Basta ter um casal com rostinho bonito e muitas cenas de sexo pra galera adorar. Lamentável. Tanto filme bom com temática LGBTQIA+ por aí, mas a galera ainda se apega pelas maiores porcarias que são feitas.
Quem carregou o filme nas costas foi o DiCaprio! Que atuação!!!
De resto, um Tarantino básico e funcional, com boas sacadas, boas referências, mas quase que mais do mesmo. Ainda é bom, claro, mas dificilmente será um filme que terei vontade de ver mais uma vez.
Toda vez que falavam de uma nova sequência para Toy Story eu achava que não tinha necessidade. Com o 2 e o 3 eu mordi a língua e acabei tendo uma escala gradual de apreciação da trilogia.
Quando anunciaram o 4, já fiquei animado, afinal, "não tinham como decepcionar". Infelizmente, desta vez erraram a mão e fizeram um desenho apenas blah. Depois da obra-prima que foi o terceiro, é bem frustrante ver um filme com menos ação e menos emoção (não se deixem iludir pelo final patético).
Ainda assim, tem o selo de qualidade Pixar (e Disney, vá lá) e isso já é uma grande coisa. Rever os personagens vale pena nostalgia e pelo carinho, mas a história....
... de onde que Woody iria largar uma criança e seus amigos para viver um amor? Eu achei completamente sem sentido. Ele passa o filme todo tentando convencer o Garfinho de que ele é um brinquedo (uma repetição do plot do primeiro filme, ou seja, boring) e daí no filme resolve desistir de sua função básica de brinquedo? Ridículo, para dizer pouco.
Juro que tentei ver isso tudo que falaram do filme, mas a única coisa que ele me causou foi canseira. Filme arrastado demais, apoiado por uma boa atuação de Brichta.
Fui na maior das boas intenções e ainda estou tentando compreender esse hype todo. Tirando a boa atuação de McAvoy, que filminho mais fuén, hein? Aquele final lá poderia ser incrível, mas só achei meio vergonhoso (falo da última cena mesmo). Um terror que não é terror. Um suspense que não deixa apreensivo. Uma historinha previsível ao extremo, sobre cada um enfrentar as "bestas" internas. Esperava mais, muito mais.
Será que algum dia o Lasse Hallström vai fazer algum filme bom? Ele é o diretor mais superestimado da história! Tirando "Gilbert Grape" e "Chocolate", que são mais ou menos, o resto que eu vi é muito chato e de emoções vazias.
"A 100 Passos de Um Sonho", "Amor Impossível", "Sempre ao Seu Lado", "Chegadas e Partidas" (horrendo), "Regras da Vida", "O Poder do Amor" e "Minha Vida de Cachorro" beiram o insuportável.
"Minha Vida de Cachorro", que assisti ontem, é baseado em um livro maravilhoso. Por isso dei um bom tempo entre a leitura e assistir ao filme para não ter a sensação de comparação. Passaram-se 4 anos desde que li e finalmente resolvi assistir. Pelamordedeus! Tem uma boa fotografia, um ou outro bom ator e o resto é muito chato. Que trilha sonora ruim. Que enredo mal costurado. "Melhor filme sobre crianças"? Nunca na vida!
O tema merece muito ser explorado, mas que canseira de filme, hein? Ok que focou no principalmente no processo jornalístico de investigação, praticamente deixando os crimes em segundo plano. Mas acho que se tivesse explorado um pouco mais o drama talvez eu pudesse ter me envolvido melhor (e olha que sou jornalista!).
Sobre a discussão de colocar um ator cisgênero para fazer o papel: eu particularmente gostei, porque o Redmayne é um cara excelente. Claro que obras assim poderiam apostar na visibilidade e escolher alguma atriz trans, mas o trabalho do Red está excelente.
E praticamente só isso, infelizmente. Alicia Vikander é a grande protagonista da história, a meu ver, e teve pouco do seu background explorado. O filme tem capricho técnico, mas algo não funciona. Talvez o fato de ser muito mela-cueca, tudo muito corrido e com resoluções imediatas - sem apostar na discussão de um tema que merecia um filme muito melhor.
Uma prova de que filmes com histórias simples e previsíveis podem ser brilhantes quando contados de maneira sincera e correta. Tudo funciona muito bem em "Brooklyn"! E nem por isso a narrativa fica chata.
Bale canastrão, efeitos toscos, 3D ridículo, roteiro retardado, edição péssima, registro histórico e bíblico terrível.... quase nada se salva nessa grande bomba, que já assisti com baixas expectativas e foi ainda pior.
Minha vida tinha sido muito boa sem nunca ter visto esta bosta. Por queeeee, meu Deus? Por que fui ver isso nessa altura da vida? Depois de tantos anos?
Tirando a trilha sonora excelente, é muita porcaria condensada em 90 minutos.
O diretor Nawapol Thamrongrattanarit aposta novamente na mistura de duas linguagens na concepção do seu segundo longa. O primeiro, “36” (2012), misturava fotografia e cinema numa série de 36 imagens em 68 minutos. O filme chegou a ser premiado em festivais.
Em Mary is Happy, Mary is Happy, o diretor aposta numa combinação mais tecnológica. Através de uma série de 410 tweets de uma estudante tailandesa aleatória (@marylony), ele construiu um filme sobre o que ele imaginava que ela estaria passando e sentindo.
Logo no começo, somos informados desse background e notamos como será a edição. Os tweets aparecem a todo o momento na tela. Às vezes em telas negras, às vezes sobrepostas na imagem. Sempre acompanhados de efeitos sonoros de digitação. Como muitas vezes o que aparece escrito é logo dito pela personagem principal, por vezes o recurso se torna cansativo.
Sem contar, é claro, que o diretor não desperdiçou nenhum tweet, criando situações desconexas com a realidade. A compra de uma água-viva e uma viagem a Paris são tão absurdas dentro da história, que precisamos relevar sua presença no filme.
No enredo, acompanhamos Mary (Patcha Poonpiriya) e Suri (Chonnikan Netjui) no último ano do ensino médio. Elas se oferecem para montar o anuário da escola, mas têm dificuldades para a execução devido aos maneirismos de Mary. A chegada de um grande amor e uma perda importante mudarão a vida e a rotina de Mary.
