível porque ressaltou todos estes problemas e, fatalmente, abalou a confiança da população no governo. Acaba sendo um material bastante rico e atual porque também reforça os perigos do anti-intelectualismo e da descrença na importância da ciência e das pesquisas. Recomendo demais.
"O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus." (Lord Acton)
Maravilhoso. Sabe o que acho melhor nessa conclusão espetacular de GoT? Os criadores da série não tiveram (e nem deveriam ter) nenhum compromisso com as expectativas dos "fãs", mas tão somente com a própria criação artística. Culhão, caralho! Completamente indiferentes à recepção negativa da fanbase mais insuportável e birrenta da história (que aprendeu a taxar de "bad writing" qualquer arco que fugisse às suas vãs expectativas), eles foram lá e escreveram o final que mais pareceu justo. E assim o foi: amargo, melancólico, sombrio, mas justo e dolorosamente coerente— sobretudo quanto à Dany, que se tornou uma vilã complexa (e não uma heroína falha) para quem, fatalmente, os fins justificavam os meios. Paralelos com a História há aos montes: Pol Pot, Mao... toda a trupe. Pena que não consigam curtir um produto de entretenimento tão genial e bem feito como Game of Thrones por causa de abobrinhas e baboseiras como "pontas soltas" e "falhas no roteiro" e "perguntas não respondidas". Foi tudo meio corrido? Talvez. Mas foi feito com muita competência, afinco e qualidade cinematográfica. Hands down.
Ah, e Brienne! Digna e altiva até o fim! Que mulher.
Agora não pode mais ter mulher louca nas telas porque a patrulha feminista tá de plantão esperando personagens femininas fortes, edificantes e exemplares, como se a própria Dany não fosse uma personagem rica e complexa justamente por ser moralmente ambígua (meio tirana, meio libertadora). É esse complexo paternalista e birrento das feministas 3.0 que a Camille Paglia tanto critica em seus ensaios. Não pode ter histeria, nem descontrole emocional, afinal, mulher é um ser perfeito, canônico. Precisam de uma boa dose de Gena Rowlands, Gloria Swanson, Elizabeth Taylor, Vivian Leigh e Isabelle Huppert pra apaziguar seus chiliques. Ah, mas foram todas dirigidas por homens! Tá explicado...
Documentário sensacional, mesmo com os excessos. A edição é porreta, realçando os melhores momentos das corridas de 2018 com muito material gravado nos bastidores, o que lhe dá uma dimensão do quão complexa é a Fórmula 1, com suas disputas políticas milionárias, o trabalho em equipe, a rivalidade entre os pilotos. É realmente uma montanha-russa de emoções, onde tudo pode mudar em questão de segundos. Escolha muito acertada em focalizar as equipes intermediárias (Haas, Renault, Red Bull), que é onde a emoção e a verdadeira ação realmente acontecem. Apenas senti falta do Bottas, acho que ele não apareceu em momento algum. Pra quem sempre gostou do esporte, mas nunca tinha se aprofundado, Drive to Survive funciona perfeitamente como um guia completo pro campeonato de 2019.
Essa compulsão das pessoas por respostas, explicações e conclusões ou por antecipar o desfecho das tramas é uma necessidade irritante, quase patológica e, em minha opinião, apenas prejudica a experiência. Em histórias como essa, gosto de me deixar levar e não bancar o espertinho o tempo inteiro (e me gabar disso nas redes sociais). Troco facilmente o alívio do "Sempre soube!" pelo arroubo do "Puta que pariu!", mesmo que os indícios sempre estejam em algum lugar, geralmente escondidos por trás de olhares dissimulados. Não consigo conceber uma cena final mais adequada e impactante para Sharp Objects: o horror expressado no rosto da Amy Adams, tal qual o meu, que fui pego de surpresa pelo desenrolar macabro da história, foi impagável. Sem contar a elegância da coisa toda: não foi necessária nenhuma gota de sangue e, ainda assim, foram os 10 segundos mais perturbadores e estarrecedores que vi em uma série de televisão nos últimos anos.
