"Eu só queria poder dar uma alegria ao meu povo, a minha gente que sofre inúmeras coisas. Infelizmente não conseguimos. Desculpa a todo mundo, desculpa a todos os americanos. Eu só queria ver meu povo sorrir."
- David "Oppenheimer" Luiz, o homem que só queria ver seu povo sorrir.
Estamos diante de uma das pérolas do cinema noir, cujo diretor é o grande pioneiro do gênero. Dito isto, talvez por carregar a mestra direção de John Huston, “The Asphalt Jungle” consegue ser inovador e dar vida nova a um gênero que já nos anos 50 demonstrava-se demasiadamente batido, especialmente se visto com olhos atuais.
O grande frescor dessa película é saber dosar o tom pessimista e moralista, dois elementos fundamentais do noir. O moralismo é implícito, já contido no aspecto pessimista da obra, então para que exacerba-lo? John Huston não trata o espectador como uma criança que precisa ser ensinada que o crime não compensa, é errado; portanto, há tempo em tela suficiente para dedicar-se ao planejamento, execução e consequências do roubo - outro pioneirismo de Huston no subgênero de roubo -, sem contar a sensacional dinâmica entre os personagens, cada qual com suas falhas, e uma vida pregressa muito bem pincelada mas nunca exageradamente explorada a fim de causar empatia barata no público. Desta forma, Huston consegue dar cores numa narrativa teoricamente preto e branco, marcador visual da dualidade humana, do bem e do mal. Os personagens de “The Asphalt Jungle” não possuem defeitos por serem maus, mas por serem reais.
Claro, não dá para escapar completamente do moralismo da época, de imediato é possível imaginar o destino dos criminosos, mas a sobriedade das atuações, a meticulosidade do roteiro e a sagacidade de John Huston trazem novos ares ao gênero noir. Certamente um dos mais vigorosos filmes de um gênero exaustivamente datado. Com certeza muito esforço foi feito para que uma história sem mocinhos e repleta de corrupção e atos questionáveis driblasse a censura do código Hays, famoso por definir o que era aceitável ou não ser representado no cinema americano.
A quem interessa omitir que Elwood P. Dowd (James Stewart), na verdade, era o Neo original? Antes de Thomas A. Anderson (Keanu Reeves), existiu Dowd, um sujeito que passou décadas inconformado com o sistema, portanto, uma séria ameaça à Matrix. Tal qual um organismo produz anticorpos a fim de assegurar sua harmonia interna, a Matrix conceberia um diabólico programa chamado Harvey. Sob as vestes de um coelho invisível de quase dois metros de altura, a função de Harvey é acabar com o ímpeto revolucionário de Dowd e qualquer outro ser que identifique falhas na Matrix (como a irmã de Dowd, Veta Louise Simmons, e o chefe do sanatório Dr. Chumley, também contaminados pelo coelho Harvey).
Antevendo a gravidade da situação, Morpheus e Trinity adentram o mundo da Matrix como o Dr. Sanderson e a secretária Miss Kelly, respectivamente. E, assim como o Neo de 1999, Sanderson e Miss Kelly são cativados pela honestidade, curiosidade e amabilidade de Dowd. Infelizmente, a disputa para abrir os olhos do protagonista é perdida. Dowd apega-se ao coelho, recusa a internação, a injeção (a pílula vermelha no filme de 1999), e prefere manter-se naquele mundo artificial, saciando seus prazeres carnais, realizando festas, jantares regados a martini, música e a vasta companhia de outros npcs. Dowd não era o escolhido. A batalha chegava ao fim, Dowd escolhe fechar os olhos e ter belos sonhos, ao invés de encarar a realidade, assim como Cypher fez um acordo com o agente Smith, traindo os rebeldes em troca do deleite artificial da Matrix.
Este erro seria corrigido anos depois quando Morpheus e Trinity encontraram Thomas A. Anderson antes dos agentes, utilizando-se do mesmo artifício da Matrix (o coelho - “follow the white rabbit"), e finalmente dando o remédio que o acordaria para o mundo real.