E adolescente é igual em qualquer lugar, né? Os problemas existenciais enfrentados por Mary são idênticos aos de diversos teenagers ao redor do mundo. O isolamento, o egocentrismo e o egoísmo também compõem essa personagem complexa e muitíssimo bem conduzida pela jovem Patcha.
Senti falta, porém, da tecnologia. Não vemos sequer uma cena da Mary tweetando. Os tweets, acredito, se transformaram em bilhetes colados à parede do quarto. Mas se eles viraram isso, qual a necessidade de expor os recados na tela ao som de digitação?
Entretanto, é esse limitado mundo em 140 caracteres que faz uma análise da frivolidade, futilidade e excesso de pequenos conteúdos que a vida possui hoje em dia. Conseguir criar um roteiro em cima do Twitter de uma pessoa só reforça um dos primeiros tweets mostrado no filme: “Todo mundo tem sua própria história para contar”.
Em September, acompanhamos a história de uma solitária mulher que tem como única companhia seu cachorro. Na faixa dos trinta anos, sua vida permanece no eixo casa-trabalho, com seu fiel escudeiro sempre presente. Com a inesperada morte do cão (aos 20 minutos de filme, não é spoiler), ela fica sem rumo e encontra nos vizinhos um modelo de vida a ser seguido. Ou roubado.
O cinema tem inúmeros exemplos de personagens obcecados pela vida dos outros. É notável, porém, que a diretora grega Penny Panayotopoulou não tenha optado pelo caminho mais fácil do thiller psicológico e tenha feito em September uma bela reflexão da solidão na cidade grande.
Ana, lindamente interpretada por Kora Karvouni, demonstra uma total falta de convívio social. No restaurante onde trabalha, ela prefere almoçar sozinha para poder observar seu carro pela janela (ela deixa seu cachorro esperando dentro do veículo durante o expediente). O cão, naturalmente mais sociável, acaba conquistando o casal de filhos do vizinho de Ana, que reclama com: “Fazendo amizades, seu traidor?”.
O filme cresce com a aparição cada vez mais constante dos vizinhos. Ana tenta afugentar sua dor e solidão se enfiando no ambiente familiar invejado por ela. Essa família de margarina tem tudo: uma bela casa, um belo carro, lindos filhos e uma vida invejável.
Porém, a diretora sabe mostrar que a solidão pode estar presente mesmo rodeado de pessoas. Talvez seja por isso que a vizinha, Sophia, compadeça da dor da perda de Ana e acabe permitindo que ela se torne cada vez mais parte de sua própria família. Mesmo o marido sendo contra e ela percebendo que as reais intenções de Ana são apenas artimanhas para combater a solidão. Sophia tem uma vida perfeita, mas é complacente com a solidão de Ana por ver nela um reflexo de sua própria alma. Essa dualidade (de ser solitária com uma família perfeita) transforma Sophia na personagem mais complexa do filme. E toda sua essência foi transmitida com primor pela atriz Maria Skoula.
A direção e a fotografia auxiliam a transmitir a agonia da solidão. Ana sempre parece pequena na tela grande. Porém, existe uma cena logo após o aniversário de Ana em que ela aparece como uma gigante dentro do próprio apartamento minúsculo, o que aumenta ainda mais a opressão sentida pela personagem. O filme não é construído a base de diálogos, tendo nas emoções sua forma de conduzir.
Porém, muitas vezes essas emoções (assim como a Ana) são tímidas, imprimindo um ritmo lento acima do necessário para contar a história, chegando a ser repetitivo e cansativo em alguns momentos. O final é bobo e previsível, mas segue a linha lógica de fazer um retrato da realidade.
Poucas vezes na vida me senti tão irritado assistindo um filme. Aliás, chamar de filme é elogio. O que foi Reptilia in Suburbia (Réptil no Subúrbio)? Talvez uma das minhas piores.experiências.cinematográficas.da.vida.
Ele foi selecionado para a mostra Outros Olhares, que o cronograma do Olhar de Cinema define como “um espaço privilegiado para filmes de risco”. Privilegiado? Sei...
O filme tenta ser uma releitura pós-moderna de Frankenstein, onde um cientista maluco cria um homem-cobra. A história, entretanto, gira em torno de uma família do subúrbio de Manilla, às voltas com o retorno de um filho à casa da mãe e do sumiço de cachorros da vizinhança.
O tom experimental deixa o filme com cara de amador (principalmente nas cenas com o homem-cobra). O visual VHS, misturado com outros tipos de gravação e edições bregas ajudam a piorar ainda mais a degustação desse filme.
Sabe quando você assiste aqueles vídeos japoneses e pensa: “Que droga que eles fumaram antes de fazer isso?”. Então, nas Filipinas a droga parece ser de pior (ou melhor) qualidade. Os jovens de Reptilia in Suburbia aparecem fumando maconha, usando camiseta do Cannibal Corpse e entoando uma música a Satanás. Mas nada disso te prepara para o que é mostrado.
O tom religioso e anti-crístico permeia algumas cenas, como a de um funeral e a de uma transa. Porém, nenhum elemento bíblico justifica a tortura que é chegar ao final desse filme. Difícil escolher o que é pior. Seria a montagem confusa? Seria a falta de sincronia entre imagem e som, dando a impressão do filme ter sido dublado? Seria a veneração aos EUA, com cenas inteiras sendo faladas em um inglês macarrônico? Seria a maquiagem da dermatite (nunca justificada) de um dos personagens? Ou talvez a atuação (?) daquele povo? Não tem UM que consiga ser levado a sério, justamente pelo fato de se levarem a sério demais. O filme é ruim, gente. Se vestissem essa camisa de “Tamos nem aí pra vocês, queremos fazer um filme e nos divertir”, talvez algo tivesse se salvado.