E o grande feito da série não foi revelar o quão tóxico, disfuncional e autodestrutivo um núcleo familiar consegue ser, mas sim sua habilidade de imergir na doença mental da protagonista ao ponto de se tornar excruciante em diversos momentos. A mente de uma pessoa abusada funciona mesmo daquela forma? Condenada a ruminar, inescapavelmente, todos os traumas à exaustão, costurando lembranças vívidas e terríveis da infância com a vida adulta numa montanha-russa de emoções que não para nunca? Que tormento sem fim deve ser isso. Palmas para a edição por dar tanto realismo ao inferno pessoal da Camille Preaker de forma tão poética e, sobretudo, aos roteiristas por se apoiarem tão somente na complexidade psicológica da trama, sem a necessidade de recorrer à glorificação do sofrimento ou de encontrar uma justificativa rasteira e fácil para todos os males, como o patriarcado tirano e malévolo de The Handmaid’s Tale. O inferno, afinal, está dentro de nós.
A grande ironia de Sharp Objects é que Camille, no final das contas, me pareceu a menos fodida entre as três mulheres – não por ter sobrevivido, mas por ter sido a única cuja humanidade não lhe foi roubada completamente. Difícil dizer se isso foi sua salvação ou a cruz que ela carregará para o resto da vida.
Apesar do suntuosismo e rigor artístico que, por si só, saciariam meu entusiasmo por dramas históricos, são os pequenos detalhes que diferenciam uma obra como The Crown das incontáveis já produzidas sobre a monarquia britânica. Não falo somente da humanização de personagens demonizados - afinal, tal abordagem já era esperada -, mas da atenção às sutilezas que requerem que as pessoas por trás possuam inegável talento. Duas cenas, em toda a temporada, consagram The Crown em seu prestígio: o diálogo ente Churchill e o pintor Graham Sutherland, onde cada um consegue extrair da obra um do outro uma dor terrível, tão íntima que parecia intransponível, impenetrável. Dois seres humanos desnudos, por trás da austeridade e seriedade que carregavam em seus semblantes. Que cena, meus amigos. John Lithgow é mesmo um gênio da atuação; a outra, também envolvendo o Primeiro-Ministro, é quando Elizabeth lê o trecho da Constituição com o grifo na palavra "trust", remetendo ao início do episódio, e o subsequente sermão, que revela seu amadurecimento enquanto monarca e sobrepuja todas as expectativas criadas para a cena, já que ela se mostra tremendamente íntegra e elegante em sua insubserviência.
Além disso, há algo pesado que paira sobre a narrativa desde o primeiro episódio, e que é refletido na densa paleta de cores da fotografia, que me fez pensar que a série estava sendo demasiado burocrática e dura em sua abordagem dos fatos, mas que aos poucos foi se revelando como a essência da coisa toda. Não há uma cena sequer de glamour em que o ar não pese, em que um dos personagens não demonstre estar sofrendo bastante, seja por frustração ou por infelicidade. Até o Palácio de Buckingham traz um ar confinatório, de enclausuramento, com pouca ou nenhuma luz entrando pelas janelas. É como se embora não houvesse escassez material, todos ali vivessem num permanente estado de pesar, de neblina interior. Achei esse aspecto mais sofisticado que todo o resto. Regojizo total.
Melhor que o pescoço do Mindinho sendo cortado, melhor que a chegada da Daenerys no Fosso dos Dragões, melhor que o protecionismo de Clegane e Brienne em relação a Arya, melhor que Jaime finalmente largando a Cersei, melhor que o tão esperado colapso da Muralha, melhor que Bran e Sam juntando as peças tudo, melhor que tudo isso só mesmo a bundinha redondinha do João das Neves.
“You are deranged. You’re fucking evil, you know that? You’re a goddamned motherfucking monster. Fucking heartless sadistic motherfucking evil cunt. Fuck you, Serena. You are gonna burn in goddamned motherfucking hell, you crazy evil bitch.”
"Olhem de novo para aquele ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, todos os que conhecemos de quem ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas.
Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “líderes supremos”, todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração deste ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes mal distinguíveis de algum outro canto em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, tudo é posto em dúvida por este ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos em futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Estabelecer-se, ainda não. Goste-se ou não, no momento a Terra é o nosso posto."
Bebê Rena
4.1 500 Assista AgoraGostei tão somente do fato de terem trazido a temática do abuso masculino para uma produção mais popular, levando luz para o assunto. Quem tiver curiosidade e estômago, há uma série de vídeos de homens que contam em depoimento como suas vidas foram arruinadas na prisão depois de terem sofrido violência sexual. Toda a questão da irracionalidade do protagonista durante o período traumático é interessante do ponto de vista psicológico e quem já leu Memórias do Subsolo vai identificar vários aspectos do homem do subsolo no comportamento do Donny. Todos.