“Harvey” parece a singela história de um malandro que optou por ser cordial, simpático e atencioso num mundo de disfarces, mas não se enganem, Dowd escolheu a alienação, a carnalidade, os prazeres simplórios e os sentimentos mais pueris. Dowd preferiu manter-se cego, tolo, apático frente à brutal realidade do cotidiano, e impregnou tantas outras pessoas com sua perigosa visão.
Curiosamente, “Caged” marcou presença na edição dos Oscars de 1950, com três nomeações (duas delas por atuações - Eleanor Parker e Hope Emerson -, o ponto forte da obra), dividindo os holofotes com “Broken Arrow”, um dos primeiros western a retratar povos indígenas sob um olhar mais humanizado. Aqui, a humanização é a da condição feminina no sistema carcerário. O cinema americano no fim dos anos 40 e, especialmente, no início dos anos 50 mostrava-se promissor ao denunciar a ilusão do sonho americano, a corrupção das instituições e o fracasso das relações humanas.
Meia década depois, a HBO lançou a icônica série “The Wire”, um retrato cru do ciclo vicioso no mundo das drogas; “It’s all in the game”, como dissera Omar. Fácil entrar, difícil sair, e há sempre alguém prestes a te substituir, como acusado, como executor, ou como vítima. Em “Caged” também tudo faz parte do jogo, e o final é tão frio, duro, bruto e pessimista que nos faz pensar se é possível recuperar o indivíduo, se realmente somos capazes de impedir o afundamento do caráter humano? Mais de cinquenta anos passaram-se e essa pergunta continua sem resposta.
Toda maldita vez que lembro da atuação abobalhada, descompassada e sem um pingo de vida da Judy Holliday desbancando nomes como Bette Davis e Gloria Swanson, naqueles que são considerados os papéis de suas vidas, me bate um ódio profundo e silencioso. Este fato, certamente, será responsável por um eventual infarto daqui 35 anos.
A capacidade do cinema americano em fazer com que me sinta idiota por gastar duas horas do meu dia assistindo filme é assustadora. Realmente preciso tomar rumo na vida.
A ideia de um filme de guerra que explora o aspecto psicológico e comportamental dos soldados é bastante interessante, mas não necessariamente original, contudo, “Twelve O’Clock High” sobressai-se de seus contemporâneos, deixando de lado elementos propagandistas tão comuns à época, ou, no mínimo, deixando-os implícitos. Ao abdicar do melodrama barato e focar nos vícios e desvios do soldado americano, Henry King deixa claro que este indivíduo é tão humano quanto qualquer outro, portanto, suscetível à fadiga, à ociosidade e ao medo, e somente a estrita disciplina pode fazer do homem comum um verdadeiro soldado em meio a condições mortalmente críticas.
Infelizmente, essa diferente perspectiva, ainda que válida e deveras curiosa, não se sustenta sem cansar o espectador, muito porque um filme de guerra que evita o confronto efetivo, preferindo discorrer sobre o lado emocional do conflito sem cenas de combate, só pode se escorar nos personagens, especificamente na atuação de seus atores, e aí temos o maior problema dessa película. Com exceção do protagonista de Gregory Peck, cuja atuação é boa, nada mais, e possui clara presença de tela, todos os outros são completamente esquecíveis, não acompanham os passos de Peck, o que torna bastante difícil importar-se com tais figuras.
Talvez com melhores atores de apoio tivéssemos um filme mais contundente e com maior peso histórico nas discussões sobre o gênero de guerra.
“The Heiress” faz parte de uma distinta categoria de filmes: aqueles construídos cuidadosamente de maneira a evidenciar o talento de seus atores; portanto, é o tipo de obra cujo peso seria infinitamente menor caso as atuações fossem menos que perfeitas.
Em boa parte das premiações dos Oscars há algum filme que monopoliza a atenção do público, seja pela dedicação dos seus atores, a ousadia do diretor ou mesmo as partes técnicas (em geral, um mix disso tudo), e é seguro dizer que na edição de 1950 nenhuma obra foi tão espetacular quanto “The Heiress”; não à toa disputou oito estatuetas e abocanhou metade, em todos os aspectos supracitados.