É louvável que nas Filipinas, um país pobre (115º no ranking mundial de IDH), castigado por tufões e terremotos, ainda se encontre espaço para a produção cinematográfica. Particularmente, foi o primeiro filme de lá que eu me lembro de assistir, dificultando uma comparação. Prefiro acreditar que seja uma exceção, escolhida a dedo para a mostra Outros Olhares justamente por romper com o óbvio cinematográfico. E que, mesmo com poucos recursos, nas Filipinas seja capaz de se produzir histórias boas de assistir.
Lepra é uma doença que assusta tanto a população que sua mudança de nome para hanseníase foi, também, uma tentativa de humanizar seus portadores, vítimas de tantos preconceitos.
O documentário conta a história do Hospital Santa Teresa (antiga Colônia Santa Teresa), nos arreadores de Florianópolis. Fundada na década de 40, a colônia recebia os pacientes de lepra de todo o estado de Santa Catarina. Um lugar lindo, agradável, amplo e com abundância de áreas verdes. Lá tinha de tudo: prefeitura, cinema, bar, cartório, etc. As fotos de época retratam pessoas felizes e em comunidade, praticamente sem traços daquilo que os unia: a doença.
A história, como vemos, não é tão bonita quanto parece. Nos primeiros anos, os pacientes eram levados compulsoriamente para essas colônias. Muitas vezes eram arrancados de casa apenas com a roupa do corpo e despejados nesses “lugares maravilhosos” para viverem longe da sociedade. E de lá eram proibidos de sair.
Um lugar que para muitos dos moradores representa lembranças de dor e perda, mas que também foi o lar de todos eles. E é incrível a capacidade de superação do ser humano. Hoje o hospital está mais humanizado, porém, a maioria dos pacientes que lá estão é porque não tem nenhum outro lugar para ir. Foram abandonados pela família à sua própria sorte.
Montado a partir de histórias de vida, o documentário tem o dom de sensibilizar sem apelar. De chocar sem ser gratuito. A edição sonora está sensacional (o som dos pássaros em praticamente todo o filme quase nos transporta para a colônia). As fotos de época, sempre tão bonitas, contrastam com os depoimentos pessoais de quem viveu (e sofreu) na reclusão da colônia. O filme também pincela uma grave denúncia: o sumiço de bebês nascidos no local, em história que se assemelha a Philomena, filme indicado ao Oscar deste ano.
Santa Teresa expõe mazelas de nossa história que temos vergonha em aceitar. A segregação, o despreparo profissional e o preconceito persistem até hoje. Mostrar isso de maneira humana é necessário e urgente. Palmas para o diretor e que o documentário encontre seu público pelo mundo afora, pois todos precisam conhecer sua história.
A Copa do Mundo começa em menos de duas semanas, mas o Olhar de Cinema deu início às comemorações com a exibição de uma partida de futebol internacional em sua programação. Tá certo que é um jogo de 1987 entre Steaua e Dínamo, da Romênia, mas tá valendo
A mostra Outros Olhares seleciona para filmes que fogem do cinema padrão, buscando, principalmente, aqueles que desestruturem a linguagem e buscam diferentes formatos de concepção cinematográfica.
The Second Game, do romeno Corneliu Porumboiu, é um excelente exemplo desse tipo de cinema. O diretor, filho do ex-árbitro de futebol Adrian Porumboiu, comenta um clássico do futebol romeno: Steaua contra Dinamo. O jogo foi arbitrado por seu pai, que também comenta a partida neste exercício de documentário.
“Quem é que vai querer assistir um filme sobre um jogo de futebol de 25 anos atrás?”, pergunta o pai perto do final do primeiro tempo. “É como querer fazer um filme sobre um jogo do Messi daqui alguns anos. Ou sobre o Ronaldinho. Anos atrás era Ronaldinho para todo lado, hoje o povo não tem mais interesse. Ele quer saber do presente, pois o futebol é feito do presente”. O filho, em tom jocoso, também constata: “Parece um dos meus filmes: longo e nada acontece”.
Pois é, de fato pouca coisa acontece nos 90 minutos de partida (e de filme). O resultado (um empate em zero a zero) não é o mais importante nesta experiência. O interessante mesmo é ver os lances (sem a narrativa original) comentados informalmente por quem entende de futebol e esteve presente naquele clássico.
A primeira grande curiosidade (ao menos para nós, brasileiros) é a partida ser jogada debaixo de uma intensa neve. E com estádio lotado! Nos intitulamos como o “país do futebol”, mas queria ver se teríamos tamanho disposição para ver um jogo a -1 ou -2ºC. A neve, entretanto, traz curiosos benefícios. É possível ver quem domina o jogo ou por qual lado a maioria das jogadas está sendo conduzida através do rastro deixado pela bola e pelos jogadores na neve.
Entretanto, o filme deve funcionar melhor com os amantes do futebol (o que não é meu caso). Diversas situações são mostradas como corriqueiras e que mudaram no 1/4 de século entre a partida mostrada e os tempos de hoje. Entre algumas que eu lembro: o goleiro podia pegar com a mão uma bola recuada; a lei da vantagem era muito mais usada e não podia ser revertida; e os times podiam trocar a cor do uniforme no intervalo (o Dinamo começou jogando de branco, o que ficou confuso por conta da neve).
O filme funciona melhor como registro histórico. A partida foi filmada com três câmeras: a principal (que cobria a partida de cima), uma segunda no nível do campo e uma terceira, para captar a público. Durante o regime comunista socialista, não era permitido que atitudes antidesportivas fossem exibidas. Assim, quando alguma discussão em campo começava, a terceira câmera focava na arquibancada.
O jogo, porém, era mais bonito. Não tinha muito atacante cai-cai e os jogadores quase não trapaceavam. Em certo momento, quando a neve engrossa, o ex-árbitro comenta que se aquela neve tivesse caído duas horas antes teria sido impossível começar o jogo, mas que, naquele momento, era mais importante terminá-lo. Sinto o mesmo com o cinema: começou, tem que terminar. Mesmo que este seja sobre uma partida que fica no zero a zero.
Em 1984, um americano matou oito pessoas depois de passar 57 horas acordado pensando numa forma de desacelerar o tempo. Numa tribo do Japão, no século XIX, os velhos que completassem 70 anos deveriam subir a montanha e esperar a morte. Na Alemanha, a expectativa de vida é de 76 anos e meio.