A série, infelizmente, é muito irregular, não tem lógica interna, mas o pior é o fato de ser condescendente com o público, como se fôssemos todos abestalhados. Para que a narração explicando tudo o que se passa na cabeça do protagonista? Tudo desmorona após o monólogo no palco, cena mais desconfortável de assistir do que as cenas de abuso – não por ser "cringe” (é “cringe” também), mas por ser desnecessária e indulgente com o público (a gente já sabe o que passa na cabeça dele). Não foi nenhum arroubo catártico, eu só queria que a cena acabasse. Netflix tem dessas.
Também achei frustrante o despertar sexual confuso dele depois do abuso e a cena final redondinha demais, claramente manufaturada, em que ele repete todo o ciclo.
Como levar a sério tudo que a gente acabou de ver depois desse desfecho?
Ripley
4.2 81 Assista AgoraTestemunhando um milagre: um acerto da Netflix. Ripley é uma minissérie para saborear cada frame. As cenas noturnas com as ruelas úmidas me lembraram muito os melhores filmes noir. A tensão nos episódios em que o Ripley se livra dos corpos é uma aula de cinema. Ele caminhando pela Via Appia Antica e pelo Acquedotto Claudio à noite e os cortes das pinturas de Caravaggio em preto e branco realçando o chiaroscuro: tudo muito fino, belo, glorioso. Não li os livros que originaram a série, mas achei o ritmo desapressado e a frieza glacial dos personagens bastante agradável. Cada uma das 3 adaptações eu gostei à sua maneira.
Feud: Capote vs. The Swans (2ª Temporada)
3.6 8 Assista AgoraSensacional o episódio com o James Baldwin.
The Last of Us (1ª Temporada)
4.4 1,2K Assista AgoraEpisódio 03: vidas solteiras importam. Solteiro não tem paz.
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4.3 46 Assista AgoraI'm not a shoe-whore.
Drácula (1ª Temporada)
3.1 419Eu vivo reclamando que as produções britânicas estão obcecadas com Black Mirror e ficam tentando emular sua modernidade o tempo inteiro, com resultados cada vez mais capengas. Aí vem a Netflix e comprova isso da pior maneira possível com esse terceiro episódio absolutamente horroroso, que ofusca fatalmente os dois primeiros, o que é inadmissível e revoltante. Eu estava prestes a recomendar a série para amigos: atmosfera gótica convincente, um Drácula charmoso e irônico que não deveu muito ao Gary Oldman, diálogos deliciosamente sarcásticos e blasfêmicos, violência gráfica corajosa e gore na medida. Aí vem os diretores e simplesmente sepultam a série. Bram Stoker deve estar se revirando com essa tentativa desastrosa de dar uma roupagem nova a estória, como se isso não já tivesse sido feito antes. Até a brilhante sacada de trazer Dr. Van Helsing em uma personagem feminina tão original foi ofuscada com o Drácula usando... Tinder e dizendo "See you, later". Personagens sem aprofundamento algum enfiados na trama, falando em slut-shaming e direitos sociais... Já não basta o feminismo radical de Sabrina? Quem porra escreveu esse episódio tão lamentável? Primeira grande decepção do ano.
Years and Years
4.5 270O futuro era mais atraente quando tínhamos carros voadores e androides; dele agora só restaram as distopias/teocracias machistas ou de extrema-direita. Toda série badalada atual tenta ser uma versão melhorada de Black Mirror, e Years and Years parecia até um esforço bem-sucedido, mas seu potencial foi se esvaindo justamente por emulá-la tanto, pelo seu ativismo exageradamente heroico e pela sanha dos roteiristas em – surprise! – lacrar, ancorando-se em nossos medos cotidianos e em uma suposta noção de culpa. Eu bato sempre nessa tecla, mas se o faço é porque essa onda se infestou feito câncer. É inescapável.
A minissérie seguiu razoável até o brilhante quarto episódio (humanamente impossível sair incólume), mas depois é ladeira abaixo para, por fim, despencar num otimismo inesperado. Aquele monólogo ultrapolitizado anti-establishment da matriarca, que todos têm elogiado, foi uma das coisas mais artificiais que eu já vi. O tom culpabilístico como epifania coletiva não colou. Dizer que o capitalismo nos tornou apáticos, cegos e confortáveis foi um discurso fácil, não houve sequer um contraponto. “O problema do Brasil é o brasileiro”. Tem algo mais senso comum para se dizer num jantar em família como reposta às nossas angústias coletivas?