Olivia de Havilland é simplesmente impecável na interpretação de uma jovem tímida, enclausurada, desprezada pelo próprio pai e sedenta por afeto. Apesar de já ter passado dos trinta à época do filme, consegue oferecer um ar de jovialidade inocente, ao mesmo tempo que, próximo ao clímax, floresce numa mulher madura, decidida e forjada no fracasso das relações. Ralph Richardson, por sua vez, é responsável por diálogos interessantíssimos envoltos numa delicadeza mordaz, à medida que ignora as qualidades da filha e combate os avanços românticos de Morris Townsend, o mais ambíguo dos personagens, interpretado por Montgomery Clift. E o que falar de Clift? Despontando no fim dos anos 40 como protagonista, Clift abrilhanta a obra com um dinamismo ímpar, ao ponto de sua atuação ser um grande ponto de interrogação: podemos realmente acreditar em seu charmoso sorriso e em seu doce olhar? Percebemos aqui o início de uma transformação nos protagonistas do cinema americano, em se tratando de romance: os galãs elegantes e heróicos cedem espaço a jovens passionais e melancólicos, sendo grande exemplo disso o icônico James Dean em “Rebel Without a Cause”. Clift tem papel fundamental nessa guinada. A dinâmica entre os três personagens é sempre acompanhada de fortes sentimentos, da singela ternura ao mais profundo desprezo. Por último, é necessário ressaltar a importância de Miriam Hopkins na pele da tia Penniman, agindo como verdadeiro elo de ligação entre o trio, fornecendo caminhos para o desenvolvimento da narrativa.
William Wyler é primoroso na captura da essência de cada personagem, sabendo exatamente onde posicionar cada câmera e ator em cena, e aqui fica a lembrança do beijo escondido na chuva nos fundos da casa, com certeza uma das mais belas do gênero de romance, a paixão arrebatadora entre dois jovens no seio de uma sociedade puritana de aparências; que deliciosa apresentação de sentimentos conflituosos.
Todas essas nuances são embaladas por aquela que, na minha opinião, é a mais grata surpresa do filme: a trilha sonora. A sensata execução da trilha é o que distingue “The Heiress” de um melodrama típico das primeiras décadas. Não há uso exacerbado de música durante as cenas, ela é utilizada funcionalmente, pontuando cada certeza e dúvida no coração dos envolvidos, fazendo do silêncio oportunidade preciosa para digestão dos acontecimentos em tela. Uma boa trilha de cinema não é sobre músicas emocionantes, mas saber o momento adequado de introduzi-las, algo que o cinema americano sempre pecou em demasia.
Trata-se de um drama perfeito, com irretocáveis atuações, grandes enfrentamentos, trilha emotiva e um clímax angustiante. Com toda a certeza, um dos maiores da década de 40.
Com exceção do personagem de John Wayne, todos os outros têm a profundidade de um pires, completamente esquecíveis. Até a fotografia, maior qualidade da película, parece cansada, dando a sensação de acompanhar o mesmo cenário em toda cena.
Trata-se de uma pequena pérola do cinema de guerra. Apesar de conter alguns maneirismos de sua época, como o melodrama e a caracterização de soldados como escoteiros em busca de heroísmo e aventura, a qualidade técnica é gritante se comparado a outros do gênero. Há uma sobriedade fotográfica perspicaz, aliando planos abertos onde inúmeras explosões, tiros e mortes ocorrem a todo instante, pintando um cenário caótico e perigoso, juntamente com planos médios, favorecendo a movimentação de seus personagens em tela, e uma boa dose de filmagens reais de guerra, possibilitando que o espectador embarque no conflito, algo muito difícil nas películas da época, afinal, falamos de um tempo onde o cinema era feito nos estúdios. A maior qualidade de “Sands of Iwo Jima” é a capacidade de recriar um ambiente tão turbulento, e isso não seria possível sem uma atenção primorosa à edição e ao som, não à toa duas das quatro indicações aos Oscars de 1950 referem-se a tais aspectos.