Perto de completar 38 anos (e três meses), o documentarista alemão Philipp Hartmann constatou estar chegando à metade de sua vida, segundo as estatísticas. Como trabalhar com a ansiedade de sentir o próprio tempo se esvaindo? Sofrendo de cronofobia (esse tal medo da passagem do tempo), Hartmann cria uma obra excepcional com “O Tempo Passa Como um Leão Que Ruge”.
Através de análise pessoal, filosófica, física e existencial, o diretor consegue discutir como o tempo influencia (e é influenciado) por todos. Afinal, o que é 1 segundo? É sempre igual? A vida é feita duma sucessão de segundos ou de momentos?
Perto do final do filme, uma personagem que sofre de perda de memória mostra seu diário, onde conta suas atividades dia a dia. Ao relê-las, nota que nada especial lhe acontece na maioria dos seus dias. São situações não memoráveis; então, para que ter memória? Ou será que exatamente por serem rotineiras é que elas se tornam especiais?
O filme também funciona como uma carta de amor ao pai e ao tempo que eles passaram juntos. Contrariando as estatísticas, seu pai faleceu aos 61 anos. Foi ele quem presenteou o jovem Hartmann, aos 10 anos, com sua primeira câmera. Pouco depois veio a primeira filmadora e o feeling documental.
Logo nos créditos iniciais, assistimos fotos antigas tiradas por seu pai. É uma coleção das primeiras fotos de cada rolo de filme. Aquelas que queimam do lado esquerdo e que todo mundo descarta. Elas não registram “nada”, pois o evento fotografado sempre começa no registro seguinte. O diretor encara, lindamente, como fotos de um tempo antes do tempo.
Também digno de nota, é uma sequência com a sobrinha do diretor. Aos 3 anos, ela é capaz de lembrar dos dinossauros, mas não seus primeiros anos. Isso porque as crianças começam a guardar as próprias memórias a partir dos 3-4 anos. Ela vai se lembrar dessa gravação?
A nossa vida é pautada no tempo: aos 6 anos começamos ir à escola, aos 16 podemos votar, aos 18 dirigir. É como se o tempo fosse igual para todos. Por isso, O Tempo Passa Como um Leão que Ruge se mostra como uma poesia filmada que te faz lembrar que um dia você também irá subir sua montanha para morrer sozinho. O que você fará com o tempo que você tem?
No cristianismo, o peixe é símbolo da felicidade, da fraternidade e do amor. Ao lado do pão, representa o alimento e a eucaristia. Para Carneiro, personagem principal deste filme, representa trabalho. Após sua emancipação, ele vai trabalhar num restaurante de frutos do mar. Ele encontra a amizade, o amor e a felicidade depois de sair de casa.
O carneiro, porém, é um símbolo masculino da criação e da destruição. É uma representação cósmica da vida, tanto positiva quanto negativa. Ser o apelido do personagem principal do filme é um indício de que o mundo perfeito que ele encontrou para viver, não será eternamente perfeito.
Montado em três atos, Sheep mostra o cotidiano das pessoas afetadas pelo inesperado e pelo trágico. Ele mostra a vida que segue. David Merabet, o Carneiro, transmite toda a sensibilidade que o personagem requer, nos envolvendo com seu carisma e seu fascínio pelo mundo.
O filme, porém, cansa a partir do segundo ato. A ruptura é abrupta, criando quase um segundo filme totalmente diferente. Foi o primeiro longa que vi dentro da Mostra Competitiva e espero que os próximos sejam melhores.
Em um momento do filme, a adolescente principal está lendo “A Floresta”, livro de Edward Rutherford que conta uma história secular sobre a região de New Forrest, na Inglaterra. Em “How to Disappear Completely” também assistimos uma história secular.
Uma crendice local narra que no ano de 1600 um terremoto dizimou a região e que até hoje existe uma velha procurando por seu filho. Em outra cena, o pai da adolescente narra uma antiga história onde Deus presenteou um rei e um rainha com 13 filhos galos e é por isso que esses animais são reais, descendentes da nobreza. O galo também é associado à cor vermelha e um símbolo da passagem entre as trevas e a luminosidade, anunciando a chegada do sol.
O elemento vermelho está presente em diversos momentos do filme, como nas tripas e sangue das linguiças preparadas pela mãe ou na decoração do quarto da adolescente protagonista. E é com a morte do galo que as trevas dominam a região e as lendas se fundem em busca da redenção ao castigo imposto por Deus.
A história é assustadora, mas em nenhum momento se assemelha com os filmes de terror que estamos acostumados. Aqui, o terror é muito mais sensorial do que visual. A trilha sonora ficou a cargo de Eyedress, artista filipino que tem se destaco por trabalhar a música eletrônica de maneira sombria. Esse clima dita o ritmo do filme, e chegamos ao ápice quando uma peça escolar critica o militarismo americano, ao contar a história de um garoto assassinado por um soldado.
Com um ritmo tenso, o diretor Raya Martin trabalha o terror sem nunca precisar ser explícito. O segundo ato, com um intenso ataque satanista, consegue imprimir o medo como poucas vezes foi visto no cinema. E tudo através de um perfeito encaixe audiovisual.
Outro filme filipino presente no Olhar de Cinema, Repitilia in Suburbia, também abordou temas como o satanismo e a influência católica. Talvez seja um bom momento para vermos como as crendices populares e a própria religião podem influenciar toda uma geração.
Do Começo ao Fim
3.0 1,3KBasta ter um casal com rostinho bonito e muitas cenas de sexo pra galera adorar. Lamentável. Tanto filme bom com temática LGBTQIA+ por aí, mas a galera ainda se apega pelas maiores porcarias que são feitas.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraQuem carregou o filme nas costas foi o DiCaprio! Que atuação!!!
De resto, um Tarantino básico e funcional, com boas sacadas, boas referências, mas quase que mais do mesmo. Ainda é bom, claro, mas dificilmente será um filme que terei vontade de ver mais uma vez.