Aliás, sinto que o engajamento da série tenha se dado pela sua facilidade em dialogar com várias realidades diferentes, apropriando-se de uma miríade de temas atuais (polarização, populismo, PC culture, desemprego, perseguição a minorias, crise migratória, pós-verdade, colapso climático, crise habitacional, tecnologia versus ética), e ela até se sai bem em alguns deles, mas, de forma excepcional, em nenhum porque é impossível ser profundo falando sobre tanta coisa ao mesmo tempo. Resultado: um ritmo frenético para tentar mascarar sua superficialidade e síndrome de Superman, com um caleidoscópio de soluções fáceis para situações complexas, além de muitos furos e quebras de expectativa (qual foi o aftermath da bomba?).
Outro incômodo que derivou desse apego: “Vivienne Rook é Bolsonaro de saia”. Ambos são líderes populistas e, de certa forma, ascenderam beneficiando-se do saco cheio das pessoas com a velha política e com os excessos/equívocos da esquerda e dos movimentos identitários, mas não deixa de ser uma comparação pobre: nosso Chefe do Executivo não tem um décimo da inteligência da Rook e nem, tampouco, é tão insidioso quanto ela – afinal ele, para melhor ou para pior, sempre foi coerente e continua sendo o que sempre foi desde a campanha presidencial, um bobão, que acha cool ficar no Twitter sendo politicamente incorreto enquanto terceiriza a gestão da nação para os especialistas. A “Viv”, ao contrário, tem o mérito de ser inteligente e calculista, mesmo que utilize tais atributos para naturalizar o genocídio.
O Mundo Sombrio de Sabrina (Parte 1)
4.0 645A brilhante evolução de Kiernan Shipka em Mad Men foi um dos elementos mais notáveis daquela série e a razão pela qual eu decidi dar uma chance para essa releitura moderna de Sabrina. Ocultismo, bruxas, bodes, rituais pagãos em florestas à meia-noite? O que poderia dar errado? Bom, não sei nem por onde começar. 1: Misandria descarada e explícita. 2. Deus ex machina para a solução de todo e qualquer conflito. 3. Adolescentes artificialmente “despertos”. 4. Protagonista egoísta que, da noite para o dia, decide que tem a responsabilidade de acabar com todas as injustiças sociais naturalizadas pela sociedade e pelo Coven para provar que não é só mais uma mulher branca. 5. Personagens secundários sem desenvolvimento algum que servem apenas para reforçar as supostas virtudes da bruxa adolescente contestadora.
Aí você pergunta: você não acha que está levando a sério demais uma série teen de bruxaria não, meu nobre? Você não é tão anti-frágil e tão anti-vitimismo? Pra que todo esse chilique e “male tears” aí? O que está fazendo vendo uma série adolescente sobre bruxas, afinal? Não deveria estar cortando madeira, fazendo cerveja artesanal e deixando a barba crescer? You have a point, miss!
Um pouco de feminismo não faz mal a ninguém, afinal, o que esperar da Netflix? Mas a Greendale da série vai muito além: é a representação ideal de um mundo onde as mulheres não lutam por equidade, mas pela castração e domesticação revanchista e ressentida dos homens, uma tendência cada dia mais comum na tevê. E isso não fica nas entrelinhas, são diálogos e situações rotineiras. Vejamos: à exceção do irmão do Harvey e do Ambrose, todos os homens são patéticos, vis, abusadores, sexistas, bullies, frouxos ou soyboys. Até o próprio Capiroto, que é a representação não do Mal, mas de algo muito, mas muito pior: o horrível, o malévolo, o temível, o irrefreável e onipresente Patriarcado.
“Você é incapaz de machucar até uma mosca. É por isso que eu te amo”, diz a bruxa feminista para o seu namorado suco de chuchu.
“Homens... acham que podem resolver tudo usando a força”, diz a vilã malvada que, por sinal, é devoradora de homens (melhor personagem, pois caricata).