Por fim, John Wayne, concorrente ao prêmio de melhor ator, é o coração do filme. Ainda que seja real sua pouca dinamicidade emotiva, Wayne funciona como o comandante turrão, bruto e rabugento, sendo aquele bully que odiamos amar mas tão fundamental em situações críticas. Em determinado momento, ocorre aquele que talvez seja meu momento preferido do ator em toda sua filmografia: o sargento John Stryker precisa frear o impulso de ajudar um companheiro, o que certamente ocasionaria mais baixas. Ali vemos um homem duro que sofre calado e evita qualquer tipo de sentimentalismo. Tal cena pode ser um banho de água fria para todo aquele que acha John Wayne um ator monolítico, ainda que não esteja de todo errado.
Todo filme que lida com a ascensão e queda de determinada figura, sobretudo em contexto político, tem um pouco de Cidadão Kane; infelizmente nenhum com a mesma eloquência e potência.
Filme ok, com boas atuações mas nenhuma espetacular, toques melodramáticos característicos de seu tempo. O grande ponto positivo é a edição que garantiu coesão a um roteiro que geralmente tende a ser enfadonho, garantindo nossa atenção até o derradeiro clímax sem perder-nos pelo caminho.
Inacreditável como a Hepburn faz o mesmo personagem em todos os filmes. Consegue deixar enfadonho qualquer roteiro, inclusive esse que já é um sonífero por si só.
Roteiro desequilibrado e atuações desproporcionais. Poderia servir como crítica ao meio artístico mas ao abusar da teatralidade torna-se mais um enfadonho melodrama de sua época. Essa é uma marcante e irritante caracterísica do cinema das primeiras décadas, a incapacidade de separar-se do teatro, culminando em atuações e acontecimentos exagerados, objetivando mais um emocionalismo barato e menos uma reflexão.
Aspirantes a atrizes que passam os dias na sala de estar dum apartamento, esperando um papel cair em seus colos, sem mover uma palha para aprimorarem suas técnicas cênicas.
A desproporcionalidade na atuação de Hepburn num papel que demanda sutileza afeta o desenvolvimento da personagem; uma ótima atriz que não soube performar alguém incapaz de atuar. Ponto positivo para Ginger Rogers que está afiada, cínica e ácida, e distante da parceria manjada e totalmente sem graça com Fred Astaire e seus filmes mais que previsíveis.
Sujeitinha egoísta e mimada revisita personagens de sua adolescência, sem nunca ofertar algo bom em troca, fantasiando de maneira nostálgica seus tempos de juventude.
A protagonista é tão vazia quanto um balão, mas os personagens coadjuvantes cumprem o ótimo papel de fantasmas de um longínquo passado, para alguns até esquecido e enterrado.
Ótimas atuações e um roteiro sóbrio, destoando do capenga melodrama novelesco habitual das primeiras décadas do cinema.
2h12 para um filme dos anos 30 é uma eternidade, no entanto, a longa duração foi utilizada com magistral destreza e perspicácia. A cada milha náutica sentimo-nos menos espectadores e mais prisioneiros do detestável capitão Bligh a bordo de seu atroz Bounty.
O único porém, em minha opinião, trata-se do apressado final, sem dar o devido valor à segunda fuga de Fletcher, à corte marcial e as implicações do motim, diminuindo o impacto da história e das ações de seus personagens.
Oppenheimer
4.0 1,1K"Eu só queria poder dar uma alegria ao meu povo, a minha gente que sofre inúmeras coisas. Infelizmente não conseguimos. Desculpa a todo mundo, desculpa a todos os americanos. Eu só queria ver meu povo sorrir."
- David "Oppenheimer" Luiz, o homem que só queria ver seu povo sorrir.
Assassinos da Lua das Flores
4.1 606 Assista AgoraSim, esse filme curou minha insônia.
Sinfonia de Paris
3.7 133 Assista Agora“Ai, esse filme é tão bonzinho, ele é todo do bem, ele é tão galera, ele é jovem, ele é... ah, vai se fud*, sabe... chato paca!”
- Ritaleena
O Segredo das Jóias
3.8 38 Assista AgoraEstamos diante de uma das pérolas do cinema noir, cujo diretor é o grande pioneiro do gênero. Dito isto, talvez por carregar a mestra direção de John Huston, “The Asphalt Jungle” consegue ser inovador e dar vida nova a um gênero que já nos anos 50 demonstrava-se demasiadamente batido, especialmente se visto com olhos atuais.