Toy Story 4
4.1 1,4K Assista AgoraToda vez que falavam de uma nova sequência para Toy Story eu achava que não tinha necessidade. Com o 2 e o 3 eu mordi a língua e acabei tendo uma escala gradual de apreciação da trilogia.
Quando anunciaram o 4, já fiquei animado, afinal, "não tinham como decepcionar". Infelizmente, desta vez erraram a mão e fizeram um desenho apenas blah. Depois da obra-prima que foi o terceiro, é bem frustrante ver um filme com menos ação e menos emoção (não se deixem iludir pelo final patético).
Ainda assim, tem o selo de qualidade Pixar (e Disney, vá lá) e isso já é uma grande coisa. Rever os personagens vale pena nostalgia e pelo carinho, mas a história....
... de onde que Woody iria largar uma criança e seus amigos para viver um amor? Eu achei completamente sem sentido. Ele passa o filme todo tentando convencer o Garfinho de que ele é um brinquedo (uma repetição do plot do primeiro filme, ou seja, boring) e daí no filme resolve desistir de sua função básica de brinquedo? Ridículo, para dizer pouco.
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraJuro que tentei ver isso tudo que falaram do filme, mas a única coisa que ele me causou foi canseira. Filme arrastado demais, apoiado por uma boa atuação de Brichta.
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraIgual ao livro: fraco e superestimado.
Fragmentado
3.9 2,9K Assista AgoraFui na maior das boas intenções e ainda estou tentando compreender esse hype todo. Tirando a boa atuação de McAvoy, que filminho mais fuén, hein? Aquele final lá poderia ser incrível, mas só achei meio vergonhoso (falo da última cena mesmo).
Um terror que não é terror. Um suspense que não deixa apreensivo. Uma historinha previsível ao extremo, sobre cada um enfrentar as "bestas" internas. Esperava mais, muito mais.
Minha Vida de Cachorro
3.9 133 Assista AgoraSerá que algum dia o Lasse Hallström vai fazer algum filme bom? Ele é o diretor mais superestimado da história! Tirando "Gilbert Grape" e "Chocolate", que são mais ou menos, o resto que eu vi é muito chato e de emoções vazias.
"A 100 Passos de Um Sonho", "Amor Impossível", "Sempre ao Seu Lado", "Chegadas e Partidas" (horrendo), "Regras da Vida", "O Poder do Amor" e "Minha Vida de Cachorro" beiram o insuportável.
"Minha Vida de Cachorro", que assisti ontem, é baseado em um livro maravilhoso. Por isso dei um bom tempo entre a leitura e assistir ao filme para não ter a sensação de comparação. Passaram-se 4 anos desde que li e finalmente resolvi assistir. Pelamordedeus! Tem uma boa fotografia, um ou outro bom ator e o resto é muito chato. Que trilha sonora ruim. Que enredo mal costurado. "Melhor filme sobre crianças"? Nunca na vida!
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraO tema merece muito ser explorado, mas que canseira de filme, hein? Ok que focou no principalmente no processo jornalístico de investigação, praticamente deixando os crimes em segundo plano. Mas acho que se tivesse explorado um pouco mais o drama talvez eu pudesse ter me envolvido melhor (e olha que sou jornalista!).
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraSobre a discussão de colocar um ator cisgênero para fazer o papel: eu particularmente gostei, porque o Redmayne é um cara excelente. Claro que obras assim poderiam apostar na visibilidade e escolher alguma atriz trans, mas o trabalho do Red está excelente.
E praticamente só isso, infelizmente. Alicia Vikander é a grande protagonista da história, a meu ver, e teve pouco do seu background explorado. O filme tem capricho técnico, mas algo não funciona. Talvez o fato de ser muito mela-cueca, tudo muito corrido e com resoluções imediatas - sem apostar na discussão de um tema que merecia um filme muito melhor.
Brooklin
3.8 1,1KUma prova de que filmes com histórias simples e previsíveis podem ser brilhantes quando contados de maneira sincera e correta. Tudo funciona muito bem em "Brooklyn"! E nem por isso a narrativa fica chata.
A 100 Passos de Um Sonho
3.8 215Lasse Hallström provando mais uma vez que é o diretor mais superestimado da história.
Êxodo: Deuses e Reis
3.1 1,2K Assista AgoraBale canastrão, efeitos toscos, 3D ridículo, roteiro retardado, edição péssima, registro histórico e bíblico terrível.... quase nada se salva nessa grande bomba, que já assisti com baixas expectativas e foi ainda pior.
Livre
3.8 1,2K Assista AgoraReese leva o filme nas costas.
#desculpeotrocadilho
33
2.8 2Quem quiser. foi publicado na íntegra no Vimeo e no Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=fXHX28yOJyY
Romy e Michele
3.1 132 Assista AgoraMinha vida tinha sido muito boa sem nunca ter visto esta bosta. Por queeeee, meu Deus? Por que fui ver isso nessa altura da vida? Depois de tantos anos?
Tirando a trilha sonora excelente, é muita porcaria condensada em 90 minutos.
A Pequena Loja de Suicídios
3.7 774História bacana, mas por queeeeeeeeeee aquelas músicas todas?? Não encaixou, deixou cansativo e evidenciou a porcaria do final clichê.
Mary Está Feliz, Mary Está Feliz
3.9 9O diretor Nawapol Thamrongrattanarit aposta novamente na mistura de duas linguagens na concepção do seu segundo longa. O primeiro, “36” (2012), misturava fotografia e cinema numa série de 36 imagens em 68 minutos. O filme chegou a ser premiado em festivais.
Em Mary is Happy, Mary is Happy, o diretor aposta numa combinação mais tecnológica. Através de uma série de 410 tweets de uma estudante tailandesa aleatória (@marylony), ele construiu um filme sobre o que ele imaginava que ela estaria passando e sentindo.
Logo no começo, somos informados desse background e notamos como será a edição. Os tweets aparecem a todo o momento na tela. Às vezes em telas negras, às vezes sobrepostas na imagem. Sempre acompanhados de efeitos sonoros de digitação. Como muitas vezes o que aparece escrito é logo dito pela personagem principal, por vezes o recurso se torna cansativo.