Porra, a própria história das bruxas já serve como profundo material de reflexão sobre a importância da libertação das mulheres, afinal o que foi a caça às bruxas se não uma demonização do feminino e uma perversão do processo legal, uma das passagens mais sombrias da história da Humanidade? Precisa ter adolescente fundando associação interseccional (risos) no colégio para acabar com o patriarcado branco? Será que passou pela cabeça dos roteiristas que adolescentes secundaristas vomitando jargões do feminismo 3.0 como se estes fossem universitários que acabaram de descobrir teoria crítica e se masturbam lendo Foucault e Butler em casa soaria minimamente natural? Um desperdício, porque a ambientação e a trilha sonora são sensacionais e alguns personagens são deliciosamente carismáticos, como Hilda.
Essa tendência autocongratulatória e autoimportante sem espaço para nuance, mas para lacre e crítica social foda, onde os criadores estão mais preocupados em mostrar como são politicamente conscientes do que em criar material de qualidade, é o maior câncer nas produções audiovisuais atuais. Mas eu devo ser só mais um homem querendo naturalizar o machismo. Off with his head!
Mad Men (6ª Temporada)
4.5 165 Assista Agora‘When you are a man with a child, you want to be a man who loves children. The baby comes out and you act proud and excited. And you pass it around and hand out cigars, but you don’t feel anything. Especially if you had a difficult childhood. You want to love them, but you don’t. The fact that you’re faking this feeling makes you wonder if your own father had the same problem. Then one day they get older, and they do something, and you feel that feeling that you were pretending to have. And it feels like your heart is going to explode.’
The Leftovers (1ª Temporada)
4.2 583 Assista Agora“I lost everyone. I lost everything, you fucking fraud, you fucking liar. You’re not in pain because if you were in pain, you would know there is no moving on. There is no happiness. What’s next? What’s fucking next?” Nothing is next! Nothing!”
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraSempre fui fascinado pelo tema e estou bastante entusiasmado que a HBO resolveu produzir uma minissérie sobre Chernobyl dando atenção aos detalhes políticos e técnicos que envolveram a catástrofe, além de contar com um distinto time de atores. Muito bacana eles terem trazido como pano de fundo a Guerra Fria e recriarem de forma tão vivaz o desenrolar do evento, como a evacuação das pessoas às pressas, que tiveram apenas 40 minutos para zarpar de Pripyat (dias após a explosão). A cena em que um dos funcionários da usina é obrigado a subir ao telhado para confirmar o óbvio em uma missão suicida e a cena em que 3 deles são enviados para abrir as válvulas dos tanques são nada menos que brilhantes. Esta última cena, inclusive, consegue ser melhor que a quase totalidade dos filmes de horror da década atual. Há tempos uma cena não me tirava tanto o fôlego.
Mas o que acho também embasbacante é o nível de indulgência e miopia ideológica de alguns dos defensores do regime socialista em todo e qualquer espaço que se reserve a debater algum tema contíguo de forma crítica, como se este fosse inquebrantável e absolutamente imune ao criticismo. Por isso não me surpreende ver gente edulcorando a irresponsabilidade dos soviéticos diante do desastre (aquela chamada inacreditável de menos de 1 minuto que o governo fez sobre o acidente não deixa ninguém mentir). Não é porque Hollywood vilanizou os comunas de forma maquiavélica à exaustão no cinema que devemos perder de vista o que aconteceu, factualmente. É impressionante como qualquer crítica contundente que se faça ao regime é confundindo com “paranoia comunista” e é frequentemente rebatida com deboches datados, histéricos e rasteiros e um “whataboutism” preguiçoso (ah, mas o capitalismo também mata!).
Afinal a série contextualiza bem vários problemas graves e indefensáveis: a conveniente e dogmática necessidade do estado em distorcer a realidade para não macular a imagem do partido (como consequência, uma terrível relutância em salvaguardar a integridade física dos cidadãos da URSS); e a escancarada negligência e incompetência quanto às medidas de segurança nuclear (claramente relacionada à corrida desenfreada para cumprir os planos quinquenais). O papel de Chernobyl na queda da URSS é indiscutível porque ressaltou todos estes problemas e, fatalmente, abalou a confiança da população no governo. Acaba sendo um material bastante rico e atual porque também reforça os perigos do anti-intelectualismo e da descrença na importância da ciência e das pesquisas. Recomendo demais.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista Agora"O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus." (Lord Acton)
Maravilhoso. Sabe o que acho melhor nessa conclusão espetacular de GoT? Os criadores da série não tiveram (e nem deveriam ter) nenhum compromisso com as expectativas dos "fãs", mas tão somente com a própria criação artística. Culhão, caralho! Completamente indiferentes à recepção negativa da fanbase mais insuportável e birrenta da história (que aprendeu a taxar de "bad writing" qualquer arco que fugisse às suas vãs expectativas), eles foram lá e escreveram o final que mais pareceu justo. E assim o foi: amargo, melancólico, sombrio, mas justo e dolorosamente coerente— sobretudo quanto à Dany, que se tornou uma vilã complexa (e não uma heroína falha) para quem, fatalmente, os fins justificavam os meios. Paralelos com a História há aos montes: Pol Pot, Mao... toda a trupe. Pena que não consigam curtir um produto de entretenimento tão genial e bem feito como Game of Thrones por causa de abobrinhas e baboseiras como "pontas soltas" e "falhas no roteiro" e "perguntas não respondidas". Foi tudo meio corrido? Talvez. Mas foi feito com muita competência, afinco e qualidade cinematográfica. Hands down.