O grande frescor dessa película é saber dosar o tom pessimista e moralista, dois elementos fundamentais do noir. O moralismo é implícito, já contido no aspecto pessimista da obra, então para que exacerba-lo? John Huston não trata o espectador como uma criança que precisa ser ensinada que o crime não compensa, é errado; portanto, há tempo em tela suficiente para dedicar-se ao planejamento, execução e consequências do roubo - outro pioneirismo de Huston no subgênero de roubo -, sem contar a sensacional dinâmica entre os personagens, cada qual com suas falhas, e uma vida pregressa muito bem pincelada mas nunca exageradamente explorada a fim de causar empatia barata no público. Desta forma, Huston consegue dar cores numa narrativa teoricamente preto e branco, marcador visual da dualidade humana, do bem e do mal. Os personagens de “The Asphalt Jungle” não possuem defeitos por serem maus, mas por serem reais.
Claro, não dá para escapar completamente do moralismo da época, de imediato é possível imaginar o destino dos criminosos, mas a sobriedade das atuações, a meticulosidade do roteiro e a sagacidade de John Huston trazem novos ares ao gênero noir. Certamente um dos mais vigorosos filmes de um gênero exaustivamente datado. Com certeza muito esforço foi feito para que uma história sem mocinhos e repleta de corrupção e atos questionáveis driblasse a censura do código Hays, famoso por definir o que era aceitável ou não ser representado no cinema americano.
Meu Amigo Harvey
4.2 131 Assista AgoraA quem interessa omitir que Elwood P. Dowd (James Stewart), na verdade, era o Neo original? Antes de Thomas A. Anderson (Keanu Reeves), existiu Dowd, um sujeito que passou décadas inconformado com o sistema, portanto, uma séria ameaça à Matrix. Tal qual um organismo produz anticorpos a fim de assegurar sua harmonia interna, a Matrix conceberia um diabólico programa chamado Harvey. Sob as vestes de um coelho invisível de quase dois metros de altura, a função de Harvey é acabar com o ímpeto revolucionário de Dowd e qualquer outro ser que identifique falhas na Matrix (como a irmã de Dowd, Veta Louise Simmons, e o chefe do sanatório Dr. Chumley, também contaminados pelo coelho Harvey).
Antevendo a gravidade da situação, Morpheus e Trinity adentram o mundo da Matrix como o Dr. Sanderson e a secretária Miss Kelly, respectivamente. E, assim como o Neo de 1999, Sanderson e Miss Kelly são cativados pela honestidade, curiosidade e amabilidade de Dowd. Infelizmente, a disputa para abrir os olhos do protagonista é perdida. Dowd apega-se ao coelho, recusa a internação, a injeção (a pílula vermelha no filme de 1999), e prefere manter-se naquele mundo artificial, saciando seus prazeres carnais, realizando festas, jantares regados a martini, música e a vasta companhia de outros npcs. Dowd não era o escolhido. A batalha chegava ao fim, Dowd escolhe fechar os olhos e ter belos sonhos, ao invés de encarar a realidade, assim como Cypher fez um acordo com o agente Smith, traindo os rebeldes em troca do deleite artificial da Matrix.
Este erro seria corrigido anos depois quando Morpheus e Trinity encontraram Thomas A. Anderson antes dos agentes, utilizando-se do mesmo artifício da Matrix (o coelho - “follow the white rabbit"), e finalmente dando o remédio que o acordaria para o mundo real.
“Harvey” parece a singela história de um malandro que optou por ser cordial, simpático e atencioso num mundo de disfarces, mas não se enganem, Dowd escolheu a alienação, a carnalidade, os prazeres simplórios e os sentimentos mais pueris. Dowd preferiu manter-se cego, tolo, apático frente à brutal realidade do cotidiano, e impregnou tantas outras pessoas com sua perigosa visão.
Essa é a verdade que não contam nas escolas.
À Margem da Vida
4.2 18 Assista AgoraCuriosamente, “Caged” marcou presença na edição dos Oscars de 1950, com três nomeações (duas delas por atuações - Eleanor Parker e Hope Emerson -, o ponto forte da obra), dividindo os holofotes com “Broken Arrow”, um dos primeiros western a retratar povos indígenas sob um olhar mais humanizado. Aqui, a humanização é a da condição feminina no sistema carcerário. O cinema americano no fim dos anos 40 e, especialmente, no início dos anos 50 mostrava-se promissor ao denunciar a ilusão do sonho americano, a corrupção das instituições e o fracasso das relações humanas.