Sem contar, é claro, que o diretor não desperdiçou nenhum tweet, criando situações desconexas com a realidade. A compra de uma água-viva e uma viagem a Paris são tão absurdas dentro da história, que precisamos relevar sua presença no filme.
No enredo, acompanhamos Mary (Patcha Poonpiriya) e Suri (Chonnikan Netjui) no último ano do ensino médio. Elas se oferecem para montar o anuário da escola, mas têm dificuldades para a execução devido aos maneirismos de Mary. A chegada de um grande amor e uma perda importante mudarão a vida e a rotina de Mary.
E adolescente é igual em qualquer lugar, né? Os problemas existenciais enfrentados por Mary são idênticos aos de diversos teenagers ao redor do mundo. O isolamento, o egocentrismo e o egoísmo também compõem essa personagem complexa e muitíssimo bem conduzida pela jovem Patcha.
Senti falta, porém, da tecnologia. Não vemos sequer uma cena da Mary tweetando. Os tweets, acredito, se transformaram em bilhetes colados à parede do quarto. Mas se eles viraram isso, qual a necessidade de expor os recados na tela ao som de digitação?
Entretanto, é esse limitado mundo em 140 caracteres que faz uma análise da frivolidade, futilidade e excesso de pequenos conteúdos que a vida possui hoje em dia. Conseguir criar um roteiro em cima do Twitter de uma pessoa só reforça um dos primeiros tweets mostrado no filme: “Todo mundo tem sua própria história para contar”.
Setembro
3.5 2Em September, acompanhamos a história de uma solitária mulher que tem como única companhia seu cachorro. Na faixa dos trinta anos, sua vida permanece no eixo casa-trabalho, com seu fiel escudeiro sempre presente. Com a inesperada morte do cão (aos 20 minutos de filme, não é spoiler), ela fica sem rumo e encontra nos vizinhos um modelo de vida a ser seguido. Ou roubado.
O cinema tem inúmeros exemplos de personagens obcecados pela vida dos outros. É notável, porém, que a diretora grega Penny Panayotopoulou não tenha optado pelo caminho mais fácil do thiller psicológico e tenha feito em September uma bela reflexão da solidão na cidade grande.
Ana, lindamente interpretada por Kora Karvouni, demonstra uma total falta de convívio social. No restaurante onde trabalha, ela prefere almoçar sozinha para poder observar seu carro pela janela (ela deixa seu cachorro esperando dentro do veículo durante o expediente). O cão, naturalmente mais sociável, acaba conquistando o casal de filhos do vizinho de Ana, que reclama com: “Fazendo amizades, seu traidor?”.
O filme cresce com a aparição cada vez mais constante dos vizinhos. Ana tenta afugentar sua dor e solidão se enfiando no ambiente familiar invejado por ela. Essa família de margarina tem tudo: uma bela casa, um belo carro, lindos filhos e uma vida invejável.
Porém, a diretora sabe mostrar que a solidão pode estar presente mesmo rodeado de pessoas. Talvez seja por isso que a vizinha, Sophia, compadeça da dor da perda de Ana e acabe permitindo que ela se torne cada vez mais parte de sua própria família. Mesmo o marido sendo contra e ela percebendo que as reais intenções de Ana são apenas artimanhas para combater a solidão. Sophia tem uma vida perfeita, mas é complacente com a solidão de Ana por ver nela um reflexo de sua própria alma. Essa dualidade (de ser solitária com uma família perfeita) transforma Sophia na personagem mais complexa do filme. E toda sua essência foi transmitida com primor pela atriz Maria Skoula.
A direção e a fotografia auxiliam a transmitir a agonia da solidão. Ana sempre parece pequena na tela grande. Porém, existe uma cena logo após o aniversário de Ana em que ela aparece como uma gigante dentro do próprio apartamento minúsculo, o que aumenta ainda mais a opressão sentida pela personagem. O filme não é construído a base de diálogos, tendo nas emoções sua forma de conduzir.
Porém, muitas vezes essas emoções (assim como a Ana) são tímidas, imprimindo um ritmo lento acima do necessário para contar a história, chegando a ser repetitivo e cansativo em alguns momentos. O final é bobo e previsível, mas segue a linha lógica de fazer um retrato da realidade.
Réptil no Subúrbio
2.0 1Poucas vezes na vida me senti tão irritado assistindo um filme. Aliás, chamar de filme é elogio. O que foi Reptilia in Suburbia (Réptil no Subúrbio)? Talvez uma das minhas piores.experiências.cinematográficas.da.vida.
Ele foi selecionado para a mostra Outros Olhares, que o cronograma do Olhar de Cinema define como “um espaço privilegiado para filmes de risco”. Privilegiado? Sei...
O filme tenta ser uma releitura pós-moderna de Frankenstein, onde um cientista maluco cria um homem-cobra. A história, entretanto, gira em torno de uma família do subúrbio de Manilla, às voltas com o retorno de um filho à casa da mãe e do sumiço de cachorros da vizinhança.
O tom experimental deixa o filme com cara de amador (principalmente nas cenas com o homem-cobra). O visual VHS, misturado com outros tipos de gravação e edições bregas ajudam a piorar ainda mais a degustação desse filme.
Sabe quando você assiste aqueles vídeos japoneses e pensa: “Que droga que eles fumaram antes de fazer isso?”. Então, nas Filipinas a droga parece ser de pior (ou melhor) qualidade. Os jovens de Reptilia in Suburbia aparecem fumando maconha, usando camiseta do Cannibal Corpse e entoando uma música a Satanás. Mas nada disso te prepara para o que é mostrado.
O tom religioso e anti-crístico permeia algumas cenas, como a de um funeral e a de uma transa. Porém, nenhum elemento bíblico justifica a tortura que é chegar ao final desse filme. Difícil escolher o que é pior. Seria a montagem confusa? Seria a falta de sincronia entre imagem e som, dando a impressão do filme ter sido dublado? Seria a veneração aos EUA, com cenas inteiras sendo faladas em um inglês macarrônico? Seria a maquiagem da dermatite (nunca justificada) de um dos personagens? Ou talvez a atuação (?) daquele povo? Não tem UM que consiga ser levado a sério, justamente pelo fato de se levarem a sério demais. O filme é ruim, gente. Se vestissem essa camisa de “Tamos nem aí pra vocês, queremos fazer um filme e nos divertir”, talvez algo tivesse se salvado.