Ah, e Brienne! Digna e altiva até o fim! Que mulher.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraAgora não pode mais ter mulher louca nas telas porque a patrulha feminista tá de plantão esperando personagens femininas fortes, edificantes e exemplares, como se a própria Dany não fosse uma personagem rica e complexa justamente por ser moralmente ambígua (meio tirana, meio libertadora). É esse complexo paternalista e birrento das feministas 3.0 que a Camille Paglia tanto critica em seus ensaios. Não pode ter histeria, nem descontrole emocional, afinal, mulher é um ser perfeito, canônico. Precisam de uma boa dose de Gena Rowlands, Gloria Swanson, Elizabeth Taylor, Vivian Leigh e Isabelle Huppert pra apaziguar seus chiliques. Ah, mas foram todas dirigidas por homens! Tá explicado...
F1: Dirigir para Viver (1ª Temporada)
4.4 60 Assista AgoraDocumentário sensacional, mesmo com os excessos. A edição é porreta, realçando os melhores momentos das corridas de 2018 com muito material gravado nos bastidores, o que lhe dá uma dimensão do quão complexa é a Fórmula 1, com suas disputas políticas milionárias, o trabalho em equipe, a rivalidade entre os pilotos. É realmente uma montanha-russa de emoções, onde tudo pode mudar em questão de segundos. Escolha muito acertada em focalizar as equipes intermediárias (Haas, Renault, Red Bull), que é onde a emoção e a verdadeira ação realmente acontecem. Apenas senti falta do Bottas, acho que ele não apareceu em momento algum. Pra quem sempre gostou do esporte, mas nunca tinha se aprofundado, Drive to Survive funciona perfeitamente como um guia completo pro campeonato de 2019.
Wild Wild Country
4.3 265 Assista AgoraTough titties.
Daniel Sloss: Live Shows
4.4 8 Assista AgoraIt’s time to deflower your sister. Her bushes are out of control.
Objetos Cortantes
4.3 833 Assista AgoraEssa compulsão das pessoas por respostas, explicações e conclusões ou por antecipar o desfecho das tramas é uma necessidade irritante, quase patológica e, em minha opinião, apenas prejudica a experiência. Em histórias como essa, gosto de me deixar levar e não bancar o espertinho o tempo inteiro (e me gabar disso nas redes sociais). Troco facilmente o alívio do "Sempre soube!" pelo arroubo do "Puta que pariu!", mesmo que os indícios sempre estejam em algum lugar, geralmente escondidos por trás de olhares dissimulados. Não consigo conceber uma cena final mais adequada e impactante para Sharp Objects: o horror expressado no rosto da Amy Adams, tal qual o meu, que fui pego de surpresa pelo desenrolar macabro da história, foi impagável. Sem contar a elegância da coisa toda: não foi necessária nenhuma gota de sangue e, ainda assim, foram os 10 segundos mais perturbadores e estarrecedores que vi em uma série de televisão nos últimos anos.
E o grande feito da série não foi revelar o quão tóxico, disfuncional e autodestrutivo um núcleo familiar consegue ser, mas sim sua habilidade de imergir na doença mental da protagonista ao ponto de se tornar excruciante em diversos momentos. A mente de uma pessoa abusada funciona mesmo daquela forma? Condenada a ruminar, inescapavelmente, todos os traumas à exaustão, costurando lembranças vívidas e terríveis da infância com a vida adulta numa montanha-russa de emoções que não para nunca? Que tormento sem fim deve ser isso. Palmas para a edição por dar tanto realismo ao inferno pessoal da Camille Preaker de forma tão poética e, sobretudo, aos roteiristas por se apoiarem tão somente na complexidade psicológica da trama, sem a necessidade de recorrer à glorificação do sofrimento ou de encontrar uma justificativa rasteira e fácil para todos os males, como o patriarcado tirano e malévolo de The Handmaid’s Tale. O inferno, afinal, está dentro de nós.