Meia década depois, a HBO lançou a icônica série “The Wire”, um retrato cru do ciclo vicioso no mundo das drogas; “It’s all in the game”, como dissera Omar. Fácil entrar, difícil sair, e há sempre alguém prestes a te substituir, como acusado, como executor, ou como vítima. Em “Caged” também tudo faz parte do jogo, e o final é tão frio, duro, bruto e pessimista que nos faz pensar se é possível recuperar o indivíduo, se realmente somos capazes de impedir o afundamento do caráter humano? Mais de cinquenta anos passaram-se e essa pergunta continua sem resposta.
Nascida Ontem
3.7 38 Assista AgoraToda maldita vez que lembro da atuação abobalhada, descompassada e sem um pingo de vida da Judy Holliday desbancando nomes como Bette Davis e Gloria Swanson, naqueles que são considerados os papéis de suas vidas, me bate um ódio profundo e silencioso. Este fato, certamente, será responsável por um eventual infarto daqui 35 anos.
A capacidade do cinema americano em fazer com que me sinta idiota por gastar duas horas do meu dia assistindo filme é assustadora. Realmente preciso tomar rumo na vida.
Meu Deus.
A Malvada
4.4 660 Assista Agora"All About Davis"
Fúria Sanguinária
4.2 56 Assista Agora30x que o Cagney interpretou o mesmo personagem, filminho chatonildo como a maioria dos noir.
Almas em Chamas
3.7 13A ideia de um filme de guerra que explora o aspecto psicológico e comportamental dos soldados é bastante interessante, mas não necessariamente original, contudo, “Twelve O’Clock High” sobressai-se de seus contemporâneos, deixando de lado elementos propagandistas tão comuns à época, ou, no mínimo, deixando-os implícitos. Ao abdicar do melodrama barato e focar nos vícios e desvios do soldado americano, Henry King deixa claro que este indivíduo é tão humano quanto qualquer outro, portanto, suscetível à fadiga, à ociosidade e ao medo, e somente a estrita disciplina pode fazer do homem comum um verdadeiro soldado em meio a condições mortalmente críticas.
Infelizmente, essa diferente perspectiva, ainda que válida e deveras curiosa, não se sustenta sem cansar o espectador, muito porque um filme de guerra que evita o confronto efetivo, preferindo discorrer sobre o lado emocional do conflito sem cenas de combate, só pode se escorar nos personagens, especificamente na atuação de seus atores, e aí temos o maior problema dessa película. Com exceção do protagonista de Gregory Peck, cuja atuação é boa, nada mais, e possui clara presença de tela, todos os outros são completamente esquecíveis, não acompanham os passos de Peck, o que torna bastante difícil importar-se com tais figuras.
Talvez com melhores atores de apoio tivéssemos um filme mais contundente e com maior peso histórico nas discussões sobre o gênero de guerra.
Tarde Demais
4.2 83 Assista Agora“The Heiress” faz parte de uma distinta categoria de filmes: aqueles construídos cuidadosamente de maneira a evidenciar o talento de seus atores; portanto, é o tipo de obra cujo peso seria infinitamente menor caso as atuações fossem menos que perfeitas.
Em boa parte das premiações dos Oscars há algum filme que monopoliza a atenção do público, seja pela dedicação dos seus atores, a ousadia do diretor ou mesmo as partes técnicas (em geral, um mix disso tudo), e é seguro dizer que na edição de 1950 nenhuma obra foi tão espetacular quanto “The Heiress”; não à toa disputou oito estatuetas e abocanhou metade, em todos os aspectos supracitados.