É louvável que nas Filipinas, um país pobre (115º no ranking mundial de IDH), castigado por tufões e terremotos, ainda se encontre espaço para a produção cinematográfica. Particularmente, foi o primeiro filme de lá que eu me lembro de assistir, dificultando uma comparação. Prefiro acreditar que seja uma exceção, escolhida a dedo para a mostra Outros Olhares justamente por romper com o óbvio cinematográfico. E que, mesmo com poucos recursos, nas Filipinas seja capaz de se produzir histórias boas de assistir.
Santa Teresa
3.8 1Lepra é uma doença que assusta tanto a população que sua mudança de nome para hanseníase foi, também, uma tentativa de humanizar seus portadores, vítimas de tantos preconceitos.
O documentário conta a história do Hospital Santa Teresa (antiga Colônia Santa Teresa), nos arreadores de Florianópolis. Fundada na década de 40, a colônia recebia os pacientes de lepra de todo o estado de Santa Catarina. Um lugar lindo, agradável, amplo e com abundância de áreas verdes. Lá tinha de tudo: prefeitura, cinema, bar, cartório, etc. As fotos de época retratam pessoas felizes e em comunidade, praticamente sem traços daquilo que os unia: a doença.
A história, como vemos, não é tão bonita quanto parece. Nos primeiros anos, os pacientes eram levados compulsoriamente para essas colônias. Muitas vezes eram arrancados de casa apenas com a roupa do corpo e despejados nesses “lugares maravilhosos” para viverem longe da sociedade. E de lá eram proibidos de sair.
Um lugar que para muitos dos moradores representa lembranças de dor e perda, mas que também foi o lar de todos eles. E é incrível a capacidade de superação do ser humano. Hoje o hospital está mais humanizado, porém, a maioria dos pacientes que lá estão é porque não tem nenhum outro lugar para ir. Foram abandonados pela família à sua própria sorte.
Montado a partir de histórias de vida, o documentário tem o dom de sensibilizar sem apelar. De chocar sem ser gratuito. A edição sonora está sensacional (o som dos pássaros em praticamente todo o filme quase nos transporta para a colônia). As fotos de época, sempre tão bonitas, contrastam com os depoimentos pessoais de quem viveu (e sofreu) na reclusão da colônia. O filme também pincela uma grave denúncia: o sumiço de bebês nascidos no local, em história que se assemelha a Philomena, filme indicado ao Oscar deste ano.
Santa Teresa expõe mazelas de nossa história que temos vergonha em aceitar. A segregação, o despreparo profissional e o preconceito persistem até hoje. Mostrar isso de maneira humana é necessário e urgente. Palmas para o diretor e que o documentário encontre seu público pelo mundo afora, pois todos precisam conhecer sua história.
The Second Game
2.7 2 Assista AgoraA Copa do Mundo começa em menos de duas semanas, mas o Olhar de Cinema deu início às comemorações com a exibição de uma partida de futebol internacional em sua programação. Tá certo que é um jogo de 1987 entre Steaua e Dínamo, da Romênia, mas tá valendo
A mostra Outros Olhares seleciona para filmes que fogem do cinema padrão, buscando, principalmente, aqueles que desestruturem a linguagem e buscam diferentes formatos de concepção cinematográfica.
The Second Game, do romeno Corneliu Porumboiu, é um excelente exemplo desse tipo de cinema. O diretor, filho do ex-árbitro de futebol Adrian Porumboiu, comenta um clássico do futebol romeno: Steaua contra Dinamo. O jogo foi arbitrado por seu pai, que também comenta a partida neste exercício de documentário.
“Quem é que vai querer assistir um filme sobre um jogo de futebol de 25 anos atrás?”, pergunta o pai perto do final do primeiro tempo. “É como querer fazer um filme sobre um jogo do Messi daqui alguns anos. Ou sobre o Ronaldinho. Anos atrás era Ronaldinho para todo lado, hoje o povo não tem mais interesse. Ele quer saber do presente, pois o futebol é feito do presente”. O filho, em tom jocoso, também constata: “Parece um dos meus filmes: longo e nada acontece”.
Pois é, de fato pouca coisa acontece nos 90 minutos de partida (e de filme). O resultado (um empate em zero a zero) não é o mais importante nesta experiência. O interessante mesmo é ver os lances (sem a narrativa original) comentados informalmente por quem entende de futebol e esteve presente naquele clássico.
A primeira grande curiosidade (ao menos para nós, brasileiros) é a partida ser jogada debaixo de uma intensa neve. E com estádio lotado! Nos intitulamos como o “país do futebol”, mas queria ver se teríamos tamanho disposição para ver um jogo a -1 ou -2ºC. A neve, entretanto, traz curiosos benefícios. É possível ver quem domina o jogo ou por qual lado a maioria das jogadas está sendo conduzida através do rastro deixado pela bola e pelos jogadores na neve.
Entretanto, o filme deve funcionar melhor com os amantes do futebol (o que não é meu caso). Diversas situações são mostradas como corriqueiras e que mudaram no 1/4 de século entre a partida mostrada e os tempos de hoje. Entre algumas que eu lembro: o goleiro podia pegar com a mão uma bola recuada; a lei da vantagem era muito mais usada e não podia ser revertida; e os times podiam trocar a cor do uniforme no intervalo (o Dinamo começou jogando de branco, o que ficou confuso por conta da neve).
O filme funciona melhor como registro histórico. A partida foi filmada com três câmeras: a principal (que cobria a partida de cima), uma segunda no nível do campo e uma terceira, para captar a público. Durante o regime comunista socialista, não era permitido que atitudes antidesportivas fossem exibidas. Assim, quando alguma discussão em campo começava, a terceira câmera focava na arquibancada.