A grande ironia de Sharp Objects é que Camille, no final das contas, me pareceu a menos fodida entre as três mulheres – não por ter sobrevivido, mas por ter sido a única cuja humanidade não lhe foi roubada completamente. Difícil dizer se isso foi sua salvação ou a cruz que ela carregará para o resto da vida.
Objetos Cortantes
4.3 833 Assista AgoraTrash from old money.
The Crown (1ª Temporada)
4.5 389 Assista AgoraApesar do suntuosismo e rigor artístico que, por si só, saciariam meu entusiasmo por dramas históricos, são os pequenos detalhes que diferenciam uma obra como The Crown das incontáveis já produzidas sobre a monarquia britânica. Não falo somente da humanização de personagens demonizados - afinal, tal abordagem já era esperada -, mas da atenção às sutilezas que requerem que as pessoas por trás possuam inegável talento. Duas cenas, em toda a temporada, consagram The Crown em seu prestígio: o diálogo ente Churchill e o pintor Graham Sutherland, onde cada um consegue extrair da obra um do outro uma dor terrível, tão íntima que parecia intransponível, impenetrável. Dois seres humanos desnudos, por trás da austeridade e seriedade que carregavam em seus semblantes. Que cena, meus amigos. John Lithgow é mesmo um gênio da atuação; a outra, também envolvendo o Primeiro-Ministro, é quando Elizabeth lê o trecho da Constituição com o grifo na palavra "trust", remetendo ao início do episódio, e o subsequente sermão, que revela seu amadurecimento enquanto monarca e sobrepuja todas as expectativas criadas para a cena, já que ela se mostra tremendamente íntegra e elegante em sua insubserviência.
Além disso, há algo pesado que paira sobre a narrativa desde o primeiro episódio, e que é refletido na densa paleta de cores da fotografia, que me fez pensar que a série estava sendo demasiado burocrática e dura em sua abordagem dos fatos, mas que aos poucos foi se revelando como a essência da coisa toda. Não há uma cena sequer de glamour em que o ar não pese, em que um dos personagens não demonstre estar sofrendo bastante, seja por frustração ou por infelicidade. Até o Palácio de Buckingham traz um ar confinatório, de enclausuramento, com pouca ou nenhuma luz entrando pelas janelas. É como se embora não houvesse escassez material, todos ali vivessem num permanente estado de pesar, de neblina interior. Achei esse aspecto mais sofisticado que todo o resto. Regojizo total.
Game of Thrones (7ª Temporada)
4.1 1,2K Assista AgoraMelhor que o pescoço do Mindinho sendo cortado, melhor que a chegada da Daenerys no Fosso dos Dragões, melhor que o protecionismo de Clegane e Brienne em relação a Arya, melhor que Jaime finalmente largando a Cersei, melhor que o tão esperado colapso da Muralha, melhor que Bran e Sam juntando as peças tudo, melhor que tudo isso só mesmo a bundinha redondinha do João das Neves.
The Wire (2ª Temporada)
4.4 73"I got the shotgun. You got the briefcase. It's all in the game, though, right?" Omar é foda.
Taboo (1ª Temporada)
4.1 126 Assista AgoraTom Hardy: "I have a use for you"
Me: "MY BODY IS READY"
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista Agora“You are deranged. You’re fucking evil, you know that? You’re a goddamned motherfucking monster. Fucking heartless sadistic motherfucking evil cunt. Fuck you, Serena. You are gonna burn in goddamned motherfucking hell, you crazy evil bitch.”
Cosmos: Uma Odisséia No Espaço Tempo
4.8 344"Olhem de novo para aquele ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, todos os que conhecemos de quem ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas.
Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “líderes supremos”, todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração deste ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes mal distinguíveis de algum outro canto em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, tudo é posto em dúvida por este ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos em futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Estabelecer-se, ainda não. Goste-se ou não, no momento a Terra é o nosso posto."
Toda uma vida antes e depois de Cosmos.