Olivia de Havilland é simplesmente impecável na interpretação de uma jovem tímida, enclausurada, desprezada pelo próprio pai e sedenta por afeto. Apesar de já ter passado dos trinta à época do filme, consegue oferecer um ar de jovialidade inocente, ao mesmo tempo que, próximo ao clímax, floresce numa mulher madura, decidida e forjada no fracasso das relações. Ralph Richardson, por sua vez, é responsável por diálogos interessantíssimos envoltos numa delicadeza mordaz, à medida que ignora as qualidades da filha e combate os avanços românticos de Morris Townsend, o mais ambíguo dos personagens, interpretado por Montgomery Clift. E o que falar de Clift? Despontando no fim dos anos 40 como protagonista, Clift abrilhanta a obra com um dinamismo ímpar, ao ponto de sua atuação ser um grande ponto de interrogação: podemos realmente acreditar em seu charmoso sorriso e em seu doce olhar? Percebemos aqui o início de uma transformação nos protagonistas do cinema americano, em se tratando de romance: os galãs elegantes e heróicos cedem espaço a jovens passionais e melancólicos, sendo grande exemplo disso o icônico James Dean em “Rebel Without a Cause”. Clift tem papel fundamental nessa guinada. A dinâmica entre os três personagens é sempre acompanhada de fortes sentimentos, da singela ternura ao mais profundo desprezo. Por último, é necessário ressaltar a importância de Miriam Hopkins na pele da tia Penniman, agindo como verdadeiro elo de ligação entre o trio, fornecendo caminhos para o desenvolvimento da narrativa.
William Wyler é primoroso na captura da essência de cada personagem, sabendo exatamente onde posicionar cada câmera e ator em cena, e aqui fica a lembrança do beijo escondido na chuva nos fundos da casa, com certeza uma das mais belas do gênero de romance, a paixão arrebatadora entre dois jovens no seio de uma sociedade puritana de aparências; que deliciosa apresentação de sentimentos conflituosos.
Todas essas nuances são embaladas por aquela que, na minha opinião, é a mais grata surpresa do filme: a trilha sonora. A sensata execução da trilha é o que distingue “The Heiress” de um melodrama típico das primeiras décadas. Não há uso exacerbado de música durante as cenas, ela é utilizada funcionalmente, pontuando cada certeza e dúvida no coração dos envolvidos, fazendo do silêncio oportunidade preciosa para digestão dos acontecimentos em tela. Uma boa trilha de cinema não é sobre músicas emocionantes, mas saber o momento adequado de introduzi-las, algo que o cinema americano sempre pecou em demasia.
Trata-se de um drama perfeito, com irretocáveis atuações, grandes enfrentamentos, trilha emotiva e um clímax angustiante. Com toda a certeza, um dos maiores da década de 40.
Legião Invencível
3.6 28 Assista AgoraCom exceção do personagem de John Wayne, todos os outros têm a profundidade de um pires, completamente esquecíveis. Até a fotografia, maior qualidade da película, parece cansada, dando a sensação de acompanhar o mesmo cenário em toda cena.
Filme sem sal, sem vida, atípico para John Ford.
Iwo Jima - O Portal da Glória
3.5 14 Assista AgoraTrata-se de uma pequena pérola do cinema de guerra. Apesar de conter alguns maneirismos de sua época, como o melodrama e a caracterização de soldados como escoteiros em busca de heroísmo e aventura, a qualidade técnica é gritante se comparado a outros do gênero. Há uma sobriedade fotográfica perspicaz, aliando planos abertos onde inúmeras explosões, tiros e mortes ocorrem a todo instante, pintando um cenário caótico e perigoso, juntamente com planos médios, favorecendo a movimentação de seus personagens em tela, e uma boa dose de filmagens reais de guerra, possibilitando que o espectador embarque no conflito, algo muito difícil nas películas da época, afinal, falamos de um tempo onde o cinema era feito nos estúdios. A maior qualidade de “Sands of Iwo Jima” é a capacidade de recriar um ambiente tão turbulento, e isso não seria possível sem uma atenção primorosa à edição e ao som, não à toa duas das quatro indicações aos Oscars de 1950 referem-se a tais aspectos.