O jogo, porém, era mais bonito. Não tinha muito atacante cai-cai e os jogadores quase não trapaceavam. Em certo momento, quando a neve engrossa, o ex-árbitro comenta que se aquela neve tivesse caído duas horas antes teria sido impossível começar o jogo, mas que, naquele momento, era mais importante terminá-lo. Sinto o mesmo com o cinema: começou, tem que terminar. Mesmo que este seja sobre uma partida que fica no zero a zero.
O Tempo Passa Como um Leão Que Ruge
4.0 1 Assista AgoraEm 1984, um americano matou oito pessoas depois de passar 57 horas acordado pensando numa forma de desacelerar o tempo. Numa tribo do Japão, no século XIX, os velhos que completassem 70 anos deveriam subir a montanha e esperar a morte. Na Alemanha, a expectativa de vida é de 76 anos e meio.
Perto de completar 38 anos (e três meses), o documentarista alemão Philipp Hartmann constatou estar chegando à metade de sua vida, segundo as estatísticas. Como trabalhar com a ansiedade de sentir o próprio tempo se esvaindo? Sofrendo de cronofobia (esse tal medo da passagem do tempo), Hartmann cria uma obra excepcional com “O Tempo Passa Como um Leão Que Ruge”.
Através de análise pessoal, filosófica, física e existencial, o diretor consegue discutir como o tempo influencia (e é influenciado) por todos. Afinal, o que é 1 segundo? É sempre igual? A vida é feita duma sucessão de segundos ou de momentos?
Perto do final do filme, uma personagem que sofre de perda de memória mostra seu diário, onde conta suas atividades dia a dia. Ao relê-las, nota que nada especial lhe acontece na maioria dos seus dias. São situações não memoráveis; então, para que ter memória? Ou será que exatamente por serem rotineiras é que elas se tornam especiais?
O filme também funciona como uma carta de amor ao pai e ao tempo que eles passaram juntos. Contrariando as estatísticas, seu pai faleceu aos 61 anos. Foi ele quem presenteou o jovem Hartmann, aos 10 anos, com sua primeira câmera. Pouco depois veio a primeira filmadora e o feeling documental.
Logo nos créditos iniciais, assistimos fotos antigas tiradas por seu pai. É uma coleção das primeiras fotos de cada rolo de filme. Aquelas que queimam do lado esquerdo e que todo mundo descarta. Elas não registram “nada”, pois o evento fotografado sempre começa no registro seguinte. O diretor encara, lindamente, como fotos de um tempo antes do tempo.
Também digno de nota, é uma sequência com a sobrinha do diretor. Aos 3 anos, ela é capaz de lembrar dos dinossauros, mas não seus primeiros anos. Isso porque as crianças começam a guardar as próprias memórias a partir dos 3-4 anos. Ela vai se lembrar dessa gravação?
A nossa vida é pautada no tempo: aos 6 anos começamos ir à escola, aos 16 podemos votar, aos 18 dirigir. É como se o tempo fosse igual para todos. Por isso, O Tempo Passa Como um Leão que Ruge se mostra como uma poesia filmada que te faz lembrar que um dia você também irá subir sua montanha para morrer sozinho. O que você fará com o tempo que você tem?
Sheep
2.2 2 Assista AgoraNo cristianismo, o peixe é símbolo da felicidade, da fraternidade e do amor. Ao lado do pão, representa o alimento e a eucaristia. Para Carneiro, personagem principal deste filme, representa trabalho. Após sua emancipação, ele vai trabalhar num restaurante de frutos do mar. Ele encontra a amizade, o amor e a felicidade depois de sair de casa.
O carneiro, porém, é um símbolo masculino da criação e da destruição. É uma representação cósmica da vida, tanto positiva quanto negativa. Ser o apelido do personagem principal do filme é um indício de que o mundo perfeito que ele encontrou para viver, não será eternamente perfeito.
Montado em três atos, Sheep mostra o cotidiano das pessoas afetadas pelo inesperado e pelo trágico. Ele mostra a vida que segue. David Merabet, o Carneiro, transmite toda a sensibilidade que o personagem requer, nos envolvendo com seu carisma e seu fascínio pelo mundo.
O filme, porém, cansa a partir do segundo ato. A ruptura é abrupta, criando quase um segundo filme totalmente diferente. Foi o primeiro longa que vi dentro da Mostra Competitiva e espero que os próximos sejam melhores.
Como Desaparecer Completamente
2.8 3Em um momento do filme, a adolescente principal está lendo “A Floresta”, livro de Edward Rutherford que conta uma história secular sobre a região de New Forrest, na Inglaterra. Em “How to Disappear Completely” também assistimos uma história secular.
Uma crendice local narra que no ano de 1600 um terremoto dizimou a região e que até hoje existe uma velha procurando por seu filho. Em outra cena, o pai da adolescente narra uma antiga história onde Deus presenteou um rei e um rainha com 13 filhos galos e é por isso que esses animais são reais, descendentes da nobreza. O galo também é associado à cor vermelha e um símbolo da passagem entre as trevas e a luminosidade, anunciando a chegada do sol.
O elemento vermelho está presente em diversos momentos do filme, como nas tripas e sangue das linguiças preparadas pela mãe ou na decoração do quarto da adolescente protagonista. E é com a morte do galo que as trevas dominam a região e as lendas se fundem em busca da redenção ao castigo imposto por Deus.
A história é assustadora, mas em nenhum momento se assemelha com os filmes de terror que estamos acostumados. Aqui, o terror é muito mais sensorial do que visual. A trilha sonora ficou a cargo de Eyedress, artista filipino que tem se destaco por trabalhar a música eletrônica de maneira sombria. Esse clima dita o ritmo do filme, e chegamos ao ápice quando uma peça escolar critica o militarismo americano, ao contar a história de um garoto assassinado por um soldado.
Com um ritmo tenso, o diretor Raya Martin trabalha o terror sem nunca precisar ser explícito. O segundo ato, com um intenso ataque satanista, consegue imprimir o medo como poucas vezes foi visto no cinema. E tudo através de um perfeito encaixe audiovisual.
Outro filme filipino presente no Olhar de Cinema, Repitilia in Suburbia, também abordou temas como o satanismo e a influência católica. Talvez seja um bom momento para vermos como as crendices populares e a própria religião podem influenciar toda uma geração.