Por fim, John Wayne, concorrente ao prêmio de melhor ator, é o coração do filme. Ainda que seja real sua pouca dinamicidade emotiva, Wayne funciona como o comandante turrão, bruto e rabugento, sendo aquele bully que odiamos amar mas tão fundamental em situações críticas. Em determinado momento, ocorre aquele que talvez seja meu momento preferido do ator em toda sua filmografia: o sargento John Stryker precisa frear o impulso de ajudar um companheiro, o que certamente ocasionaria mais baixas. Ali vemos um homem duro que sofre calado e evita qualquer tipo de sentimentalismo. Tal cena pode ser um banho de água fria para todo aquele que acha John Wayne um ator monolítico, ainda que não esteja de todo errado.
Quatro Destinos
4.0 40 Assista AgoraJesus, não tem uma adaptação dessa história que não seja chata?
As Oito Vítimas
4.1 33 Assista AgoraMatar nunca foi tão elegante.
Ladrões de Bicicleta
4.4 532 Assista AgoraA derrota do homem comum.
A Grande Ilusão
3.9 41 Assista AgoraTodo filme que lida com a ascensão e queda de determinada figura, sobretudo em contexto político, tem um pouco de Cidadão Kane; infelizmente nenhum com a mesma eloquência e potência.
Filme ok, com boas atuações mas nenhuma espetacular, toques melodramáticos característicos de seu tempo. O grande ponto positivo é a edição que garantiu coesão a um roteiro que geralmente tende a ser enfadonho, garantindo nossa atenção até o derradeiro clímax sem perder-nos pelo caminho.
Farrapo Humano
4.2 225 Assista AgoraIrmão chato, mina grudenta, sem wifi, sem saco pra escrever baboseira. E querem tirar a única alegria do malandro!
Os Sinos de Santa Maria
3.8 26Vai, bicho, passa esse prédio pra Igreja, nunca te pedi nada pô. Tu vai se sentir bem, na moralzinha :/
Núpcias de Escândalo
3.9 109 Assista AgoraInacreditável como a Hepburn faz o mesmo personagem em todos os filmes. Consegue deixar enfadonho qualquer roteiro, inclusive esse que já é um sonífero por si só.
No Teatro da Vida
3.8 13Roteiro desequilibrado e atuações desproporcionais. Poderia servir como crítica ao meio artístico mas ao abusar da teatralidade torna-se mais um enfadonho melodrama de sua época. Essa é uma marcante e irritante caracterísica do cinema das primeiras décadas, a incapacidade de separar-se do teatro, culminando em atuações e acontecimentos exagerados, objetivando mais um emocionalismo barato e menos uma reflexão.
Aspirantes a atrizes que passam os dias na sala de estar dum apartamento, esperando um papel cair em seus colos, sem mover uma palha para aprimorarem suas técnicas cênicas.
A desproporcionalidade na atuação de Hepburn num papel que demanda sutileza afeta o desenvolvimento da personagem; uma ótima atriz que não soube performar alguém incapaz de atuar. Ponto positivo para Ginger Rogers que está afiada, cínica e ácida, e distante da parceria manjada e totalmente sem graça com Fred Astaire e seus filmes mais que previsíveis.
A Grande Ilusão
4.1 53 Assista AgoraTípico filme que há décadas trata o espectador como trouxa. Com uns idiotas desses é óbvio que a França perderia duas guerras.
A Grande Ilusão é essa merda ser aclamada mundo afora.
Um Carnê de Baile
3.5 1Sujeitinha egoísta e mimada revisita personagens de sua adolescência, sem nunca ofertar algo bom em troca, fantasiando de maneira nostálgica seus tempos de juventude.
A protagonista é tão vazia quanto um balão, mas os personagens coadjuvantes cumprem o ótimo papel de fantasmas de um longínquo passado, para alguns até esquecido e enterrado.
Ótimas atuações e um roteiro sóbrio, destoando do capenga melodrama novelesco habitual das primeiras décadas do cinema.
O Grande Motim
3.9 53 Assista Agora2h12 para um filme dos anos 30 é uma eternidade, no entanto, a longa duração foi utilizada com magistral destreza e perspicácia. A cada milha náutica sentimo-nos menos espectadores e mais prisioneiros do detestável capitão Bligh a bordo de seu atroz Bounty.
O único porém, em minha opinião, trata-se do apressado final, sem dar o devido valor à segunda fuga de Fletcher, à corte marcial e as implicações do motim, diminuindo o impacto da história e das ações de seus personagens.